Discurso durante a 23ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio às declarações do Sr. Carlos Lessa, Presidente do BNDES, atribuindo ao Sr. Fernando Henrique Cardoso a condição de "vendilhão da pátria".

Autor
Eduardo Siqueira Campos (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Repúdio às declarações do Sr. Carlos Lessa, Presidente do BNDES, atribuindo ao Sr. Fernando Henrique Cardoso a condição de "vendilhão da pátria".
Aparteantes
Ney Suassuna, Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/2004 - Página 8368
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESRESPEITO, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES).
  • ANUNCIO, CANCELAMENTO, CONVITE, PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), VISITA, ESTADO DO TOCANTINS (TO).
  • DEFESA, RESPONSABILIDADE, EXERCICIO, OPOSIÇÃO.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Romeu Tuma, Srªs e Srs. Senadores, Senador Antonio Carlos Magalhães, Senador Papaléo Paes, Senador César Borges, Senador Delcídio Amaral, Senador Mão Santa, Senador Ney Suassuna, meus companheiros de Parlamento, caro Senador Maguito Vilela, do Estado vizinho e irmão, Estado de Goiás, quero, Sr. Presidente, trazer para esta tribuna, não poderia dizer que não é apenas a minha solidariedade ou ainda o meu desagravo, porque tenho certeza que Sua Excelência, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, dela não precisa. Refiro-me, Sr. Presidente, a um comportamento que tenho adotado nesta Casa que tem sido o da responsabilidade. Votei a favor das reformas que foram apresentadas por este Governo no primeiro ano porque entendia que um governo que estava começando com o intuito de promover as reformas se tivesse as reformas negadas pelo Parlamento iria dizer à opinião pública nacional que lhe faltou a governabilidade e as melhores condições. Por isso o Congresso cumpriu a sua responsabilidade.

Tenho me portado nesta Casa sempre a favor da estabilidade, da responsabilidade e das melhores relações entre o Executivo e este Senado, do qual tenho a honra de ser o seu segundo vice-Presidente. Mas quero, Sr. Presidente, com a mesma veemência, com a mesma serenidade e com a mesma posição construtiva que tenho adotado nesta Casa, repelir as palavras ditas pelo Presidente Carlos Lessa, do BNDES, numa aula inaugural, ontem, para calouros na Universidade Federal do Rio de Janeiro, principalmente pela sua condição de ex-reitor. Durante suas palavras, o Presidente do BNDES se referiu ao Presidente Fernando Henrique Cardoso como um vendilhão da Pátria.

Ora, Sr. Presidente, tenho visto neste Parlamento posições duras, oposição responsável, oposição que adota um comportamento, a meu ver, condenável, pessoal e tem sido uma média das opiniões de todos os partidos nesta Casa que nunca o Senado teve tanta importância no cenário político nacional como tem tido agora. E nós não vamos aceitar isso em nenhuma hipótese. Mantivemos inclusive um entendimento com o Sr. Carlos Lessa para que fizesse sua primeira visita ao Tocantins. Digo desta tribuna: a visita está cancelada, porque eu não vou voltar ao meu Estado em companhia de alguém que não respeita o cidadão Fernando Henrique Cardoso, o Presidente que fez a transição democrática, um Presidente que me pediu - este depoimento eu já trouxe à tribuna desta Casa -quando fui ao seu encontro, logo que ele deixou o Governo brasileiro e estava na França inclusive para receber um grande prêmio, uma grande comenda, o seguinte: Siqueira, com a responsabilidade e com o papel que você tem dentro do PSDB, peço-lhe que ensejemos a este Governo a estabilidade que eles procuraram nos retirar; não vamos ser o PT do Governo do PT; vamos ser um PSDB construtivo para este Governo que o povo elegeu. O Presidente teve grandeza ao promover a transição mais democrática. Nós não vamos aceitar, Sr. Presidente, porque eu também não aceitarei, como Senador, que num futuro próximo chamem o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vendilhão da Pátria. O Presidente Fernando Henrique Cardoso não merece esse tratamento!

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Será que eu podia aparteá-lo, Senador?

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Dentro do horário de Liderança, dentro do meu tempo, ouço V. Exª, desde que seja muito breve, porque o tempo é curto.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Eu só pediria a V. Exª que, antes, confirmasse essas expressões que saem nos jornais, pois freqüentemente são distorcidas e deturpadas. Conheço muito bem o Sr. Carlos Lessa, que não é uma pessoa que use expressões semelhantes. Pode ter feito críticas pesadas, o que também faço ao Presidente Fernando Henrique quanto à venda do patrimônio nacional com as privatizações. Com tudo isso concordo. Agora, usar expressões desse tipo, duvido que ele as tenha usado.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Senador Roberto Saturnino, agradeço e entendo V. Exª. Acho que V. Exª faz o que sempre faço nesta Casa: partir para a ponderação e para a moderação.

