Discurso durante a 59ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Defesa do entendimento do governo federal com a sociedade civil brasileira.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA NACIONAL. DIVIDA PUBLICA.:
  • Defesa do entendimento do governo federal com a sociedade civil brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 20/05/2004 - Página 15105
Assunto
Outros > POLITICA NACIONAL. DIVIDA PUBLICA.
Indexação
  • RELEVANCIA, DIALOGO, GOVERNO FEDERAL, SOCIEDADE CIVIL, ANALISE, SITUAÇÃO, ATUALIDADE, ESTADO DEMOCRATICO, ATUAÇÃO, IMPRENSA, POLITICA PARTIDARIA.
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO LIBERAL (PL), ROMPIMENTO, GOVERNO FEDERAL, REGISTRO, POSIÇÃO, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, ATENDIMENTO, BANCOS, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), SUGESTÃO, ORADOR, ENTENDIMENTO, CREDOR, DIVIDA EXTERNA, NEGAÇÃO, CONTINUAÇÃO, PAGAMENTO, TOTAL, JUROS, MOTIVO, SITUAÇÃO, MISERIA, POPULAÇÃO, PROPOSTA, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, POLITICA SOCIAL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, a minha comunicação pode se estender um pouco mais enquanto a presença no plenário aumenta.

Tenho falado muito sobre o momento que estamos vivendo e o significado de o Governo realizar um entendimento com a sociedade, ou seja, o Governo sair do seu isolamento e procurar entender que, à margem daquilo que se costuma chamar de “grupo do poder” - alguns vão além e chamam “grupo duro do poder” -, pode dialogar com a sociedade.

Evito a palavra pacto porque ela está meio desmoralizada no Brasil, pois volta e meia se discute e se fala em fazer um grande pacto, que termina nunca acontecendo. Mas um diálogo, um entendimento, parece-me tremendamente importante.

Quando vejo os Líderes da Oposição, de modo especial o brilhante Líder Arthur Virgílio e o Líder do PFL, debatendo no plenário, percebo que eles estão buscando o diálogo.

Sr. Presidente, V. Exª era um menino e não se recorda, mas, na época da UDN, de Getúlio Vargas e de João Goulart, a Oposição era para rachar, para matar, para derrubar. Levou ao suicídio Getúlio Vargas, depôs Jango, porque a Oposição era radical, queria o poder.

Hoje, não vejo isso acontecer. Aliás, nem podia haver ambiente para isso. Pagamos um preço tão alto, estamos saindo de uma época tão cruel, tão dolorosa! Acabamos de festejar os 20 anos das Diretas Já, e estamos prestes a festejar os 20 anos da normalidade democrática. Ninguém está pensando em derrubar o Presidente Lula, dificultar seu governo, propor um impeachment ou algo semelhante. Eu não sinto isso em nenhum Partido de Oposição. Não tem nenhum Carlos Lacerda, com ódio do Governo. Não vejo nenhum general ou coronel, nenhuma instituição militar, colégio militar, clube militar com esse objetivo. Não vejo nenhum jornal agredindo o Presidente, como O Globo e outros jornais que exerciam uma imprensa brutal sobre Jango e Leonel Brizola. Não vejo isso agora. A Imprensa demonstra que o Governo está tentando acertar. É claro que a crítica está aumentando, porque os fatos estão-se acumulando. Há um movimento pela busca de um esclarecimento.

Falei no entendimento e, anteontem, ouvi o Chefe da Casa Civil, José Dirceu, falando sobre pacto, ou seja, que deve haver um entendimento. A Imprensa deu um grande destaque às suas palavras, afinal de contas, trata-se de uma das pessoas com mais força no Governo.

Por que estou falando disso hoje? Porque, como não caminhamos para o entendimento, estamos indo para o outro lado. A entrevista do Presidente do Partido Liberal, a rigor, é um rompimento. S. Exª disse o que nem os líderes da Oposição falam aqui. S. Exª adota uma linha tão drástica, tão dura, tão radical, que, se não houver um entendimento, um acordo, alguém que faça a intervenção, a interferência, a unificação, o diálogo será cortado.

Reparem que o Partido do Vice-Presidente da República, que, até ontem, estava coeso, unido e integrado ao Governo, agora usa uma linguagem exageradamente radical, de quem não quer mais dialogar.

Tenho uma estima muito grande pelo Vice-Presidente da República. Fizemos amizade enquanto S. Exª esteve neste Senado, e tive a oportunidade de acompanhar a sua história. Trata-se de um homem excepcional. Claro que é um homem que tem personalidade. Como Lula, S. Exª começou do nada e hoje é um grande empresário, preocupado com a política, e, como tal, participa do debate. Não é por isso que S. Exª deve ser colocado de lado, ou malvisto por parte do Governo, ou não conversar com o Presidente da República.

Por outro lado, alguns partidos estão optando por uma linha de extremo. Dr. Brizola, nos seus artigos semanais, nos seus “tijolaços”, está adotando uma linguagem diferente da usada há alguns meses.

