Discurso durante a 56ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Remessa ao Legislativo, pelo governo federal, de projetos de lei com o mesmo teor de matérias que já tramitam nas Casas do Congresso Nacional.

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Remessa ao Legislativo, pelo governo federal, de projetos de lei com o mesmo teor de matérias que já tramitam nas Casas do Congresso Nacional.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2004 - Página 14601
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ANTERO PAES DE BARROS, SENADOR, GARANTIA, COTA, UNIVERSIDADE FEDERAL, ALUNO, ESCOLA PUBLICA.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, DESVALORIZAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, TRAMITAÇÃO, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, CONGRESSISTA, ABUSO, QUANTIDADE, MEDIDA PROVISORIA (MPV), OBSTACULO, AMPLIAÇÃO, DEBATE.
  • CRITICA, FALTA, VERDADE, PROPAGANDA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ERRO, PROGRAMA, INCENTIVO, EMPREGO, JUVENTUDE, GOVERNO FEDERAL, COMPARAÇÃO, INFLAÇÃO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, INEFICACIA, ATUAÇÃO, CONTRADIÇÃO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL.

A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicialmente, cumprimento o Senador Antero Paes de Barros pelo seu projeto de lei.

É importante saber valorizar o Governo em um momento como este, mesmo sendo oposição. O Senador Antero aborda aqui duas questões. Em uma delas, S. Exª aplaude a iniciativa do Governo de tomar a decisão de ceder 50% das vagas nas universidades para estudantes de escola pública. Numa outra, o Senador Antero Paes de Barros menciona um episódio muito importante. Quando S. Exª apresenta um projeto de lei, o Governo, ao mesmo tempo em que ignora esse projeto de lei, o que configura um desprestígio a esta Casa, lança um programa. Com isso, naturalmente, um novo projeto de lei será apresentado, recomeçando assim todo um processo de tramitação em relação a uma questão já amadurecida, aprovada em diversas comissões. Acredito que seria um gesto muito importante do Governo acatar o projeto de lei do Senador Antero Paes de Barros e aperfeiçoá-lo, se for o caso.

Constantemente temos chamado a atenção para o desprestígio dispensado a esta Casa pelo Governo, que ora manda para cá um volume enorme de medidas provisórias, ora manda projetos de lei para serem aprovados de forma atabalhoada; projetos importantes como o da biossegurança, o da Mata Atlântica, que mereceriam um debate mais intenso. No entanto, o Governo, atropelando esta Casa com medidas provisórias, impede o amplo debate desses projetos.

Sr. Presidente, venho à tribuna para analisar as peças publicitárias exibidas pelo Partido dos Trabalhadores a respeito de seus feitos, naturalmente comparando os dezesseis meses do Governo Lula, que se arrastam, com o Governo Fernando Henrique, desconhecendo o período de um e fortalecendo apenas o do atual Governo. São idéias geradas no núcleo publicitário do Partido dos Trabalhadores, que utiliza uma visão já consagrada em seus programas: a de que a verdade é um detalhe que se presta a uma conveniente apresentação dos fatos. Portanto, a verdade para o Partido dos Trabalhadores sempre foi considerada um detalhe.

O bordão “isso é fato, isso é verdade” esconde um princípio que deve ser denunciado, à custa de não se compactuar com o desconhecimento e a desinformação, aos quais a propaganda do PT visa nos induzir.

Ao comparar os oito anos do Governo Fernando Henrique com os arrastados dezesseis meses do Governo do PT, a propaganda esconde, atrás de números convenientemente escolhidos, informações importantes, subestimando dessa forma a inteligência do povo brasileiro.

O uso de indicadores econômicos para analisar desempenho deve ser acompanhado de uma preocupação clara de transmitir a visão do todo, pois, do contrário, a análise deixará de ser isenta e correta. Caso esse erro tenha sido cometido de forma consciente, ele se transforma em má-fé, em enganação, com objetivos escusos de desinformar, contrariamente ao que se espera de uma propaganda responsável e ética.

