Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a matérias publicadas na imprensa, com análises e informações sobre o Governo Lula.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a matérias publicadas na imprensa, com análises e informações sobre o Governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2004 - Página 10157
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DIVERSIDADE, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, JORNAL, ANALISE, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AUSENCIA, EXPERIENCIA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, INCOMPETENCIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, INCAPACIDADE, RETOMADA, CRESCIMENTO ECONOMICO, RECUSA, APURAÇÃO, CORRUPÇÃO, REGISTRO, FRUSTRAÇÃO, POPULAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CRIAÇÃO, EMPREGO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.

O SR. ARTHUR VIRGILIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Srs. Senadores, para facilitar o trabalho do historiador do futuro, venho pedindo, nessas últimas semanas, a inserção nos Anais do Senado de matérias publicadas pela imprensa, com análises e informações sobre o Governo petista do Presidente Lula.

Os textos que venho escolhendo mostram com absoluta fidelidade que lamentavelmente o Brasil está entregue a um conjunto de meros principiantes. Além de principiantes, e a julgar por tantos vaivens, há também alguma incompetência na equipe do Governo.

Isso tudo é preocupante e, como resultado, a Nação se inquieta, diante de seguidas promessas de ação governamental, para a retomada do desenvolvimento. Nada, infelizmente, tem dado certo e o que se vê é o desemprego despencar a cada dia.

O que a imprensa publica é reflexo das desesperanças do povo brasileiro. Já quase nada se espera do Governo, que, por outra face, insiste na postura absurda de resistir à apuração de acontecimentos pouco recomendáveis, como o episódio Waldomiro Diniz.

Na revista Veja desta semana (edição de 14-04-04), o jornalista Diogo Mainardi, severo e vigilante crítico da atualidade brasileira, demonstra já ter também perdido esperança de recuperação do Governo Lula. E diz: “O que mais surpreende nos petistas é que eles ainda não perceberam que, independentemente da CPI, o Governo Lula acabou. Em junho de 2003, previ que Lula seria desmascarado em dois anos. Durou ainda menos. Na época, tracei um paralelo entre Lula e Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano. Para impedir investigações contra suas empresas, Berlusconi sempre acusa o Ministério Público de ter motivações políticas. E uma de suas principais bandeiras é intensificar o controle externo sobre a Justiça.”

O Governo petista resiste a qualquer investigação do Caso Waldomiro, sem perceber que cava sua própria sepultura, sem dúvida com muito mais do que sete palmos.

Na semana passada, mencionei em Plenário que o governo petista tenta, na prática, criar um novo e canhestro Plano Cohen na tentativa de encobrir essa insensata resistência do Planalto, que não quer a apuração dos atos praticados pelo Sr Waldomiro Diniz, ex-auxiliar do Ministro-Chefe da Casa Civil.O Plano Cohen foi um plano forjado em 1937 para justificar a implantação, por Getúlio Vargas, da ditadura conhecida como Estado Novo.

Essa grotesca invenção de uma pretensa subversão comunista, não passou de um texto do então capitão Olympio Mourão Filho, para justificar o golpe varguista.

No Brasil de hoje, conduzido por um governo caracterizado pela inércia, o jeito petista de tentar rebater a insatisfação do povo é a mistura de planos de propaganda com palavreado de pouco ou nenhum nexo.

No Brasil de hoje, conduzido por um governo caracterizado pela inércia, o jeito petista de tentar rebater a insatisfação do povo é a mistura de planos de propaganda com palavreado de pouco ou nenhum nexo.

O primeiro a sair disparando palavras ao vento, sem sentido, e sempre de mau gosto, é o próprio Presidente Lula. Em seus deslocamentos aos diferentes pontos do País, ele aproveita para fazer o que mais gosta, as falas desse tipo.

Há pouco, foi em Rio Branco, no Acre. O Presidente, como noticia a Folha Online, reclamou dos Governadores que “não informam, por meio de propaganda, a participação do Governo Federal em obras estaduais.”

Como se vê, para Lula mais importante que tudo é a propaganda. Propagar é o que vale, mesmo que as mensagens não reflitam a realidade. Foi assim, faz pouco, com as falsas imagens filmadas numa grande fazenda do interior de São Paulo como se fossem área de assentamento de agricultura familiar.

Pelo Plano Cohen Petista, a qualquer um é vedado se expressar, não importa que seja um ex-Presidente da República, um empresário ou um estudante. A seguir assim, daqui a pouco o Governo petista reimplanta a censura no País.

