Pronunciamento de Heráclito Fortes em 03/05/2004
Discurso durante a 48ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Refutações ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti a respeito da atuação do governo.
- Autor
- Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
- Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
COMERCIO EXTERIOR.:
- Refutações ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti a respeito da atuação do governo.
- Aparteantes
- Ney Suassuna.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/05/2004 - Página 11915
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMERCIO EXTERIOR.
- Indexação
-
- QUESTIONAMENTO, INEFICACIA, SETOR, COMUNICAÇÕES, GOVERNO, DIVULGAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
- CRITICA, CONDUTA, IDELI SALVATTI, SENADOR, IMPUTAÇÃO, RESPONSABILIDADE, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBTENÇÃO, DECISÃO, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO (OMC), REDUÇÃO, SUBSIDIOS, ALGODÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
- ELOGIO, ATUAÇÃO, POLITICA EXTERNA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
- CRITICA, PROPAGANDA ELEITORAL, GOVERNO FEDERAL, COMPARAÇÃO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
- CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, INFERIORIDADE, REAJUSTE, SALARIO MINIMO, ELOGIO, PARTICIPAÇÃO, OPOSIÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.
O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, parece-me que, a partir desta semana - e é o que se prenuncia aqui -, vamos viver uma nova relação nesta Casa. A sobriedade do discurso da Líder do PT na Casa é exatamente o primeiro sinal disso. Esse discurso de autocrítica merece de nós, Oposição, elogios e louvor.
Concordo completamente com o que disse a Líder do Partido do Governo nesta Casa, principalmente quando transmite o sentimento do Presidente Lula e diz que a comunicação do Governo vai mal. Quero aqui abrir um parênteses, para não correr o risco de culpar no Ministro Luiz Gushiken, por quem tenho o maior respeito, a maior admiração, fruto de uma convivência longa que tivemos na Câmara dos Deputados, onde pude atestar as suas boas intenções e, acima de tudo, seu bom caráter.
Não sei se a Líder, no Palácio, representa o grupo do Gushiken ou o do José Dirceu. Sabe-se à boca pequena e por intermédio da imprensa que são grupos conflitantes e que cada um forma blocos e sub-blocos no Senado da República. Mas concordo plenamente quando S. Exª diz, por meio das várias afirmativas e também por meio do subconsciente, que a comunicação do Governo vai mal. Não vai mal não, vai pessimamente, pois vem conduzindo mal os assuntos que o Governo trata no dia-a-dia. As conquistas são minimizadas, mal explicadas, e as derrotas não são justificadas.
Senador Ney Suassuna, V. Exª, que é um homem experiente e já está nesta Casa há alguns anos, sabe que atribuir ao atual Governo a vitória da OMC é pedantismo ou despreparo. Essa briga pelo subsídio do algodão, Senador Roberto Saturnino, começou no Governo Fernando Henrique. Não podemos atribuir essa vitória de efeito retardado ao Governo Fernando Henrique porque se trata de uma briga que já vem de longa data. Há quantos anos, Senador Marcos Guerra, o Brasil briga por independência, soberania e autonomia nessas questões internacionais?
Aliás, faço justiça ao grande trabalho do Ministro Celso Amorim à frente do Ministério das Relações Exteriores, hoje, como Ministro do Governo Lula, e, no passado, como Ministro do Governo Itamar Franco. Mas se há uma área em que a comunicação governamental vai mal e na qual não se ouvem comentários negativos contra o Governo do Presidente Lula é exatamente na da comunicação. Quando há algum atropelo, é o assessor Garcia se metendo onde não deve. É aquela velha história que sempre tratamos aqui: o famoso fogo amigo.
O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - V. Exª me permite um aparte?
O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Com o maior prazer, Senador Ney Suassuna.
