Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Criação de roteiros de turismo ecológico como forma de valorização da fauna do Distrito Federal.

Autor
Valmir Amaral (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Criação de roteiros de turismo ecológico como forma de valorização da fauna do Distrito Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2004 - Página 8815
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • ANALISE, MEIO AMBIENTE, REGIÃO, DISTRITO FEDERAL (DF), RIQUEZAS, CERRADO, FAUNA, RECURSOS HIDRICOS, APREENSÃO, AUMENTO, URBANIZAÇÃO, DESMATAMENTO, POLUIÇÃO, ESGOTO, ECOSSISTEMA, LAGO PARANOA, COMENTARIO, LEVANTAMENTO DE DADOS, ESTUDO, PESQUISADOR, CAPITAL FEDERAL, DEFESA, CONSCIENTIZAÇÃO, PRESERVAÇÃO, BIODIVERSIDADE, SUGESTÃO, INCENTIVO, TURISMO, ECOLOGIA, OPORTUNIDADE, EDUCAÇÃO, TURISTA, ESTUDANTE.

O SR. VALMIR AMARAL (PMDB - DF. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a região do Distrito Federal apresentava, antes da construção da Capital, a vegetação típica do Brasil Central, o cerrado. De fato, em áreas intocadas pela expansão da ocupação humana, ainda o vemos praticamente intacto. Esse termo, longe de representar uma paisagem uniforme, refere-se a um bioma constituído por paisagens bem variadas. Sob essa mesma denominação encontramos desde os campos limpos, onde predomina o capim, até as matas ciliares, onde se observam árvores de maior porte e a vegetação típica das margens de cursos d’água, e inclui outras fisionomias vegetais intermediárias, como o campo sujo, o campo cerrado, o cerradão e as veredas.

Pela posição geográfica central dessa região, o cerrado se interliga a outros biomas, como o amazônico e o da mata atlântica, por exemplo, por intermédio das matas ciliares, que funcionam como corredores para a fauna. Por outro lado, no aspecto climático, o cerrado apresenta forte sazonalidade, com uma estação chuvosa e quente, de setembro a abril, e outra seca e com temperaturas mais baixas, de maio a agosto. Esses fatores condicionaram, no curso da evolução das espécies, a riqueza de flora e fauna características.

Tomemos, por exemplo, as aves. Estudo recente do ornitologista Marcelo Araújo Bagno, orientado pelo professor Roberto Brandão Cavalcanti e realizado para o Banco de Dados Tropical, registra a presença de 439 espécies diferentes de pássaros na paisagem nativa do Distrito Federal. Dessas, 116 espécies reproduzem-se por aqui, e outras 84 são espécies que passam pelo Distrito Federal na estação migratória. A estação de Águas Emendadas é o ponto do DF em que se registrou maior variedade, atingindo a marca de 233 espécies diferentes.

A crescente ocupação urbana da área do DF, no entanto, tem influenciado dramaticamente as populações das diversas espécies de aves. Algumas espécies, mais típicas de um certo tipo de paisagem, e mais exigentes quanto a alimento e água, tendem a perder número, enquanto outras, mais adaptáveis, tendem até a se beneficiar da presença humana, do que resulta o aumento de sua população.

Assim é que, nas áreas de campo sujo ou de campo limpo, temos aves como a buraqueira e a codorna-pequena. No cerrado propriamente dito, espécies como o bico-de-pimenta. Nas veredas, são comuns pássaros da família das araras, papagaios e periquitos. Nas matas ciliares, podem ser encontrados exemplares de soldadinho e de juruva, além de espécies migratórias e comuns a outras regiões, como o bico-virado-carijó, os tordos e as saíras. Espécies bem mais exigentes, os inhambus, lamentavelmente, correm o risco de desaparecer, fato que nos privará da audição da incrível variedade de seus cantos melodiosos.

