Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lançamento da candidatura de Michel Temer, pelo PMDB, para concorrer à Prefeitura de São Paulo.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Lançamento da candidatura de Michel Temer, pelo PMDB, para concorrer à Prefeitura de São Paulo.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2004 - Página 10539
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, DECISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), LANÇAMENTO, CANDIDATURA, MICHEL TEMER, DEPUTADO FEDERAL, ELEIÇÃO, PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, POSIÇÃO, POLITICA PARTIDARIA, REFERENCIA, POLITICA NACIONAL, APOIO, GOVERNO FEDERAL, BUSCA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • DEFESA, CONTROLE, GASTOS PUBLICOS, REDUÇÃO, NUMERO, MINISTERIO, NECESSIDADE, URGENCIA, PROVIDENCIA.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, quem é que não atende a um pedido de V. Exª, sempre tão gentil, tão generoso e tão democrático, quando apela para que todos possam se pronunciar?

O assunto que me traz à tribuna, Srªs e Srs. Senadores, é para mim muito auspicioso, pois diz respeito ao meu Partido, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

            No sábado, em São Paulo, Estado que é a locomotiva do Brasil e que tem o terceiro Orçamento da Pátria, o PMDB lançou a candidatura para a sucessão municipal da Prefeita Marta Suplicy nada mais nada menos que o Presidente do Partido, o Deputado Federal Michel Temer, homem de elevada estatura moral, homem digno, honrado, jurista por excelência, cuja candidatura foi lançada de forma consagradora em são Paulo. Para o PMDB, esse fato merece um destaque relevante, Senador Mão Santa, porque o Partido não podia ficar sem candidato a Prefeito na maior cidade do Brasil. Como é que se explica isso? Como o PMDB, que defende a governabilidade, poderia dizer ao Brasil, Senador Arthur Virgílio, diante do quadro nacional, que não tem candidato à Prefeitura de São Paulo? Seria o cúmulo dos cúmulos; seria até duvidar da existência do Partido.

Por isso, ao lançar a candidatura de Michel Temer - um nome, volto a dizer, consagrado na política brasileira -, o PMDB transmitiu um recado à Nação. Para mim, o PMDB quis dizer ao País que quer aprovar o que interessa à Nação brasileira, quer ajudar a governabilidade, mas quer ter identidade própria.

O PMDB não quer ser mero apêndice do Governo. O Partido, se ainda não participa efetivamente do Governo, não participa de suas decisões. Essa é a verdade verdadeira. O PMDB tirou a dúvida dos seus filiados, tirou a dúvida dos candidatos da maioria dos Municípios brasileiros, como quem diz: “O PMDB está presente; o PMDB está altaneiro; o PMDB quer o bem do Brasil”.

Contudo, o Partido - como eu - entende que governabilidade é saber o que é bom para o Brasil. E comprova isso ao apresentar seu programa em sua luta eleitoral pelo comando do País. Essa foi a base dos discursos das lideranças lá presentes. O PMDB tem que ter vontade de fazer o Brasil crescer! O PMDB tem vontade própria! O PMDB quer o desenvolvimento do País! O PMDB quer diminuir o desemprego no Brasil! O PMDB quer diminuir a violência, que está assustando todas as nossas famílias! Para isso, o PMDB tem que ter o poder, que começa nos Municípios onde moramos - e São Paulo é o maior deles.

Portanto, é fantástico ver o PMDB tirar as dúvidas que, por acaso, existiam dentro de suas bases. Lá ouvi o discurso do próprio Presidente Sarney. Fomos recepcionados pelo Presidente do PMDB de São Paulo, Orestes Quércia, a quem gostaria de tributar aqui a minha homenagem, pela maneira calorosa com que recebeu os Prefeitos do Estado de São Paulo e os Senadores.