Não é possível que um Governo que gerou tantas esperanças esteja diminuindo, dia-a-dia, a sua credibilidade e o número de pessoas que depositam esperanças em suas ações. Repito: tristes de nós se esse povo eufórico que assistiu à posse do Presidente Lula não tiver mais o direito de ter esperanças. Na verdade, ninguém sairá ganhando com isso, nem o PSDB, nem o PMDB, nem o PFL.

Se passarmos a viver um momento de angústia, ainda que ela não esteja acompanhada de um clima de terror político ou de derrubada e não haja uma conspiração para dificultar a vida governamental, será difícil a vida do Governo.

Sinceramente, não consigo entender. Eu imaginava conhecer o PT e algumas das suas lideranças com as quais convivi e pelas quais tinha muito respeito. Fui daqueles, repito, que vi a vitória estrondosa do PT com otimismo. Achei que, no fundo, tinha chegado a vez do povo chegar ao Poder.

Eu sou do Partido Trabalhista do Dr. Getúlio Vargas, mas, na verdade, o Dr. Getúlio Vargas era um homem da pecuária. Embora fosse aberto e tenha feito todas as leis sociais que este País conhece, de cima para baixo, ele não era um representante do povo, um representante dos trabalhadores. O próprio Jango, embora lutasse pelos interesses populares e tenha caído por esse motivo, não era um representante autêntico; era um fazendeiro que, com grandeza, avançava na sua preocupação social. O Lula é este homem que, sem guerra civil, sem luta, sem violência, pelo voto popular, chegou à Presidência da República. É um Líder popular, um trabalhador, um homem simples de um Partido dito dos trabalhadores.

Havia a expectativa de que haveria uma radicalização. Todos estavam preparados para um pedido de moratória, para a expulsão do capital estrangeiro, para a criação de uma CPI sobre a Vale do Rio Doce - até que eu gostaria dessa parte - e sobre outras privatizações do Sr. Fernando Henrique, para a restrição da liberalidade do Banco Central.

Essa era a preocupação de todos, mas ela desapareceu. Acho até que desapareceu demais, tinha de haver uma preocupação. O Presidente Lula foi tão aberto que estão todos tranqüilos. Os empresários e os banqueiros estão mais tranqüilos hoje que no tempo do Governo Fernando Henrique. Parece engraçado. Tenho conversado com banqueiros e empresários, que dizem que o Presidente está no caminho certo e nós temos que o ajudar. Até fico desconfiado, pois parece meio exagerado.

Portanto, não surgiram os problemas que imaginávamos que o Governo iria criar. Nunca vi no Governo Fernando Henrique, nem no Governo Itamar Franco, nem no Governo José Sarney e nem na época da ditadura o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial fazerem tantos elogios a um presidente como estão fazendo ao Presidente Lula.

Se o Governo está no rumo certo, então por que não sentar à mesa para estabelecer um entendimento? Não digo que haja um entendimento de todos os pontos.

Vou ser muito sincero: se eu fosse Presidente da República convocaria imediatamente todas as forças civis brasileiras: partidos políticos, Igreja, trabalhadores, empresários, universidades, sociedade, para fazer um primeiro entendimento. Seria um grande entendimento da Nação brasileira no sentido de dialogar com os Estados Unidos, com a Europa, com a Inglaterra, com o Fundo Monetário e com o Banco Mundial para dizer que o Brasil não pode pagar os juros absurdos que vem pagando. Não podemos pagar US$150 bilhões, quando temos 30 milhões de pessoas que passam fome.

Vamos propor um entendimento. Dizem que no Brasil há muita roubalheira, que o País não administra bem, que se o dinheiro fosse aplicado a favor do social, as condições melhorariam muito. Tudo bem. Que façam uma vigilância, uma auditoria, porque os US$50 bilhões que deixaremos de pagar este ano serão usados na terra, na agricultura, na saúde, na educação, na área social.

O Presidente do Banco Mundial tem reconhecido que os nossos juros são exageradamente altos. Os representantes do FMI, quando estiveram no Brasil, também reconheceram isso, assim como a França e a ONU. Assim, não precisamos nem falar em dez casos, em fazer um pacto, para entendimento de várias coisas. Vamos fazer este. E quero saber quem vai ser contra. O Brasil vai se reunir e estabelecer um entendimento no sentido de que não dá mais para continuar pagando US$150 bilhões de juros. Vamos reduzir um terço, pagar dois terços, e aplicar aqui esse um terço, US$50 bilhões, com a responsabilidade de que esse dinheiro seja aplicado na área social.

E pergunto se alguma pessoa deixaria de comparecer a essa reunião, uma entidade, um sindicato, uma igreja, um partido político. Quero saber se isso não tem peso, se isso não tem força, se isso não tem autoridade. Seria um ato para o Lula salvar o seu Governo. Está aí o Programa Fome Zero e outros que não andam porque não há recursos, porque todo o dinheiro gerado pelo suor dos brasileiros vai para pagar os juros da dívida externa.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, faço esse apelo. Eu defendo o pacto, defendo o entendimento, defendo que o Lula sente-se à mesa e busque o diálogo com toda a sociedade. Mas acredito que é possível, pelo menos, discutir e negociar a diminuição do pagamento dos juros da dívida externa.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/05/2004 - Página 15105