Não se trata aqui de exagerar o tom da postura falante de Lula. Sem medir sua fala, eis, textualmente, o que ele disse em Rio Branco: “Como este é um ano eleitoral, todo mundo se dá ao luxo de falar o que bem entende.”

Se os pecadilhos de Lula se limitassem a essas folclóricas costuragens, não seria demasiado perdoá-lo. Afinal, estamos na Semana Santa, época de conceder absolvição, como sugere a Igreja, aos pobres de espírito;eles não sabem o que fazem.

Com a repetição dessa postura, já cansativa para o povo, o Presidente Lula deixa a impressão de que é o único dono da verdade.

Esse, aliás, é um dos motivos da contínua queda na popularidade de Lula e de seu Governo. Ontem, o Ibope divulgou uma nova consulta popular, mostrando queda de seis pontos em uma semana.

E mais: ao povo resta uma única conclusão. Só Lula e seu Governo não enxergam, ou fingem não enxergar, o que se passa no País. Não há quem não veja a decadência desse Governo, em seu imobilismo. O jornal El País, de Madri, um dos mais importantes da Europa, faz um raio-x da administração Lula e conclui logo no título: “Promessas de Lula estão ‘paralisadas’.”

Nessa última quinta-feira, a crônica O Brasil não é para principiantes, do sociólogo Roberto Damata, no Caderno 2 de O Estado de S.Paulo, comprova a utilidade dos registros impressos no passado para uma melhor compreensão dos dias correntes.

O cronista recorre a um conto de Machado de Assis, publicado há precisos 122 anos. No conto intitulado A Sereníssima República, do livro Papéis Avulsos, em 1882, relata o cronista:

Machado de Assis antecipa que o Brasil não é mesmo para principiantes (neófitos, escreve Damata) quando conta a história das aranhas que, decidindo organizar-se numa república, e verificando que em todas as suas eleições havia fraude, elas mudam a forma do voto ou da urna, certas de que assim vão corrigir a corrupção eleitoral. Tal método não difere muito das nossas propostas de controle externo dos procuradores, do fechamento dos bingos, mas deixando de lado os profissionais e o bicheiro intocado.

Deixo Machado e o ano de 1882. Passo para os dias atuais e insiro nos Anais da Casa outras manifestações de setores responsáveis, diante da difícil situação brasileira, a meio caminho do caos.

Leio trechos de matéria em que a revista Veja analisa o atual quadro brasileiro. A apreensão parece intensa, a ponto de a revista trazer ao debate o nome do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Eis o que assinala a Veja:

As idéias do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso estão de volta ao debate político. Na semana passada, em artigo publicado por vários jornais, FHC destravou o dique das críticas ao governo. Acusou a administração petista de sofrer de "inoperância gerencial", desperdiçar a chance de extrair vantagens do bom momento da economia mundial e de não ter projeto de longo prazo para o país.

A falta de um projeto com características de longo prazo, ou, pelo menos, consistente, para levantar a economia brasileira, é, nos dias de hoje a maior preocupação do povo. E, é claro, os políticos responsáveis, interferem no processo, com o propósito de ajudar o País a sair do atoleiro.

Que é necessário fazer alguma coisa, ninguém tem dúvida. Só quem nada faz é o Governo, até aqui perdido, sem rumo, sem projeto algum.

Mesmo diante de quadro aterrador como o da realidade atual, o Planalto parece muito mais voltado para outros esquemas, como mostra a matéria do jornal O Estado de S.Paulo, que também incluo neste pronunciamento.

A matéria mostra que o Governo petista, por quanto, segue criando grupos de trabalho, como se isso resolvesse os nossos problemas. Aliás, Lula parece indiferente ao velho adágio, que diz: “Quer engavetar algum assunto? Crie uma comissão ou um grupo de trabalho.” O teor da matéria, bem como os das demais publicações, seguem em anexo.

Governo Lula já criou 55 grupos de trabalho

Temas são os mais variados e vão

de Machado de Assis a hip hop;

somente sob a coordenação da Casa Civil

há 37 áreas de discussão

VERA ROSA e LU AIKO OTTA

BRASÍLIA - Da atuação de Machado de Assis como servidor público ao desenvolvimento do hip hop, grupo de trabalho para debater os mais variados temas é o que não falta no governo Lula. Cultivado ao longo de seus 24 anos de história, o assembleísmo do PT tomou conta do Planalto em 15 meses de administração. Na maioria das vezes, não produziu resultados práticos. Levantamento feito pelo Estado indica a existência de 55 grupos de trabalho interministeriais em andamento, criados por decreto ou portaria. Desse total, 37 são coordenados pela Casa Civil. Mas pode haver muito mais: a cada dia surgem subgrupos e comissões “gerados” a partir do primeiro núcleo. “É como se fosse uma centopéia”, define um ministro que integra a coordenação política do governo.

