Discurso durante a 25ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Resposta às declarações do Ministro Ciro Gomes. Contrariedade diante das manobras do Governo Federal para impedir a investigação do caso Waldomiro Diniz.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Resposta às declarações do Ministro Ciro Gomes. Contrariedade diante das manobras do Governo Federal para impedir a investigação do caso Waldomiro Diniz.
Aparteantes
José Agripino.
Publicação
Publicação no DSF de 27/03/2004 - Página 8566
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • RESPOSTA, DECLARAÇÃO, IMPRENSA, AUTORIA, CIRO GOMES, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, REPUDIO, TENTATIVA, VINCULAÇÃO, ORADOR, CORRUPÇÃO, ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO, DELEGADO REGIONAL DO TRABALHO, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • REITERAÇÃO, IDONEIDADE, VIDA PUBLICA, ORADOR.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, FALTA, SOLIDARIEDADE, VITIMA, CALAMIDADE PUBLICA.
  • CRITICA, JOSE DIRCEU, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, CHANTAGEM, TENTATIVA, IMPEDIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, EX SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, VINCULAÇÃO, CRIME ORGANIZADO, ARRECADAÇÃO, FUNDOS, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma pequena nota publicada em jornal do Rio de Janeiro traz menção do Sr. Ministro Ciro Gomes à minha pessoa. De maneira baixa, cínica, subalterna, o Ministro Ciro Gomes diz que vincular José Dirceu a Waldomiro Diniz seria igual a injustamente - diz ele que me respeita e tem que me respeitar; eu é que não sei se continuo respeitando o Ministro Ciro Gomes, mas ele tem que me respeitar mesmo, faço por onde as pessoas me respeitarem - seria igual a me vincular a uma figura que teria sido por oito anos Delegado do Trabalho por indicação do PSDB do Amazonas, o Sr. José Leovegildo Soares.

Vou rapidamente dar satisfações do caso. Ao contrário do Ministro José Dirceu, entendo que devo dar satisfação de todos os meus atos públicos; não sou o Ministro José Dirceu, não tenho o que esconder, nem sou covarde. Primeiro, o Sr. Leovegildo Soares não foi, por oito anos, Delegado do Trabalho no Amazonas; segundo, ele foi indicado subsecretário por recomendação, pelo prestígio de que gozava na corporação da Delegacia do Trabalho. Foi nomeado por indicação do meu antigo companheiro, George Tasso*, figura direita, correta, que hoje é Secretário de Governo - e é um secretário honesto e correto - do Governador Eduardo Braga, no Amazonas, companheiro de Ciro Gomes, do PPS, que já praticou gestos irregulares e tidos como de corrupção que bastam pelos seus quatros anos de mandato - não precisa praticar mais nenhum, bastam as ações dos seus primeiros seis meses de Governo.

Depois o Sr. Leovegildo Soares foi mantido na gestão do Sr. Abel Alves, meu amigo e companheiro de longas datas, que já foi do PPS, de Roberto Freire - portanto figura digna como Roberto Freire - pelas mesmas razões: é melhor não mexer. Abel tinha até restrições ao Sr. Leovegildo. E o Sr. Abel Alves hoje está no PT, do Presidente Lula.

As irregularidades muito bem denunciadas pelo atual Delegado do Trabalho no Amazonas redundaram na Operação Zaqueu, sobre gestos de propinação, de corrupção praticados no Governo Lula. E não antes - no Governo Lula, neste Governo que aí está. Nesse caso, não houve omissão. Prontamente, o delegado tomou providência, houve prisões e punições. Esse é o caso.

Eu não vou perder muito tempo com o Ministro Ciro Gomes porque eu entendo assim: o Ministro José Dirceu é o ventríloquo; e o Ministro Ciro Gomes é o mamulengo, aquele boneco por meio do qual o ventríloquo faz a encenação circense. Eu não vou perder tempo com o mamulengo; vou falar direto para o dono do boneco, para quem mexe os cordões do boneco.