O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador Heráclito Fortes, parabenizo V. Exª porque é um homem consciente e responsável quando diz que o Governo tem acertos - e tem muitos. Contudo, não tem sido dada a devida divulgação dos acertos. Concordo com V. Exª também quando diz que a área de comunicação tem sido pouco hábil em relação às explicações, e que ninguém faz milagre do dia para a noite em um país. Nós ganhamos, mas os nossos diplomatas já vinham consolidando um entendimento em relação ao subsídio ao algodão. Aliás, logo no começo do meu mandato passado, reclamávamos muito de que o Itamaraty preferia não se meter em brigas. E, já no segundo biênio, começou a ocorrer um fortalecimento da posição do Itamaraty. Contudo, o que elogiei e continuo a elogiar é o fato de que cada viagem dessas tam trazido dividendos. Agora, vem a da China. Se conseguirmos aumentar um pouco as nossas vendas para aquele país será um sucesso. Temos de ter essa consciência, mesmo sendo Oposição. Apóio o Governo; V. Exª faz oposição. Mas está fazendo justiça. Parabenizo V. Exª por reconhecer que há acertos neste Governo e que, também, as viagens são produtivas.
O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª pode estar convicto de que sou daqueles que acreditam que as viagens feitas pelo Presidente Lula são positivas para o Brasil.
O Presidente Lula, cujo desgaste interno ainda não chegou ao mundo, tem de aproveitar exatamente o seu carisma, o que representou a sua luta e a sua vitória, explorando positivamente esses pontos para o Brasil.
Das viagens que fez Sua Excelência, um dos pontos altos foi exatamente a atuação do empresário Nagi Nahas, que colocou o seu prestígio internacional a serviço do Governo brasileiro, tendo como conseqüência esse encontro para dezembro que está sendo anunciado. Isso deve ser explorado; é preciso tirar partido disso. Concordo plenamente com V. Exª. E, da mesma forma que critico o Governo, serei um dos Senadores da República que virão a esta tribuna exatamente para elogiar a política externa dele.
Senador Ney Suassuna, o que me preocupa é a Senadora querer atribuir a possível derrota do Presidente Bush ao Governo Lula. Além de ser perigoso este assunto, porque nós não devemos nos meter nas questões externas dos países amigos, é uma pretensão absurda o Brasil conseguir derrotar o Presidente Bush. Já não basta o inferno astral em que o Presidente americano vive, gerado por suas próprias atitudes? Imagine amanhã, em frente à Casa Branca, ou nas manifestações futuras, as bandeiras da CUT e do PT participando de tais manifestações! Falta humildade e, acima de tudo, discrição dos Líderes do Governo. Nós não podemos nos intrometer nas questões internas de países. Considero essa atitude, Senador Ney Suassuna, uma precipitação e principalmente um perigo. Não é que não tenhamos o direito de dizer o que achamos nesta tribuna livre e soberana, mas quem lidera governo precisa ter cautela, até pelas conseqüências que essas relações podem trazer. É excesso de pretensão, por parte dos Líderes do PT, atribuir a derrota do Presidente George W. Bush à questão do algodão brasileiro. Todavia, quem tem boca diz o que quer. Segundo o Senador Mão Santa, apologista do Eclesiastes, “o homem é dono da palavra guardada e é escravo da palavra anunciada”.
Outro elogio que faço questão de anunciar aqui é em relação à sobriedade com que foi tratado o tema do salário mínimo. E a amnésia, às vezes, toma conta de quem hoje ocupa Governo. Quem fez baderna em passado recente nas ruas brasileiras, quem invadiu fábricas e ministérios não fomos nós, que hoje estamos na Oposição, mas exatamente aqueles que eram Oposição e hoje assumem o Governo. Querer cobrar da Oposição atual um comportamento que não tiveram quando estavam na mesma condição em que estamos hoje é, acima de tudo, incoerência.
Aliás, Senador Roberto Saturnino, somente tivemos essa vitória internacional -- que vamos chamar de vitória coletiva -- porque não seguimos a cartilha do PT, que era de rompimento com o FMI, de quem esse Partido e seu Governo se transformaram em fiel súdito e aluno cordeiro. Se tivéssemos seguido essa cartilha, não teríamos continuado as discussões sobre a Alca. Vejam, Srs. Senadores e principalmente os senhores ouvintes da TV Senado residentes no sul do País, qual era o discurso que pregavam em relação à Alca, algumas vezes até ao lado da igreja, e como se comportam hoje alguns próceres do Governo. Se tivéssemos seguido a cartilha pregada em praça pública pelo PT, nada disso teria ocorrido.
O Governo Fernando Henrique Cardoso foi equilibrado em suas relações internas e, acima de tudo, em sua política externa, haja vista um artigo publicado sábado em O Estado de S. Paulo, do insuspeito Embaixador Rubens Ricupero Barbosa, mostrando que a questão do algodão é longa e duradoura.