Senador Mão Santa, foi pena não ter V. Exª, homem vibrante, naquele encontro. Lá estavam o Presidente José Sarney, os Senadores Renan Calheiros, Sérgio Cabral, Leomar Quintanilha, José Maranhão, Ney Suassuna, Maguito Vilela, Vice-Presidente do Partido. Tive a satisfação de ver aquela festa do PMDB. Também estiveram presentes três Governadores do Partido: Anthony Garotinho, Luiz Henrique e Joaquim Roriz. Todos reafirmaram que o PMDB quer atuar, tem candidatura e não quer se subordinar.

Um partido, para ajudar, deve participar e ser ouvido nas decisões do Governo. E o PMDB diz que é chegada a hora de agirmos, a fim de diminuir o desemprego e a violência.

Sr. Presidente, serei breve, mas não poderia deixar de citar Demóstenes, grande orador grego - e V. Exª, Senador Arthur Virgílio, é um grande orador do Amazonas, e fico emocionado quando V. Exª ocupa a tribuna. Perguntado sobre qual era a principal virtude de um orador, Demóstenes respondeu que era a ação, porque não adianta o discurso se não vier acompanhado de ação.

O Brasil precisa de ação! O Brasil não pode permanecer no discurso, deve agir concretamente. Não pode mais ficar no “eu acho”; tem que entrar no “eu faço”. É chegada a hora, portanto, de tentarmos fazer algo pelo Brasil.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Ramez Tebet?

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Há muito tempo, tenho algo em minha garganta que gostaria de transmitir ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tancredo Neves, ao ser eleito Presidente da República, disse: “É proibido gastar”. Agora, esse deve ser o lema. O Governo deveria dizer que é proibido gastar com o desnecessário, que devemos começar, está na hora.

O Brasil está inquieto. Em São Paulo, ouvi que o Brasil está inquieto. Então, como dizem, temos que começar a mexer o doce, Senador Arthur Virgílio - a quem vou conceder um aparte e, depois, ao Senador Mão Santa -, diminuindo o número de Ministérios. Para que 35 Ministérios? O Brasil está endividado, nosso superávit primário chega à casa de mais de 4,25%! Então, temos que adotar a tática de Tancredo de diminuir o gasto do Brasil.

Quero apoiar as coisas boas do Brasil, estou aqui para isso. E li em O Globo desta semana, por exemplo, na coluna do Elio Gaspari, que há mais de 40 ou 50 grupos de trabalho estudando assuntos brasileiros. V. Exªs acreditam que resolveremos problemas fazendo diagnósticos sempre? O diagnóstico está feito: é a violência desenfreada, o desemprego aumentando cada vez mais,. Quem não conhece esse diagnóstico? Se reduzirmos o número de Ministérios, talvez haja um pouquinho mais de recursos para tampar o buraco das nossas estradas, para investir em infra-estrutura.

O Brasil quer ação, e o PMDB pede essa ação ao Governo. Não pode haver duas Pastas, como atualmente, que não opinam sobre as ações do Governo. Para que serve um Ministério que não opina sobre as ações do Governo?

O Presidente Lula esteve reunido com os Líderes da Câmara e do Senado, com o Presidente José Sarney, e disse que vai tomar providências. Espero que Sua Excelência realmente tome providências, que pratique ações administrativas concretas e crie um grupo para discutir a administração do País, e não cargos, a não ser os que servem ao Brasil.

Não deve haver tolerância, nenhuma tolerância, com os que agem erradamente, com os que não agem com ética, com transparência. No Brasil, essa ação deve ser imediata, pois há uma inquietação nas ruas. A burocracia é demasiada. Até o Presidente da República pede a decisão do Ibama para que as termelétricas possam ser construídas. É preciso pôr ordem, mas não sei se pode haver unidade com 35 Ministérios.

Srªs e Srs. Senadores, tudo isso ouvi em São Paulo. Quero ver o meu PMDB, que restaurou a democracia no País, fazer justiça social no Brasil. É esse o caminho do nosso Partido.

