Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A contribuição do excelente desempenho da agricultura brasileira para a melhora do horizonte da economia, tanto interna quanto externamente, representada por 42% das exportações.

Autor
Romero Jucá (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • A contribuição do excelente desempenho da agricultura brasileira para a melhora do horizonte da economia, tanto interna quanto externamente, representada por 42% das exportações.
Publicação
Publicação no DSF de 05/05/2004 - Página 12095
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • AVALIAÇÃO, SITUAÇÃO, ECONOMIA, BRASIL, MANUTENÇÃO, ESTABILIDADE, REDUÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), RENDA, AUMENTO, DESEMPREGO, EXPECTATIVA, PRAZO, ESTRUTURAÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • IMPORTANCIA, CRESCIMENTO ECONOMICO, AGRICULTURA, REGISTRO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), AUMENTO, PERCENTAGEM, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), EMPREGO, EXPORTAÇÃO, PREVISÃO, CONTINUAÇÃO, MELHORIA.
  • SAUDAÇÃO, RECUPERAÇÃO, SAFRA, ALGODÃO, AMPLIAÇÃO, PECUARIA, MERCADO EXTERNO, UNIÃO EUROPEIA, ASIA, AUSENCIA, CONTAMINAÇÃO, DOENÇA ANIMAL.

O SR. ROMERO JUCÁ (PMDB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no ano passado, o desempenho econômico do País não nos deu muitas razões para alegria. Algumas das melhores notícias tiveram um sabor amargo e um tom melancólico. Conseguimos evitar uma crise maior - é o que os mais otimistas dizem - e esse foi um de nossos saldos mais positivos. Contrariamos as expectativas de escalonamento da inflação, a moeda valorizou-se um pouco em relação ao dólar, os juros tiveram uma baixa, ainda que continuem altos, o risco Brasil caiu na medida que subiu a confiança dos investidores estrangeiros. A que preço, porém, conseguimos tudo isso? O PIB encolheu, o desemprego aumentou, a renda diminuiu.

Mas minha intenção hoje, Sr. Presidente, não é insistir no lamento, que só faz aumentar os efeitos depressivos da nossa melancolia econômica. Seria bom que olhássemos mais freqüentemente para além das nuvens carregadas que ainda ocupam uma boa parte do horizonte de nossa economia.

No meio das boas notícias, com sabor amargo, e das notícias que são pura e simplesmente más, um fato se destacou: o excelente desempenho da agricultura. O PIB caiu, é verdade, mas teria caído muito mais acentuadamente se não fosse o crescimento do agronegócio. Segundo dados do IBGE, a agropecuária expandiu-se 5%, em 2003, enquanto a indústria encolheu 1%, e os serviços, 0,1%. O setor agropecuário sozinho já é responsável por mais de 10% do PIB. Se somarmos à produção agropecuária o restante de atividades que constituem o agronegócio (indústria de insumos, agroindústria, distribuição), esse percentual sobe para mais de 33%. Esse é, sem sombra de dúvida, o maior negócio do Brasil, responsável por 37% dos empregos e por 42% das exportações totais do País.

E não faltam bons indícios, neste início de ano, que nos permitam estender nosso otimismo. Mesmo com a influência imprevisível do clima, que trouxe seca para o sul do País e excesso de chuva para o Nordeste e o Centro-Oeste, e com a ocorrência da praga da ferrugem asiática nas lavouras de soja, os prognósticos para o setor de agronegócios continuam excelentes. Isso, aliás, é mais uma mostra da força desse setor, que não mais depende tão estritamente do imponderável fator climático para ter um bom desempenho.

