Discurso durante a 56ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Repercussão da tentativa de expulsão do jornalista americano Larry Rohter. Pesquisa de opinião CNT Sensus a respeito da impopularidade do Presidente Lula. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.:
  • Repercussão da tentativa de expulsão do jornalista americano Larry Rohter. Pesquisa de opinião CNT Sensus a respeito da impopularidade do Presidente Lula. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2004 - Página 14584
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, BRASIL, AUTORITARISMO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CASSAÇÃO, VISTO PERMANENTE, JORNALISTA, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, MOTIVO, ACUSAÇÃO, CONDUTA, CHEFE DE ESTADO.
  • ANALISE, DADOS, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, POPULARIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FRUSTRAÇÃO, POPULAÇÃO, POLITICA SOCIAL, POLITICA SALARIAL, POLITICA DE EMPREGO.
  • COMENTARIO, INFERIORIDADE, PREVISÃO, VOTO, ELEITOR, CANDIDATO, APOIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELEIÇÃO MUNICIPAL, MUNICIPIO, SÃO PAULO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CANDIDATURA, JOSE SERRA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, manterei a postura serena, aquela adotada pela Liderança do PSDB desde o início do processo que culminou com a lamentável, injusta, exagerada e ditatorial expulsão, do Brasil, do Sr. Larry Rohter; expulsão revogada por habeas corpus concedido, a pedido do Senador Sérgio Cabral, pelo Superior Tribunal de Justiça, alertando mais uma vez o Governo para o fato de que este não é um caminho, é um desvão. Esta não é uma linha reta, é um descaminho.

Estamos agora discutindo no mundo inteiro pormenores da vida pessoal do Presidente, que deveriam ser preservados por todos nós. Confirmo a convicção que tenho de que o Presidente não é homem de excessos, mas um homem que cultiva hábitos completamente normais e que, portanto, merece o respeito dos seus compatriotas.

Mas, se o Presidente quiser ter alguma dúvida do equívoco que cometeu, recorra à edição de hoje do jornal O Estado de S.Paulo, Caderno A, página 5: “Armando Falcão aplaude expulsão de jornalista”

Ex-ministro de Geisel, famoso pelo “nada a declarar”, ele foi um dos censores da ditadura.

Então o cidadão mais avesso à idéia das liberdades democráticas neste País, hoje em idade vetusta, aplaudiu a expulsão do jornalista. Se o Governo imagina que, apesar disso, a decisão foi acertada, peço que continue acompanhando as repercussões, que têm sido funestas para o Brasil, na imprensa internacional.

Foi divulgado ontem o resultado de pesquisa aparentemente até camarada para o Presidente. Refiro-me à pesquisa do CNT Sensus, na qual diz-se que a queda estava estancada. Não sei se é verdade.

Mas vamos agora esmiuçar certos dados da pesquisa CNT Sensus, e ver a que ponto chegou a impopularidade do Presidente Lula: 71% dos consultados condenam invasões de terra; 83% dos consultados consideram baixo e inadequado o mínimo de R$260,00*.

Mais alguns dados: 43,1%* consideram que o desemprego é o principal problema do País.

Notas de zero a dez para a política de geração de emprego no Governo Lula: 2,5.

Programas sociais:

Beneficiários: 15,6%.

Conhece beneficiários: 35,5%

Não conhece beneficiários: 48,1%.

Programas sociais, acesso a eles: 41,8% julgam que o acesso é difícil.

O que o Governo deveria fazer? Investir no emprego: 53,9% - coisa que não está fazendo.

Aumento do salário família, que foi alardeado como um grande gesto social do Governo. Na verdade, é uma medida paliativa, que meramente, cria uma palavra nova, “enrolatória” contra o trabalhador brasileiro: 80,6% dos consultados dizem que não trouxe nenhum benefício para o trabalhador; 18,3% dos consultados estavam desempregados; 45,6% apenas estavam empregados; desempregados a menos de um ano, 9,4%; desempregados a mais tempo, 6,2%.

Sr. Presidente, o que é mais forte na pesquisa: só 7,7% dos consultados pela pesquisa CNT Sensus garantem voto em candidato que Lula apoiar. O candidato do idílio, dos 53 milhões de votos, o candidato do efeito Lula, que fez, aqui e acolá, candidatos que estavam, no início da campanha, lá atrás nas pesquisas, vencerem eleições para o Senado e para o Governo de Estado, transfere, hoje, 7,7% dos votos apenas.

No site Primeira Leitura, há o seguinte comentário, que diz uma verdade: “Lula e PT de volta aos 30%”. Afinal de contas, Lula e PT sempre perderam as eleições, contando com alguma coisa. Lula e PT estão de volta aos 30%. Mas continuo achando que o resultado de 34% entre bom e ótimo, embora crescendo já para mais de 20% o ruim e péssimo, aqui para nós, o resultado foi camarada.