Concedo um aparte ao Senador Arthur Virgílio.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador, peço a V. Exª que seja rápido, para que os quatro Senadores inscritos possam usar da palavra.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Sem dúvida. Agradeço as palavras de V. Exª, sempre generosas com relação ao seu colega do Amazonas. Atribuo o fato à amizade sólida que firmamos em nossa luta no Congresso, mais ainda agora que somos colegas no Senado Federal. V. Exª fala com a autoridade de um grande Parlamentar, de um grande peemedebista e do grande Presidente do Congresso que foi. Falar de Michel Temer significa lembrar o grande constitucionalista, o Parlamentar de escol que representa, sem dúvida alguma, a melhor expressão do nosso Congresso. Jamais duvidaria da palavra de Michel Temer. Erraria o Governo e qualquer pessoa que imaginasse que a candidatura de Michel Temer poderia ser algo como um joguete, algo como uma candidatura que é lançada para depois ser retirada, algo só para compor. Pensar assim é não conhecer Michel Temer, é não conhecer a fibra desse homem público que, a meu ver, honra a representação do Estado de São Paulo. Não se pode imaginar que alguma coisa poderá demovê-lo da disputa por São Paulo. Dou meu testemunho de amigo e de quem, quando lançou a candidatura, levou-o a sério. Sei que não o fez para blefar, pois não joga pôquer. Michel é candidato a prefeito de São Paulo. Assim o afirmo com pesar, pois é um homem de valor que vai enfrentar o candidato do meu Partido, que será lançado em São Paulo. Seria um desrespeito a Michel Temer imaginar que está blefando. Quero, também, parabenizar o Presidente Regional do Partido, Orestes Quércia, e dizer que a resposta do Partido foi contundente. Foi como se dissessem: “Respeitem quem merece respeito”. Vamos às urnas, elas irão decidir quem, afinal, governará São Paulo na sucessão da Prefeita Martha Suplicy. Muito obrigado e parabéns, Senador Ramez Tebet.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Senador Arthur Virgílio, incorporo suas palavras ao meu discurso, e não é por amizade não, é pelo valor das palavras de V. Exª. Afinal de contas, quando Michel Temer tem suas qualidades enaltecidas por um homem do quilate de V. Exª, que é de outro partido, está justificada a minha presença aqui.

E, para que não haja dúvida, digo-lhe mais: o Presidente do PMDB de São Paulo, o ex-senador Orestes Quércia, antes de irmos para o auditório, onde estavam reunidos políticos do PMDB e seus militantes, disse-me que alguém havia lhe perguntado como seriam as composições. S. Exª respondeu que a vaga de vice estava aberta. Foi essa resposta. Encerrei, então, meu pronunciamento, tamanha a convicção de que a candidatura de Michel Temer é para valer, é para o bem de São Paulo. É importante que todos saibam que PMDB, apesar de ter posição em relação ao Governo Federal, é independente nas urnas, é democraticamente independente para escolher seus candidatos. Tanto é assim, e V. Exª leu nos jornais, que o Presidente Lula tentou ainda ver se o PMDB adiava o lançamento da candidatura de Michel Temer. Mas o candidato respondeu que não, que a candidatura dele seria formalizada, que era mesmo para valer.

Portanto, não é só a importância da resposta, mas, sim, a importância da candidatura de Michel Temer. Veja bem: um partido está pedindo para o outro não lançar candidato. Que é isso? Não estou de acordo. Isso leva uma certa confusão às bases. O que aconteceu com a candidatura de Michel Temer? Lançada a candidatura de Michel Temer, a Base está tranqüila. Se temos candidato a prefeito na maior cidade do Brasil, detentora do terceiro orçamento do Brasil, está provado que estamos em condições, estamos disputando, e o PMDB vai manter a sua fibra de Partido que sempre lutou em defesa dos interesses do Brasil. Entre outras palavras, o PMDB não é apêndice - nem pode ser - de partido algum.

