Discurso durante a 40ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem pelo aniversário de morte do ex-Deputado Luis Eduardo Magalhães.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo aniversário de morte do ex-Deputado Luis Eduardo Magalhães.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, César Borges, Edison Lobão, Mão Santa, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2004 - Página 10600
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, EX-DEPUTADO, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o meu pronunciamento poderia ser, inclusive, uma extensão do pronunciamento do nobre Senador Hélio Costa, que há pouco assomou à tribuna com o seu brilhantismo conhecido e invocou perdas importantes que o Brasil teve no dia 21 de abril. Falou em Tiradentes, falou em Tancredo Neves. E peço, agora, permissão à Bahia, na pessoa do Senador César Borges, para incluir no rol das perdas irreparáveis do 21 de abril o ex-Deputado Luís Eduardo Magalhães.

No ano de 1998, o Brasil se surpreendeu com a perda de uma das mais jovens e promissoras vocações políticas que a minha geração conheceu e com que conviveu.

Luís Eduardo, com estilo próprio, depois de um exercício de sucesso como Deputado Estadual pela Bahia, chegou a Brasília na Assembléia Nacional Constituinte e aqui começou a trilhar uma carreira, somente interrompida com o seu súbito falecimento. Líder, Vice-Líder e Líder novamente do seu Partido, o PFL, Presidente da Câmara dos Deputados, candidato de um grande grupo de Partidos, que formou um arco de alianças que a Bahia julgava impossível, percorria o seu Estado, na conquista do Governo, o que seria apenas mais um passo na sua já vitoriosa carreira.

Concedo o aparte ao caro Senador César Borges, que talvez fosse um dos maiores amigos do Líder que ora homenageamos nesta tribuna.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Nobre Senador Heráclito Fortes, primeiramente, quero, como baiano, amigo e admirador do nosso inesquecível Deputado Luís Eduardo Magalhães, agradecer-lhe o seu pronunciamento. V. Exª também foi um dos seus grandes amigos. Tenho certeza de que, se estivesse entre nós, Luís Eduardo estaria prestando serviços inestimáveis ao Brasil, vocacionado que era para servir ao País e à causa pública. Senador Heráclito Fortes, tive a imensa responsabilidade de substituí-lo quando ele nos deixou e tinha construído esse amplo arco de alianças na Bahia, que o levaria, sem sombra de dúvidas, ao Governo do Estado, a um governo brilhante, e, em seguida, tenho certeza, à Presidência da República, pela sua capacidade, pelo seu amor ao País, pela sua responsabilidade, pela sua capacidade de assumir compromissos e, acima de tudo, pela sua capacidade de conciliação e de diálogo com todos os setores. Portanto, é com emoção que sei que V. Exª faz esse discurso, e eu aqui, como baiano e amigo de Luís Eduardo, quero agradecer a V. Exª pelas palavras que lhe dirige, palavras que calam fundo no coração de todos os baianos. Muito obrigado. Parabéns pelo pronunciamento, Senador Heráclito Fortes!

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Quis o destino, nobre Senador, que o Presidente desta sessão fosse o Senador Eduardo Siqueira Campos, um dos grandes amigos de Luís Eduardo.

Concedo um aparte ao nobre Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Senador Heráclito Fortes, sei o quanto V. Exª foi amigo de Luís Eduardo Magalhães, mas não era necessário ser amigo para dele gostar. Também fui seu amigo e, por isso, gostava dele, e ele gostava de mim. Luís Eduardo era uma dessas figuras da vida pública que se projetam além do território que ocupam. V. Exª é do Piauí, e volto a minha memória aos tempos em que Petrônio Portella pontificava na vida pública brasileira. Petrônio foi um dos maiores talentos que este País já conheceu em matéria de política e de vida pública. Chegou a um ponto em que o seu destino era ser Presidente da República, muito provavelmente sem competidor. Petrônio talvez fosse candidato único não tivesse sido colhido pela morte prematura que o levou. Assim era Luís Eduardo Magalhães. Luís Eduardo foi uma dessas figuras excepcionais da vida pública brasileira, um dos pró-homens da República no momento em que viveu. O seu falecimento tão cedo retirou da causa brasileira um combatente que V. Exª agora homenageia, com os meus aplausos e os meus estímulos. Pelo bom caráter que V. Exª demonstra com o discurso que hoje pronuncia, homenageando a memória de um grande homem público, de um grande político, que foi Luís Eduardo, cumprimentos a V. Exª!

