Discurso durante a 46ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o novo salário mínimo. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SALARIAL.:
  • Comentários sobre o novo salário mínimo. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Marcos Guerra, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/2004 - Página 11737
Assunto
Outros > POLITICA SALARIAL.
Indexação
  • CRITICA, VALOR, AUMENTO, SALARIO MINIMO, ANUNCIO, GOVERNO.
  • COMENTARIO, POSIÇÃO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), APRESENTAÇÃO, EMENDA, SUPERIORIDADE, VALOR, AUMENTO, SALARIO MINIMO, MANIFESTAÇÃO, DISPOSIÇÃO, DISCUSSÃO, GOVERNO, POSSIBILIDADE, AMPLIAÇÃO, REAJUSTE, SALARIO, GARANTIA, SUBSISTENCIA, DIGNIDADE, TRABALHADOR.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Governo anunciou o novo salário mínimo: R$260,00, que representa 1,73% apenas de ganho real, que se soma a apenas 1,23% de ganho real havido no ano passado. Se o Governo tivesse que cumprir hoje, Senador Geraldo Mesquita, a sua palavra de dobrar o valor real do salário mínimo, levando em conta que não haveria inflação daqui para frente; se relacionássemos isso com cestas básicas, o Governo teria de estabelecer o valor de R$312,00.

Desta tribuna, há pouco tempo, falando não em nome da minha bancada, portanto, não em nome do meu Partido, o PSDB, eu dizia de algumas preocupações fundamentais que me animavam, e me animam, na caminhada pela vida pública. Primeiro, não provocar nada que cheire a desajuste nas contas públicas, a desajuste fiscal. Segundo, apresentar números responsáveis que possam significar ganho efetivo para o trabalhador que ganha salário mínimo, levando em conta a Previdência Social, levando em conta pequenas prefeituras, levando em conta um conjunto que certamente estará, como elemento de análise, à disposição do Senhor Presidente da República. Ressalto que o Governo, do jeito que vai oferecerá, ao fim dos quatro anos de seu mandato, ganhos reais para o salário mínimo bem abaixo daqueles propiciados pelo tão criticado Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Neste momento, Sr. Presidente, dirijo-me à Casa para insistir em que o Governo pode fazer melhor do que isso. Quando mencionei, poucos dias atrás, R$280,00, eu o fiz seguro de que estava cobrando do Governo um sacrifício. Eu propunha 16,6% de aumento real, eu propunha nominalmente R$40,00 a mais e sabia que isso exigiria um grande esforço do Governo para remanejar suas contas internas, realocar suas prioridades e chegar a R$280,00.

Foi engraçado, porque figuras importantes da base governista e partidos relevantes da base de apoio ao Presidente Lula foram muito além: falaram de cem dólares para cima, falavam de R$320,00, R$330,00. Fiquei em R$280,00, sabendo que era um sacrifício que eu estava exigindo do Governo. Hoje venho aqui para afirmar a posição da minha bancada, que apresentará emenda para elevar o salário mínimo para R$280,00. A minha bancada insiste em que foi simplista a decisão. Mais ainda, a minha bancada está às ordens do Governo para discutir com seriedade as possibilidades efetivas de ganho real para o salário mínimo. Não estamos aqui para jogar para a platéia, não estamos aqui propondo um absurdo, não estamos aqui inventando soluções mágicas, não estamos aqui pura e simplesmente fazendo nada que não seja o exercício do espírito público e a tentativa de fazer o melhor pelo trabalhador sem inviabilizar caminhos do Governo, porque seria, ao fim e ao cabo, fazer o pior pelo trabalhador.

Sr. Presidente, algo se impõe. E chamo a atenção da Casa, Senador Paulo Paim, Senador José Jorge, para uma providência básica que o Presidente Lula teria de tomar, sob pena de o Governo dele se dissolver por falta de credibilidade. Se o Presidente Lula tem certeza de que o aumento real para o salário mínimo não pode ultrapassar 1,73% - portanto, inflação mais 1,73% -, se ele tem certeza disso e se tem números irretorquíveis, não havendo espaço para negociação política, já que a mera reposição da inflação levaria a R$256,00, então isso significa supostamente uma concessão aos segmentos políticos do próprio partido do Governo que estariam inconformados. Se não é possível dar mais que isso, se ele tem certeza de que os R$280,00 que o PSDB propõe são demais - e o PSDB propôs menos que os aliados do Presidente, que propuseram R$330,00 -, se é verdade isso, até posso dar a mão à palmatória.