Eu não tenho perdido tempo com o Sr. Ciro Gomes por duas razões bem simples: primeiro, pela desimportância que ele próprio chamou para si. Alguém que se candidata a Presidente da República em duas eleições, depois se rende por um ministeriozinho sem verba, promete a Sudene e a Sudene não sai, diz que é futilidade visitar flagelados da seca... Diz isso com medo, quem sabe, de encarar seus conterrâneos de frente como se o gesto de solidariedade não valesse nada. Se assim fosse, ficaria extinta a figura do velório: não adianta ter velório porque não se vai ressuscitar o morto. Mas necessita-se velório por causa da solidariedade, para se demonstrar amizade à família, fazer homenagem àquele que faleceu. O Sr. Ciro Gomes se omitiu brutalmente. Se o Presidente Lula exercesse um Governo sério, demitiria o Sr. Ciro Gomes naquele momento; mas o Presidente estava perdido nos salões de Paris e só quando retornou ao Brasil, e foi forçado pela imprensa, ele próprio fez visitou o Nordeste. Outra razão por que tenho poupado o Sr. Ciro Gomes de tantos ataques de tantos companheiros que o têm como figura menor é, primeiro, o fato de ser hoje uma figura menor mesmo; segundo, a Senadora Patrícia Saboya, sua correligionária de partido, uma pessoa de valor, a todos nos conquista com sua lealdade, sua simpatia, sua forma de convivência com os colegas; e todas as vezes que penso em criticar essa inoperante administração do Sr. Ciro Gomes, eu olho para a Senadora e penso: Meu Deus do Céu, ele é tão pequeno, e a Patrícia é uma pessoa tão boa, que vou deixar esse sujeito passar em branco porque em branco está passando a administração dele.

Vamos voltar então ao que interessa, ao Sr. José Dirceu. Sr. José Dirceu, V. Exª, para mim, é um chantagista; V. Exª é homem de forjar dossiês; V. Exª quer tudo, inclusive a derrocada da política econômica do seu Governo para se livrar das acusações que começam em Waldomiro Diniz e, estou a cada dia mais convencido, podem terminar em V. Exª. Se V. Exª se comportasse como uma pessoa de bem - não estou dizendo que não o seja, quero a CPI para saber se é, ou não - V. Exª se afastaria do Governo e pediria a CPI. V. Exª prefere manter essa falsa arrogância, esse falso nariz empinado. Mas V. Exª sabe que o seu patrimônio moral desabou, sua reputação está em cheque, sua respeitabilidade se arrasta em patamares baixos. Insisto em que se o caso, como diz muito bem o Senador Antero de Barros, terminasse e começasse em Waldomiro Diniz, este Governo, Senador José Agripino, já teria permitido a CPI há muito tempo. Como o Governo intui ou sabe que esse caso não começa, nem termina em Waldomiro Diniz, faz tudo para impedir que se instale aqui o procedimento de investigação parlamentar. Portanto, eu não vou perder tempo com o Ministro Ciro Gomes, que andou ocupando umas salas em Harward e não aprendeu inglês. Faço um teste. Quero que ele venha debater comigo em inglês. Eu provo que ele não fala inglês e que muito menos teria estudado economia em inglês. Economia já é um tema muito difícil de se aprender em português. Ele não sabe inglês; logo, não sabe economia, nem inglês. E montou uma farsa para tentar se colocar perante a opinião pública como a alternativa sensata a Lula. Era isso que ele queria, engodando a opinião pública. Eu ainda prefiro Lula, com toda a sua insensatez, a essa fraude que quase venceu as eleições, que é o Sr. Ciro Gomes. Ele perdeu a eleição porque o subconsciente dele agiu a favor do Brasil. O consciente dizia “Continua mentindo e continua avançando”; o subconsciente falava “Ciro, não se meta nessa porque você não pode governar o Brasil, Ciro. Você não tem capacidade para coisa alguma, Ciro. Fala besteira, Ciro, que a Imprensa te queima.” Então ele disse aquelas tolices, uma delas extremamente ofensiva à mulher brasileira e desrespeitosa em relação à sua companheira.

O Sr. José Dirceu teme o que vou dizer agora: a crise não começa e termina com o Waldomiro; a crise passa por uma teia de arrecadação para fundos partidários, a meu ver, encabeçada nele. Que ele me desminta isso na CPI.

A intranqüilidade do Ministro decorre dos fatos que se sucederão. Estão sob o crivo da opinião pública, da sociedade, da imprensa, da Oposição, figuras de proa que ganharam prestígio no Partido dos Trabalhadores e no Governo à sombra das articulações do Sr. José Dirceu.

Vamos, então, saber a fundo até que ponto vai a influencia do Sr. Delúbio Soares sobre as ações do Governo; ele que recebeu empreiteiros no Palácio do Planalto.

Vamos saber a fundo se há ou não o que se explicar de parte do Sr. Marcelo Sereno, outro assessor do Sr. José Dirceu.

