Discurso durante a 38ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre matéria publicada no jornal O Estado de S.Paulo, intitulada "Irmão de Daniel: Gilberto disse que levava dinheiro a Dirceu".

Autor
Almeida Lima (PDT - Partido Democrático Trabalhista/SE)
Nome completo: José Almeida Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre matéria publicada no jornal O Estado de S.Paulo, intitulada "Irmão de Daniel: Gilberto disse que levava dinheiro a Dirceu".
Publicação
Publicação no DSF de 17/04/2004 - Página 10445
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, JOSE DIRCEU, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, RECEBIMENTO, PROPINA, DESTINAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. ALMEIDA LIMA (PDT - SE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, segundo matéria do jornal O Estado de S.Paulo assinada pelo jornalista Fausto Macedo e veiculada hoje, em sua versão on line informa: “Dirceu recebia dinheiro de propina, diz irmão de Celso Daniel”.

A manchete do jornal impresso noticia que:

“Gilberto me disse que levava dinheiro a Dirceu”

Segundo irmão de Celso Daniel, atual assessor de Lula lhe contou que verba de propina ia para o PT.

“Quase dois anos depois de se isolar no interior da Bahia - em busca de tranqüilidade que nunca alcançou - o médico oftalmologista João Francisco Daniel retornou ontem a Santo André para declarar, pela primeira vez publicamente, que Gilberto Carvalho - secretário particular do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva - lhe teria dito, dias após o seqüestro e fuzilamento do prefeito Celso Daniel, que tinha a incumbência de levar dinheiro de propina para o PT e que esse dinheiro era entregue ao então presidente do Partido, José Dirceu.

“O Gilberto me disse isso em mais de uma ocasião”, afirmou João Francisco, de 58 anos, irmão mais velho de Celso Daniel, executado em janeiro de 2002. Carismático, importante quadro do PT, Daniel fora escolhido por Lula para coordenar sua campanha à Presidência - missão que ficou a cargo de Antonio Palocci. Hoje, ele completaria 53 anos de idade.

João Francisco voltou a Santo André para participar de uma conferência com a imprensa, realizada ontem cedo no auditório da Câmara Municipal de Santo André, ao lado do professor e irmão Bruno Daniel Filho. Eles exibiram documentos técnicos e depoimentos que constam do processo judicial acerca da morte de Daniel. “Decidimos fazer uma homenagem ao Celso, acreditamos firmemente que ele gostaria que sua morte fosse investigada corretamente, sem o surgimento de estranhos obstáculos, mas não é isso que está acontecendo”, desabafou o médico.

Os irmãos se declaram “indignados e revoltados”, mas avisam: não vão cruzar os braços, não vão dar folga à polícia e ao PT enquanto não derrubarem a tese oficial da Secretaria de Segurança - encampada categoricamente pelo partido - que empurra o caso para a vala do crime comum. “Meu irmão foi vítima de um crime encomendado”, afirma João Francisco.

Ele havia falado sobre propina para o PT em depoimento secreto ao Ministério Público, em maio de 2002. Seu relato serviu de base para que a Procuradoria-Geral da República solicitasse ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito para investigar José Dirceu. O pedido foi arquivado, por decisão do Ministro Nelson Jobim, que alegou não ter encontrado dados que justificassem a devassa na vida do ministro da Casa Civil.

Ontem o médico concedeu entrevista gravada ao Estado:

Estado - O Ministério Público sustenta que Celso Daniel tinha ciência do esquema de propina e que sua execução foi decretada depois que ele decidiu acabar com a corrupção. O que o sr. sabe?

João Francisco Daniel - O Celso foi alertado em setembro de 2001. Quem me confidenciou isso foi a Míriam (Míriam Belchior, ex-mulher e ex-secretária municipal de Inclusão Social e Habitação, hoje assessora especial da Presidência). Ela me contou duas vezes que, quatro meses antes da morte de meu irmão, o procurou e disse a ele que estava descontente com o que estava acontecendo no paço municipal. A Míriam disse ao Celso que havia recebido um convite da Marta (Suplicy) para trabalhar em São Paulo e que se ele não tomasse providência ia sair da prefeitura de Santo André.

Estado - O que preocupava Míriam?

João Francisco - Ela revelou que existia um esquema na prefeitura, uma coisa que estava escancarada, para falar a palavra certa, e que o Celso precisava tomar providências, caso contrário, ia ficar muito ruim para a imagem dele, porque o meu irmão nunca foi uma pessoa de aceitar ou de usar dinheiro público. Ele morreu praticamente sem nada, tinha um apartamento pequeno, de dois quartos, e dois carros usados. O Celso disse a Míriam que ia começar a tomar providências. No fim de outubro, viajamos para a Itália, mas não conversamos sobre assuntos administrativos ou políticos. Quando foi novembro ou dezembro, ficamos sabendo por pessoas da administração que o Celso estava realmente tomando medidas.

