Discurso durante a 51ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas às manifestações do Presidente Lula por ocasião da rejeição do projeto de conversão que trata dos bingos, em que responsabiliza o Congresso Nacional. (como Líder)

Autor
Antero Paes de Barros (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MT)
Nome completo: Antero Paes de Barros Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
JOGO DE AZAR. MEDIDA PROVISORIA (MPV).:
  • Críticas às manifestações do Presidente Lula por ocasião da rejeição do projeto de conversão que trata dos bingos, em que responsabiliza o Congresso Nacional. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2004 - Página 12717
Assunto
Outros > JOGO DE AZAR. MEDIDA PROVISORIA (MPV).
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, MOTIVO, BLOCO PARLAMENTAR, OPOSIÇÃO, GOVERNO, VOTAÇÃO, REJEIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), BINGO, CONTRADIÇÃO, TENTATIVA, GOVERNO FEDERAL, IMPEDIMENTO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, EX SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, VINCULAÇÃO, CRIME ORGANIZADO, JOGO DE AZAR, PROTESTO, IMPUNIDADE, DECLARAÇÃO DE VOTO, ORADOR.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INEXATIDÃO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RESPONSABILIDADE, CONGRESSO NACIONAL, REABERTURA, BINGO, MOTIVO, OMISSÃO, ILEGALIDADE, ATIVIDADE, JOGO DE AZAR, POSSIBILIDADE, DETERMINAÇÃO, POLICIA FEDERAL, FECHAMENTO.
  • DEFESA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, BINGO.
  • DETALHAMENTO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), AUSENCIA, URGENCIA, RELEVANCIA, NECESSIDADE, DEBATE, QUESTIONAMENTO, EXCESSO, EDIÇÃO, REFORMULAÇÃO, PROCESSO LEGISLATIVO, SUGESTÃO, ANEXAÇÃO, PROJETO DE LEI.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT. Pela Liderança do PSDB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de fazer alguns registros.

Primeiro, vamos repor a verdade. Os motivos que levaram a Oposição, ontem, a votar contra a urgência e a relevância já foram muito bem explicitados até pelo Senador Geraldo Mesquita, que preside a sessão neste momento.

Vamos ser sinceros. O Brasil teve a Lei Calmon, a Lei Rouanet, a Lei Sarney de Incentivo à Cultura, a Emenda Dante de Oliveira, que não se transformou em lei. Há uma série de leis que tiveram o carimbo do nome. Normalmente, a lei é publicada com um determinado número. Mas algumas leis, pela notoriedade do assunto, acabam recebendo um nome.

Aquela medida provisória tem nome. Ocorreu assim: o Governo Lula mandou para cá a Lei Waldomiro Diniz. Foi isso. Sem o episódio do Waldomiro, a mensagem do Governo Lula era para regulamentar o jogo. Sem o episódio Waldomiro, o Governo Lula nomeou o Ministro José Dirceu, ineditamente, para coordenar uma comissão interministerial que analisasse a regulamentação do jogo. E o Ministro José Dirceu, coordenando essa comissão interministerial, tinha como mais importante assessor junto ao Congresso brasileiro o Sr. Waldomiro Diniz. Então, vamos colocar a verdade no seu devido lugar.

Daí o fato de a Oposição ter dito “não é urgente e não é relevante”. Embora eu queira aqui justificar que, mesmo reconhecendo que não era urgente e relevante, votei pela urgência e relevância, porque queria que o mérito da proibição do jogo no Brasil fosse vitorioso.

Creio que há um grande derrotado e dois grandes vencedores. Os grandes vencedores: Waldomiro Diniz e Carlinhos Cachoeira; o grande derrotado: a sociedade brasileira. Não há dúvida alguma disso. Nesse festival de equívocos, venceu Waldomiro Diniz.

O Governo não está contabilizando como derrota. Uma matéria da Folha de S.Paulo de hoje, com o título “Presidente foi alertado, mas mandou votar”, diz o seguinte:

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi consultado e alertado sobre o risco de derrota na apreciação da admissibilidade da MP que proibia os bingos no país. Assumiu o risco da votação e adotará o discurso de que fez a sua parte, mas que o Congresso não fez a dele.

