Discurso durante a 57ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Encaminhamento de requerimento de pesar aos passageiros do avião acidentado no Estado do Pará.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Encaminhamento de requerimento de pesar aos passageiros do avião acidentado no Estado do Pará.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2004 - Página 14735
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • GRAVIDADE, ACIDENTE AERONAUTICO, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), SOLICITAÇÃO, VOTO DE PESAR, SENADO, HOMENAGEM POSTUMA, PASSAGEIRO.
  • EXPECTATIVA, INVESTIGAÇÃO, RESPONSABILIDADE, ACIDENTE AERONAUTICO, MORTE, CIDADÃO, ANALISE, DIFICULDADE, TRANSPORTE, INTEGRAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, o Brasil inteiro se choca com o acidente ocorrido com a aeronave da empresa Rico Linhas Aéreas, cuja sede está localizada em meu Estado. Foram 33 as pessoas mortas, entre passageiros e tripulantes. Estou encaminhando a V. Exª um requerimento, com base no art. 218 do Regimento Interno, solicitando voto de pesar, nominando todas as pessoas que estavam nesse vôo, das mais humildes às mais ilustres.

Por outro lado, de maneira madura, não faço prejulgamentos. Imagino que as responsabilidades todas serão apuradas. Imagino que é preciso se ter a verdade verdadeira, mas não prejulgo, porque vejo na Rico Linhas Aéreas uma empresa do Estado, da região que cresceu do nada, faz-se respeitada por meio de uma competente operação e, de repente, vê-se envolvida em um caso desses. Eu gostaria de saber apenas a verdade. Se houve falha da empresa, ela terá que pagar caro por isso, certamente; se não houve, é bom não ficarmos escolhendo, inventando vítimas. É bom não inventarmos culpados. Os culpados são os culpados de verdade. Aqueles que não são culpados não são culpados.

Portanto, com esse requerimento, Sr. Presidente, quero registrar aqui o nome de cada um dos 33 mortos, com toda essa dor que a vida traz. Uma juíza recusou carona em um avião particular -- talvez até por ser juíza -- e morreu. Alguém podia dizer que era o destino, que era o dia dela. Mas o fato é que é muito grave tudo o que aconteceu. Minha cidade está muito consternada, triste, pesarosa, chocada com tudo isso. Os corpos estão irreconhecíveis, há marido não reconhecendo corpo da esposa. É muito doloroso, mas não me apresso a encontrar culpados. O piloto e co-piloto eram pessoas experientes, conheciam a navegação da região, e a empresa estaria munida de documentos que comprovam o cumprimento em dia de suas obrigações técnicas. Mas as investigações vão chegar ao final, e aqui não me apresso a fazer nenhuma condenação.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - V. Exª poderia passar a lista dos nomes em vez de lê-la? Faço esse pedido porque o Presidente nos deu dez minutos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não a lerei.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Perfeito.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se eu pudesse, Senador, daria mais dez anos de vida para cada um dos que morreram.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Eu daria se não fosse a recomendação do Presidente.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu pegaria a minha vida e dividiria com os que morreram. Fique tranqüilo, porque não lerei a lista.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Perfeito. Agradeço a V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Fique tranqüilo. Peço apenas que V. Exª reverencie os mortos, porque não lhe custa fazer isso.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Então, Sr. Presidente, em homenagem a tantas vidas, usando um pouco desse precioso tempo que será utilizado pelo Senador Alberto Silva, digo a V. Exª...

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Sr. Presidente, solicito a prorrogação da sessão por 15 minutos, para que V. Exª possa dar os dez minutos ao Senador Alberto Silva e para que o Senador Arthur Virgílio possa tratar de um assunto tão grave como o que está expondo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos. PSDB - TO) - Senador Antonio Carlos Magalhães, esta Presidência, ao decidir que concederia dez minutos ao Senador Alberto Silva e ao Senador Cristovam Buarque, ambos regularmente inscritos, e ao conceder a palavra ao Líder Arthur Virgílio, automaticamente, demonstrou que faria essa prorrogação.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente, e ao Senador Antonio Carlos Magalhães pela sensibilidade.

De fato, é isto: não adianta tentarmos agora imaginar que qualquer proposta que surja aqui é mais importante do que falarmos de quem morreu. São 33 mortos, algo que se compara às guerras. São pessoas conhecidas. Não conhecidas de quem não é do Estado, mas conhecidas minhas, Senador Alberto Silva. São pessoas com quem já convivi.

Quero encerrar, Sr. Presidente, dizendo uma última coisa -- e o Senador Papaléo Paes vai me compreender muito bem: isso tudo mostra como é difícil viver na minha Região, como é difícil fazer política na minha Região. É assim que se faz política lá. Um Deputado de Santa Catarina tem uma certeza ao percorrer dez municípios de seu Estado. Na nossa Região, quanto à volta, não se tem a mesma certeza da ida. É difícil.

Assim, chamo a atenção para o fato de que os amazônidas são heróis verdadeiros: constroem uma civilização sofisticada, muito expressiva e forte, com base em muitos sacrifícios. E o que eu mostro agora à Casa, quando requeiro o voto de pesar de todo Senado, mostro com prova nas vidas que se foram. Como é difícil tudo ali! É difícil a navegação aérea, é difícil a navegação fluvial -- e as nossas ruas são os rios. É difícil, enfim, sustentar a bandeira nacional naquele rincão. Digo isso com muita emoção, até com alguma comoção.

Mas repito, como mensagem final, que não quero achar culpados artificiais. Quero a verdade, que haverá de sair de maneira sobranceira. E que o Brasil se volte mais para uma região tão importante e tão estratégica, que a toda hora sacrifica vidas brasileiras para que o País possa manter viva a esperança de desenvolvimento, que não virá sem que a Amazônia seja trabalhada de maneira inteligente, competente e sensível.

Muito obrigado a V. Exª e, mais uma vez, muito obrigado ao Senador Antonio Carlos, pela gentileza e pela sensibilidade demonstrada diante desse momento, que para mim é de luto.

Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2004 - Página 14735