Veja que ele estava diante de 200 alunos calouros da Universidade do Federal do Rio de Janeiro e começou a ser aplaudido. Ora, se ele tivesse introduzido o tema Waldomiro, talvez fosse mais aplaudido ainda; se tivesse dito que não concorda com a aplicação do dinheiro de investimento do BNDES em outros países, ainda que para gerar emprego aqui dentro, talvez tivesse sido mais aplaudido ainda.

Entretanto, penso que ele escolheu o caminho mais curto, o caminho errado para atentar contra a honra do ex-Presidente que governou este País por oito anos, duas vezes eleito no primeiro turno, com grande votação e grande admiração da população brasileira.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Nobre Senador, permita-me três palavras.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Permitirei a V. Exª, Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Eu não entro no mérito do discurso e das expressões, porque não o acompanhei. No entanto, dou a V. Exª apenas um testemunho por honra. Comuniquei ao Presidente Fernando Henrique que iria ser vice-Líder do Governo. S. Exª disse: “Ajude, não podemos entrar em crise”. Concordo com V. Exª que o Presidente Fernando Henrique realmente tem procurado a estabilidade e não atacar o Governo.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Quero dizer aqui, Senador Roberto Saturnino, que estavam não só os alunos, mas vários jornalistas, quando ele criticou duramente os controladores da AmBev, a quem chamou de não serem brasileiros.

Discordo também do Sr. Carlos Lessa até pela atuação que tem tido o BNDES de colocar dinheiro brasileiro lá fora, ainda que para apoiar empresas brasileiras. Eu preferia esse dinheiro aqui dentro. Creio que ele não tem o direito de subtrair a nacionalidade de nenhum empresário por força de joint ventures, que estão sendo feitas no mundo inteiro.

Mas não quero e não tenho procuração... Não bebo nem Brahma, nem Antarctica, nem a Nova Schin, mas tenho o dever e a responsabilidade de preservar o nome de um brasileiro que tem, como ex-integrante desta Casa, a respeitabilidade e a responsabilidade de quem nos tem pedido para ajudar a construir uma Oposição democrática, porque este Governo foi eleito pelo povo brasileiro, o mesmo que o elegeu um dia. Então, não merece S. Exª, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, este tratamento.

Equivocou-se o Presidente Carlos Lessa, gravemente.

Quero dizer, aqui da tribuna, que cancelo uma reunião que considerava importante com os três Senadores, os economistas, as empresas, as prefeituras do meu Estado, porque não vou ao Tocantins em companhia de quem se refere ao Presidente Fernando Henrique dessa forma.

É deplorável, Sr. Presidente. Que ele tivesse a mesma humildade que teve o Ministro José Dirceu, que, ao incorrer em erro - pois considero um erro a entrevista dada ao jornalista Merval, de O Globo -, a tempo, pediu desculpas aos Governadores do PSDB e àqueles que propugnam pelo entendimento e pela moderação.

O BNDES não é um banco qualquer, mas um dos entes mais importantes do investimento para a economia deste País. E não pode ser o seu presidente, um ex-professor universitário, um ex-reitor de universidade importante, um brasileiro respeitável, que, neste instante, rasga a sua biografia, confirmadas essas palavras.

O Estado de S. Paulo fez uma transcrição literal do que disse o Sr. Carlos Lessa, e ainda disse que está no Aurélio: “vendilhão da Pátria é aquele que trafica publicamente em coisas de ordem moral”.

Isso não pode ser relacionado ao Presidente Fernando Henrique, de nenhuma forma. Isso não poderia ser dito pelo Presidente do BNDES.

Nós, a Bancada do PSDB, temos lutado com moderação e responsabilidade, tentando dar a este Governo aquilo que a sua base aliada dinamita diariamente - a estabilidade. Não tem sido fácil fazer Oposição, porque a própria base aliada não deixa. Eles próprios desestabilizam diariamente o Governo que ajudaram a eleger.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Sr. Presidente, quero chamá-lo à responsabilidade. Que o Sr. Carlos Lessa tenha a mesma humildade do Ministro José Dirceu, que, em nota, pediu desculpas à Nação, aos Governadores e ao meu Partido.

Espero que o Dr. Carlos Lessa faça a retratação pública. De outra forma, não nos restará outro caminho senão processá-lo pelas palavras irresponsáveis e inaceitáveis, que, entre outras coisas, comprometem as nossas relações neste Plenário.

Se não houver por parte do Presidente do BNDES um esclarecimento e uma retratação, Sr. Presidente, a minha posição, nesta Casa, vai sofrer uma profunda revisão. Ou se respeita o PSDB, na pessoa do Presidente Fernando Henrique Cardoso, ou não teremos mais como manter a nossa convivência nesta Casa.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/2004 - Página 8368