A conta não inclui os conselhos e câmaras, que, ao contrário dos grupos - em tese, com prazo determinado para terminar os trabalhos -, são permanentes.

O Presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), coordena a comissão criada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de julho do ano passado, dia em que os funcionários da Previdência entraram em greve, para “elaborar estudos sobre a atuação de Machado de Assis como servidor público”. Da Academia Brasileira de Letras, Sarney sugeriu identificar na obra do escritor os personagens que eram funcionários do Estado e como eles agiam. Nove meses depois, nada. Em que pese a importância literária de Machado de Assis, qual o objetivo desse trabalho para o governo? “Queremos ter uma concepção de servidor público que seja exemplar para os dias de hoje, uma referência”, diz Fernando Tolentino de Sousa Vieira, diretor-geral da Imprensa Nacional e um dos oito integrantes da comissão. Machado de Assis começou a vida como auxiliar de tipógrafo e chegou a diretor do Diário Oficial. É patrono da Imprensa Nacional, que está atualizando uma resenha sobre sua obra. Esta, na prática, é a finalidade da comissão criada por decreto presidencial. “Não temos prazo para terminar o trabalho, mas o ideal é que seja divulgado em 28 de outubro, dia do servidor”, comenta Vieira, com planos ambiciosos para o futuro. “Quem sabe podemos fazer uma série sobre os funcionários públicos que se tornaram intelectuais?”

Hip Hop - Há pouco mais de duas semanas, Lula recebeu representantes do movimento hip hop em seu gabinete. Pronto: mais um grupo de trabalho interministerial. “Foi um acontecimento histórico”, conta o produtor Celso Athayde, parceiro do rapper MV Bill, que também estava lá.

Propusemos ao Presidente, e ele aceitou, a formação do grupo para discutir com o governo as nossas demandas em várias áreas. O hip hop não é só música: é um movimento social, cultural e político.” Athayde diz não temer que as propostas se percam na máquina da burocracia, resultado bastante comum após meses e meses de reuniões. “Risco existe até no casamento”, observa, pragmático. Mas dá um recado: “Se não formos atendidos, vamos gritar. O Movimento dos Sem-Terra (MST) também usa os próprios mecanismos para fazer pressão.

Depois de muito debate, o grupo coordenado pelo vice-presidente José Alencar apresentou um calhamaço de sugestões destinadas à transposição das águas para o semi-árido nordestino. Mas uma questão atormenta o governo: afinal, qual é a área compreendida pelo semi-árido? Para resolver essa dúvida, foi criado novo grupo de trabalho no dia 30 de março. Sob a batuta do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, a equipe tem prazo de 120 dias para concluir relatório recomendando “estudos” que possam subsidiar decisões sobre quais municípios devem integrar a região do semi-árido.

Também de O Estado de S.Paulo, recolho o trecho seguinte, que é bem uma demonstração dos vaivens do Planalto:

Até o fim da semana, os 15 deputados federais que assinaram a “Declaração de Páscoa- Antes que seja tarde:mudança já!” buscam novas adesões ao documento que será apresentado ao diretório nacional do PT, no fim de semana. Na quarta-feira, outros oito Deputados da Articulação de Esquerda lançaram sem alarde um manifesto exigindo a “redução substancial do superávit primário para 2005 e 2006” e, entre outros itens, “a renegociação das dívidas dos municípios e sua transformação em investimentos do Governo Federal.

Rio Branco - O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu as críticas do seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, que em artigo publicado no último domingo criticou a falta de um projeto de longo prazo do atual governo. Em discurso na inauguração do Hospital do Idoso, em Rio Branco (AC), Lula disse que como este ano é um ano eleitoral "todo mundo se dá ao luxo de falar o que bem entende". "Eu acho normal. Também falei muito, a vida inteira. Não reclamo. Eu só queria lembrar uma coisa: Tem gente que governou este País nos últimos 30 anos - a maioria está no poder ainda, não saiu não - e agora eles cobram de nós como se nós pudéssemos fazer em 500 dias o que eles não fizeram em 500 anos", afirmou.