Vamos saber a fundo se é ou não é verdade - por isso tanto medo da CPI de Santo André - que ali estava montada uma quadrilha para arranjar fundo para campanhas eleitorais. Que coisa incrível o caso de Santo André! Eles estão difamando o santo, porque santo geralmente faz milagre, e quem se envolve com esse caso termina morrendo. Seis pessoas correlatas àquele crime foram assassinadas. Até o garçom, coitado! E também um dos assassinos. É algo que cheira mal e que está mostrando um pouco mais do que a ponta do iceberg de uma teia de arrecadação espúria, desonrada, desonesta.

Eu já conheço o estilo do Sr. José Dirceu. Este é um Governo pífio, medroso, que, por falta de lucidez, sequer identifica bem as pessoas. Arma, por exemplo, uma ameaça ao Senador Antero Paes de Barros, que diz: “Por favor, minha vida está aí para ser investigada, virem-na do avesso”. Não percebem que o Senador Antero Paes de Barros não é um adversário intimidável. Pode haver adversários intimidáveis. Machiavel, se pudesse aconselhar esse príncipe sem lucidez que governa o Palácio hoje, diria: “Intimide quem o senhor pode intimidar, Presidente, não intimide quem o senhor não pode, não intimide quem o senhor não deve”.

Imaginar que uma notinha de jornal estabelecendo falsas ilações e usando uma figura desqualificada como este Sr. Ciro Gomes significará alguma quebra do meu ânimo de oposicionista é a mesma coisa que tirar carne da boca de leão numa jaula ou disputar comida com ele numa savana africana.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muita honra, Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Arthur Virgílio, compreendo a indignação de V. Exª porque, hoje, posso dizer que o conheço de perto. V. Exª é homem de hábitos probos, sério, de passado limpo, de reconhecida competência, mas, fundamentalmente, de passado limpo e probo. E todo homem probo, quando é objeto de suposição, de convivência com a improbidade, entra num processo de indignação, que é o que V. Exª está externando nesta manhã de sexta-feira. Em primeiro lugar, minha solidariedade a V. Exª em razão da sua conduta e da insinuação perversa e improcedente em uma coluna do jornal O Globo, a qual também li. V. Exª faz uma avaliação do caso Waldomiro, fala no Ministro José Dirceu, sugere conexões que têm que ser apreciadas e investigadas numa Comissão Parlamentar de Inquérito, única forma de dar à sociedade a resposta que deseja, mas V. Exª não aborda uma questão fulcral. Quero fazer uma pergunta a V. Exª e, permita-me, confrontá-lo. O Sr. Waldomiro Diniz, todo mundo sabe, foi nomeado pelo Sr. José Dirceu para trabalhar com ele. O Sr. Waldomiro Diniz, todo mundo sabe, há algum tempo, foi denunciado por escrito ao Ministro José Dirceu, e nenhuma providência foi tomada. A coluna de O Globo de hoje faz a ilação entre V. Exª e o Sr. Leovegildo Soares*, que foi Delegado do Trabalho no Estado do Amazonas. Diz que V. Exª quem o indicou. Quero fazer-lhe duas perguntas. Primeira: o Sr. Leovegildo trabalhou com V. Exª?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Diretamente, não. Ele foi indicado pelo secretário que o PSDB do Amazonas indicou.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Vamos supor que V. Exª o tenha indicado; não sei se o indicou ou não. Waldomiro foi indicado para trabalhar com o Ministro José Dirceu. V. Exª recebeu alguma denúncia de prática de corrupção do Sr. Leovegildo, enquanto ele era Delegado do Trabalho, sob a indicação ou proteção de V. Exª? Se as respostas forem positivas, dou a mão à palmatória e retiro tudo o que disse em relação à probidade de V. Exª e dou razão à colunista. Se não, V. Exª está sendo objeto de uma perfídia por parte do jornal, tem toda razão quanto à sua indignação e merece, sim, o apreço deste seu colega e da Casa da qual nos orgulhamos de pertencer.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador José Agripino, respondo a V. Exª de forma bem simples: ele foi indicado pelo Delegado George Tasso(*), hoje Secretário de um Governo do PPS, devido ao que ouvia da sua boa reputação na comunidade da Delegacia do Trabalho. Foi mantido pelo Sr. Abel Alves, hoje do PT, e também pelo atual Delegado, por gozar da mesma boa reputação na corporação. Portanto, nem Tasso, nem Abel, nem o atual Delegado, nem eu, jamais tomamos conhecimento de qualquer gesto que desabonasse a conduta do Sr. José Leovegildo Soares até então.