Isso é de um farisaísmo inimaginável! O Governo não fez e precisa fazer a sua parte. Fazer a sua parte é reconhecer o seguinte: não há lei federal alguma. Desafio um parlamentar do Governo a trazer aqui uma lei federal que autorize o funcionamento dos jogos de bingo no Brasil. Não há lei. Não há nada neste País que autorize o funcionamento das casas de bingo no Brasil. Se o Governo tem o compromisso de realmente não deixar que funcionem, deve determinar à Polícia Federal - embora o Governo também não atenda os agentes da Polícia Federal - que determine o fechamento das casas de bingo, porque, para funcionar, precisam ter uma lei autorizativa e que seja federal.

É deplorável essa declaração do Presidente Lula de querer responsabilizar o Congresso, quando esse assunto é momentoso por causa da atuação do seu Governo, do Waldomiro Diniz. Portanto, não quero interpretar o sentimento do Governo, mas creio que se sente confortado com essa situação, porque julga estar liberado para honrar os compromissos do Sr. Waldomiro Diniz.

Quero trazer uma questão. O Governo colocava os seguintes questionamentos: não é necessária a CPI dos Bingos, porque o Governo já fez uma medida provisória fechando os bingos. Para que CPI dos Bingos? E agora? Agora é preciso instalar a CPI dos Bingos, requerida pelo Senador Magno Malta, e a CPI do Waldomiro. Quais eram os argumentos contrários à CPI dos Bingos? A Polícia Federal está apurando. Mentira! A Polícia Federal paralisou as investigações com a desculpa esfarrapada - daí por que não se pode tirar o poder concorrente de investigação do Ministério Público - de que, como o Procurador Marcelo Serra Azul, no episódio da GTech, já denunciou os diretores da Caixa, o Carlinhos Cachoeira, o Waldomiro Diniz, então não há mais o que apurar. Não é verdade. O computador do seu Waldomiro ninguém sabe onde está; as ligações telefônicas, ninguém sabe onde estão. O Waldomiro e o José Dirceu não foram ouvidos. E assim por diante.

Na história desta República, desde 1500, quem cuida de jogos no Brasil é a Caixa Econômica Federal ou o Ministério do Esporte. O Governo Lula colocou isso onde? Na Casa Civil. E a Casa Civil tinha quem como principal assessor? Waldomiro Diniz.

Portanto, entendo que a sociedade perdeu, Waldomiro Diniz ganhou, mas está recolocado o debate. É preciso que os Partidos indiquem os nomes. É preciso que consigamos mais três adesões para que possamos instalar a CPI do Waldomiro Diniz.

Quero dizer que não cabem as acusações contra o Congresso brasileiro. Não é verdade o que o Poder Executivo diz: “Eu fiz a minha parte, o Congresso não fez a dele”. Isso é de um cinismo inaceitável, porque este Poder Executivo colocou na mensagem governamental ao Senado para regularizar o jogo. Este Poder Executivo nomeou o seu mais importante Ministro até então para cuidar da jogatina. Então, o Poder Executivo não tem essa autoridade toda para desconfiar do Congresso.

Quero ainda dizer o seguinte: não tenho dúvida de que o Líder do PSDB orientou o voto “não”, pela questão da urgência e relevância, tentando firmar um conceito para que, nas futuras votações, possamos derrotar o Governo que edita medidas provisórias que não sejam urgentes nem relevantes.

Confio absolutamente, infinitamente na honestidade dos Parlamentares que votaram a MP dos Bingos. Cada um votou com a sua convicção. Isso é balela. Não é possível diminuir o debate, levantando suspeitas sobre Parlamentares do PT, da Base do Governo ou mesmo da Oposição. É preciso restabelecer o debate sobre a questão de medidas provisórias.