Lula disse que continuará sua gestão com responsabilidade e reafirmou que não dá para concretizar os projetos com rapidez. O Presidente voltou a afirmar que assumiu o poder no momento em que o País tinha uma dívida "praticamente impagável", e entrou mais uma vez em contradição ao afirmar que tomou a decisão de não falar de governos anteriores, porque tem que olhar para a frente. "Eu vou dizer uma coisa para vocês. Quanto mais dificuldades, mais eu gosto. Eu sou um homem chegado a desafios", disse.

Ele lembrou que no ano passado o País "comeu o pão que o diabo amassou", mas que ainda assim o governo investiu R$ 1,7 bilhão, enquanto em 2002 o seu antecessor contratou R$ 262 milhões e pagou apenas R$ 19 milhões. "Entre 1998 e 2001 morreram 300 mil crianças por falta de saneamento básicos", disse.

Lula reclamou dos governadores que não estão informando, por meio de propagandas, a participação do governo federal em obras estaduais. Segundo ele, quando Fernando Henrique era presidente só os governadores Jorge Vianna, do Acre, e Zeca do PT, do Mato Grosso do Sul, ambos do PT, informavam que as obras estavam sendo feitas com dinheiro enviado pelo governo federal. "Ninguém quer fazer propaganda. O que queremos apenas é que seja dada corretamente a informação para o povo brasileiro saber quem está fazendo as coisas neste país. Isso é apenas uma questão de honestidade", afirmou.

O Presidente disse também que pretende assumir todos os compromissos feitos durante a campanha eleitoral, lembrando inclusive de comícios feitos em 1980, no Acre. Ele prometeu enviar ambulâncias ao Estado e garantiu que esses veículos serão bem equipados, muito "chiques". "Como disse o Joãosinho Trinta, quem gosta de miséria é intelectual. O povo gosta é de coisa boa".

Leonêncio Nossa, enviado especial

06/04/2004 - 16h08

Jornal espanhol diz que promessas de Lula estão "paralisadas" da

Folha Online

Uma semana depois de destacar a queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o jornal espanhol "El País" publicou reportagem nesta terça-feira em que afirma que as "reformas e mudanças prometidas" pelo governo do PT estão "paralisadas".

Segundo o diário, Lula chegou ao poder "com o lema de que finalmente 'a esperança venceu o medo'" e com uma "receita para construir um Brasil novo e diferente", mas "aos poucos percebeu que, como ele mesmo afirmou, 'não tem os poderes de Deus'".

O "El País" criticou ainda, em tópicos, os programas que terminaram o primeiro ano de mandato abaixo da meta, como o Fome Zero e o de geração de empregos.

Leia abaixo os principais trechos da reportagem.

Desemprego

Lula havia prometido criar em quatro anos 10 milhões de novos postos de trabalho, mas 2003 acabou, sobretudo na Grande São Paulo e nas principais grandes cidades, com o maior desemprego (19%) dos últimos 18 anos. Hoje 54% dos trabalhadores são informais, sem qualquer contrato de trabalho e sem direitos sindicais.

Fome Zero

"Devia ter sido o programa-estrela de Lula, que quer exportá-lo para o exterior, mas está praticamente paralisado. Foi substituído o ministro responsável pelo projeto, José Graziano, amigo de lutas políticas de Lula durante 40 anos. O projeto encontra dificuldades por motivos burocráticos e porque é disputado pelas prefeituras, pois dá muitos votos, a Igreja e o PT, que gostaria de controlar o projeto com novos critérios, na sua opinião mais democráticos. O novo ministro, Patrus Ananias, é amigo da Igreja."

Reforma agrária

"Se alguém tinha força moral e política para abordar no mesmo dia de sua posse a tão esperada e necessária reforma agrária era Lula, fundador do maior partido de esquerda da América Latina e um dos criadores do Movimento dos Sem Terra (MST). De fato, o novo presidente disse assim que chegou que com ele o MST 'não ia precisar invadir terras'. Não foi assim. Como a reforma nem começou, o MST continua com as invasões, e com maior virulência."

Reforma trabalhista

"Era uma das mais urgentes. Lula, primeiro sindicalista a chegar à presidência, queria dar um empurrão em toda a política sindical e trabalhista, num país onde a carga fiscal para os empresários é enorme e dá lugar a milhões de empregos ilegais. Cinqüenta por cento dos trabalhadores não têm contrato. Essa reforma, segundo o governo, não poderá ser efetuada antes do próximo ano."