Chamo a atenção da Casa, chamo a atenção dos Srs. Senadores, chamo a atenção da Nação brasileira: se o Presidente me provar que não pode dar mais que 1,73% de ganho real, Sr. Presidente Geraldo Mesquita, darei a mão à palmatória e me comprometerei a votar favoravelmente ao salário mínimo proposto pelo Governo. Se o Presidente Lula for à televisão e fizer uma autocrítica das propostas delirantes que ele encarnava no passado, se ele for à televisão e disser: “no passado delirei, no passado fui demagogo, no passado crucifiquei os Governos que me antecederam”... se ele disser que no passado cometeu equívocos e praticou, de certa forma, estelionato eleitoral, para ganhar votos usando o salário mínimo, mas, quando chegou ao Governo, verificou que não dava para avançar mais, se ele fizer esse gesto generoso, corajoso, de autocrítica, sem dúvida alguma, Senador Eduardo Suplicy, cotejando os números, direi ao Senhor Presidente da República que está certo o PSDB - meu Partido propôs R$280,00 - e mostrarei a Sua Excelência de onde sairá o dinheiro, ou direi que ou está certo o Governo, que concedeu R$260,00.

Votarei pelos R$260,00, desde que o Presidente faça autocrítica. O que não é possível é o Presidente dizer que, na Oposição, vale propor dobrar o valor real do salário mínimo e, no Governo, dar o mais baixo reajuste real de todos os Governos que o antecederam nos últimos dez anos. Na Oposição, o Presidente diz que dá para transformar em peixes de ouro os peixes comuns dos nossos rios e do Oceano Atlântico e, no Governo, demonstra inoperância, insensibilidade e incapacidade de cumprir com as suas promessas.

Então, neste momento, estou dizendo isto: se o Presidente Lula for à televisão e fizer uma autocrítica clara, humilde, que leve a Nação a voltar a confiar nele, se me mostrar dados superiores tecnicamente aos que tenho, o PSDB se comprometerá a votar com ele. Todavia, sem autocrítica, o meu partido votará pelos R$280,00 e denunciará a verdadeira impostura, a verdadeira fraude, que fez alguém se eleger, prometendo dobrar o valor de compra do salário mínimo, e o que se vê é, ano após ano, dar pouco mais de 1% de ganho real ao trabalhador.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concedo o aparte a V. Exª, Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª aponta um aspecto que me parece muito importante. Afinal de contas, o Partido dos Trabalhadores, o PT, cresceu, sob a liderança de Luís Inácio Lula da Silva, em cima de um ponto básico: a questão do salário mínimo. Todos os anos, desde a fundação do PT, ouvimos nesta Casa, na Câmara Federal, nos sindicatos, nas manifestações públicas, revoltas, promessas e propostas em relação ao salário mínimo. No primeiro ano de governo, toda essa história do PT foi esquecida. Foi dado um aumento de salário mínimo que não era nem coerente com a história do PT, nem com as promessas do Presidente em campanha, ou seja, com o compromisso histórico, base do próprio Partido. No primeiro ano, foi colocada a culpa na tal herança maldita. Estamos no segundo ano. E agora? A herança já é do primeiro ano de governo do próprio Lula e do próprio PT. É necessário, portanto, que o Governo venha a público fazer das duas uma: ou uma autocrítica, como V. Exª sugere, dizendo: tudo que nós dissemos no passado, toda a crítica que fizemos no passado foi um grande equívoco, e viemos aqui pedir ao povo brasileiro desculpas. Ou outra: nós não damos um salário mínimo maior porque somos perversos, somos maus e temos prazer em ver a população mais pobre do País com seu salário deprimido no máximo que possa.

Uma dessas duas coisas tem que ser dita ao País, sob pena da palavra do homem público brasileiro ficar em xeque e nenhum de nós, mas principalmente os Líderes do PT, não terem condições mais de fazer nenhuma promessa diante do povo brasileiro.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Tem razão V. Exª, Senador Tasso Jereissati. Já concedo o aparte ao eminente Senador Eduardo Suplicy.