E proponho esse debate, mesmo tendo pedido autorização ao Líder Arthur Virgílio para votar a favor da urgência e da relevância -- embora com a convicção de que essa era a “Lei Waldomiro Diniz” --, porque, neste ano, consideramos urgentes e relevantes várias matérias que, de fato, não o são. E citarei rapidamente alguns exemplos: Medida Provisória nº 140, de 2003, que cria o Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e Modernização da Frota Pesqueira Nacional; Medida Provisória nº 143, de 2003, que extingue o Conselho Diretor do Fundo de Garantia à Exportação e altera dispositivos da Lei nº 9.818/99; Medida Provisória nº 147, de 2003, que institui o Sistema Nacional de Avaliação e Progresso do Ensino Superior e dispõe sobre a avaliação do Ensino Superior. Tais assuntos são urgentes e relevantes? Não são urgentes e não são relevantes! É um crime que tenham sido instituídos por medida provisória, para anestesiar o debate sobre a educação e sobre a avaliação do Ensino Superior no Brasil!

Menciono ainda outros exemplos que evidentemente não são urgentes nem relevantes: Medida Provisória nº 148, de 2003, que atribui competências à Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS e fixa as diretrizes a serem observadas na definição de normas para implantação de programas especiais de incentivo à adaptação de contratos anteriores à Lei nº 9.656/98; Medida Provisória nº 158, 2003, que dispõe sobre a criação do Plano Especial de Cargos da Agência Brasileira de Inteligência - ABIN e dá outras providências; Medida Provisória nº 159, de 2003, que autoriza o Poder Executivo a conceder subvenção econômica à Companhia de Navegação do São Francisco; Medida Provisória nº 163, de 2003, que altera a Lei nº 10.683/03, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios e dá outras providências -- uma medida provisória inédita na República, pela qual o Governo criou 2,8 mil cargos para cabos eleitorais durante um ano eleitoral.

Portanto, já que o Governo conseguiu aprovar no Senado todas essas matérias, que não são urgentes nem relevantes, quero saudar os que recolocaram em debate a urgência e a relevância. Isso melhora o processo legislativo.

Debateremos a reforma do Judiciário, mas temos de debater também uma reforma do Legislativo. A iniciativa parlamentar precisa ser tratada nesta Casa com prioridade. Inclusive, no caso de medidas provisórias que versem sobre matérias já abordadas em iniciativas parlamentares, teriam que ser anexados a essas medidas os respectivos projetos já em tramitação.

Modéstia à parte, eu já possuía um projeto sobre o primeiro emprego, mas o Presidente Lula o instituiu por medida provisória. Sinceramente, se o meu projeto tivesse sido apensado e tivéssemos feito o debate, o erro não teria sido cometido, até porque o meu projeto era mais amplo, abrangendo o primeiro e o terceiro emprego, porque há três discriminações no Brasil: às mulheres, aos jovens e aos idosos.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Mesquita Júnior. Bloco/PSB - AC. Fazendo soar a campainha.) - Há expedientes a serem lidos.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (Bloco/PSDB - MT) - Concluo, Sr. Presidente, dizendo que esses são os motivos do debate de ontem e que quero restabelecer o debate. Pediremos mais três assinaturas para a instalação da CPI do Waldomiro e ainda para que se instale a CPI dos Bingos, proposta pelo Senador Magno Malta.

Eu gostaria de exigir que haja um mínimo, mínimo do mínimo -- mais mínimo do que o salário mínimo proposto pelo Presidente -- de consideração, o mínimo de ética, o mínimo de coerência, para determinar hoje, e não amanhã, agora, e não daqui a pouco, que a Polícia Federal feche as casas de jogos no Brasil. Tenho a convicção de que essas casas de jogo não fazem bem ao País. O jogo leva os jovens à compulsão. Há pessoas precisando percorrer consultórios de psicologia para se recuperarem. A imprensa brasileira já provou que o dono, o controlador desse jogo eletrônico pode, por meio de programas de computador, programar quem vai ganhar. E não é o rico que participa de bingos. Trabalhadores jogam na expectativa de poderem ganhar dinheiro, quando na verdade participam de uma fraude.

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª e espero que o Presidente Lula exercite um mínimo de coerência e mande fechar as casas jogos, que estão abertas porque há uma vacância de autoridade no País.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2004 - Página 12717