Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do Sr. Décio de Freitas, no Rio Grande do Sul.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do Sr. Décio de Freitas, no Rio Grande do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 10/03/2004 - Página 6225
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, DECIO FREITAS, HISTORIADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, POLITICA, IMPRENSA, IMPORTANCIA, OBRA LITERARIA, CULTURA, PAIS.

O PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, aos 82 anos, o historiador Décio Freitas morreu nesta terça-feira, dia 9, em sua residência em Porto Alegre. O escritor sofria de enfisema pulmonar. O velório será realizado, a partir das 15h, no Solar da Câmara da Assembléia Legislativa. O sepultamento será na quarta-feira, às 9 horas, no cemitério João XXIII.

O historiador gaúcho é um dos mais importantes do Brasil. Na obra Palmares - A Guerra dos Escravos, o autor comprova a existência do herói Zumbi dos Palmares. Mais de uma dezena de livros foi publicada pelo escritor, entre os quais O Homem que inventou a ditadura no Brasil; O maior crime da terra; O açougue humano da rua do arvoredo; A comédia brasileira; Insurreições escravas; Brasil inconcluso; e A serpente e o dragão.

Natural de Encantado (1922), o jovem Décio Bergamaschi Freitas se mudou para Porto Alegre para estudar no Colégio Rosário. Mais conhecido como historiador, Décio era formado pela Faculdade de Direito da Universidade do Rio Grande do Sul, onde iniciou intensa militância política no Partido Comunista Brasileiro e seu trabalho na imprensa. Na ocasião, aproximou-se pelo então prestigiado intelectual em política Dyonélio Machado e conviveu com estudantes como Raymundo Faoro.

Décio Freitas trabalhou na banca de tradutores da antiga Editora Globo e do velho Correio do Povo, na companhia de Mário Quintana, entre tantos outros. É como jornalista que trava contato com figuras como Borges de Medeiros, Flores da Cunha e Getúlio Vargas.

O escritor atuou como repórter político dos Diários Associados na década de 40. Foi nomeado pelo Presidente da República João Goulart Procurador-Geral da Fundação Brasil Central, em Brasília. Por isso, depois do golpe militar, instalou-se, de 1964 a 1972, na capital uruguaia. Nesse período, entrou duas vezes clandestinamente no Brasil, escapando por pouco de ser preso. Foi em Montevidéu que, formado em Direito, decidiu graduar-se em história e vasculhar o passado de nosso País.

Entre 1982 e 1985, em Brasília, foi Presidente do Comitê Nacional de Anistia. O historiador colaborava com artigos no Zero Hora dominical. Em 1999, foi patrono da 45ª Feira do Livro de Porto Alegre.

No domingo passado, Décio Freitas escreveu um artigo para o Zero Hora, intitulado “Esqueleto no Armário”. Parecia que Décio comunicava ao Rio Grande do Sul e ao Brasil a sua morte. Nesse artigo, Sr. Presidente, ele falava da morte mal explicada de Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda.

Particularmente, eu tinha uma relação muito carinhosa e respeitosa com Décio. Quando me elegi Senador, ele escreveu um artigo, no Zero Hora, com o título “Zumbi vai para o Senado”, contando um pouco da minha história, a do negro e pobre que assumiria uma cadeira no Senado da República.

Faço esta homenagem ao nosso Décio Freitas, homem do povo que viveu para o povo. Ele dedicou sua vida a comentar, a falar, mas sempre com ótica no social. Décio Freitas faleceu, mas, com certeza, seus ideais, suas propostas, o que pensava para este País há de ficar sempre junto de nós.

Um abraço carinhoso à família de Décio Freitas. Ele não está aqui, mas seus pensamentos, aquilo que pregou, vai sempre nortear a nossa conduta.

Décio Freitas é um daqueles homens que nunca morrem. E sempre direi: Décio Freitas está presente, Décio de Freitas está vivo.

Muito obrigado. Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/03/2004 - Página 6225