Entretanto, há outro fato que devo esclarecer: o Sr. Leovegildo jamais morou na minha casa. Na minha casa, moram a minha mulher, os meus filhos e as pessoas que trabalham conosco, os meus empregados. Na minha casa, hospedo parentes e amigos sobre os quais tenho absoluta certeza quanto às suas condutas. Há pessoas, inclusive do meu relacionamento político, com as quais converso abertamente no cafezinho do Senado ou na Câmara, no meio da rua, mas que não levo a minha casa. Na minha casa, não entra qualquer um.

O Sr. Waldomiro Diniz entrou na casa do Sr. José Dirceu, porque os dois tinham afinidades. Vamos rasgar a fantasia de uma vez. Quem neste País acredita - nem a velhinha de Taubaté - que o Sr. Waldomiro Diniz foi indicado porque supostamente era um grande conselheiro político? Foi indicado porque era um operador de arrecadação de fundos, sim, todo o Brasil sabe disso. Foi indicado porque o papel dele era esse, talvez tenha exagerado. Não posso asseverar que o Ministro José Dirceu sabia que ele ia buscar dinheiro com o bicheiro Cachoeira. Quero a CPI para descobrir se isso é verdade. Mas todo mundo sabe que ele era homem de arrecadação de fundos para campanhas eleitorais.

E o Sr. José Dirceu erra, volto a dizer a V. Exª, quando imagina que há pessoas intimidáveis. No meu caso, o tiro sai completamente pela culatra. Tenho honra pessoal. Passei pela mesma função dele, ou seja, a de articulador político do Planalto. No meu caso, chamava-se Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República; no caso dele, Ministro-Chefe da Casa Civil. E o que ele fazia, tirando essa parte obscura, era o que eu deveria fazer.

Entrei e saí do Ministério sem qualquer questionamento. Entrei e saí do Ministério sem nenhuma rasura. Entrei e saí do Ministério sem ninguém ousar dizer qualquer coisa que pudesse desabonar a minha conduta. Por quatro anos, fui Líder do Governo na Casa, acusavam Deus e o mundo - na maioria das vezes, levianamente -, e nunca ninguém levantou qualquer acusação a mim. E eu era, talvez, o mais polêmico dos Líderes que o Presidente Fernando Henrique possa ter tido no seu governo. Eu ia para o debate na Câmara e no Congresso frontalmente, eu ia desabridamente, como desabridamente me porto agora e me portarei a vida inteira. E me respondiam atacando outras pessoas do governo; ninguém me respondia me atacando.

A minha vida, portanto, está aí para ser comparada com a do Sr. Ciro Gomes a hora em que ele quiser. Não sou mesadista do Beach Park. A minha vida está para ser comparada por quem quer que seja. A minha vida está aí como um livro aberto. O meu patrimônio enche de orgulho a minha família, até porque é um patrimônio que retrata uma pessoa honesta, honrada, que procura dar dignidade e conforto a sua família. E não está na política para fazer fortuna pessoal. O meu Estado sabe disso. Sou o político mais votado do Estado do Amazonas, em todos os tempos. E creio que o Brasil começa a tomar conhecimento disso também.

Portanto, esqueço o boneco do ventrículo, esqueço o mamulengo, que é o boneco do ventrículo, e falo do ventrículo.

Ministro José Dirceu, V. Exª vai me enfrentar! Mas vai me enfrentar mesmo, e que venha com as suas armas calhordas, as suas armas covardes, as suas armas da intriga, da manipulação de terceiros, para chegar aos seus fins. E eu vou com a única arma que sei terçar: esta, o enfrentamento aqui.

Aprendi com o meu pai isto: a arte da desobediência. O meu pai me criou muito mal, aprendi a arte da desobediência. Quando eu era menino, resolvia as minhas coisas no meio da rua. Agora, eu, que não sou incapaz de resolver as coisas no meio da rua quando for preciso, não abro mão, em nenhum momento, de deixar tudo bem claro, todos os pingos nos is.

Quem sabe o Governo não propõe uma CPI do Ministério do Trabalho e, aí, meu Deus, investiga todas as operações?