Estado - O sr. disse ao Ministério Público que o dinheiro da propina era para financiar campanhas eleitorais do PT?

João Francisco - Está no meu depoimento, ratifico tudo aquilo que disse. Eu fiquei sabendo, após a morte do Celso, fiquei sabendo pelo secretário dele, que era o Gilberto Carvalho. Foi ele quem me disse isso.

Estado - Onde foi essa conversa com Carvalho?

João Francisco - Foi na minha casa. Estávamos conversando sobre o andamento das investigações e ele, por nada, resolveu falar do Sérgio (empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido por Sombra ou Chefe, apontado pela promotoria como mandante da morte do prefeito). O Gilberto disse que o Sérgio era uma pessoa muito difícil, muito explosiva, que quando ia conversar com os empresários, quando ia buscar recursos, punha revólver em cima da mesa. Fiquei espantado e perguntei ao Gilberto: “Mas é assim, dessa maneira?” Ele respondeu: “É, sabe, o Sérgio tem essa maneira de agir.“ Depois, uma pessoa que recebia ameaças e era obrigada a dar propina, me confirmou.

Estado - E sobre financiamento de campanhas?

João Francisco - Eu cobrei do Gilberto: “Puxa, Gilberto, como é que pode?” Ele ficou desconcertado, não quis se entender. Ele me disse: “Você sabe, eu fiquei muito preocupado, porque tinha muitas vezes de pegar meu carro, punha em uma maleta o dinheiro que era arrecadado em Santo André e levava para São Paulo, lá para o José Dirceu. “ Foi o Gilberto quem me disse.

Estado - Há testemunhas dessa conversa?

João Francisco - Foi o Gilberto quem disse isso. Eu gostaria de esclarecer aqui que ele não falou isso só em minha casa, ele falou isso uma segunda vez, com testemunha.

O Gilberto hoje é o assessor da Presidência da República, o secretário particular.

No momento eu não vou revelar o nome. O Gilberto não falou uma vez só, falou duas vezes, a segunda vez não foi em casa e foi com testemunha.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALMEIDA LIMA (PDT - SE) - Vou concluir, Srª Presidente.

O Estado - Ele falou em valores?

João Francisco - Um milhão e 200 mil reais. Mas não é que ele pegava esse xis e levava, era uma quantia que ele foi acumulando. O Gilberto falou essa quantia e eu repeti para o Ministério Público. Foi o que ele falou.

Estado - Disse quem repassou o dinheiro para ele?

João Francisco - Era o Sérgio quem entregava, o Sérgio fazia a arrecadação, levava para o Gilberto, que levava para São Paulo. É essa maneira espúria de arrecadação de campanha que é uma maneira que acontece aqui no Brasil e é difícil de ser resolvida, não é? Esse tipo de arrecadação se assemelha ao caso Waldomiro Diniz (ex-assessor do ministro José Dirceu), que corrobora, apenas comprova aquilo que já falei há dois anos: infelizmente, aqui no Brasil o sistema de arrecadação de campanhas em todos os partidos leva a uma situação complicada, os partidos precisam arrecadar dinheiro para as campanhas senão não elege nem síndico de prédio, muito menos vereador ou deputado.

Estado - O Sérgio corre risco na cadeia?

João Francisco - Ele é um arquivo vivo, um arquivo muito importante. Nós tememos imensamente pela vida dele, que tem de ser preservada.

Fiz questão, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de trazer esta matéria, publicada hoje no jornal O Estado de S.Paulo, e lê-la na íntegra, para deixar aqui uma interrogação. Não vão apurar nada, não? E é com esse tipo de inquérito policial, com esse tipo de ação do Ministério Público que as coisas vão ser devidamente apuradas?

Não vai se permitir aquilo que foi objeto de requerimento do Senador Arthur Virgílio, ou seja uma CPI do caso Celso Daniel, para passar a limpo toda essa porcaria, toda essa sujeira, toda essa lama que fica...

A SRª PRESIDENTE (Lúcia Vânia. PSDB - GO) - Senador Almeida Lima, ainda há cinco oradores. Por isso peço a V. Exª que conclua.

O SR. ALMEIDA LIMA (PDT - SE) - Se V. Exª me permitir um minuto, concluirei satisfatoriamente.

Não se vai permitir a apuração de nada disso? Será que é decente continuar com uma situação dessas? Pessoas, inclusive aquelas que não têm sequer imunidade, não têm garantia constitucional nenhuma, como esse médico irmão do falecido Celso Daniel, vem a público, com coragem, para defender a honra, a dignidade do seu irmão e da sua família e ninguém toma providência. Que País é este? Que coisa mais ridícula! Será que ninguém vai apurar nada?

Agradeço-lhes a atenção, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/04/2004 - Página 10445