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agradeço a V. Exª e registro aqui a minha alegria e a minha felicidade de estar neste plenário exatamente o Senador Antonio Carlos Magalhães, que melhor que qualquer um de nós conheceu e acompanhou a trajetória brilhante desse grande brasileiro.

Luís Eduardo Magalhães e Antonio Carlos Magalhães, em toda a minha vida pública, deram o melhor exemplo de convivência que pude testemunhar. Dois temperamentos completamente diferentes, mas com ideais comuns. Conseguiam, muitas vezes até telepaticamente, trocar impressões e chegar ao mesmo pensamento, um respeitando o outro e se adorando, como nunca vi! Era uma relação fraterna, de respeito, que, acima de tudo, evidenciava o zelo que um nutria pelo outro.

Este é um testemunho que dou, já que acompanhei os últimos cinco anos da vida pública de Luís Eduardo. A convivência foi interrompida quando assumi a Prefeitura de Teresina, e, aqui retornei - quero até dizer isto a V. Exª, meu caro Edison Lobão -, atendendo a um convite de Luís Eduardo para me filiar ao PFL.

Ao fazer este registro, meu caro Senador Antonio Carlos Magalhães, faço-o em nome do PFL, em nome de toda a geração que com ele conviveu e, tenho certeza, também em nome do Brasil.

Concedo a V. Exª um aparte.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Agradeço a V. Exª, Senador Heráclito Fortes, as suas palavras, repassadas de carinho, em relação a Luís Eduardo. De fato, nós nos amamos até o fim da sua vida, e posso dizer o quanto o País perdeu com o seu falecimento. Mas ninguém perdeu mais do que eu, porque ele era a minha companhia permanente e já era, embora moço, um farol a iluminar o meu caminho. Portanto, as suas palavras, em nome do nosso Partido, muito me sensibilizam, bem como o aparte que foi dado pelo Senador Edison Lobão e, em particular, por esse grande amigo de Luís Eduardo, que é o Senador César Borges. Agradeço a V. Exª a lembrança dessa data, que nos dá tanta tristeza, mas que também nos estimula a lutar pelos seus ideais.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Antonio Carlos Magalhães.

A lembrança de Luís Eduardo Magalhães nos traz dois sentimentos: o de tristeza, realmente, pela perda, mas o de alegria, pela convivência.

É impressionante! Quando se chega a uma roda onde estão reunidos os seus amigos - e já se vão alguns anos desde a sua morte -, sempre há um exemplo, uma história, palavras de carinho, um fato, um acontecimento que se conta do Luís Eduardo ou sobre ele.

A sua digital continua presente na vida pública brasileira, principalmente no Congresso Nacional, pela maneira marcante com que se empenhou na votação e na aprovação das reformas. Tanto é assim, meu caro Senador Edison Lobão, que, se tivermos o trabalho de examinar o andamento das reformas antes e depois da morte de Luís Eduardo, vamos chegar à conclusão do quanto o Brasil perdeu, talvez no momento em que mais precisava dele, no momento em que as reformas haviam chegado a um ponto de irreversibilidade. Infelizmente, a partir daí, o ritmo caiu. Ainda hoje, nós, brasileiros, Senador Tião Viana - a quem concederei um aparte -, ainda padecemos e pagamos pela falta da sua conclusão.

Concedo um aparte a V. Exª com muito prazer, Senador Tião Viana.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Senador Heráclito Fortes, estou ouvindo o pronunciamento de V. Exª, que faz uma homenagem justa ao grande líder Luís Eduardo Magalhães, que dirigiu o Partido da Frente Liberal, afirmando-se no cenário nacional com a sua liderança e com o seu método político de agir. Na minha modesta participação política no Senado Federal, tenho procurado construir um ambiente político-partidário em que se possa conviver na adversidade e na pluralidade da convivência democrática, enxergando as virtudes de todos, procurando construir nas divergências o caminho do entendimento, em busca de resultados políticos que sejam os melhores. Posso dar o meu testemunho, juntamente com todos os colegas do Parlamento, do respeito que sempre prevaleceu em relação à figura de Luís Eduardo Magalhães. Era alguém que fazia política firmemente posicionado, que era ideologicamente claro em suas posições, mas sempre construiu um cenário de respeito e de valorização das virtudes, mesmo dos adversários. Creio que, por isso, ele se afirmou tão rapidamente e consolidou tão bem o seu nome no cenário nacional. Sem dúvida alguma, este é um momento de lembrança da perda de alguém que representou a autoridade política nacional num desafio que tínhamos, que era o da retomada e da consolidação da democracia no nosso País, no horizonte de um cenário político e de gestão à altura de quem pudesse olhar o Brasil pela adversidade, sim, mas, sobretudo, pela valorização das virtudes de todos.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Tião Viana, agradeço a V. Exª o aparte. Tenho certeza de que, com o seu temperamento e com a sua maneira de proceder, V. Exª seria um dos grandes parceiros de Luís Eduardo, se ele aqui estivesse, na construção do Brasil que todos desejamos.