Mas quero responder ao Sr. José Dirceu e não mais ao boneco dele. Aliás, eu conheço o Ciro. Vou dizer a V. Exªs quem é o Ciro Gomes. Perdoe-me, Sr. Presidente, peço que me ature por um pouco mais. Parece que estou vendo a cena: o Presidente Lula dizendo que tem que cortar orçamento e o Ciro Gomes, que cresceu bajulando o Tasso, deve ter dito ao Presidente: “Presidente, corte do meu Ministério, porque os outros vão reclamar. E eu sou leal, sou companheiro.” Diz isso de olho no Ministério do Planejamento, do Guido Mantega, de olho em desestabilizar a política do Palocci, de olho em continuar enganando a Nação. Mas uma coisa é ele enganar na campanha eleitoral; outra é entregar a economia do País a alguém que não entende o a-bê-cê da economia, não tolera o debate com quem quer seja. Alguém que leia a coluna da Miriam Leitão todos os dias derrota Ciro Gomes em um debate sobre economia. Não precisa mais do que isso.

Outro diálogo. Lula diz: “Puxa, esse Arthur Virgílio está incomodando, não é? Eu sempre gostei tanto desse rapaz, mas ele está chato, está pegando no nosso pé. Está demais.”. E o José Dirceu: “Pois é, esse cara está demais.” Aí o Ciro Gomes conclui: “Deixa que eu resolvo, Sr. Presidente. Vou chamar para mim. Aí ele esquece o senhor. Conheço o temperamento dele. Ele vai reagir. Aí, eles esquecem o Waldomiro, o Cachoeira.” E talvez nos esqueçamos de uma central de roubalheira que não estão querendo que seja investigada por essa CPI, pedida por nós e negada por eles com tanto empenho.

Volto a dizer, Sr. Presidente, que é estranho tudo começar no Sr. Waldomiro e terminar no Sr. Waldomiro. Para que tanta paúra da CPI, se ela bastaria para constatar aquilo que o documento fajuta do Palácio do Planalto concluiu? É um documento de 80, 100 ou 200 páginas e não cita o Sr. José Dirceu em nenhum momento. Ou seja, o Sr. José Dirceu não foi ouvido. É estranho mesmo imaginar funcionários do Gabinete Civil ouvindo o Todo-Poderoso Ministro-Chefe. Lógico que eles não podiam. O documento é fajuto, é uma tentativa do Governo de trocar o sofá do adultério.

Enfim, o que provaria a verdade seria uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Portanto, eu aqui coloco o Sr. José Dirceu sob suspeição. Que venha através dos seus “bonecos”, sozinho ou acompanhado, com quem quiser. A minha voz ninguém cala.

A minha definição de fazer oposição a esse desgoverno é uma destinação de vida. Para mim, a coisa funciona ao contrário. Eu vou repetir o Dr. Ulysses Guimarães: “Bata em mim e eu cresço como clara de ovo.” Bata em mim e eu viro um leão. Sei ser muito cordato e sou do diálogo na hora em que é possível o diálogo e em que é necessária a generosidade na vida pública. Considero-me uma pessoa capaz da generosidade e do respeito ao adversário.

Mas, em relação a este Governo, que, agora, envereda pelo caminho da chantagem, eu estou muito zangado, porque devem ter revirado a minha vida do avesso. E, aí, de repente, concluíram: “Meus Deus, esse cara, ainda por cima, não é ladrão. Meu Deus do céu, esse Arthur Virgílio é chato e ainda por cima não é ladrão. Passou pelo gabinete da Presidência da República e não roubou. Foi Líder do Governo - um poderoso Líder do Governo - nesse tempo todo e não agenciou nenhuma vantagem para ninguém. Que sujeito chato. Fica, aí, falando mal da gente. Fica denunciando a gente e não é ladrão. Seria tão cômodo se esse Arthur Virgílio fosse ladrão.”

Eu fico com raiva porque, se houvesse qualquer coisa a mais, iriam transformar a minha vida num lamaçal. E, aí, volto a dizer que aprendi com meu pai a arte da desobediência, aprendi com meu pai a arte da honradez. Assim, para me enfrentar é preciso pelo menos ser honrado. Para me enfrentar é preciso pelo menos ser corajoso. Para me enfrentar é preciso pelo menos ter a mesma capacidade que tenho de subir a tribuna de cabeça erguida, de descer na minha terra de cabeça erguida e andar pelas ruas do Brasil de cabeça erguida.

Portanto, Sr. José Dirceu, aceite uma sugestão para quem já foi até guerrilheiro como o senhor: abandone a covardia, largue os seus “bonecos” e enfrente-me. Procure agir como um homem de verdade agiria. Não está agindo como um homem de verdade neste momento.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/03/2004 - Página 8566