A pesquisa tem que ser lida a fundo. Isso aí não mudou de março para cá? Não piorou? Não quero que piore, mas que melhore, pois quero que o Presidente comece a governar. Não mudou de lá para cá o julgamento do povo, com o advento do salário mínimo de R$260,00, com 1,7% de ganho real? Isso não mudou? Claro que a pesquisa não percebeu ainda - ela foi feita antes - o estrago provocado na imagem internacional e nacional do Presidente com esse gesto ditatorial e infantil de expulsar o jornalista Larry Rohter. Ou seja, o Governo vai mal. Não adianta, a esta altura, enganar-se com os falsos dados de pesquisa, porque os verdadeiros dados eu acabei de mostrá-los aqui: 7% dos brasileiros votariam, Senador Efraim Morais, no candidato do Presidente Lula; 93%, não! Sete por cento dos brasileiros estão dispostos a seguir a Liderança do Presidente Lula na hora de transferir votos para o candidato a prefeito em alguma cidade deste País, ou seja, em 1 ano e 6 meses de Governo, em 500 dias de Governo, o Presidente Lula passou de ídolo da opinião pública - os pés eram de barro - a alguém que deverá ser pouco procurado para tirar voto, para fazer campanha eleitoral.

Ontem, em São Paulo, quando se lançava a candidatura - que imagino cheia de perspectiva de vitória - do Presidente do meu Partido, José Serra, à Prefeitura, eu dizia: “Vamos abrir uma exceção. Sou contra o uso da máquina. Se Lula usar a máquina, será processado por nós. Mas não vamos cobrar de Lula a posição de magistrado em São Paulo e em nenhum lugar”. Se ele quiser que vá para o palanque, que faça campanha junto com a Drª Marta Suplicy, que os dois tirem retratos juntos, que façam outdoor os dois juntos, que os dois juntos visitem as casas, que os dois juntos façam comícios e apareçam nas televisões e nas rádios os dois juntos. Ou seja, do ponto de vista do PSDB, o Presidente Lula está completamente liberado para fazer campanha. Que ele faça campanha eleitoral, sim, para que se teste qual é o peso que vai ter, primeiro, no caso de São Paulo, o choque da competência comprovada do Ministro José Serra com o quadro que lá se vê que é de desalento, é de caos; e falavam tanto que ele seria o grande carro-chefe da campanha. Está liberado por nós, não receberá nenhuma crítica nossa se for à luta defendendo a candidatura de Marta Suplicy, até em palanque, se julgar que cabe. Mas, de qualquer maneira, Sr. Presidente, os sinais estão mais do que ligados; os sinais amarelos estão piscando, os sinais amarelos estão passando para o vermelho. O Presidente Lula já está no osso; está nas pesquisas no limite mínimo daquilo que o PT sempre teve nas suas eleições derrotadas. Ele já perdeu toda a gordura que adquiriu a peso das propostas irrealizáveis, das propostas absolutamente não condizentes com a realidade. A ficha dos que votaram nele e que não eram do PT já caiu, ele está restrito aos seus.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Cristovam Buarque, o Regimento não permite aparte, e tenho a informar que V. Exª está, como eu, inserido no art. 17, pois já falamos muito esta semana. Mas vamos dar um jeito, para que V. Exª possa falar.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já encerro, Sr. Presidente. Ele está restrito aos seus e, mesmo assim, tirando a Senadora Heloísa Helena, que é uma líder popular neste País, tirando os dissidentes, tirando muita gente desiludida que pensou que haveria uma grande guinada, uma miraculosa guinada neste País. O Presidente peca quando não governa, peca quando erra e acaba sendo punido até quando acerta. Não deu nenhum solavanco irresponsável na economia, isso é mérito dele, mas isso também lhe é cobrado porque ele prometeu dar um solavanco irresponsável na economia sim. Na carta aos brasileiros, que foi pouco divulgada, ele fazia o papel do bonzinho para o mercado, mas na carta que mandou ao Presidente Fernando Henrique no mês de agosto ele dizia de maneira até insolente e deseducada que quando chegasse à Presidência haveria um homem na Presidência da República que iria mudar a conversa com o FMI, que iria parar de pagar...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, lamento informar que V. Exª está com 10 minutos além do tempo. E com a nota 10 que V. Exª tem no Senado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, V. Exª sempre tem aquela história do Pai Nosso, em que, em 52 palavras, Jesus nos ofereceu a mais bonita das orações. Portanto, V. Exª tem razão. Agradeço a V. Exª pela tolerância. Eu me excedo no tempo e registro que pesquisa deve ser lida no seu interior, nos seus detalhes, e os pormenores da Pesquisa CNT-Censo mostram um Governo que está, cada vez mais, em débito com a exigente população brasileira, seja a parte menos exigente, aquela que como eu não votou nele, seja aquela parte exigentíssima que votou nele, esperando milagre, esperando transformação radical, esperando soluções absolutamente incompatíveis com a realidade que o Brasil e o mundo poderiam oferecer para o Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2004 - Página 14584