Concedo um aparte ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Ramez Tebet, serei breve. V. Exª falou em Demóstenes, mas eu iria buscar Diógenes, que andava na escuridão, todas as noites, com uma lanterna. Aí perguntavam: “que procuras, Diógenes? Um homem de vergonha”. Respondia ele. Essa vergonha se encontra aí na tribuna, esse extraordinário Líder do PMDB, o Senador Ramez Tebet. Deus me permitiu, quando governei meu Estado, Senador Arthur Virgílio, conferir a ele, no meio do povo do Piauí, em praça pública, a maior comenda, a Grã-Cruz Renascença do meu Estado. Senador Ramez Tebet, quero dizer o que V. Exª significa para o Senado, do qual já foi um dos mais extraordinários Presidentes. Vamos reviver a última reunião para a apreciação daquela desastrosa e vergonhosa medida provisória do trem da alegria: três mil cargos para cabos eleitorais do PT. Fui anunciado pelo Presidente José Sarney como último orador inscrito. Mas V. Exª não se conteve. V. Exª foi o último. E como mudou a história. Eles, envergonhados, retiraram aquela medida provisória e não voltaram. Essa sua palavra representa o nosso PMDB. Mas por que eu não estava em São Paulo? Eu estava na minha cidade, Parnaíba. Senador Leonel Pavan, Sêneca disse: “não é uma pequena cidade. É a minha cidade.” Ele não era nem de Atenas nem de Esparta. Deixei de ir a São Paulo porque estava sendo paraninfo de todos os cursos da Universidade Federal na minha cidade, mostrando que a mocidade do Brasil hoje, simbolizada pela minha cidade, é livre, independente e sabe o que quer. Quer a presença do PMDB. Iremos a São Paulo pedir a todos os piauienses e nordestinos que consagrem a vitória de Michel Temer, de Quércia e do PMDB, que é a vitória do Brasil.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Senador Mão Santa, vou encerrar o meu pronunciamento, mas quero transmitir algo que não sei se vai confortar V. Exª, mas acredito que sim, porque todo homem público gosta de receber estímulo. Cumprimentei muitos convencionais em São Paulo. De muitos ouvi a pergunta: o Senador Mão Santa não vem? Onde está o Senador Mão Santa? Eu disse a eles: não se preocupem. S. Exª está conosco sim. S. Exª é deste PMDB que está formado aqui neste pavilhão, este PMDB do qual fazemos parte, neste instante em que todos sabemos que o Brasil atravessa uma crise de autoridade. É verdade. O MST está aí, desafiando a todos. Falando que vai invadir, e invadindo mesmo. A violência pairando em todo o Território nacional. No Rio de Janeiro, vemos algo assombroso; há o desemprego e tudo isso.

Mas quero ver o Brasil com os olhos de um verdadeiro peemedebista. Não me lembro do autor, mas - já que V. Exª gosta tanto de parábolas, Senador Mão Santa - havia dois homens que olhavam para fora entre as mesmas grades. Um via o barro sujo das ruas; o outro contemplava o céu, o firmamento, o sol.

Eu sou daqueles que querem ajudar, assim como V. Exªs querem. Sou daqueles que querem olhar as estrelas, o céu, o firmamento. Sou daqueles que querem continuar com a minha esperança; que insistem em ver o Brasil com otimismo. Sou daqueles brasileiros mais humildes que olham para os céus e não querem perder as esperanças. Sou daqueles que torcem para que o Presidente Lula colha bons frutos na sua jornada em busca de bons resultados para o povo brasileiro.

Em suma, eu não quero que essa inquietação presente na paisagem brasileira ofusque o nosso olhar. Eu não quero que se apague o brilho das nossas esperanças. Por isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vamos continuar firme em nossa luta. Vim a esta tribuna para dizer que, quando vi o lançamento da candidatura de Michel Temer em São Paulo, vi que o PMDB ressurge, que o PMDB sabe o que quer, que já ajudou e que vai ajudar o povo brasileiro, com todas a nossas forças e idealismo.

Desculpe-me, Sr. Presidente, por ter ultrapassado o prazo, mas o assunto era empolgante e apartes foram solicitados.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2004 - Página 10539