A progressiva fragmentação dos domínios de vegetação natural, com a queda da capacidade das matas de suportar a vida animal, tem conseqüências negativas também sobre a fauna de mamíferos, com a perda de habitats e a redução do número de espécies. Sobretudo nos ambientes naturais mais importantes para a vida animal do território, as matas de galeria, os rios e o lago Paranoá.

A devastação das matas de galeria e a construção de cercas e muros nos terrenos, além de diques e atracadouros nos cursos d’água e no lago Paranoá, bloqueiam o deslocamento dos animais, dificultando a reprodução e o desenvolvimento dos filhotes.

A poluição dos cursos d’água e do lago com esgotos domésticos e hospitalares, além de afetar os animais silvestres que vivem nesses ambientes ou em torno deles, pode causar danos também à população. É um dado que demonstra a importância da preservação ambiental para a qualidade da vida humana na cidade e nas áreas rurais.

Além das muitas espécies de aves que mencionei, vivem no ambiente natural da região do DF, nas áreas ainda pouco afetadas pela ação antrópica, mais de 113 espécies de mamíferos registradas pelos cientistas, um número que representa cerca de 21 por cento da biodiversidade de todo o Brasil, e 67 por cento da biodiversidade do cerrado, segundo estudo dos biólogos Marcelo Lima Reis e Keila MacFadem Juarez, para o mesmo Banco de Dados Tropical.

Esses pesquisadores dividiram a mastofauna da área do lago Paranoá em três comunidades distintas: a do lago propriamente dito, a das suas margens e a das áreas naturais ligadas ao lago. Na denominada comunidade do lago, encontram-se espécies caracteristicamente aquáticas, como a lontra, a capivara, a cuíca-d’água e o rato-d’água. Quanto a esses animais, é preciso ressaltar o fato de que a lontra figura da Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Já nas margens, como nos jardins e pomares à beira-lago, há espécies como o mico-estrela e o gambá, além de algumas espécies de morcegos e de pequenos roedores. Nas áreas adjacentes, terceiro ambiente da classificação dos biólogos, constituído principalmente por campos cerrados e matas de galeria, por exemplo, o Parque Nacional e as Áreas de Preservação Ambiental (APAs) do Gama e da Cabeça do Veado, vivem diversas espécies de tatu, o tipiti, o preá, a cuíca-de-quatro-olhos-cinza, além de grande variedade de morcegos.

Restam, ainda, algumas áreas preservadas onde podem ser encontrados animais de maior porte, como o veado-catingueiro, o tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim, o macaco-prego, o cachorro-do-mato, o gato-do-mato e o furão. Com freqüência, indivíduos dessas espécies são atropelados nas rodovias que margeiam essas áreas naturais, fato que indica ainda restarem populações razoáveis desses animais nas matas.

Na área ligada ao lago Paranoá, contam-se ainda 56 espécies de répteis e 18 de anfíbios. Destacam-se, nessa fauna, duas espécies de jacarés e cinco de tartarugas, além de duas espécies de sapos-cururu.

Esta rápida listagem da fauna do Distrito Federal mostra uma riqueza que a maioria de nós, que vivemos aqui, ignora. Faz-se necessária uma conscientização de todos para o valor dessa biodiversidade, que deve ser preservada. Uma maneira de valorizar esse patrimônio natural pode se dar pela criação de roteiros de turismo ecológico nas áreas conservadas, com visitas orientadas por especialistas. Assim, esses animais poderiam ser observados em seu ambiente, e os turistas e alunos das escolas da região aprenderiam sobre nossa natureza.

Trata-se, penso eu, de uma maneira moderna de valorizar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, de gerar emprego e renda para os habitantes da região. O Distrito Federal, por felicidade, ainda dispõe de áreas naturais bem preservadas; torná-las economicamente rentáveis sem as alterar é o melhor meio de as conservarmos assim. O turismo, como sabemos, é a indústria do futuro, lucrativa e não-poluente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2004 - Página 8815