Ambiente

"Com um território como a Amazônia, dez vezes maior que a Espanha, com 26% da água potável do mundo e um dos territórios mais saqueados em sua enorme biodiversidade, o Brasil precisava de uma política ecológica profunda. Lula nomeou para o Ministério do Meio Ambiente Marina Silva, que nasceu na selva e é uma das políticas mais empenhadas no setor e mais honrada. Mas ela esteve a ponto de demitir-se várias vezes e, ao que parece, em 15 meses não teve nenhum encontro a sós com o presidente."

Popularidade do Governo Lula cai 6 pontos em uma semana

São Paulo - A popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua em queda: caiu 6 pontos porcentuais em uma semana. É o que mostra uma pesquisa realizada entre os dias 27 e 31 de março, divulgada nesta terça-feira pelo Ibope.

Em relação à pesquisa Ibope/Confederação Nacional da Indústria (CNI), realizada entre os dias 20 e 24 de março, o novo levantamento aponta uma queda de 34% para 28% na avaliação de ótimo e bom do governo. Na mesma comparação, a avaliação regular subiu 6 pontos, passando de 41% para 47%. Essa diferença explica a queda no conceito ótimo e bom, já que o índice de ruim/péssimo ficou nos mesmos 23%. Nas duas pesquisas, 2% não opinaram ou responderam não saber.

Por outro lado, a aprovação do presidente Lula sofreu uma queda menos acentuada. Entre os que aprovam a maneira como o presidente está administrando o País, o índice caiu de 54% para 51%. Já o porcentual dos que reprovam a gestão de Lula aumentou de 39% para 42%.

Mudança maior ocorreu no índice confiança, que caiu 7 pontos, passando de 60% para 53% dos entrevistados. Na mesma proporção, caiu também a percepção dos rumos seguidos pelo País. Mais da metade da população adulta (52%) acha que o caminho está errado. Eram 46% na consulta anterior.

De forma geral, a queda na popularidade do governo ocorreu em todos os segmentos, mas foi maior nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, além dos municípios menores e no interior dos Estados. Quanto ao índice de confiança, as maiores quedas foram registradas entre os jovens (63% para 52%), os mais instruídos (68% para 54%), regiões Norte e Centro-Oeste (60% para 50%) e municípios de porte médio (67% para 53%).

Para fazer o levantamento, o Ibope entrevistou 2 mil eleitores em 151 municípios do País. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos porcentuais, considerando um grau de confiança de 95%.

Queda de popularidade pode levar Lula ao populismo, diz IIF

São Paulo - O governo Lula pode ser tentado a dar uma guinada populista em política econômica, caso a popularidade do presidente da República caia de forma expressiva. A avaliação é do Institute of International Finance (IIF), em seu mais recente relatório sobre o Brasil. Neste caso, a reviravolta na economia viria com um aumento dos gastos públicos ou com a concessão de subsídios a determinados setores da economia, e conseqüentemente redução do esforço fiscal do governo. Esse é o grande risco que o IIF aponta, ao apresentar suas perspectivas para a economia do País.

O IIF diz que a reação negativa do mercado, nesta hipótese, seria "imediata e severa", prejudicando as projeções de crescimento a médio prazo. A crise política, detonada com o escândalo Waldomiro Diniz, está começando a se dissipar e não deve prejudicar a popularidade do presidente Lula se continuar como um incidente isolado, de acordo com o IIF. No relatório, o instituto cita pesquisas que apontam que 80% da população acredita que o presidente não estava a par dos acontecimentos envolvendo o ex-assessor do Palácio do Planalto. O IIF pondera que o resultado das eleições municipais de outubro será importante para a definição do futuro do governo Lula.

Se o PT tiver um desempenho ruim ou derrotas expressivas, crescerão as pressões políticas em favor de mudanças na economia. Apesar desta advertência, o IIF diz, no relatório, que espera a recuperação do crescimento, do emprego e da renda real entre o 2º e 3º trimestres deste ano, o que deve facilitar o desempenho eleitoral da base partidária do governo e conseqüentemente do Executivo. "Uma vitória expressiva do PT não apenas fortaleceria a base política de Lula como a probabilidade de sua reeleição em 2006, assim como o apoio às reformas", diz o relatório do IIF.

