Discurso durante a 47ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Passagem dos 150 anos de inauguração da primeira estrada de ferro brasileira. Referências ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti a respeito da cassação dos mandatos do Senador João Capiberibe e da Deputada Janete Capiberibe. Críticas ao valor do salário mínimo. Superávit da balança comercial.

Autor
Marcelo Crivella (PL - Partido Liberal/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. JUDICIARIO. POLITICA SALARIAL. COMERCIO EXTERIOR.:
  • Passagem dos 150 anos de inauguração da primeira estrada de ferro brasileira. Referências ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti a respeito da cassação dos mandatos do Senador João Capiberibe e da Deputada Janete Capiberibe. Críticas ao valor do salário mínimo. Superávit da balança comercial.
Publicação
Publicação no DSF de 01/05/2004 - Página 11834
Assunto
Outros > HOMENAGEM. JUDICIARIO. POLITICA SALARIAL. COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, TRABALHADOR, FERROVIARIO, BRASIL.
  • SOLIDARIEDADE, DISCURSO, IDELI SALVATTI, SENADOR, REFERENCIA, CASSAÇÃO, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), MANDATO PARLAMENTAR, JOÃO CAPIBERIBE, JANETE CAPIBERIBE, DEPUTADO FEDERAL.
  • COMENTARIO, INDICE, REAJUSTE, SALARIO MINIMO.
  • REGISTRO, SUPERAVIT, BALANÇA COMERCIAL, BRASIL.

O SR. MARCELO CRIVELLA (PL - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado.

Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quis o destino que eu fosse o último orador, no ano passado, quando discutíamos o salário mínimo, na véspera do Dia 1º de Maio, e hoje acontece o mesmo.

Vim a tribuna para parabenizar - peço que o meu discurso seja registrado nos Anais desta Casa - os ferroviários do Brasil. Como filho do Rio de Janeiro, onde se construiu a primeira estrada de ferro deste País, não poderia deixar de celebrar uma data tão importante, que nasceu no meu Estado, com o braço forte do fluminense, que fez, pela primeira vez, na Pátria brasileira, se ouvir o barulho das rodas de ferro correndo sobre os trilhos.

Parabéns aos ferroviários do Brasil, parabéns aos ferroviários do meu Estado. Que Deus os abençoe e que a ferrovia possa ressurgir neste País como um grande vetor de desenvolvimento e progresso.

Quero, também, me solidarizar com as palavras da Líder do Bloco do Governo, porque me encontro profundamente contristado com a situação do meu companheiro João Capiberibe, um homem honrado, ilibado. Se a ele fosse dado o direito de arrolar testemunhas a seu favor, não traria duas, mas talvez duas mil pessoas que foram beneficiadas com emprego e com educação para seus filhos, de tal maneira que o valor e o número de testemunhas poderiam bem representar, como se diz no Direito, fatos banais.

Seria como prender alguém que rouba uma melancia para matar a fome. Não existe justiça nisso. Sem querer desmerecer de maneira alguma as testemunhas, a acusação pode ter sido motivada pela paixão da política, e sabemos como isso ferve no coração dos brasileiros, principalmente nos rincões longínquos da nossa Pátria.

Gostaria também de lembrar que amanhã se comemora o dia dos trabalhadores brasileiros e a angústia que cada um de nós, do bloco do Governo, vivemos a cada vez que votamos a mensagem do salário mínimo.

Não nos agrada. Sentimos aquele gosto de um pai que manda seu filho à guerra, que entrega um filho à pátria para combater no front invasões inimigas. Às vezes, o amor a este País e ao seu povo nos leva a sacrifícios inomináveis. O Presidente da República perdeu o sono, adiou várias vezes o anúncio, convocou diversas reuniões e mostrou ao Brasil a preocupação de um trabalhador simples que sonhava - e quem não sonha! - subir na tribuna da Nação brasileira e anunciar um salário mínimo não de R$260,00, mas de, no mínimo, R$300,00 ou mais. É o sonho de todos nós.

Infelizmente, não foi possível por anos e anos de falta de investimento em infra-estrutura, de uma política de Estado mínimo, que levou o Brasil a superávits financeiros quando precisávamos de superávits de emprego, de educação.

Há pouco, o Senador Eduardo Siqueira Campos citava Franklin Delano Roosevelt, o Presidente americano que viveu os anos do New Deal, uma política responsável, mais tarde, no Pós-Guerra, pelos anos de ouro do capitalismo, que levou o Brasil à sua fase mais promissora e próspera com o nosso desenvolvimento industrial. Infelizmente, na ocasião, não houve, por parte da nossa elite, a generosidade de fazer, também, a reforma agrária. Então, milhões de brasileiros vieram para participar da indústria, inchando nossas cidades, criando milhares e milhares de comunidades carentes que, hoje, fervilham com as altas taxas de desemprego e subemprego que sofremos, nas mãos do narcotráfico e do crime organizado.

Srª Presidente, cabe-nos, neste momento, mais que tudo, a responsabilidade daqueles que amam este País e não se rendem a discursos eleitoreiros ou demagógicos. Que fique bem claro - porque é a verdade -, diante do povo brasileiro e diante de Deus, que nós não estamos nem um pouco satisfeitos com o salário mínimo que a parte econômica do Governo indica, que procuramos novos rumos, que temos trabalhado, incansavelmente, sob a liderança de um homem humilde, que muitos dizem não ter o cabedal acadêmico, mas que é justo, digno e merecedor da confiança de cada um de nós.

Vamos, nesta Casa, debater, lutar, procurar novos caminhos e tentar colocar esse salário em níveis melhores. Vamos procurar fazer com que o nosso País viva dias de mais prosperidade - o meu Partido tem defendido isso -, baixar a taxa de juros.