Eu aqui registro duas coisas em resposta ao seu aparte tão lúcido. Tenho pelo Senador Paulo Paim uma amizade enorme, amizade provada na luta, na diversidade e no companheirismo de colega de Congresso. Eu não faço segredos. Ainda há pouco, chamei o Senador Paulo Paim - e já havia falado com ele antes - e disse: Paim, vamos para essa luta de R$280,00, porque com isso nós estamos dando possibilidades reais de o Governo avançar - o Senador Paulo Paim está aqui para confirmar. E S. Exª me disse: “Tenho o compromisso histórico com o valor equivalente a 100 dólares”.

Eu respeito. O Senador Paulo Paim continua acreditando que é possível dar um salário maior do que esse que o PSDB propõe. O Senador Paulo Paim continua coerente com os seus princípios, e eu respeito profundamente isso.

Tem razão V. Exª, Senador Tasso Jereissati. Ou o Presidente Lula admite que praticou agora uma perversidade ou faz autocrítica. Ele pode perfeitamente ter o voto da nossa Bancada, nossos doze Senadores votando a favor dos R$260,00, Senador José Jorge. Sem dúvida alguma, iríamos fazer todos os esforços para que o PFL fizesse o mesmo, usando do nosso companheirismo, da nossa fraternidade.

Agora, algumas coisas são incompatíveis: falta de autocrítica e voto do PSDB. Soberba, desonestidade intelectual e, ao mesmo tempo, os votos do PSDB não confere, não conjumina, não se conjuga, não compõe. O Presidente Lula pode optar agora, claramente, por ter o nosso apoio, vir até nós, fazer a autocrítica e discutir, tecnicamente, se é R$280,00 ou R$270,00. Se fizer a autocrítica e nos provar que é R$260,00 o PSDB vota R$260. Mas o PSDB exige um Presidente de credibilidade, exige alguém que fale uma coisa na campanha e não se desminta, depois, no exercício de desgovernar o País, porque isso está corroendo muito mais do que a popularidade do Presidente. O Presidente não é a Xuxa. Quem tem que ser popular é a Xuxa. Ele tem que tomar atitudes firmes que, ainda que o levem à impopularidade, mantenham em alta a sua credibilidade. Homem público que se preza não pode perder credibilidade. Popularidade pode porque se recupera. Não se abre mão da credibilidade.

O Presidente, então, precisa olhar uma proposta muito clara. Fala-se tanto em negociação política, fala-se tanto em barganha. Estou propondo aos olhos da Nação, às claras, uma negociação política com o Presidente - e olhe, Presidente, que é tentadora a minha oferta. Aqui, ninguém quer cargo nenhum. No PSDB ninguém quer nomear nada para o seu Governo. Para ser sincero com o senhor, Presidente Lula, o único cargo que nós queremos na República brasileira é o seu, em 2006, pelo voto, nas urnas. Queremos derrotá-lo nas urnas, democraticamente. Os demais cargos não nos interessam. Os demais cargos não cheiram nem fedem para o PSDB. Portanto, aqui está: que oportunidade boa de aprovar a sua proposta! Que oportunidade boa se nos convencer de nos fazer votar pelos R$260,00! Que oportunidade, sabendo que nós não almejamos cargo algum, Presidente, a não ser o seu, nenhum outro, Ministério ou diretoria alguma, autarquia nenhuma. Nada! Queremos apenas a Presidência da República, pelo voto, em 2006. Enquanto isso, conte com o nosso patriotismo. Aqui está a oferta do PSDB. Prove-nos que o PSDB está errado, que não dá R$280,00, e o PSDB votará R$260,00. Mas antes, Presidente, vá à televisão e faça uma autocrítica. Diga que errou. Recupere os caminhos da humildade, Presidente. Recupere os caminhos da sinceridade. Opte com coragem pela atitude mais difícil, que é a de fazer essa autoflagelação. E aí eu voltarei à tribuna para dizer: continuo adversário, mas recupero todo o respeito que hoje está se esvaindo.

De um ponto não sei quanto em um ponto não sei quanto, para quem prometeu dobrar o valor real de compra do salário mínimo, isso significa um Presidente que vai ver corroída a sua base de sustentação popular; isso vai se refletir na sua base de sustentação parlamentar; isso vai se refletir na corrosão ainda maior de uma autoridade que hoje já não está inteira, já não é a mesma.

