Pronunciamento de Mão Santa em 26/03/2004
Discurso durante a 25ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Críticas ao Governo Federal.
- Autor
- Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
- Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Críticas ao Governo Federal.
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/03/2004 - Página 8558
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), ELOGIO, IDONEIDADE, SERVIDOR.
- GRAVIDADE, SITUAÇÃO, DESEMPREGO, BRASIL, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ALTERAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, DEFESA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), COMBATE, IMPUNIDADE.
- LEITURA, CARTAZ, ENUMERAÇÃO, RESULTADO, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INSUCESSO, POLITICA SOCIO ECONOMICA.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Heráclito Fortes, do PMDB do nosso Piauí, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros presentes e os que nos assistem pela independente e eficiente TV Senado, que nos ouvem pela Rádio Senado e que nos lêem pelo mais livre e independente periódico, que é o Jornal do Senado, volto a esta tribuna para tentar interpretar os acontecimentos que Deus, em sua generosidade, mostra ao Presidente da República.
Ontem, todo o País viu que Francisco teve dia de herói. Não era o Francisco santo, aquele de Assis, o romano, que andava no mundo com a bandeira “paz e bem”. Foi o Francisco, um servidor, um trabalhador brasileiro que deu demonstração de uma virtude que deve estar em todos nós: a honestidade.
Atentai bem, Sr. Presidente, interpretai. A minha passagem por aqui foi muito boa, acabamos com o time dos “peladeiros”. Mas agora quero convocá-los para refletir, para meditar, para o aprendizado.
Senador Alvaro Dias, Francisco teve um dia de herói, segundo as televisões, os jornais do País todo. Estou aqui com o Correio Braziliense. Aliás, é gratificante dizer que os jornais de Brasília são hoje competitivos - a cidade consolidou-se em todos os aspectos -, nada devem aos tradicionais e históricos jornais deste País, apesar de muito jovens. Publicou o Correio Braziliense: “Francisco tem dia de herói”, uma reportagem linda!
Mas, Senador Alvaro Dias, Shakespeare disse: “nada é bom ou mal, depende da interpretação”. Uma faca pode ser o melhor instrumento do mundo em um churrasco; ontem mesmo estive em um, e que coisa boa uma faca! Mas a situação se complica se se pega esse instrumento e se mete no bucho; tem-se que ir para o hospital. Eu operei muita gente esfaqueada. Nesse caso, a faca deixa de ser um bom instrumento.
Então, vamos interpretar aquilo: Francisco, herói, virtude. Presidente Lula, este é um país cristão! Deus entregou a Moisés os mandamentos, Senador Alvaro Dias: “amai-vos uns aos outros” e “não roubareis”. A honestidade está imbuída nos 170 milhões de brasileiros e brasileiras. Nós, filhos de Deus, somos irmãos de Cristo. Isso é o normal. E olhai a interpretação: o brasileiro deu um ensinamento de honestidade - a ignorância é audaciosa - e o suíço, de ser pão-duro. Não, talvez o suíço tenha considerado uma normalidade. Ser honesto é uma normalidade, não neste País de lalau; não no País da impunidade; não no País que impede CPIs! Talvez o suíço tenha achado aquilo normal. Não é normal ser honesto? O cristão não deve ser honesto? Para que Moisés entregou aquelas leis?
Atentai bem, Lula: esse núcleo duro não tem nada a lhe ensinar, já mostrou. Eu sei mais, aprendei. Franklin Delano Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos quatro vezes, Senador Alvaro Dias, disse: “Toda pessoa que vê é superior a mim em alguma coisa, e, nesse particular, procuro aprender”. Só por ser duro, esse núcleo já mostrou incompetência. A força não está na dureza. Se a árvore é dura, quebra-se quando vem o vento; se é flexível, a ventania passa. Essa é uma qualidade. Então, o núcleo duro nada tem a lhe ensinar, Presidente Lula. Liberte-se!
Um sargentão pensou que nos ia fazer cubanos, obedientes aos que fizeram Fidel como modelagem. Cada um tem a sua modelagem, isso é da Psicologia; é preciso entender as coisas.
Rui Barbosa também nos deu um ensinamento muito bom, por isso está ali. De tanto vermos as nulidades, as incompetências se elevarem, chegará o dia em que, neste País, teremos vergonha de ser honestos. Todos nós temos que ser. De que valeu o amor da santa Helena e Silvino, seus pais, Senador Alvaro Dias, 70 anos? Da minha mãe, Jeanete; da mãe dos brasileiros e brasileiras?
