O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, lendo a coluna do jornalista de O Globo, Merval Pereira, pus-me a meditar sobre as conseqüências do que me pareceu, à primeira vista, um ato inconseqüente. Não deu para deixar de considerar engraçado. O Senador Tasso Jereissati é chamado de fraco. Eu sou dado como mais irresponsável do que o Senador Almeida Lima. E logo por quem, pelo homem que nomeou Waldomiro Diniz. Ou seja, se alguém entende de irresponsabilidade neste País, é o Sr. José Dirceu.

Em seguida, não me saindo da cabeça a coluna e as declarações do Ministro José Dirceu, passei a conjeturar. O Ministro está momentaneamente desequilibrado? Pode ser. Tem razão o Senador Antonio Carlos. Tem sofrido muito, pode ter esgotado sua têmpera em lutas passadas, pode não ser o mesmo. É possível. A idéia de que estaríamos diante de alguém inadequado para tocar os negócios do Estado também é possível, também pode ser. Fiquei, então, com a cabeça martelada pelas possibilidades, pelas hipóteses que, umas após as outras, me visitavam.

Penso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Tasso Jereissati, que é hora de aqui rasgarmos uma certa fantasia. Em primeiro lugar, o Ministro José Dirceu, que talvez não tenha competência para ser Ministro-Chefe da Casa Civil de um Governo de responsabilidades, deu, desta vez, um bom porta-voz do PSDB, até porque exibiu o que é a nossa realidade, exibiu a unidade entre o Líder da Bancada, o Senador Tasso Jereissati, e os tucanos que estão fazendo a Oposição conseqüente e responsável, cada um no seu estilo, porém dura, a um Governo que precisa de Oposição conseqüente, responsável e dura. 

Creio que deu para concluir sobre os porquês de o Senador Tasso Jereissati ter irritado tanto o Ministro José Dirceu. O discurso proferido na semana passada pelo Senador Tasso Jereissati, um discurso a favor da governabilidade, impondo limites a partir dos quais não se ultrapassaria a barreira, por exemplo, do institucional, foi um belo momento da vida parlamentar desta Casa. Mas se esse mesmo discurso irrita tanto o Sr. Ministro, tenho a impressão que, se rasgarmos mesmo o véu da fantasia, se quisermos ir direto ao ponto, deixando de lado as meias-palavras, Senadora Heloísa Helena, vamos concluir que S. Exª ficou contrariado porque o discurso do Senador Tasso Jereissati procurava contingenciar a crise política nos exatos limites da crise política, não deixando a economia ser engolfada pelo que seria o desdobramento da crise política.

Logo, o Ministro José Dirceu, na base de que os fins justificam os meios, exercitando uma vocação autoritária, talvez tenha dito assim: esse Tasso Jereissati estragou a minha vida, esse Tasso Jereissati está levando para a economia aquilo que é a crise da qual eu participo, a crise do Waldomiro, que nomeei, a crise que está enlameando esta República.

Começo a pensar que o Ministro José Dirceu, errado e equivocado na sua forma de ver o País, diagnosticou com correção. O Senador Tasso Jereissati dizia o seguinte: vamos investigar e vamos evitar contratempos na relação dólar/real. Vamos evitar contratempos na Bolsa de Valores. Vamos evitar sobressaltos. É o que temos dito todos nós aqui. Vamos votar as matérias relevantes, dar governabilidade e investigar a corrupção, até porque não há nada mais nobre, mais justo e positivo do que investigar a corrupção num País que precisa cada vez mais dessa vigilância, dessa fiscalização.

O Senador Tasso Jereissati, discutindo a economia no nível em que o fez, terminou vetando e vedando a continuidade de um certo plano macabro que significaria jogar para o econômico a preocupação da opinião pública, para que as mazelas causadas pela crise política pudessem deixar o Sr. José Dirceu voltar a pousar de czar, monarca, primeiro-ministro, kaiser ou de qualquer título que possa, porventura, pensar que esteja à altura de sua majestade.

Mas devo deixar bem claro ao Ministro José Dirceu que sua opinião, a essa altura, pouco me importa. S. Exª já não tem o peso que detinha. Não tenho nenhuma satisfação a prestar a S. Exª. Irresponsável era a Oposição que fazia ao pedir o impeachment de um presidente eleito pelo povo em primeiro turno, sem nenhuma razão para isso, contra o candidato dele. Irresponsável é se fazer o que está fazendo hoje, montando a pantomima de não deixar investigar algo que, a meu ver - e aqui o Ministro está me chamando para a luta, e exatamente para a luta eu estou indo, vamos rasgar a fantasia -, não existe o caso Waldomiro. Existe, quem sabe, um caso José Dirceu e é disso que ele tem medo. Não existe um caso Waldomiro; existe uma conexão que passa por Buratti, quem sabe entra por Barquete, passa por Waldomiro, passa pelo crime organizado e, sem dúvida alguma, leva-nos a entender porque tanta paúra, porque tanto medo, porque tanto pavor de uma investigação, ou seja, o medo da CPI está causando um mal maior ao Governo do que, quem sabe, se ela estivesse sendo realizada dentro dos critérios de a maioria indicar as figuras fundamentais da economia.

Portanto, de maneira bem sintética e bem simples, a opinião do Ministro José Dirceu a meu respeito, sinceramente, ele pode guardar para ele, publicar no jornalzinho do centro acadêmico, o que ele quiser, não me interessa, a mim realmente não interessa. Entendo que, se alguma advertência eu devesse ouvir, sendo uma pessoa humilde como procuro ser, é que, de alguma maneira, fui chamado de irresponsável por alguém que é um campeão brasileiro de irresponsabilidades. Ele entende do assunto. Vou, portanto, mergulhar nas minhas águas internas e vou procurar saber se é verdade ou não, porque esse douto na matéria está a indicar.

No mais, vamos então acabar com essa hipocrisia que tem vigorado. Não tem caso Waldomiro algum; ninguém faz aquilo tudo sozinho. Não posso asseverar que existe um caso José Dirceu, mas posso dizer que tem gente com medo de que se possa investigar a ponto de se chegar, quem sabe, a provar isso, ou seja, Senador Tasso Jereissati, tranqüilize-se. V. Exª estragou um plano macabro. V. Exª trouxe o respeito à questão econômica, tirando o peso que queriam dar a uma crise na área econômica para livrar a área política do crivo da sociedade. Mas a crise não se extingue só porque o Ministro José Dirceu quer. S. Exª diz, como Hitler, no filme, com o globo nas mãos, que a crise acabou e que o Ministro Antonio Palocci não será demitido.

Tudo o que estudei é da área de ciências sociais e, portanto, não tenho a menor condição de ajudar o Ministro, pois não entendo de psicologia, muito menos de psicanálise e não tenho noção de psiquiatria. Não consigo socorrer o Ministro neste momento, mas devo dizer o que interessa à Nação ouvir: estão fazendo muito esforço para impedir que a verdade venha à tona, e começo a acreditar que não existe um caso Waldomiro a assustar tanta gente poderosa nesta República. O nome de uma CPI deveria ser outro, o nome do escândalo deveria ser outro.

Relevamos a reação desequilibrada do Ministro, do qual temos até dó, mas, no que ela tem de estratégica, significa alguém destruindo a Nação toda para, quem sabe, se livrar de algum incômodo.

Senador Almeida Lima, isso revela descompromisso com o País e uma dose cavalar de desrespeito ao povo e, para usar uma expressão ao gosto do Ministro José Dirceu, uma dose cavalar de irresponsabilidade.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.