Discurso durante a 33ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários ao artigo de autoria do Senador Jorge Bornhausen, publicado no jornal Folha de S.Paulo, intitulado "O governo, a soja e o trovão", de 29 de março último.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários ao artigo de autoria do Senador Jorge Bornhausen, publicado no jornal Folha de S.Paulo, intitulado "O governo, a soja e o trovão", de 29 de março último.
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/2004 - Página 9820
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INCAPACIDADE, GOVERNO, CUMPRIMENTO, TAREFA, PROCESSO, EXPORTAÇÃO, PROMOÇÃO, AÇÃO ADMINISTRATIVA, MEDIDA DE EMERGENCIA, SETOR, TRANSPORTE, PROVOCAÇÃO, DIFICULDADE, ESCOAMENTO, SOJA, PORTO DE PARANAGUA, PREJUIZO, PRODUTOR, PAIS.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo hoje esta Tribuna para registrar o artigo do presidente nacional do PFL, Senador Jorge Bornhausen, publicado no jornal Folha de S.Paulo em sua edição de 29 de março do corrente.

O referido artigo mostra que as dificuldades para o escoamento da soja pelo porto de Paranaguá e os prejuízos para o produtor brasileiro na atual safra têm origem na incapacidade do governo de cumprir sua parte no processo de exportação e de promover uma ação administrativa de emergência na área dos transportes.

Na verdade, como está escrito no artigo “não houve planejamento estratégico” e a perda dos agricultores em 2004 já é fato consumado.

Para que conste dos anais do Senado Federal, Sr. Presidente, requeiro que o artigo da Folha de S.Paulo seja dado como lido para que fique integrando este pronunciamento.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR JOSÉ AGRIPINO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Folha de São Paulo

publicado em: 29/03/2004

O governo, a soja e o trovão

Jorge Bornhausen

O grande azar do "desgoverno Lula" é que as fábulas estão sendo reescritas e o castigo já não anda a cavalo, antecipa-se como o raio, que já caiu quando se vê o relâmpago e ouve-se o trovão.

Por isso, nesses dias, enquanto a TV mostrava a fila de caminhões de soja alcançando 80 km, cobrindo toda a extensão da rodovia que vai de Paranaguá à região metropolitana de Curitiba, e os repórteres anunciavam que havia navios esperando mais de 30 dias ao largo, os jornais circulavam com a revelação de que os produtores brasileiros estão perdendo US$ 1,2 bilhão na atual safra com o deságio, espécie de castigo pela demora e dificuldades de o produto chegar aos portos importadores.

Trata-se de uma espécie de taxa que o mercado internacional aplica a determinados produtos, conforme as dificuldades e o tempo exigido até que os compradores os tenham em seus armazéns. São dólares que deveriam engordar as receitas brasileiras de comércio exterior e que são perdidos como punição às más condições de infra-estrutura e entraves burocráticos do nosso país. Ou seja, é dinheiro que o agricultor brasileiro deveria receber pela soja que produziu e perde pela incapacidade do governo de cumprir sua parte no processo de exportação.

Antigamente, no tempo em que o castigo andava a cavalo, esse prejuízo só apareceria no final, quando se fechasse a contabilidade. Agora, em tempos de internet, é apurado on-line. O raio já caiu, isto é, o tal ágio já está sendo cobrado, e não se espera o fim da safra para fazer a conta. O relâmpago e o trovão servirão apenas, como se verá nos próximos meses, quando se registrarem os justos protestos e indignação dos agricultores. O prejuízo já está sacramentado e inscrito na conta negativa do ano 2004 do "desgoverno Lula" e seus petistas despreparados, concorrentes sérios ao título de pior equipe de administradores já reunida neste país.

Mas o que se pode esperar de um governo que perde tempo - já estamos avançados no segundo mês desde que a denúncia do caso Waldomiro apareceu - tentando abafar um reles caso de corrupção, mobilizando para isso todo o seu sistema de apoio parlamentar, só para impedir uma CPI requerida legalmente?

Esse tempo perdido do governo Lula e seus principais colaboradores no inútil pega-esconde para sepultar um caso de corrupção faz falta à ação administrativa concreta de emergência na área dos transportes, que, além da sobrecarga com o aumento das safras, sofreu os efeitos das chuvas do último inverno.

Na verdade, não houve planejamento estratégico e o país está colhendo 52 milhões de toneladas de soja com uma logística de armazenamento e transportes estabelecida quando colhia apenas 28 milhões de toneladas. Mais ou menos, como ouvi de um produtor do Mato Grosso do Sul, "o mesmo que usar um motor de Ferrari numa velha carcaça de um fusquinha". O prejuízo seria muito maior se não tivesse ocorrido uma quebra de safra de 8 milhões de toneladas, por adversidades climáticas nos principais Estados produtores.

Se o país tivesse um governo atento à nossa realidade, estaríamos todos mobilizados para vencer a grande batalha de escoamento dessa impressionante safra de grãos e a redução do absurdo deságio de US$ 1,2 bilhão, que certamente cobriria, com vantagem, só com os impostos que geraria, um verdadeiro plano nacional de combate à pobreza, que mudaria a situação de indigência de setores rurais e urbanos. Evidentemente um verdadeiro projeto social, menos propaganda e mais socorro à população necessitada.

Que brasileiro, alertado pela reportagem de Mauro Zafalon, no Agrofolha de 23/3, de que a soja brasileira estava sendo negociada na Bolsa de Chicago por apenas US$ 9,3575 por bushel, enquanto a soja americana obtinha US$ 1.056,10, não sentiu indignação com o fato de esse deságio humilhante derivar única e exclusivamente da nossa desorganização operacional? Principalmente porque esse deságio não foi imposto por nenhum imperialismo, mas foi conseqüência do fato elementar de os navios do importador levarem no máximo quatro dias para encostar e carregar sua carga de soja americana no golfo do México, enquanto estão levando 35 dias para realizar a mesma operação em Paranaguá.

E quem paga o pato? O produtor, que é quem tem sua soja desvalorizada.

Já que é incapaz de perceber as diferenças da velocidade da luz e do som e se comporta diante dos raios da economia com tanta insensibilidade, o governo poderia ao menos entender o ribombar desse trovão, expresso na espantosa cifra de US$ 1,2 bilhão perdidos pela agricultura brasileira. Prejuízo devido a um governo que perde tempo abafando CPIs, quando deveria estar preparando o país para a safra de 2005, já que a perda dos agricultores em 2004 é fato consumado.

Já que o governo vive em busca de temas para uma agenda positiva, está aí um magnífico pretexto para fazer alguma coisa. Ouvir o trovejar dessa perda de US$ 1,2 bilhão da safra de soja e fazer alguma coisa para que não se repita. Ou continuaremos a patinar no abafa-abafa do caso Waldomiro Diniz?

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Jorge Konder Bornhausen, 66, é senador pelo PFL-SC e presidente nacional do partido. Foi governador de Santa Catarina (1979-82) e ministro da Educação (governo Sarney) e da Secretaria de Governo da Presidência da República (governo Collor).


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/2004 - Página 9820