Concedo o aparte ao nobre Senador Eduardo Suplicy e, em seguida, ao Senador Marcos Guerra, com muita honra.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Arthur Virgilio, eu acho muito importante que V. Exª esteja solicitando ao Presidente Lula que explique, com muita clareza, as razões da definição do salário mínimo em R$260,00.

O SR. ARTHUR VIRGILIO (PSDB - AM) - Eu pedi mais que isso. Pedi que o Presidente se autocriticasse, Senador, em relação ao passado. Tantas promessas que, aos olhos da equipe dele, se afiguram delirantes.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Esse procedimento certamente vai ocorrer, pois sabe V. Exª que o Presidente Lula tem extrema sensibilidade, conhecimento, tradição de envolvimento, de batalha na questão da remuneração dos trabalhadores, inclusive com referência ao salário mínimo. Hoje, certamente, os seus Ministros do Trabalho, do Planejamento e da Previdência estarão dando uma entrevista coletiva às 17 horas para explicar as razões que levaram o Governo a adotar esse piso de R$260,00 para o salário mínimo. Pelo menos na parte que ouvi, V. Exª não chegou a enfatizar que também foi ajustado o valor do salário-família de R$13,50 para R$20,00. E quais foram as razões que em princípio detecto tenham sido objeto de consideração? No que diz respeito ao impacto do aumento do salário mínimo para a Previdência, houve uma preocupação grande porque, conforme V. Exª sabe, há um número muito considerável de pessoas que recebem o salário mínimo. Feitas as contas, cujos detalhes eu não tenho ainda todos, verificou-se que iria implicar um certo desequilíbrio para além do que seria suportável presentemente. Como há a preocupação de se prover um melhor grau de remuneração, de poder aquisitivo às famílias, considerou-se que o salário-família é algo que não é pago diretamente pelas empresas, a não ser num primeiro momento. Por que razão? Porque as empresas podem descontar do pagamento de contribuições em geral à Previdência aquilo que é pago de salário mínimo. Portanto, na verdade, é da arrecadação das contribuições gerais da Previdência e do próprio Governo que se paga o salário-família. Isso é um ponto importante, porque, na consideração das empresas que contratam trabalhadores pelo salário mínimo, o acréscimo referente ao salário-família não conta como custo para a empresa. Ora, sabemos que as empresas contratam trabalhadores, desde que o valor adicionado por esses seja, pelo menos, igual ao salário pago. Essa é uma das razões pelas quais não se poderia aumentar de uma hora para outra em duas, três vezes o valor do salário mínimo, porque poderia provocar um certo problema do ponto de vista do emprego na economia. Mas para uma família que tenha duas crianças até 14 anos, o aumento considerado foi de R$240,00 para R$260,00, e mais duas vezes o aumento de R$3,50 para R$20,00. Portanto, mais R$14,00 de acréscimo para esse trabalhador. Então, vamos considerar a questão na sua plenitude, e também foi observado. Mas é preciso notar - e aqui todos temos que ter essa preocupação - que o salário-família é pago àqueles que estão no mercado de trabalho formal, tanto no setor privado quanto no setor público. Não é pago, por exemplo, pela legislação vigente, aos empregados domésticos. Esses não estão incluídos, o que é uma consideração importante. Não é pago também àqueles que estão no mercado informal, o que também é importante. Os aposentados não recebem, o que também tem que ser considerado. Avalio que mais e mais - tenho aqui expresso, e ainda hoje me pronunciarei a respeito - deverá o Governo considerar sempre a forma de transferência de renda, que hoje do bolsa-família passará a ser, no futuro, a renda básica de cidadania, algo importante na hora de definir o valor do salário mínimo. Vou estender-me mais sobre isso quando me pronunciar. Estou inscrito, e o convido, se desejar, a me fazer um aparte, e aprofundaremos o debate. Só queria colocar de maneira mais completa toda a decisão tomada.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estarei aqui, Senador Eduardo Suplicy.

Sr. Presidente, peço vênia para ouvir o Senador Marcos Guerra, responder ao Senadores Eduardo Suplicy e Marcos Guerra, e encerrar.

