Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Convicção de abertura de CPI para investigar o caso Waldomiro Diniz. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Convicção de abertura de CPI para investigar o caso Waldomiro Diniz. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/2004 - Página 8876
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, NECESSIDADE, SENADO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, INEFICACIA, POLICIA FEDERAL, MINISTERIO PUBLICO, INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a matéria veiculada ontem pela Rede Globo de Televisão, a meu ver, apenas reforça a idéia de que pode ter havido mais algum contato do Palácio com o Sr. Cachoeira do que poderia supor a minha vã filosofia. Mais ainda: se quisermos ser bem claros, se quisermos fugir às mistificações, às meias verdades, às dúvidas, vamos a alguns itens bem objetivos: o Governo passa a desconfiar do Procurador Santoro, então, CPI para investigar até o fim esse caso; o Procurador Santoro acha que a Polícia Federal tem dificuldades hierárquicas para desempenhar até o fim o seu papel, CPI, portanto; a Oposição acha que Waldomiro não agiu isoladamente, que tem mandantes, logo, CPI para se dirimir essa dúvida; o ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares*, em depoimento à CPI no Rio de Janeiro - incrível que aqueles que aqui não querem a CPI lá a aceitaram, não sei por que razão -, disse que o cidadão do Rio Grande do Sul criticara Waldomiro para ele, Luiz Eduardo, dizendo que Waldomiro estava achacando pouco, apenas R$300 mil. Ele deveria ter o compromisso de achacar mais R$200 mil, R$500 mil no total, ou seja, se o produto desse furto fosse só para Waldomiro, não teria por que o outro estar-se preocupando com a incompetência ou inépcia, como ele disse, de um corrupto que poderia ser mais aperfeiçoado. Supostamente, estaria aí o indício da existência de uma conexão, uma malha para ser investigada até o final.

No momento em que falecem as duas desculpas essenciais do Governo, ou seja, não precisa haver CPI porque o Ministério Público está investigando, não precisa haver CPI, porque a Polícia Federal está investigando, depois o Governo diz que não confia no Procurador, o Procurador diz que a Polícia Federal sozinha não é suficiente, temos de optar por uma das duas hipóteses. Uma é o diversionismo, a brincadeira com a Nação, o desrespeito ao bom senso e à inteligência das pessoas, inventando falsos culpados, inventando bodes expiatórios; a outra é a investigação dos fatos pelo Parlamento, porque, se alguém coloca o Ministério Público sob suspeição, ninguém pode fazer o mesmo com o Congresso Nacional, cuja maioria é governista.

Portanto, o fato novo aí está. Não vejo como não se renderem à evidência de que deve haver uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

Há poucos dias, na coluna do jornalista Merval Pereira, aquela em que o Ministro José Dirceu, em seu desabafo, chamou de fraco essa figura forte e exemplar que é o Senador Tasso Jereissati e a mim, de irresponsável - preocupei-me porque quem entende de irresponsabilidade deve saber o que diz e quem nomeia Waldomiro Diniz não pode ser considerado responsável -, no dia 23 do corrente. Aqui consta:

Apesar de todo o ressentimento, ele - Dirceu - nega que tenha feito ameaças ao PSDB, quando disse que dentro de mais algum tempo colocará os pingos nos is. Não tem ameaça nenhuma. Não falei deles. Quero colocar os pingos nos is nesse negócio do Ministério Público no Brasil. O Ministério Público vem fazendo violências legais a todo momento e continua - emenda Dirceu.

Começo a desconfiar que S. Exª sabia da existência dessa fita há mais de quinze dias.

Ainda há pouco, ouvi uma piada de mau gosto: alguém ia representar contra o Senador Antero Paes de Barros na Comissão de Ética. Digo: Meu Deus do céu, não saio do Brasil por nada, mas sou capaz de tirar meus filhos deste País, se, de repente, alguém representar contra o Senador Antero Paes de Barros. Mais ainda: minha família sai deste País, e eu fico aqui, se, porventura, chegarmos ao ponto em que se termine prendendo o Santoro, e o juiz que der a sentença for o Sr. Waldomiro Diniz.

Conclamo ao brio todos aqueles que imaginam que uma CPI paralisaria o País. É uma falsa desculpa. Estamos votando, votando e votando matérias de interesse do Governo. Conclamo ao brio todos aqueles que, sem falsas desculpas, se disponham a aprofundar o estudo de um caso que só fica pior com o tempo.

Disse muito bem o Senador Antero Paes de Barros: se tudo começasse e terminasse em Waldomiro Diniz, essa CPI já teria sido instalada há muito tempo. As coisas podem até ter começado - não sei se começaram - em Waldomiro Diniz, mas certamente nele não terminam.

Estamos aqui para enfrentar o debate público. Estamos aqui para defender as nossas razões. Estamos aqui para defender as nossas idéias. Estamos aqui para reafirmar a nossa disposição de esclarecer esse fato até o final. Por outro lado, se alguém imaginava que essa mexida de tabuleiro - que, na verdade, não foi de xadrez, mas de dama - iria, porventura, em algum momento, dar ao Governo as rédeas da iniciativa, esse alguém deve estar encastelado num palácio de tapetes muito macios, porque, ao contrário, o que vimos foi a reafirmação de que houve o achaque, de que há o delito, de que há gente impune e há necessidade, mais do que nunca, de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar toda essa podridão, que tem envergonhado este País.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/2004 - Página 8876