Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao piloto Ayrton Senna, falecido há dez anos.

Autor
Papaléo Paes (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao piloto Ayrton Senna, falecido há dez anos.
Publicação
Publicação no DSF de 05/05/2004 - Página 12102
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, AYRTON SENNA, ATLETA PROFISSIONAL, COMPETIÇÃO ESPORTIVA, AUTOMOVEL, ELOGIO, ATUAÇÃO, ESPORTE.
  • REGISTRO, ATUAÇÃO, PROGRAMA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, INSTITUIÇÃO BENEFICENTE, FUNDADOR, FAMILIA, AYRTON SENNA, PERSONAGEM ILUSTRE.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o último sábado, 1º de maio, dia em que se completaram dez anos da morte de Ayrton Senna, foi seguramente, um dia de respeito, encantamento e reflexão.

O respeito, Srªs e Srs. Senadores, deve-se ao que representou e sempre representará esse grande brasileiro no imaginário de nosso povo. Afinal, todos sabemos que Ayrton Senna é das pouquíssimas pessoas verdadeiramente amadas em cada quarteirão, em cada bairro, em cada cidade do Brasil.

O encantamento, é claro, decorre das muitas alegrias que nos proporcionou, em especial no automobilismo de Fórmula 1: os três campeonatos mundiais, as quarenta e uma vitórias, as sessenta e cinco pole-positions, os dezenove recordes de pista, os seiscentos e quatorze pontos conquistados, e tantas outras marcas sempre associadas ao superlativo.

Acima de tudo, porém, penso que podemos dedicar este 1º de maio à reflexão: à reflexão sobre as muitas lições que nos foram deixadas por Ayrton Senna.

Já na infância, Sr. Presidente, manifestou-se um traço marcante de sua personalidade: a persistência, a determinação, a capacidade de enfrentar e vencer quaisquer dificuldades que se apresentassem no caminho.

Nem todos sabem que, ainda pequeno, um diagnóstico médico lhe atribuiu problemas de coordenação motora. seu pai comprou um pequeno kart, e foi com ele que o menino Ayrton começou a pôr em prática aquele traço de caráter que se transformaria na primeira de suas lições: a tenacidade, a firmeza, a perseverança, o perfeccionismo, os brios de campeão.

A partir daí, sua trajetória é por demais conhecida: ainda no kart, os campeonatos brasileiro e sul-americano, e a carreira bem-sucedida na Europa; a seguir, o desempenho brilhante na Fórmula Ford e na Fórmula 3 britânica; depois, a estréia na Fórmula 1, no Grande Prêmio do Brasil de 1984; ainda naquele ano, a antológica participação, sob chuva, no Grande Prêmio de Mônaco, num dia em que somente as maquinações antidesportivas conseguiram roubar-lhe a vitória; por fim, os dez anos de sucesso contínuo, tragicamente interrompidos na curva Tamburello.

E foi ao longo desses dez anos, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, que Ayrton Senna se encarregou de nos dar uma segunda lição, tão marcante e tão inspiradora como a primeira: a lição de patriotismo; a lição de um amor profundo e contagiante por nosso País.

Todos guardamos na memória a imagem que tanto se repetiu nas manhãs de domingo: após mais uma de suas vitórias, Senna diminuía a velocidade para empunhar a primeira bandeira do Brasil que lhe fosse estendida; e, com ela nos braços, desfilava aos olhos do mundo sua condição de brasileiro. Naqueles instantes, Sr. Presidente, naquela volta vibrante e triunfal, éramos redimidos de nossos dramas e de nossas frustrações. sentíamos, tão-somente, o orgulho da brasilidade, a esperança de um futuro melhor para nossa gente.

Por fim, Srªs e Srs. Senadores, quero ressaltar uma terceira lição que devemos ao grande piloto: a solidariedade aos necessitados, o desejo de oferecer oportunidades às crianças e jovens de nosso País.

Por artifícios do destino, dois meses antes do acidente fatal no circuito de Ímola, Ayrton Senna contara a sua irmã Viviane os planos de envolver-se em uma ação ordenada de apoio aos excluídos. Desse sonho, dessa visão generosa e solidária, nasceu o Instituto Ayrton Senna, que desde novembro de 1994 desenvolve programas nas áreas da educação formal e da educação complementar.

Nesses quase dez anos, o Instituto Ayrton Senna atendeu cerca de quatro milhões de crianças e jovens; estabeleceu parcerias com três mil, trezentas e setenta e cinco escolas, universidades e organizações não-governamentais; atuou em vinte e quatro Estados, em quatrocentos e sessenta e três Municípios; investiu cento e treze milhões de reais.

Tudo isso, Sr. Presidente, para viabilizar programas como o Escola Campeã, que trabalha com metodologias de fortalecimento das gestões municipal e escolar e que deverá atender, somente neste ano de 2004, mais de oitocentas mil crianças; programas como o Educação pelo Esporte e o Educação pela Arte, que buscam desenvolver os potenciais de crianças e jovens, por meio, respectivamente, de atividades esportivas e artísticas; programas como o Acelera Brasil, uma resposta concreta ao problema da repetência, na medida em que trata da aceleração do processo de aprendizagem no ensino fundamental.

Programas como esses, Sr. Presidente, e muitos outros executados pelo Instituto Ayrton Senna, certamente, ajudam a tornar reais os sonhos de solidariedade de nosso campeão.

Em síntese, Srªs e Srs. Senadores, são muitas as homenagens que já vêm sendo e continuarão a ser prestadas a Ayrton Senna, neste momento em que se aguçam as recordações: neste momento em que o lamentável acidente do Grande Prêmio de San Marino completa dez anos. mas todos sabemos que, por mais grandiosas que sejam tais homenagens, não estarão à altura do que o excepcional homem e piloto significa para o povo brasileiro.

Assim, talvez, a maior reverência que possamos prestar a Ayrton Senna seja a de conferir a devida atenção a suas lições: a lição de perseverança; a lição de patriotismo; a lição de solidariedade. com perseverança, patriotismo e solidariedade, senhor presidente, haveremos de transformar o Brasil num país cada vez mais forte, cada vez mais progressista, cada vez mais justo.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/05/2004 - Página 12102