No ano passado, transferimos R$160 bilhões às mãos de uma elite credora da dívida pública. Nunca se viu, na história do capitalismo, uma transferência tão grande de recursos dos pagadores de impostos para os que recebem juros. Temos lutado para que esses juros caiam, para que possamos gastar os R$70 bilhões do nosso superávit na geração de investimentos e empregos. Esse é o nosso sonho.

Temos também defendido uma política de controle de capitais, para que quando esses juros baixarem a elite brasileira não troque seus depósitos por dólares e faça uma fuga de capitais, sacrificando ainda mais o nosso povo. Lutamos para manter o nosso dólar num patamar confortável, para que a maior vitória de um ano de trabalho do nosso Governo, o saldo da balança comercial, que hoje faz este País, como disse a Líder Ideli Salvatti, ser um dos primeiros no comércio internacional. Nosso saldo da balança comercial, esse sim, precisa ser celebrado. As pessoas na rua precisam comentá-lo.

Este ano, seguramente, chegaremos a R$100 bilhões na exportação, um número jamais pensado por tantos brasileiros que ocuparam a política.

Srª Presidente, com o pesar que nos cabe, como disse, como alguém que envia um filho à guerra, que entrega um filho à pátria, cumprimos com responsabilidade nosso dever, na certeza de que aqueles que plantam a boa semente hão de colher frutos.

É assim que Deus quer.

Muito obrigado.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR MARCELO CRIVELLA.

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O SR. MARCELO CRIVELLA (PL - RJ. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não é de hoje que os brasileiros - e, antes deles, os portugueses - procuram levar para o interior do País o desenvolvimento do litoral. Brasília é o mais belo exemplo dessa conquista, que marcou, no século 20, o ponto crucial da nossa interiorização.

Por esses dias, estaremos comemorando os 150 anos das estradas de ferro brasileiras e queremos homenagear todas elas, bem como aos ferroviários que ainda possibilitam a sua existência, celebrando o sesquicentenário da Estrada de Ferro Mauá, a pioneira, construída graças à tenacidade desse grande visionário e empreendedor, Irineu Evangelista de Souza, que alavancou o progresso desta terra abençoada.

Aquela estrada realmente demonstra a visão e a realização de um verdadeiro desbravador, talvez o maior símbolo do espírito da iniciativa privada neste País, um homem que suplantou o próprio Poder Público ao construir esse caminho de ferro que possibilitou a expansão da nossa incipiente indústria, que estimulou o comércio e a troca de riquezas entre os Estados Federados, que abriu alternativas de transporte para o escoamento da nossa safra agrícola.

Voltando a Brasília e à sempre recorrente busca de interiorização, lembramos de Luís Cruls, que, em 1892, nomeado pelo Presidente Floriano Peixoto, chefiou a Comissão Exploradora do Planalto Central, incumbida de demarcar o local onde seria construída a futura Capital do País. Como resultado desse trabalho, a missão Cruls, como ficou conhecida, elaborou um belíssimo relatório, já disponível ao público pelo Senado Federal. Vale destacar que, nesse relatório, Cruls contrapõe-se aos argumentos dos que eram contrários à transferência da Capital para o Centro-Oeste, argumentos centrados na distância para o litoral. O astrônomo responde-lhes simplesmente com a afirmação de que, de trem, a distância para o Rio de Janeiro demandaria não mais que 20 horas, uma previsão, sempre é bom lembrar, de mais de um século atrás.

No aniversário daquela estrada pioneira, não podemos deixar de lançar nosso olhar sobre a situação atual das ferrovias e sobre a necessidade de se investir nelas. Na sua recente viagem à Índia, entre os diversos contatos feitos pelo Presidente Lula, um deles foi com os empresários do setor, que possui um dos maiores parques ferroviários do mundo. Ainda não há resultados concretos dos entendimentos iniciais, mas estamos ansiosamente esperando os investidores, na medida em que investir em ferrovias deveria ser uma das prioridades para o soerguimento da nossa infra-estrutura de transportes, hoje basicamente concentrada nas rodovias.

Essa questão se torna tanto mais relevante quando pensamos na superpotência agrícola em que o Brasil se transformou, mas que está fortemente ameaçada pela falta de investimentos em infra-estrutura ante o péssimo estado das nossas rodovias e a incapacidade dos portos para escoar as exportações de safras cada vez maiores. Com o custo do transporte rodoviário elevadíssimo, é chegada a hora de possibilitar aos agricultores a opção de contar com o transporte ferroviário, o que derrubaria pela metade o preço dos fretes. Isso ainda não ocorre simplesmente porque as ferrovias não alcançam os municípios que sustentam a economia deste País.

Com as ferrovias, não apenas o transporte de commodities seria expandido, mas também o de passageiros seria beneficiado. Até o turismo sairia ganhando, desde que dispuséssemos - como é o caso da Europa - de velozes e confortáveis trens de passageiros, que cortam em vários sentidos aquele continente, mais ou menos do tamanho do território brasileiro.

Eu não poderia deixar de ressaltar, aqui, a atuação dos ferroviários brasileiros, uma das categorias que mais contribuíram para a conquista do interior do Brasil, antes que a opção pelo transporte rodoviário, por motivos que a História um dia ainda vai revelar, suplantasse essa universal via de desenvolvimento.

Queremos, portanto, conclamar as Srªs e os Srs. Senadores o Congresso Nacional, o Governo Federal, enfim, para que seja retomado o espírito empreendedor de Irineu Evangelista, o Barão de Mauá! E retomemos também o espírito aguerrido dos pioneiros ferroviários brasileiros! Com isso, tenho certeza, estaremos caminhando a passos largos para o tão sonhado desenvolvimento sustentável.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/05/2004 - Página 11834