Discurso durante a 48ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com as ações das Organizações não governamentais, que lutam contra a expansão da área cultivada na região Amazônica, possa repercutir no crescimento do agronegócio brasileiro.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PPS - CIDADANIA/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SOBERANIA NACIONAL. POLITICA AGRICOLA. :
  • Preocupação com as ações das Organizações não governamentais, que lutam contra a expansão da área cultivada na região Amazônica, possa repercutir no crescimento do agronegócio brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2004 - Página 11973
Assunto
Outros > SOBERANIA NACIONAL. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • CRITICA, ATIVIDADE, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), OBSTACULO, ESTABELECIMENTO, AGROINDUSTRIA, REGIÃO AMAZONICA, ALEGAÇÕES, DEFESA, COMUNIDADE INDIGENA, MEIO AMBIENTE.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, PROGRESSO, SUPERAVIT, BALANÇA COMERCIAL, AGROINDUSTRIA, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO NORTE, REGIÃO CENTRO OESTE.
  • DEFESA, INTERESSE NACIONAL, INVESTIMENTO, SETOR, AGROINDUSTRIA, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, PAIS.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PPS - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, quero denunciar, hoje, a ameaça que paira sobre uma das poucas atividades econômicas de nosso País que têm apresentado crescimento constante e significativo: o agronegócio.

O problema, Sr. Presidente, é que se têm avolumado nos últimos tempos as manifestações de determinados setores, facilmente identificáveis, sobre o desenvolvimento do agronegócio na Amazônia. Com a velha e esfarrapada desculpa de que defendem as populações indígenas e o meio ambiente, certas organizações não-governamentais, na verdade instrumentos de defesa de interesses estrangeiros, voltam a apontar sua artilharia contra a expansão da área cultivada naquela região do Brasil.

Ora, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, não podemos perder de vista o que tem representado o agronegócio para o progresso de nosso País, em especial no período mais recente da história.

Não fosse esse setor da economia, a queda do Produto Interno Bruto verificada em 2003 teria sido, seguramente, bem mais dramática. Afinal, no ano passado, o agronegócio cresceu mais de 7%, e o PIB agropecuário superou a marca dos quatrocentos e cinqüenta bilhões de reais, o que representou trinta bilhões de reais a mais que o total atingido em 2002. Somente entre janeiro e setembro do ano passado, a balança comercial do agronegócio registrou um superávit de US$18 bilhões.

São números, Sr. Presidente, fortemente influenciados pela criação de novas áreas produtivas, localizadas, em sua quase totalidade, nas regiões Norte e Centro-Oeste; regiões que viram crescer, em ritmo espantoso, a produção de grãos e de carnes.

A soja, por exemplo, teve sua produção duplicada nos últimos sete anos. E, conforme noticiado pela Gazeta Mercantil, a Confederação Nacional de Agricultura prevê que “a safra 2003/2004 se deverá situar em torno de 157 milhões de toneladas, volume suficiente para que o País ultrapasse os Estados Unidos como maior exportador mundial do produto”.

Falo em exportações, Srªs e Srs. Senadores, para lembrar como a atuação dessas aparentemente desinteressadas organizações não-governamentais, que tanto enfatizam a questão indígena e a questão ambiental, pode estar influenciada por pensamentos menos conscientes ou nobres; por aquilo que Eça de Queiroz definia como “obtusidade córnea ou má fé cínica”.

Há poucos dias, por exemplo, teve ampla repercussão, em nosso País, uma matéria publicada na revista inglesa The Economist, segundo a qual o gado e a soja estariam “comendo” a Floresta Amazônica. A matéria cometia a impertinência de sugerir aos países ricos que evitassem a importação desses dois produtos brasileiros. E, como era de se esperar, algumas dessas organizações não governamentais de plantão trataram de dar amplo destaque à informação.

Não estivessem tais organizações, Srªs e Srs. Senadores, afetadas por obtusidade córnea ou má fé cínica, poderiam pôr o assunto em pratos limpos. Poderiam constatar ou ressaltar, vejam bem, que, na Floresta Amazônica, não se produz soja e não se cria gado; que tais atividades se restringem à área da Amazônia Legal destinada ao agronegócio; que temos somente nessa área, ainda, cem milhões de hectares a serem utilizados, sem prejuízo das populações indígenas e do meio ambiente.

O problema, Sr. Presidente, é que as disputas comerciais entre as nações são fortíssimas. Agora mesmo, poucos dias atrás, o Governo dos Estados Unidos esteve na berlinda pelo fato de, para cada dólar exportado em lã pelo País, ter gasto US$0,89 em subsídios aos produtores. Sabe-se, vale dizer, que os países ricos gastam, atualmente, um bilhão de reais por dia em subsídios a seus agricultores.

Portanto, não podemos ser ingênuos. Não nos podemos deixar levar pela emoção, pela história mal contada, por um discurso politicamente correto que, a bem da verdade, nada mais representa que a defesa de interesses escusos.

Nesta Casa, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, represento um Estado da região Norte. E, até por esse motivo, estarei sempre atento à proteção de suas reservas naturais. Denunciarei todas as intervenções que ponham em risco os inigualáveis recursos que Deus houve por bem destinar à Amazônia. Mas não posso, seguramente não posso, endossar discursos que, ao contrário do que apregoam, não defendem os interesses da região, tampouco do Brasil; que tratam, tão-somente, de dar cobertura a inconfessáveis ambições comerciais.

Deixemos que o agronegócio siga trazendo benefícios à população brasileira. E, em sinal de apoio a esse processo sadio de desenvolvimento, cuidemos de denunciar a atuação hipócrita de certas organizações que, com muita propriedade, já foram definidas como “a vanguarda do atraso”.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2004 - Página 11973