Senador Eduardo Suplicy, poderia aqui expender opiniões sobre como os custos se oneram com o aumento do salário-família. Poderia dizer que os aposentados saem prejudicados e tantos segmentos da vida brasileira. Alguém pode dizer: ganho salário mínimo, sou casado, estou fazendo um esforço brutal para estudar e não quero ter filho agora. Louvo V. Exª porque aprecio a sua lealdade. V. Exª é alguém que se relaciona comigo, com muito respeito e há bastante tempo. Disse da tribuna hoje que proponho a inversão da pauta naquele assunto que V. Exª representa tão bem da cidade de São Paulo. Quero, primeiro item, seja desobstruída a pauta, quero votar esse empréstimo para São Paulo, enfim. Mas V. Exª hoje fala como Líder - poderia ter sido Líder do Governo passado, muito mais brilhante do que eu fui, até porque não fui brilhante, muito mais eficaz - e disse que, daqui a pouco, os Ministros estarão anunciando todas as decisões sobre o aumento do salário mínimo. Essa idéia do salário-família só pode ter saído do Berzoini. O salário-família era de R$13,00, Senador Tasso Jereissati, e passa para R$ 20,00. Para ganhar mais R$7,00, o Berzoini quer agora que façam mais filhos. É impressionante: o Berzoini não perdoa dos morituros aos nascituros, os que vão morrer, pela idade, pela ordem natural das coisas, e os que estão nascendo; ele não perdoa ninguém. É algo que inspiraria o genial Henfil naquela figura do Fradinho. Inspiraria, porque, para receber mais R$7,00, o Ministro Berzoini exige que se faça mais um filho, até no máximo três. Ou seja, são R$7,00 por filho, até o limite de três. Seria esse o valor que o Ministro daria à necessidade de se criar uma criança, dando a ela oportunidades mínimas de êxito na vida profissional amanhã?

Portanto, Senador Eduardo Suplicy, digo que a resposta que espero do Governo não é para explicar, porque explicar todo mundo explica. Explicar, explica quem é credor, quem é devedor. Vendedor de enceradeira, quando vai vender uma, explica. Todo mundo explica. Quero saber se o Presidente Lula tem a coragem moral de fazer uma autocrítica dos seus compromissos passados, mostrando as suas inviabilidades no presente e, portanto, os seus rumos novos para o futuro. Ou o PSDB insiste em R$280,00 - o PSDB que está disposto a dialogar para provar que R$280,00 cabe, sim, e é o máximo que cabe sem estragar a perspectiva de contas públicas saudáveis.

O Sr. Marcos Guerra (PSDB - ES) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ouço o Senador Marcos Guerra, com muita alegria, antes de encerrar o meu pronunciamento.

O Sr. Marcos Guerra (PSDB - ES) - Senador Arthur Virgílio, depois de 13 meses de longa espera, falo aqui como uma pessoa que vive no meio empresarial, no meio das micro e pequenas empresas. A classe trabalhadora ficou mais uma vez frustrada com o valor fixado para o salário mínimo. O Brasil hoje vive duas situações diferentes: enquanto se comemora o aumento da balança comercial, o aumento nas exportações, que é patrocinada principalmente para as grandes empresas - e geralmente os trabalhadores dessas empresas têm o salário mais elevado -, há outra situação em que a grande massa trabalhadora do País recebe a notícia do aumento do seu salário, o mínimo - uns ganham um pouco mais. Lembro que, nos Governos anteriores, quando se dava um aumento menor do que se esperava ao salário mínimo - a situação do País era melhor; o País estava crescendo, o Governo estava patrocinando esse crescimento -, então as empresas automaticamente corrigiam o salário um pouquinho mais. E hoje, o que é pior, nem isso as empresas podem fazer. Por quê? Porque se fala em crise; o País está recessivo; criou-se uma política econômica no País altamente recessiva. E nós, empresários, esperávamos, sim, um aumento maior do salário mínimo, porque o País precisa de consumo. Consumo automaticamente gera emprego. Senador Arthur Virgílio, sou testemunha de que, quando V. Exª disse que propôs, junto com a Bancada do PSDB, o valor de R$280,00, sabia do sacrifício que a Nação deveria fazer. Mas o nosso grupo não considerava isso impossível, porque acreditava que a Nação tinha condições de patrocinar esse aumento para os trabalhadores brasileiros. Faço esse depoimento com muita tristeza, porque eu também esperava que o Governo chegasse pelo menos a um valor próximo dos R$280,00, até porque, Senador, esse aumento automaticamente atinge toda a cadeia de salários do País. O Brasil todo esperava um aumento maior, mas hoje, infelizmente, ficou frustrado com essa decisão ruim, que passaram para o trabalhador brasileiro. Muito obrigado pela oportunidade de aparteá-lo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador.