Agora, é preciso entender, Presidente Lula: o núcleo duro não tem competência para lhe ensinar. O Carreiro é um homem estudioso; iguala-se a Sarney: é do Maranhão, de Gonçalves Dias. Humberto de Campos, maranhense que tanto combateu a ditadura de Vargas, morou na minha Parnaíba, onde plantou um cajueiro. Brasileiras e brasileiros, ele disse: “A ocasião faz o ladrão”. Trata-se de um conto de sua autoria. Humberto de Campos, que era órfão, conta que tinha um tio muito rico, em cuja casa viu uma árvore de Natal. Ele, primo pobre, naquele desejo de criança, conta: o brinquedo roubado. É a ocasião. Mas Humberto de Campos foi um escritor, um poeta. Ele diz, Senador Alvaro Dias - isso seria bom até para o Presidente José Sarney e para o Senador Marco Maciel -, que há muitos notáveis na Academia de Letras, mas ninguém, como ele, teve um caminho tão longo e tortuoso para chegar lá. A ocasião faz o ladrão.
Mas eu ficaria mais com Ortega y Gasset. Essa Espanha histórica, de Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes! Ortega y Gasset, nos seus mais belos trabalhos, diz: “o homem é o homem e suas circunstâncias”. Atentai bem, Srªs e Srs. Senadores: todos são bons, ninguém tem tendência a matar o próximo, mas, diante de uma agressão, ocorre aquela mudança. Até o Código Penal perdoa, atenua.
Então, quem é o culpado de só haver um honesto acolá? Penso que honestos deveríamos ser todos nós, filhos de Deus, irmãos de Cristo, que obedecemos às leis entregues a Moisés e ensinadas por nossa mães: a sua, Senador Alvaro Dias, a santa Helena, e a minha, a santa Jeanete, no céu. Não sou Mão Santa, mas sou filho de mãe santa: terceira franciscana, igual a Pedro Simon, daí a empatia que S. Exª tem.
Então, queremos dizer que a culpa de tudo isso é do Presidente Lula. Sua Excelência prometeu dar 10 milhões de empregos. “O homem é o homem e suas circunstâncias.” Se estão matando, roubando, assaltando, olhai, vamos interpretar aquele belo quadro do Francisco. Por que ele é daquele jeito? Aquela figura pura, honesta, cearense, da vizinha Sobral. Porque ele tem um emprego. Posso ter o mesmo julgamento para aqueles de quem roubamos a oportunidade de trabalho, de ter renda? A ignorância é tão audaciosa, Senador Alvaro Dias, que aqui é muito mais grave - esse núcleo duro, burro! Ora, tem estados europeus que têm 10%,11%. Mas acontece que a renda familiar lá é muito maior. Nos Estados Unidos, qualquer pessoa ganha US$8 por hora, eles trabalham 10 horas, porque não há esses fiscais do desemprego soltos - logo, são US$80. A renda familiar ajuda os desempregados. Aqui, a renda é tão pequenininha, tão pequenininha que não está nem dando para quem está recebendo. O salário mínimo é baixo, imoral.
Eu me lembrava do Lula que nos encantou, dizendo: “ah! o trabalhador tem o direito de tomar sua cervejinha.” Senador Álvaro Dias, ele não tem o direito nem de tomar água por não poder pagá-la. Essa é a verdade, e a causa disso é o desemprego. Olhai o que o emprego traz: a dignidade.
Senador Antero Paes, bravo Senador da CPI, lembre-se de Cristo. Quando estava tudo perdido, as irmãs de Lázaro diziam: não adianta, agora está tarde, não tem jeito. E Ele disse: “Levanta-te, Lázaro!” Vamos fazer o mesmo com essa CPI, que está morta, está envergonhando o Senado e a Pátria: levanta-te, CPI! Essa é a sua missão!
Eu vi a inauguração daquele edifício do Lalau. Os administradores da obra transferiram milhões para fora. É a CPI do Antero Paes que está freando essa roubalheira. Ele pode não estar fazendo mais, mas estão com medo da figura honesta, igual à do Francisco, aqui um herói.
Eu lembraria ao Presidente Lula, que convidou o Zeca Pagodinho, aquele da briga da Skin com a Brahma, Senador, que convide aquele do Ceará, o Fagner.
