Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Setenta e sete anos de existência da VARIG.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PPS - CIDADANIA/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Setenta e sete anos de existência da VARIG.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2004 - Página 14035
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG), REGISTRO, EVOLUÇÃO, IMPORTANCIA, EMPRESA, DESENVOLVIMENTO, PAIS.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PPS - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em um país como o nosso, infelizmente marcado pela falta de uma forte tradição empreendedora, devemos celebrar as iniciativas vitoriosas, as que perduram ao longo do tempo. Por isso, sinto-me honrado ao me associar às celebrações dos 77 anos da Viação Aérea Rio-Grandense, a nossa popular Varig.

Nem bem a indústria aeronáutica de passageiros se afirmava no mundo, e já no Brasil se iniciava essa experiência que, alcançando sucesso, mantém-se até os dias de hoje. Por isso, gostaria de dirigir minha reflexão para este ponto: para a necessidade da constância, para a superação permanente dos desafios; mas pela manutenção daquele fio que nos liga às raízes. Desse ponto de vista, são muitas as lições que podemos aprender com a trajetória da Varig.

Começando pela possibilidade de associação internacional, para iniciativas pioneiras, principalmente as que demandam inovação tecnológica. Foi num tempo em que, impedida de fabricar aviões ela mesma, a Alemanha procura firmar, ao redor do mundo, associações que permitissem a expansão de suas conquistas tecnológicas. É com esse propósito que desembarca no Brasil, na década de 1920, o ex-oficial do serviço aeronáutico alemão, Otto-Ernst Meyer, que viria a ser um dos fundadores da então Empresa de Viação Aérea Rio-Grandense.

Em 7 de maio de 1927, com o apoio dos empresários do Rio Grande do Sul, numa pequena sala da Associação Comercial de Porto Alegre, nascia a que é hoje a maior empresa aérea não apenas do Brasil, mas de toda a América Latina.

Se no princípio a operação era apenas no interior do Rio Grande do Sul, hoje a Varig voa diretamente para 27 destinos em 18 países, chega a 4 continentes. Se no primeiro ano transportou 668 passageiros, no pioneiro “Atlântico”, esse número, hoje, representa pouco mais que a lotação de dois Boeing 777-20ER.

Não seriam fáceis os anos seguintes ao da fundação, ainda mais porque o País passou por sérias crises econômicas e políticas, como todos sabemos. No final da década de 1930 e primeiros anos da de 1940, os problemas decorrentes da 2ª Guerra Mundial quase deixariam por terra as atividades da Varig.

Mas nem bem terminava a guerra, a Varig já se recuperava e lançava mão dos então modernos aviões adquiridos do governo americano, que sediara em Natal sua base de operações para a Europa.

Uma sucessão de processos de aquisição de outras empresas - Aero Geral, Consórcio Real, Cruzeiro do Sul -, ao mesmo tempo em que possibilitava a expansão de linhas dentro e fora do País, também trazia sérios prejuízos à corporação, com a absorção de dispendiosos passivos e a obrigação de manter os funcionários das companhias extintas. Mas nem por isso ela deixou de crescer.

Há cinqüenta anos, já começava a se configurar seu perfil de empresa com atuação em todo o território nacional. Mas antes disso, ainda na década de 40, seu segundo - e eterno - presidente, Ruben Berta, idealiza um modelo de “capitalismo social”, com a criação de uma fundação de funcionários que detinha o controle acionário da empresa. Provavelmente tem sido esse modelo, o de uma “família Varig”, o responsável pela longevidade dessa empresa, não obstante as sucessivas crises por que passou, ora provocadas pela conjuntura interna, ora pela conjuntura externa. Crise do petróleo, depósito compulsório para o exterior, inflação, oscilações cambiais: todas essas crises afetaram a Varig mais que a outras empresas, tendo em vista seu perfil e sua atuação internacional.

Mas a criatividade e a inovação sempre estiveram presentes entre dirigentes, comandantes e funcionários. Foi desse modo que conquistou, já faz algumas décadas, a fama de dispor do melhor serviço de bordo; foi com o propósito de melhor atender aos passageiros que, pioneiramente, admitiu mulheres como comissárias, num tempo em que esse serviço era reservado apenas a homens; foi a empresa com uma das publicidades mais arrojadas e mais atrativas em todas as mídias; foi a Varig quem primeiro introduziu tarifas promocionais noturnas; foi ela quem criou, entre nós, programas de milhagem para recompensar os passageiros mais assíduos; e ela, até hoje, mantém-se atualizada, com os mais modernos aviões.

Mas sabemos que nem tudo são flores, nessa longa trajetória. E sabemos que um novo desafio está para ser vencido pela empresa. No cenário atual, com a necessidade de voltar a equilibrar suas contas, as possibilidades de saída devem ser bem pensadas. E bem pensadas não apenas pelos funcionários e gestores, mas também por nós, do Congresso Nacional, pois poucas empresas têm levado tão longe o nome do Brasil como a Varig.

Nestes 77 anos, queremos relembrar a todos que não podemos nos cingir aos caminhos estreitos que nos apontam um cada vez mais ditatorial pragmatismo financeiro; um pragmatismo que reduz tudo à meta de obter estabilidade nas contas públicas, em nome da segurança de outros países. Mais do que nunca, o que precisamos no Brasil é de sonhar, de fazer nossos sonhos voarem alto; não permitir que os entraves nos mantenham paralisados. E essa lição a Varig nos tem fornecido nesse seu tempo de existência. 

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/2004 - Página 14035