O Governo comunica-se mal e tendenciosamente. Se a Oposição, na semana passada, não fez alarde em torno dessa questão, foi em momento de respeito ao Governo, que não quis dividir os louros. Contudo, o Governo vir aqui hoje cobrar que a Oposição não falou da vitória -- que supõe sua -- é tentar enganar a opinião pública, como vem sendo feito nos últimos dias, Senador Mão Santa, com propaganda enganosa durante o horário eleitoral, em que se trocam datas, números e estatísticas para mostrar o que supostamente foi feito e para comparar os oito anos do Governo Fernando Henrique com os quatorze meses do Governo atual. Não é assim que se deve comunicar um Governo que pretende ser transparente e, acima de tudo, objetivo na sua tarefa de mostrar ao País a que veio, por que veio e para que veio.
Tenho certeza de que, se levarmos às praças públicas brasileiras todos os pronunciamentos feitos não só pelo Presidente da República, mas pelos mais importantes Líderes do Partido e da sua base de sustentação, teremos uma série de decepções, a começar pelo salário mínimo: havia a promessa de dobrar o seu valor de compra em quatro anos de Governo; todavia, na segunda oportunidade, no segundo 1º de maio do atual Governo, houve um aumento de vinte reais.
Sr. Presidente Senador Mão Santa, eu pretendia falar hoje sobre assuntos do nosso Estado, mas, diante da estimulação do Governo, fui obrigado a mudar o discurso, até por coerência, tendo em vista que fui Líder do Governo passado no Congresso e acompanhei algumas dessas negociações, tendo sido testemunha ocular de alguns desses fatos.
Toda vez que o Governo Fernando Henrique é injustamente atacado, sinto-me na obrigação de vir a esta tribuna defendê-lo. Não que isso seja necessário, porque o Brasil todo está reconhecendo o trabalho feito por Fernando Henrique ao longo dos oito anos de seu mandato: a estabilidade da moeda, a tranqüilidade com que governou e, acima de tudo, a transparência dos atos do seu Governo. Fico muito feliz quando vejo o atual Governo colher os frutos que plantamos em Governo recente e alardear para a Nação como tendo sido do seu plantio. Isso não nos tira nenhum pedaço. Pelo contrário; a opinião pública está vendo, a Nação toda está testemunhando.
Todavia, não podemos aceitar a comparação provocativa e sem fundamento. Não podemos concordar com o monopólio da virtude, tampouco com o monopólio das boas intenções. As boas intenções existem nos homens públicos. Tenho certeza de que todo aquele que assume função de relevância -- como é caso do Presidente Lula, principalmente por sua origem humilde, por sua trajetória -- assume imbuído das melhores intenções, mas, às vezes, não consegue se cercar bem; cerca-se mal e paga o preço por isso.
Senador Papaléo Paes, acredito que chegará o momento em que o Presidente Lula vai acordar e convocar a Nação para governar com os melhores, aproveitando o seu carisma, a sua credibilidade, o seu respeito e o carinho que os brasileiros lhe dedicam. Aí, sim, convocará os brasileiros e chamará os melhores para governar. Tenho certeza de que, a partir daí, poderemos contabilizar melhores conquistas para este Brasil.
A crise que estamos vivendo, Senador Roberto Saturnino, que representa o Rio de Janeiro, passa ao largo do seu Estado. Ela nasce, cresce e vai morrer na sucessão de São Paulo. A crise vivida hoje pelo Presidente Lula é uma crise paulista: disputa de poder no seu Estado, na sua base. Voltarei oportunamente a discutir esses fatos. Faço aqui um parêntese, Senador Mão Santa: não é a sucessão municipal; é a sucessão de 2006.
Se avaliarmos a questão, veremos que todas essas crises comandadas pelo fogo amigo em que vivemos hoje é a precipitação, movida pela vaidade e pela ambição, daqueles que querem conquistar o poder em 2006, sem passar pelas eleições de 2004.
Meu avô, homem experiente e de poucas letras, já dizia que eleição se faz uma de cada vez; quem tenta fazer uma na frente da outra perde as duas.
Muito obrigado, Sr. Presidente.