Há dados claros que indicam que, este ano, mais uma vez, o agronegócio vai aparecer como carro-chefe de nossa economia. Tomemos como termômetro, Sr. Presidente, as exportações. No primeiro trimestre deste ano, por exemplo, as exportações de milho cresceram mais de 400% em comparação com o mesmo período do ano passado. As exportações de soja continuam fortes, embora tenham diminuído um pouco com relação a 2003. Em janeiro, foram mais de 8 bilhões de toneladas, correspondendo a cerca de 32% do total projetado para o ano. As exportações de papel e celulose, também em janeiro, foram quase 23% superiores a 2003. Mesmo o trigo, cuja produção nacional, apesar do recorde histórico da safra de 2003/2004, corresponde apenas a cerca da metade do consumo interno, teve suas exportações aumentadas: mais de um milhão de toneladas já foram embarcadas até março deste ano, quando a expectativa era de que essa marca fosse atingida apenas em agosto.

Se o vigor das exportações é um bom indício, então podemos esperar um ano de boas notícias no agronegócio. Alguém, no entanto, poderia dizer que o bom desempenho das exportações, neste início de ano, é apenas o eco do sucesso do agronegócio no ano passado. Olhemos, então, para a produção. Ora, todos os prognósticos relativos à produção apontam para a repetição, amplificada, do sucesso do ano passado. Passemos em revista alguns deles.

Mesmo com o efeito adverso do clima neste início do ano, o IBGE prevê que a safra de grãos, este ano, ultrapassará a casa dos 130 milhões de toneladas, quase 6% maior do que a de 2003. Com relação ao ano passado, espera-se um aumento na produção de algodão herbáceo, do arroz em casca, do feijão em grão e da soja.

O aumento da produção de algodão, aliás, deve ser particularmente expressivo. Segundo as previsões, deve chegar a 35% de crescimento em relação à safra passada. Esse, a se confirmar, é um índice, especialmente eloqüente, do progresso da agricultura brasileira. Desde a década de 1970, a cultura algodoeira fraquejava no Brasil. É só a partir de 1997/98 que a produção de algodão retoma vigor. A última safra, de 2002/2003, foi quase três vezes maior do que a safra de 1996/97. O crescimento previsto para este ano coroa a recuperação da lavoura algodoeira no País.

Também o álcool e o açúcar devem ter sua produção aumentada, em função, sobretudo, do crescimento de produtividade. Prevê-se que crescerá em 8% a produção de álcool.

No setor pecuário, a grande expectativa é a de ampliação dos mercados. O Brasil tem aperfeiçoado seu sistema de controle de qualidade da carne bovina, com a intenção de conquistar os mercados mais exigentes da Europa e da Ásia, sobretudo. Ao manter-se livre das doenças que, recentemente, em vários países, afetaram não só os rebanhos bovinos, mas também as criações de aves, o Brasil tem uma excelente oportunidade para firmar-se no mercado internacional, enquanto o mercado interno, assim esperamos, reage ao reaquecimento da economia.

Por fim, mesmo com o início do ano frustrando algumas expectativas, o complexo soja, ou seja, toda a cadeia produtiva de grão, farelo e óleo de soja, deve manter, se não aumentar, sua participação fundamental na balança comercial brasileira. Dados da Associação Brasileira de Óleos Vegetais, a Abiove, indicam que, este ano, as vendas do complexo de soja ao mercado externo podem ultrapassar os US$10 bilhões, ou seja, quase 30% a mais do que em 2003.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não precisamos ser pessimistas convictos para mantermos algum ceticismo quanto às perspectivas da economia brasileira, em geral, em 2004. Talvez não estejamos em condições de esperar, para este ano ainda, o que o Presidente Lula chamou, uma vez, de “espetáculo do crescimento”. Esperemos, apenas, que estejamos lançando corretamente as bases para esse crescimento no futuro próximo. De todo modo, uma coisa podemos afirmar, com certeza, contra os pessimistas crônicos, endurecidos em seu ceticismo: graças ao desempenho do agronegócio, poderemos, também, este ano, contar certamente que o sol encontrará alguma fresta por entre as nuvens carregadas da crise, trazendo alguma luz para nossa economia.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/05/2004 - Página 12095