Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas a suspensão, pelo governo brasileiro, do visto de permanência do jornalista Larry Rohter, do jornal norte-americano The New York Times. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.:
  • Críticas a suspensão, pelo governo brasileiro, do visto de permanência do jornalista Larry Rohter, do jornal norte-americano The New York Times. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2004 - Página 13975
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, PREJUIZO, NATUREZA POLITICA, DECISÃO, GOVERNO BRASILEIRO, EXPULSÃO, PAIS, JORNALISTA, JORNAL, THE NEW YORK TIMES, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), MOTIVO, DIVULGAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, VICIO, BEBIDA ALCOOLICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, INCOERENCIA, GASTOS PUBLICOS, GOVERNO BRASILEIRO, PARTICIPAÇÃO, FORÇAS ARMADAS, BRASIL, INTERVENÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), PAIS ESTRANGEIRO, HAITI.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, definitivamente, o Governo que aí está não precisa de Oposição nem de inimigos. É espantosa a sua incompetência. É absolutamente de estarrecer como dá sucessivos tiros no pé.

Lembro Talleyrand - V. Exª, Senador José Sarney, deve se lembrar bem da passagem, por ocasião da morte do Duque d’Enghien -, quando foi dita a frase cínica “mais do que um crime, foi um erro”. O Governo conseguiu transformar vitória em derrota, passar de vítima a vilão, transformar um episódio menor de um jornalista americano que fez uma matéria de péssima qualidade e que foi deselegante e grosseiro - episódio que só mereceria uma carta do Embaixador brasileiro e ponto final - em um episódio de repercussão internacional, reduzindo o Brasil à condição de republiqueta aos olhos da comunidade internacional.

Expulsar jornalista por que criticou o Presidente da República?! Em primeiro lugar, o puritanismo. O Presidente da República foi acusado de beber demais. Aliás, diga-se de passagem, eu jamais criticaria o Presidente da República por isso, porque nada tenho a ver com os hábitos de qualquer pessoa, a menos que isso interferisse nas suas decisões de Governo. E, depois, vamos deixar de hipocrisia, senhores e senhoras. Duvido que algum Senador desta Casa não tenha ouvido alguma vez, nos últimos meses, que o Presidente da República exagerava nas libações alcoólicas. Não sei se isso era verdade, mas era voz corrente. Isso chegou aos ouvidos do jornalista, que resolveu explorar o assunto, fazendo, a meu ver, mau jornalismo.

O episódio poderia ter morrido aí, mas o Presidente da República, num gesto inclusive de colonizado, reagiu. Será que o Presidente dos Estados Unidos daria a mínima se um jornalista brasileiro dissesse em O Globo ou na Folha de S.Paulo que ele estava abusando da bebida? O Bush daria importância alguma a isso? Não. Mas nós brasileiros nos colocamos numa condição de subdesenvolvidos. Ouvimos isso e dizemos: “É a metrópole que está falando. Isso não pode ocorrer. Estamos ofendidos”. E entramos em pânico. O Governo fez uma tremenda bobagem com isso, jogando no lixo a sua biografia, todo o passado histórico do Partido, num gesto atrabiliário.

Senador Antonio Carlos Magalhães, às vezes, penso: se tivessem vencido os militares, essas pessoas não teriam torturado, matado e exilado também? Penso isso tamanho o ranço autoritário de que estão possuídos e que mostram nos menores episódios.

Hoje vi alguém sair em defesa do Governo - é preciso muito despudor para fazê-lo -, dizendo que o Governo americano já negou visto a jornalista brasileiro, como se uma coisa tivesse relação com a outra. Negar visto a uma pessoa é um direito, é problema administrativo; outra coisa é expulsar um jornalista, tentando silenciá-lo, por ter ofendido o Presidente da República.

Meu Deus do Céu, como me sinto diminuído com esse episódio, como venho contrafeito à tribuna tratar disso! Parece incrível que esse Governo tenha feito algo que nenhum Governo fez neste País em regime democrático: expulsar um jornalista estrangeiro por crime de opinião.

Sr. Presidente, para concluir, pego o gancho da Senadora Serys Slhessarenko: o Governo brasileiro vai cometer um erro, vai mandar tropas ao Haiti, gastando US$100 milhões.

Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inspire-se na música do seu Ministro da Cultura, “O Haiti é aqui”. O Haiti está no Vidigal, na Rocinha, no Complexo do Alemão. Pegue os US$100 milhões e equipe a Polícia Federal. Faça uma operação limpeza no Rio de Janeiro. Não é mandando os tanques do Exército, não!

O Rio de Janeiro, Senhor Presidente Luís Inácio Lula da Silva, a mui gloriosa e amada São Sebastião do Rio de Janeiro, pede socorro. Vá em socorro dela! Deixe o Haiti para outros!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/2004 - Página 13975