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª a tolerância de me conceder mais alguns minutos; agradeço aos companheiros que me apartearam.

Quero dizer que fiz este pronunciamento em nome do meu Partido, mas também com o sentimento muito pessoal de quem teve o privilégio da convivência. Senador Antonio Carlos Magalhães, se um testemunho eu tivesse que dar a respeito do seu filho, com quem convivi não só na vida pública, mas no dia-a-dia, viajando pelo mundo, eu diria que nunca vi, Senador César Borges, Luís Eduardo Magalhães tratar de um assunto que não fosse do interesse público. Essa era, talvez, uma de suas maiores marcas.

Concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Primeiramente, meus cumprimentos, porque V. Exª engrandece o Piauí, demonstrando as virtudes da gratidão e do respeito. Falando como médico, quando estudei Psicologia, aprendi que tudo tem o que chamamos de modelagem. Luís Eduardo foi modelo para a nossa geração. Vencer é fácil, e todo mundo conhece as suas vitórias, até no Estado em que nasceu e que amou. Tenho uma imagem muito forte de quando V. Exª era Prefeito de Teresina e eu, de Parnaíba. Nós vivemos política. No dia da cassação do Presidente Collor, não fui à Prefeitura. Sentei-me no chão de meu quarto e liguei a televisão, onde vi todo aquele espetáculo triste da História da Nação. O Presidente Collor, em quem votamos e que foi eleito, era líder. Como disse Shakespeare, não há o bem ou o mal, o que vale é a interpretação. Naquele quadro, havia o mocinho: um homem firme, de coragem na sua posição. Na hora difícil, todos o abandonaram, mas ele estava lá, contestando. Naquele Governo que caía, ele deu uma demonstração a este País, daí a minha admiração. Encantamo-nos com um mocinho, o artista de um filme que dá exemplo de coerência, firmeza, lealdade e decência. Esses são os nossos sentimentos. Aproximei-me dele em muitas oportunidades devido à sua amizade com o então Deputado Heráclito Fortes, que, quando eu governava o Piauí, levou-o algumas vezes para que ajudasse o nosso Estado.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Mão Santa, agradeço a V. Exª pelo aparte. Lembro a coragem do Luís Eduardo não só nesse episódio da cassação do Presidente Collor, mas também no da Constituinte. Quantas e quantas vezes foi voz isolada, juntamente com o então Senador Roberto Campos e mais dois ou três outros Parlamentares, na defesa de suas convicções. Foi derrotado em todas essas ocasiões, mas sempre manteve a sua posição firme. Não precisou de muito tempo para que toda a Nação chegasse à conclusão de que o seu ponto de vista era o correto e de que a abertura comercial brasileira e a mudança da nossa política eram uma necessidade, até porque a globalização estava arrombando, de maneira exemplar, todos os regimes fechados do mundo. Naquela época, votou-se uma Constituição fechada, em que havia uma preocupação muito grande de se preservarem patrimônios inexistentes, ilusórios, mas esse pequeno grupo já defendia, com muita coragem e bravura, na Assembléia Nacional Constituinte, a abertura do Brasil. Essa abertura veio depois, com a perestroika e a queda das ideologias. O restante da história está aí e os testemunhos mostram que aquele ponto de vista que defendiam era o certo.

Portanto, Senador Antonio Carlos, Srªs e Srs. Senadores, faço este registro ainda com o pesar daquela dor que não passa e com a convicção de que homens como Luís Eduardo ficarão permanentemente como exemplo para as gerações atuais e futuras.

Eu disse que o meu discurso era um alongamento do pronunciamento do Senador Hélio Costa porque S. Exª frisou a perda, na data de hoje, de Tiradentes e de Tancredo Neves. Eu trouxe também, nesta homenagem, a morte de Luís Eduardo, ocorrida na mesma data. Um País que carece tanto de homens perdeu três que, no seu devido tempo, serviram de exemplo para a nossa História, os três no dia 21 de abril.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/2004 - Página 10600