Na hipótese contrária, de derrota e enfraquecimento do PT, a expectativa é de que, além de uma guinada populista na condução da economia, a aprovação de reformas no Congresso ficaria difícil. De acordo com o IIF, isso seria prejudicial ao País a médio prazo, porque o crescimento sustentado, numa base de 4,5% ao ano, depende da aprovação de reformas, como a da legislação trabalhista, da reforma do Judiciário, e melhorias na infra-estrutura do País (energia e telecomunicações).

Dívida pública faz com que Brasil continue vulnerável

Apesar da expressiva recuperação em 2003, o Institute of International Finance (IIF) afirma que a economia brasileira continua vulnerável a choques externos, à deterioração das condições políticas internas e ao afrouxamento de políticas. A base desta vulnerabilidade, diz o IIF, é a alta dívida pública do País que é sensível ao humor dos mercados. A partir de uma hipótese positiva, em que o esforço fiscal será mantido e não haverá mudanças significativas no cenário externo, o IIF projeta que a relação dívida líquida do setor público contra PIB será de 56% no final de 2004.

No relatório sobre o Brasil, o instituto projeta um crescimento de 3,4% para o PIB brasileiro neste ano, que virá do aumento do consumo e de investimentos. Em 2005, a expectativa é de uma expansão do PIB de 3,6%. As projeções são otimistas para o IPCA: 5,9% no fechamento deste ano e 4,5%, em 2005. A partir de abril ou maio, o IIF acredita que as pressões inflacionárias sazonais se dissiparão, permitindo a queda das taxas de juros.

No final de 2004, a expectativa é de que a Selic esteja entre 14% e 13%. A projeção é de que a taxa de câmbio feche o ano entre R$ 3,00/R$ 3,20, sem causar pressão nos índices de preços. O IIF acredita que o Banco Central irá aumentar, ao longo deste ano, as reservas internacionais do País, para preparar a saída do País do Fundo Monetário Internacional (FMI). A projeção é de que as reservas ultrapassem US$ 50 bi no final de 2005, sendo que no final deste ano, seriam US$ 34,7 bi.

Rita Tavares

Lula atravessa momento crítico, diz cientista político

São Paulo - O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva atravessa um dos momentos mais críticos em sua administração, desde que tomou posse. Além da fragilidade provocada pelo escândalo Waldomiro Diniz, Lula enfrenta queda na popularidade, acirramento das mobilizações em todo o País, inclusive dos sem-terra, e críticas de que seu governo está paralisado. Para reverter essa situação, o presidente deveria sair do discurso e partir para a prática, com a tomada de ações que reflitam resultados concretos, sobretudo na área econômica.

A análise foi feita hoje pelo cientista político e pesquisador da PUC e da FGV de São Paulo, Marco Antônio Carvalho Teixeira. "O governo precisa abrir o processo de discussão para a mudança de rumo, sair do discurso para a prática, mas sem perder a credibilidade conquistada na área macroeconômica", explica.

O pesquisador atesta que essa não será uma missão fácil, pois terá de ser feita num ano eleitoral e com o governo fragilizado. "Reunir os partidos da base aliada neste momento não é tarefa fácil, pois em ano eleitoral, todos pensam primeiramente no fortalecimento de seus quadros, vide o exemplo do PMDB", complementa.

Para Carvalho Teixeira, o governo do PT está numa sinuca: "O presidente Lula vive seu pior momento no poder, com uma crise prolongada que não foi debelada com a divulgação da conversa do subprocurador-geral da República, Roberto Santoro. E o quadro só vai se reverter com resultados econômicos positivos", avalia.

Para o pesquisador, não adianta mais o Conselho de Política Monetária (Copom) cortar os juros em percentuais baixos (como por exemplo, 0,25%), produzindo apenas um efeito psicológico e não prático na economia. Outro ponto levantado pelo pesquisador é o fato de que antes da crise deflagrada pelo escândalo Waldomiro, o Presidente Lula era o maior cabo eleitoral do pleito municipal deste ano.

"Lula era a grande vedete dessas eleições municipais, mas atualmente pode ser uma âncora, no sentido de puxar os candidatos que apóia para baixo." Carvalho Teixeira alerta, ainda, para a reação da população com a retórica do atual governo. "O prazo que a população deu para o presidente implantar as mudanças que prometeu está se esgotando, por isso Lula precisa sair da retórica e partir para a ação."

Elizabeth Lopes


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2004 - Página 10157