Senador Leomar Quintanilha, eu não sou bom de música, não sei cantar, mas considero a música mais importante do que a filosofia, mais importante do que a sabedoria. Ela tem uma revelação, Senador Antero Paes, mais forte do que a sabedoria, do que a filosofia. Vemos na Bíblia, por exemplo, Davi tocando e cantando.
Eu buscava um Fagner, ali do Ceará. Ele tem uma música - vou cobrar cachê dele - que se chama Menino Guerreiro. A letra eu sei; a música é uma mensagem, é uma revelação. “Menino Guerreiro: o menino guerreiro tem uma dor no peito. Ele sofre; mas, se lhe castra o seu sonho [o seu sonho é o seu trabalho], o menino guerreiro sofre; ele mata, ele morre, não tem felicidade”.
É isso o que está faltando: trabalho. É o que queremos ensinar. Mas o núcleo duro não aprende; é difícil. E é função desta Casa ensinar. Esta Casa, Senador Antero Paes de Barros, Senador Leomar Quintanilha, começou quando Moisés quis fraquejar naquela sua missão histórica de levar o povo de Deus à terra prometida. Ele enfrentou os exércitos dos Faraós, acreditou, teve fé, atravessou o mar sem navio, mas quis fraquejar porque o povo não queria seguir as leis.
Devemos inspirar esta Casa a fazer leis boas e justas. O povo de Deus quebrou as leis e o barro de ouro, e Moisés quis fraquejar.
Senador Antero Paes de Barros, não fraqueje, lute pela CPI. O povo quer a CPI, a honestidade, a vergonha, a transparência.
Senador Álvaro Dias, esta Constituição que Ulysses Guimarães nos deixou estabeleceu os princípios da moralidade, da legalidade, da impessoalidade, da probidade e da publicidade. E a CPI é tudo isso. Por que se tem medo de CPI? Para trocar CPI por MP? No meu Piauí, estão chamando MP de mutreta de picaretas. Não estão fazendo de acordo com o que disse Rui Barbosa: só na lei e dentro da lei está a salvação.
Moisés ouviu uma voz: “busque os setenta mais velhos e mais experientes e eles lhe ajudarão a carregar o fardo do povo.” Nasceu, daí, a idéia do Senado, que foi melhorando na Grécia, em Roma e aqui, com Rui Barbosa, com todos eles, com todos que representamos o povo que tem que ter como virtude a honestidade, e não como raridade de um povo. Essa é a verdade.
O que estou vendo é feio. Ontem assisti na Comissão ao Presidente do Banco Central. Nota dez como banqueiro, como experto, sabe fazer multiplicar o dinheiro; acho que ele ganha até daquele Rotchild, um inglês que mais mexeu com dinheiro, que mais ganhou dinheiro. Ele está na dele, os banqueiros estão na boa. Mas, Lula, Rui Barbosa disse: “primeiro tem que ter primazia, tem que ter respeito, tem que ter apoio, o trabalho e o trabalhador”. O trabalho e o trabalhador vieram antes; depois, a riqueza, o dinheiro, o metal. Aqui, não. É o contrário. Cento e quarenta e cinco bilhões foram transferidos para pagar os reis, os que cultivam o deus dinheiro. E vai continuar assim. Não vai haver mudança, porque, para onde se vai, leva-se a formação profissional, e o homem é banqueiro. E o Líder do Governo disse que agora temos um Governo e um político. Que político!? Políticos somos nós. Político porque conquistou um mandato!? Ele deveria estar nos tribunais por abuso do poder econômico. Político!? Um homem que chama para um debate qualificado! É excelente, é nota dez, é o melhor banqueiro do mundo. Continua. Como Fittipaldi vencia as corridas, ele vence as corridas do ganhar dinheiro. Os bancos estão aí com os seus lucros. Essa é a verdade.
Isso tem que mudar. Vai mudar pela democracia. Essa é a nossa posição, não a posição dura do PT, aquele que dizia quando estava fora: “não! Queremos a democracia. A democracia permite a alternância do poder e vamos mudar agora, nessas eleições”. O PMDB, de Ulysses Guimarães, que disse “ouçam à voz rouca das ruas” vai para as eleições municipais, aumentar, vencer. E vamos ganhar a Presidência da República. Essa é a destinação de um partido, um projeto de poder, para com o poder servir, como Cristo fez. Ele disse: “eu não vim para ser servido”. Não é para negociação, não é para empreguinho para parente; é o compromisso. Com relação a se dizer que a nota não é do Senado, esclareço que ela é do meu Partido. O PMDB, democraticamente, numa convenção e numa assembléia, escolheu o Presidente Michel Temer, que a assinou. Aquela nota é do meu Partido, que é do povo; aquela nota representa a coragem e a verdade do nosso PMDB.
