Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solidariedade ao Presidente Lula contra ofensa de jornalista norte-americano.

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Solidariedade ao Presidente Lula contra ofensa de jornalista norte-americano.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2004 - Página 13981
Assunto
Outros > IMPRENSA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, DECISÃO, GOVERNO BRASILEIRO, EXPULSÃO, JORNALISTA, JORNAL, THE NEW YORK TIMES, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), AUTOR, ARTIGO DE IMPRENSA, OFENSA, DIFAMAÇÃO, DESRESPEITO, IDONEIDADE, DIGNIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Pela Liderança do Bloco. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a manifestação que farei neste momento refletirá muito mais do que um gesto de lealdade ao Presidente da República, que é um dever de consciência pela história e convivência política de décadas que tenho com Sua Excelência. Trata-se de uma manifestação de solidariedade a uma pessoa que, por sua biografia, é um dos mais extraordinários personagens da vida republicana, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Seguramente, prefiro que errem comigo a eu errar com qualquer pessoa. Entendo que estamos diante de um fato de enorme gravidade, porque não retrata apenas uma ofensa de um jornalista a uma pessoa, mas uma grave ofensa à dignidade, à memória e à honradez do Presidente da República, e a Presidência da República é símbolo da Pátria brasileira. Não tenho dúvidas de que tudo isso cria um clima de responsabilidade muito maior do Presidente da República em adotar essa posição.

Sr. Presidente, essa matéria não foi simplesmente uma opinião sobre o comportamento do Presidente da República. Essa matéria foi muito além disso e tocou na alma, na lembrança de vida, na história de vida de alguém que sonhou com este País, que muito lutou por este País, que sacrificou toda a sua biografia para tentar construir algo de bom para o Brasil.

Todos conhecem a história do Presidente Lula, a história do retirante da seca, daquele que passou todo tipo de privação. Esse homem, de família humilde, que enfrentou todas as dificuldades da vida, sofreu uma ofensa proclamada em um grande meio de comunicação internacional. É bom lembrar que não foi apenas a tal afirmação de que o Presidente estaria bebendo em excesso. Na matéria, afirma-se também, Senador Tasso Jereissati, que o pai do Presidente da República se embriagava e batia na mulher e nos filhos.

Temos o dever de refletir também sobre fatos dessa natureza. Hoje estávamos refletindo sobre essa questão. Será que temos o dever de manter silêncio e de conter todo tipo de defesa da dignidade de uma pessoa, em um momento como este, somente pelo exercício de uma função pública? Será que não há a necessidade de uma concepção maior de pátria nesta hora, de uma visão de defesa da dignidade e da honra? Será que não pode haver um equilíbrio entre a liberdade de expressão e o direito à dignidade de uma pessoa?

Há poucas semanas, um comandante de uma empresa americana de aviação, a American Airlines, ao desembarcar no Brasil, quando passava por uma identificação no aeroporto de Cumbica, fez um gesto obsceno, feriu a liberdade de expressão - simplifiquemos. Ele foi preso e, em menos de 24 horas, foi devolvido ao seu País, e ninguém protestou contra aquele ato que ofendeu a sociedade brasileira. Mas, agora, uma parte da Pátria, que é a Presidência da República, uma história de vida, uma biografia que é um patrimônio nacional é ofendida na memória de um pai, já falecido, que não tem direito a se defender. E, para nós, isso significa apenas a ruptura do direito à opinião? Será que não podemos refletir mais um pouco sobre esse tema?

Creio que ninguém, neste País, pode se dizer mais defensor da liberdade de expressão e de opinião da imprensa do que o Presidente Lula. Podem dizer que são tão defensores quanto Sua Excelência, mas mais do que Sua Excelência tenho certeza de que não são.

Faço, então, uma reflexão muito mais solidária do que política nesta hora, Sr. Presidente. Entendo que este é um momento difícil. Pessoalmente, prefiro que errem comigo e, do ponto de vista espiritual, da fé, do ponto de vista cristão - eu até diria -, que pequem comigo. Mas que eu não peque com os outros! Procuro compreender e respeitar a atitude que o Governo brasileiro tomou neste momento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/2004 - Página 13981