Discurso durante a 20ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Crise política criada pelo escândalo na Casa Civil e suas conseqüências para o setor econômico do País.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Crise política criada pelo escândalo na Casa Civil e suas conseqüências para o setor econômico do País.
Publicação
Publicação no DSF de 20/03/2004 - Página 7911
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, EDITORIAL, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ESTADO DE S.PAULO, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRISE, POLITICA NACIONAL, ANALISE, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, EX SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, ESPECIFICAÇÃO, INSUFICIENCIA, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) -

O GOVERNO ESTÁ ATOLADO NA CRISE.

NA CRISE CRIADA PELO ESCÂNDALO NA CASA CIVIL

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Governo que criou a atual crise, de corrupção praticada na Casa Civil pelo ex-assessor do Ministro José Dirceu, o bicheiro Waldomiro Diniz, é o mesmo Governo, como diz o jornal O Estado de S.Paulo, que agora está atolado na crise.

Para dar seqüência à novela que os disparates do atual Governo vão formando, dia após dia, estou anexando a este pronunciamento o editorial de hoje do Estadão, em que o jornal faz uma análise perfeita da situação vivida pelo País.

Também junto a este discurso matéria da Folha de S.Paulo. Trata-se de matéria da jornalista Sílvia Mugnato - O Escândalo Waldomiro Impede (Queda Maior da Dívida do BC).

A crise política decorrente do escândalo Waldomiro Diniz, o homem que gerenciava, de uma sala na Casa Civil, negócios de bingo e outros jogos de azar, causa estragos também na economia diz a jornalista Sílvia Mugnatto.

O artigo aponta um dos estragos: a crise impede uma queda maior da dívida de curto prazo do Banco Central. O jornalista explica que, além da crise mencionada, a possibilidade de o FED (o banco central norte-americano) elevar os juros antes do previsto, também foi fator impeditivo para a redução da dívida do Bacen.

O Banco Central tinha a expectativa de uma queda bem maior do que a alcançada. Entre janeiro e fevereiro, explica a matéria, a dívida caiu de R$ 76,1 bilhões para R$ 72,5 bilhões.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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O governo atolado na crise

A oposição

defende

o governo dos

ataques

da sua base

‘aliada’

SEXTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2004.

NOTAS E INFORMAÇÕES

O ESTADO DE S.PAULO - pg A3

Quando começou a ficar claro que a Guerra do Vietnã teria o desfecho que acabou tendo, dizia-se em Washington que o melhor que a Casa Branca poderia fazer era declarar vitória e retirar as tropas. A anedota vem à lembrança porque se tem a nítida a impressão de que o Presidente Lula e do Ministro José Dirceu também resolveram “declarar vitória” e dar por encerrada a crise de governo que se desenrola há cinco semanas, desde que se começou a saber quem era e como agia o interlocutor da Casa Civil - portanto, do Executivo - no Congresso Nacional. Mas o Waldogate não se evaporará por decreto, quanto mais não seja porque à medida que o tempo passa novas suspeitas e novos personagens vão adensando o escândalo, como o nebuloso caso da renovação do contrato entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional GTech, que pôs em cena, ao lado de Waldomiro Diniz, o advogado Rogério Buratti, de Ribeirão ajutório que poderia chegar a R$ 20 milhões.

Na festa que o PT lhe ofereceu na terça-feira pelos seus 58 anos - pretexto para o ato de desagravo que o partido fora dissuadido de promover quando a crise ainda estava nos seus primeiros capítulos -, o ministro José Dirceu disse que não se conformava por ter sido tão “in-com-pe-ten-te” (ele escandiu a palavra) em dar pronto fim ao que chamou “esse problema”. Obviamente, a aparente autocrítica embutia a premissa de que esse era um falso problema, portanto fácil de resolver. Na realidade, por não ser uma coisa, tampouco é outra.

A “declaração de vitória” veio em seguida, quando, para mostrar, contra todas as evidências, que ele e o governo estão inteiros, advertiu a oposição de “namorar com o perigo, tentando desestabilizar o governo”.Em tom de ameaça, afirmou que “gostaria de falar o que não posso falar”, prometendo “colocar os pingos nos is” daí a 15 ou 30 dias - o que conduz a outra pergunta inescapável: como é que um ministro da sua importância confessa que oculta informações de presumível interesse público, para divulgá-las quando bem entender?

Outro sinal de que o governo se imagina capaz de acabar com a crise a golpes de oratória foi dado por Lula, anteontem em Fortaleza. Retomando o hábito das metáforas - por sinal, cada vez menos apropriadas -, endossou nos termos que lhe são característicos a teoria conspiratória de Dirceu sobre os intentos da oposição. Disse que ela torce para ele não ter sucesso, “como o ex-marido que não quer que a mulher seja feliz no outro casamento”. A razão da torcida não seria nem a disputa pelo poder:

“Tem gente que deve pensar: nós vamos deixar um torneiro -mecânico dar certo, enquanto estudamos tanto?” Deixe-se de lado a interpretação psicanalítica das supostas motivações da oposição. O mais grave é o presidente tentar esconder, ou não enxergar, o que é claro como o dia - e que o senador Tasso Jereissati, do PSDB, expôs da tribuna, também anteontem. “Aqueles que apenas buscam fortalecer-se no governo”, apontou, transformaram a crise política numa crise econômica. Saindo numa desinibida defesa da política econômica do governo, o tucano Tasso colocou, ele sim, os pingos nos is. Lembrou que as tentativas de desestabilização da política econômica provêm da própria base aliada e que a crise não está na orientação seguida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, mas nas “relações promíscuas de escalões inferiores do governo e do PT com grupos descomprometidos com o interesse público, alguns com raízes até no crime organizado”. E, demonstrando perceber a gravidade da hora, advertiu que “a desestabilização do ministro Palocci acarretaria o mais absoluto caos neste momento”. “É preciso diferenciar a crise político-administrativa, que hoje vive o governo, da condução econômica”, constatou outro político oposicionista, o senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL. Eis o retrato surrealista da atualidade política brasileira: enquanto a oposição defende o governo no que este tem sido mais coerente, quase todos os dirigentes da base governista se movem em sentido contrário, reivindicando uma guinada na economia. Nem é preciso dizer por que: este é um ano eleitoral. A verdade é que o Waldogate fez o governo atolar como um carro numa estrada enlameada e os seus condutores, que enfiaram o veículo no barro, não conseguem tirá-lo. Por falta de com-pe-tên-cia, como diria o ministro José Dirceu.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/03/2004 - Página 7911