Concluindo, gostaria de advertir o Governo com relação ao cartaz que estão distribuindo por aí: “Os 13 Primeiros Resultados do Governo Lula”. Não há história de Duda Mendonça, não. Isso é tolice.
Aprendi a verdade com o povo do Piauí: é mais fácil tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade.
Ulysses Guimarães nos legou a verdade: “Ouçam a voz rouca das ruas!”.
Vou adiante, Senador Antero Paes de Barros. Como médico, olho facilmente a fisionomia, que é de desespero, de decepção, de sofrimento e de esperança naquilo que não é do PT, a democracia. Esta nos antevê a alternância do poder em breve.
Aqui está: “Os 13 Primeiros Resultados do Governo Lula”. Não vejo nada demais. Foram os 13 primeiros resultados do Governo Lula. Eu só estou chateado porque o “13” está estigmatizado.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Nossa Senhora de Fátima, 13 de maio, um nome tão abençoado. Senador Antero Paes de Barros, eu nasci em 13 de outubro. Agora, esse livro. E todos os dias vêm medidas provisórias - são 13 por dia.
Agora, entregaram-me esse cartaz, enumerando 13 resultados.
1 - Aumento do Desemprego;
2 - Queda da Renda do Trabalhador; [É verdade. “Em verdade, em verdade, vos digo”- Cristo.]
3 - Fracasso da Política Social; [nenhuma];
4 - Idosos Desrespeitados e Humilhados; [pelo Poder, pelo Ministro]
5 - Aumento da Dívida Pública;
6 - Pagamento de R$145 bilhões de juros. [Eu disse: “esse Palocci sabe tanto quanto eu Economia”. A formação dele não é melhor do que a minha, de maneira alguma. Ele foi prefeitinho, e eu fui. Eu fui Governador, e ele não. Eu o adverti sobre o conhecimento.]
Nobre Senador Antero Paes de Barros, Duclós, o filósofo, disse que há três maneiras de sermos ignorantes. A primeira é não saber nada - e escapamos do negócio do PT. A segunda é saber mal aquilo que se deve saber. E a terceira é se aprofundar e saber aquilo que não se tem necessidade de saber. Saber sobre um foguete que vai para a lua. Não interessa.
Disse, desde o começo: cada macaco em seu galho. É ouvir a voz rouca - não está no galho, continua aí. É como se eu pegasse um avião, e o piloto me dissesse: Mão Santa, sente-se aqui, olhe o computador, segure esse botão que ele voa. O Sr. Antonio Palocci pegou os botões e continuou, mas está aqui o resultado: aumento da dívida pública, pagamento de R$145 bilhões de juros. Esse é o PIB de um ano de 12 Estados do Norte e Nordeste; todos trabalhando em 12 Estados para pagar isso - só para dar noção do que são R$145 bilhões.
7 - Lucros dos Bancos Mais Altos da História; [Parabéns! O grande Presidente, o grande banqueiro está ganhando de Rotchild, o inglês que mais sabia ganhar dinheiro.]
8 - Submissão Exemplar ao FMI; [Getúlio Vargas rompeu. Juscelino Kubitschek rompeu, e o cabra macho da Argentina está aí. Aquele país cresceu de 7 a 8%, e aqui foi como rabo de cavalo - não cresceu, foi para baixo]
9 - Aumento de 1% para o Funcionário Público;.[Isso é deboche. Em dez anos, 1%.]
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Apenas para concluir, Sr. Presidente.
10. Luxuoso Avião Presidencial de R$200 milhões; [É! Avião zero. Carro zero. Fome Zero. Governo nota zero.]
11. Falta de Preparo para Governar o Brasil;
12. Aliança com os “Velhos Coronéis” da Política;
13. Escândalo “Zé Dirceu - Waldomiro Diniz - Buratti”.
Esse é o espetáculo.
Ainda bem, Senador Antero Paes de Barros. O povo brasileiro tinha medo de que nossa bandeira se avermelhasse, fosse mudada, mas o PT foi só nessa lista branca e está escrevendo aí: desordem e regresso.
Era o que tinha a dizer.