É justamente a apresentação honesta do conjunto de dados que falta à propaganda do PT.

O jornalista Gilberto Dimenstein, no jornal Folha de S.Paulo, edição de 9 de maio, em artigo intitulado “O melhor presente de Lula no dia das mães”, aponta os erros do Governo em relação ao Primeiro Emprego e reserva alguns parágrafos para criticar a propaganda do Governo. Segundo ele, faltou ao PT dizer que estava comparando o aumento de preços ocorrido durante oito anos do governo FHC com o que se deu durante o período de apenas um ano de Lula. Para o jornalista, aquela foi uma das manipulações mais rasteiras que viu.

O ano de 2002, caracterizado nas peças publicitárias como “o último ano do governo Fernando Henrique” e vastamente utilizado como base de comparação com o atual governo, foi também o ano em que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva despontou nas pesquisas de intenção de voto.

Na época, a já provável eleição do candidato do PT produziu um cenário de grande incerteza. Como resultado, tivemos uma das mais graves crises de confiança já enfrentadas pela economia brasileira. Investidores domésticos e internacionais, amparados na insegurança das mensagens dúbias - aliás, uma das características do partido - se sentiram, naquela ocasião, impelidos a buscar portos mais seguros, desencadeando um processo de fuga de capitais, elevação do dólar frente ao real e impactando os índices de inflação.

Afinal de contas, o discurso do PT sempre foi estatizante, gastador, contrário à austeridade fiscal e monetária. Votaram aqui contra a Lei de Responsabilidade Fiscal; faziam do FMI o bode expiatório de todos os males, sempre demonstrando total desrespeito aos contratos existentes. O nível do salário mínimo, quando atuava como oposição, era uma bandeira de luta, independentemente da capacidade econômica de financiá-lo e dos impactos fiscais, diferentemente do que a oposição fez este ano, nesta Casa, quando debateu, apresentou uma proposta viável, sensata e honesta em relação a um trabalho que sabemos importante para a estabilidade e governabilidade do País. Procuramos mostrar que a oposição, quando séria e responsável, pode colaborar com o Governo em diversos aspectos.

Fica claro que tudo mudou no discurso e na prática! É inegável que a contaminação dos indicadores econômicos existiu, sem que se possa creditar ao governo Fernando Henrique um custo que cabe ao PT - é o custo PT - e à ambigüidade da sua postura.

O uso do bordão “isso é fato, isso é verdade”, se fosse feito de forma responsável, deveria comparar sim os resultados institucionais de longo prazo, muitos deles obtidos no passado, como o aumento das exportações, o aumento da safra agrícola, enfim, uma série de outros dados que são hoje positivos e de cujos resultados o próprio Partido dos Trabalhadores usufrui.

Se formos nos ater a fatos convenientes, teremos que citar muitos exemplos de indicadores econômicos, exemplos negativos, como a queda do PIB ou a queda dos indicadores quando a base aliada do Governo critica o excesso de austeridade da equipe econômica. Nessas ocasiões, sempre temos modificações aceleradas nos indicadores macroeconômicos, que o bom senso, a responsabilidade, sempre nos proibiu de usar de forma oportunista.

Portanto, quero deixar o meu repúdio a essa propaganda enganosa, que fere a ética e a responsabilidade daqueles que têm o dever de educar e de dar bons exemplos.

Mais uma vez cumprimento a Oposição nesta Casa pelo papel sério, honesto que vem tendo, não só na questão do salário mínimo, Sr. Presidente - e V. Exª tem aqui, repetidas vezes, colocado a sua importância -, mas na Lei de Falências, a lei de recuperação de empresas, e na própria questão da biossegurança. Em nenhum momento em que projetos de interesse da sociedade brasileira eram discutidos a Oposição fez da demagogia e da falácia uma bandeira para desestabilizar esse Governo; pelo contrário, sempre nos predispusemos a debater e a colaborar, com a nossa experiência, para que o Governo acerte. Esse é o nosso desejo.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2004 - Página 14601