Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reprovação às críticas feitas à imprensa pelo Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu. (como Líder)

Autor
Marcelo Crivella (PL - Partido Liberal/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Reprovação às críticas feitas à imprensa pelo Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 24/03/2004 - Página 8241
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • IMPORTANCIA, QUALIDADE, EXERCICIO, VIDA PUBLICA, BENEFICIO, EDUCAÇÃO, CIDADANIA, REPUDIO, DECLARAÇÃO, AUTORIDADE, OFENSA, POPULAÇÃO, TRATAMENTO, JORNALISTA.
  • QUESTIONAMENTO, FINANCIAMENTO, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), PAGAMENTO, DIVIDA PUBLICA.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, V. Exª me surpreendeu, inclusive deixei meu discurso lá no cafezinho dos Senadores, porque eu não imaginava que os Senadores inscritos estivessem ausentes. Mas quero ocupar esta tribuna por um motivo muito relevante.

Tenho sempre procurado ocupar este local cada vez que um ato de descortesia, de deselegância, de falta até de urbanidade ocorre na vida política brasileira. E sabe por que faço isso? Porque isso tem reflexo direto na educação das nossas crianças, na violência das nossas cidades, nesse clima de verdadeira guerra civil que vivemos nas capitais brasileiras.

Sr. Presidente, há um princípio que norteia a vida. Em uma frase lapidar, o grande escritor Moisés diz que Deus lhe ordenou o seguinte: “Sede santos porque Eu sou santo”. Nem o criador se furta de ensinar sem antes dar o exemplo. Isso é princípio para a criação do universo, mas também de uma empresa, de um lar, de uma nação.

Que maravilha se o Brasil pudesse hoje fazer o discurso do “sede porque Eu sou”. Não precisaríamos de reforma do Judiciário porque os juízes todos diriam à Nação: sede justos porque eu sou justo. Ou que todos o políticos dissessem: vamos construir um grande Brasil, vamos nos sacrificar por esta Pátria, porque eu estou fazendo isso, é o meu dever. Que essa imprensa livre - e a liberdade da imprensa é sagrada; sob todos os aspectos, não se pode esconder do povo o que se tramita, o que se passa; erros e acertos precisam ser levados ao conhecimento da Nação - pudesse passar pela prova do “sede porque Eu sou”.

Fora isso - o discurso é como um címbalo que retine, ou um sino que soa, são palavras vazias, Senador Mão Santa -, o discurso do “sede” ou “faça o que eu digo e não faça o que eu faço” não tem sentido nenhum.

O País precisa sim de exemplo. O País precisa de heróis. E exemplo impõe renúncia, impõe comportamento diferente, principalmente quando somos criticados.

Já ocupei esta tribuna para me desculpar, em nome do meu Partido, por um momento de destempero do Presidente, com críticas que passaram da descortesia, da urbanidade, da deselegância e atingiram a vida pessoal de um Senador que é Líder do Governo. E ocupei com humildade esta tribuna para me desculpar. É bem verdade que nós, políticos, temos direito à crítica. Mas o maior direito de todos é abrir mão do próprio direito. Esse sim comove, convence, arrasta, fala mais do que palavras, fala no silêncio e fala alto. De maneira que, quando um líder do governo do qual sou base se refere à imprensa de maneira tão descortês e deselegante, ofende a nós todos, brasileiros.

Assumo uma posição muito crítica com respeito aos financiamentos que estamos para discutir amanhã, em audiência pública. Não sei se recursos da ordem de R$ 3 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social devem ser aplicados para pagamento de dívidas quando poderiam gerar empregos em outros setores da nossa economia.

Tenho restrições a esse financiamento. Mas não posso deixar de ocupar essa tribuna para recriminar com veemência atos que tentam intimidar ou generalizar o comportamento de jornalistas que estão aqui em busca da notícia, que humildemente ficam à espera das autoridades, dos representantes do povo, para tomar um depoimento, para saber de uma questão, para se aprofundar em um assunto. E a diversificação de assuntos que tratamos nesta Casa é de enlouquecer qualquer jornalista. Normalmente, os jornalistas são especializados num assunto, mas aqueles que cobrem a vida política precisam entender de tudo.

Nós, Parlamentares, temos assessores, consultores, muitos servidores conosco. Agora, imaginem um funcionário de jornal, de rádio, de televisão que fica aqui tendo de cobrir matérias sobre matriz energética do País, reforma do Judiciário, reforma previdenciária, medidas de todo tipo e gênero: isso é algo complicado, difícil. Por isso, quando esse profissional faz uma pergunta, não é possível que uma autoridade se ofenda e o trate com descortesia, deselegância ou com palavras de baixo calão. Cada vez em que isso ocorrer, seja o autor da minha base, seja do meu Partido, ocuparei esta tribuna para denunciar.

Luto por um Brasil melhor. Às vezes, há certas virtudes que se confundem ou passam perto de péssimos defeitos. Alguns dizem: “Tenho de me indignar! É questão de moral, de sinceridade, de honestidade, de franqueza!” Parece que esse mau humor, que no lar acaba pisando na flor da infância dos filhos - é um pai mal-humorado que chega em casa e desgraça a vida de uma família; um chefe que tira a criatividade dos seus funcionários; um político que ocupa muitas vezes a tribuna com tanto mau humor, que tira até o ânimo da vida política ou de seus assessores a criatividade -, esse espírito de cizânia é, sem sombra de dúvida, um dos piores entraves ao progresso, à paz do nosso País. E sem paz não encontraremos os melhores caminhos para o nosso povo, que já sofre tanto, que já enfrenta condução lotada, dificuldades para pagar a mensalidade dos filhos na escola e até mesmo para alimentar a própria família.

Quando um sujeito assume uma posição e vai às ruas pedir votos, tem que fazer um compromisso de humildade, tem que aprender a pedir desculpas quando erra, tem que saber que suas atitudes intempestivas se refletirão no povo, em um policial autoritário, em um Governo arrogante. Muitas vezes, os erros são irreparáveis.

Portanto, faço um apelo para o Governo do qual tenho a honra de fazer parte, sem fisiologismo, pois não fui nomeado para nenhum cargo no Governo e nunca sequer pedi isso. Faço parte por ideologia. O Presidente recebeu o voto de mais de 50 milhões de brasileiros, e não pretendo atrapalhar. Quero cooperar, aperfeiçoar. Creio que Sua Excelência tem todo o direito de implementar seus projetos, pois o povo deu-lhe esse direito.

No entanto, é bem verdade que tais projetos não têm andado a contento. Nenhum de nós está satisfeito, muito menos o Presidente. Haveremos de encontrar um melhor caminho, mas que certamente não passará pela arrogância, pelo tratamento descortês, deselegante e generalizado que ofenda uma classe que aprendi a respeitar.

Tenho muito a dizer, a desabafar, mas não quero estender-me, pois recebi um apelo do simpático Senador do Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves Filho, que precisa dirigir-se à Nação.

Sr. Presidente, quero agradecer a V. Exª por inscrever-me para pronunciar meu discurso, como segundo orador, na quinta-feira, em que abordarei a saúde no meu Estado. Que Deus o abençoe.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/03/2004 - Página 8241