Discurso durante a 46ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas a projetos eleitoreiros e apressados para a transposição das águas do Rio São Francisco.

Autor
Maria do Carmo Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: Maria do Carmo do Nascimento Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Críticas a projetos eleitoreiros e apressados para a transposição das águas do Rio São Francisco.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/2004 - Página 11666
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • CRITICA, PROJETO, TENTATIVA, AGILIZAÇÃO, TRANSPOSIÇÃO, AGUA, RIO SÃO FRANCISCO, ALEGAÇÕES, SOLUÇÃO, PROBLEMA, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ESTADO DA PARAIBA (PB), ESTADO DO CEARA (CE), ESTADO DO PIAUI (PI), RISCOS, ABASTECIMENTO DE AGUA, SUBSISTENCIA, POPULAÇÃO, REGIÃO NORDESTE.
  • DEFESA, PRIORIDADE, EFICACIA, RECUPERAÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, POSTERIORIDADE, DEBATE, PROJETO, TRANSPOSIÇÃO, GARANTIA, BENEFICIO, POPULAÇÃO.

A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que me traz a esta tribuna é um assunto da maior relevância, especialmente para os Estados nordestinos que, historicamente, têm sofrido com longos períodos de estiagem. Novamente quero trazer ao debate nesta Casa a questão da transposição do rio São Francisco, que está sendo planejada pelo Governo Federal.

Sou sergipana, nascida às margens do rio São Francisco, na cidade de Cedro de São João, e o rio marcou minha vida, minha formação, assim como a de toda uma população da minha geração em Sergipe. Por isso, faço questão, em nome do povo do meu Estado, de defender a sobrevivência do São Francisco, fundamental para milhares de famílias que vivem às suas margens. Quero, mais uma vez - como outras vezes já o fiz neste plenário -, levantar minha voz contra projetos eleitoreiros e apressados que, dizem, resolverão o problema dos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Piauí, mas que, na realidade, colocarão em risco o abastecimento de água e a própria sobrevivência de todos os cidadãos nordestinos.

Primeiramente se deve entender a questão do São Francisco em um âmbito maior, relacionado com uma visão universal dos recursos hídricos. O acelerado crescimento populacional no mundo tem conduzido ao aumento da demanda de água, o que vem ocasionando, em várias regiões, problemas de escassez desse recurso. Estima-se que, atualmente, mais de um bilhão de pessoas vivem em condições insuficientes de disponibilidade de água para o consumo e que, em 25 anos, cerca de 5,5 bilhões de pessoas estarão vivendo em áreas com moderada ou séria falta de água. Quando se analisa o problema de maneira global, observa-se que existe quantidade de água suficiente para o atendimento de toda a população. No entanto, a distribuição não uniforme dos recursos hídricos e da população sobre o planeta acabam por gerar cenários adversos quanto à disponibilidade hídrica em diferentes regiões.

A Região Nordeste, como todos sabem, já tem uma longa história de sofrimento, tanto que, há pelo menos um século e meio, se cogita a transposição das águas do rio São Francisco. A primeira vez que se encarou a questão foi em 1847. De lá para cá, em várias oportunidades, ocorreram estudos para colocar em prática a idéia, mas nada de concreto foi feito. O Governo anterior, do Presidente FHC, tentou avançar na idéia, mas o que se conseguiu foi uma proposta insuficiente. Novamente a questão da transposição é trazida para o debate, e, outra vez, quero expor claramente minha posição: antes de se pensar em transferir as águas do Velho Chico é primordial, importantíssimo, recuperá-lo. Somente um projeto primeiro de revitalização sério e eficiente poderá autorizar uma posterior transposição.

É importante ressaltar que as populações dos Estados receptores do projeto de transposição já partilham dos benefícios energéticos do rio e passarão a ser beneficiários diretos das suas águas, seja para irrigação, seja para o consumo humano. Mas dependerão desse recurso hídrico não apenas no momento atual, mas, sobretudo, no futuro. Interessa a todos, portanto, uma correta utilização das águas do São Francisco, pois, se o rio seguir o ritmo de degradação atual, não haverá condições de garantir a continuidade da eficiência da transposição.

Também se deve destacar, Srªs e Srs. Senadores, que a principal vítima da agressão ao rio é a sua foz. À medida que o curso de água vai sendo submetido a impactos destrutivos, o rio vai sofrendo reflexos negativos na sua vazão natural, que perde cada vez mais volume. Em casos extremos, como já está ocorrendo em Sergipe, a foz chega a secar e o mar avança em direção ao curso do rio, promovendo uma devastadora salinização. Sou testemunha de que os pescadores que vivem nas regiões ribeirinhas, como Propiá, Penedo e muitas outras cidades, estão pegando peixes típicos de água salgada.

Portanto, Sr. Presidente, no momento em que o Presidente Lula volta a lançar luz sobre a questão da revitalização, quero deixar bem clara a minha posição - que, tenho certeza, será compartilhada por todos os Senadores da Bancada do Nordeste - de que apenas um projeto sério e amplamente debatido e estudado garantirá que esse dispendioso e necessário projeto se realize. E, o que é mais importante, os investimentos feitos refletirão benefícios duradouros, fazendo com que nossos filhos e netos tenham oportunidade de conviver com a seca de uma forma mais sadia, completamente diferente do que se vê hoje, quando chegamos a socorrer apenas nos momentos extremos da seca. Não, o que queremos é um projeto que nos ajude a conviver com a seca, tirando inclusive benefícios do nosso solo, do nosso sol, exatamente da nossa seca.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/2004 - Página 11666