Encerro, Sr. Presidente, respondendo de maneira breve ao Senador Marcos Guerra. Quem me aparteou foi o empresário de médio porte e bem-sucedido do Espírito Santo, que afirma ser possível arcar com um salário de R$280,00. Suponhamos que o Presidente Lula tivesse vencido as eleições sem a promessa de dobrar o valor real. Estaria hoje cercado de críticas, sim. Tem de ficar cercado de críticas, sim. Não tem que ficar entrando no Copacabana Palace para uma conferência pela porta dos fundos. Choca-me ver o Presidente Lula escondido, entrando pela porta dos fundos. O que é isso? Quem tem que entrar pela porta dos fundos é o Cacciola. O Presidente Lula é homem de bem; tem que entrar pela porta da frente, com vaia ou sem vaia, com ovo ou sem ovo, até porque tucano não joga ovo. Eles costumavam fazer isso contra nós! Nós não fazemos isso, não somos disso. Não temos assunto de granja na nossa vida política. Nós trabalhamos mesmo. É debate de idéias, é troca de idéias, com respeito à integridade física, moral e intelectual das pessoas que nos combatem.

Mas medo de vaia?! Não foi a Ouro Preto, naquela festa irreverente e bonita?! E o Governador Aécio Neves preparou uma belíssima homenagem para o Presidente, que não foi lá porque seria vaiado. Aliás, foi, quando citaram o nome dele. Mas o Presidente precisa fica tranqüilo, porque, lá em Ouro Preto, naquele dia, eles vaiam todo mundo mesmo; só não vaiam o Hino Nacional. É uma festa bonita, irreverente. E é um charme ser vaiado lá. Eu já fui vaiado lá. É uma coisa maravilhosa ser vaiado em Ouro Preto. O Presidente está com medo da vaia charmosa de Ouro Preto. Está com medo de uma tradição que vem da Inconfidência. Está com medo de colocar seu rosto e sua face aos olhos e à análise do seu povo! Bastava não ter prometido.

Ah, mas se não tivesse prometido, tinha perdido! Mas, então, precisou faltar à verdade, para depois ficar escondido do povo? De que adianta o exercício dessa Presidência, se não pode depois encarar o povo? Não é melhor perder a eleição, procurando mostrar caminhos reais para o povo, do que ficar na ilusão da campanha, cavando a desgraça da sua administração no futuro imediato?

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já encerro, Sr. Presidente. Onde está a racionalidade do Presidente da República? Onde está?

Então, eu engodo para vencer a eleição, Senador José Jorge. Depois que eu engodo, eu me escondo do povo, sou impopular, levo uma sova eleitoral nas Capitais.

Não consigo entender isso. Ou seja, o Presidente Lula precisa defender a sua biografia. E sua biografia é defendida por duas maneiras: primeira, dê um aumento real digno para o trabalhador de salário mínimo; segunda, se não pode, se não quer, opte e faça uma autocrítica perante a Nação brasileira, peça desculpas aos 53 milhões de eleitores que votaram em Vossa Excelência, dizendo que o outro Governo era insensível e que o outro candidato não tinha apego a realizar os anseios populares!

Das duas, uma. Não há terceira hipótese. Digo isso como alguém que, como adversário, é mais leal do que o áulico que bajula. O adversário que combate é mais leal do que o áulico que se ajoelha! O adversário leal está dizendo: Presidente, preserve o respeito que a Nação ainda possa ter por Vossa Excelência! Peça desculpas à Nação, ou dê o aumento esperado pelo trabalhador de salário mínimo, que votou em Vossa Excelência cheio de esperanças! -- ainda que, a meu ver, esperanças ilusórias, que estão virando uma frustração talvez sem paralelo na história republicana deste nosso País absolutamente promissor e às vezes trágico chamado Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/2004 - Página 11737