Discurso durante a 59ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Exaltação à potencialidade do cerrado na produção de alimentos. Convite para integrar a comitiva do Presidente Lula a viagem à China.

Autor
Eduardo Siqueira Campos (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA. COMERCIO EXTERIOR. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Exaltação à potencialidade do cerrado na produção de alimentos. Convite para integrar a comitiva do Presidente Lula a viagem à China.
Publicação
Publicação no DSF de 20/05/2004 - Página 15111
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA. COMERCIO EXTERIOR. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • COMENTARIO, ESTUDO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA (FAO), CRESCIMENTO, POPULAÇÃO, PREVISÃO, FALTA, ALIMENTOS, MUNDO.
  • ANALISE, CAPACIDADE, CERRADO, PRODUÇÃO, ALIMENTOS, ELOGIO, VANTAGENS, CLIMA, PRODUTIVIDADE, SOJA, GRÃO, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO TOCANTINS (TO), REGISTRO, DISTANCIA, PORTO, DEFESA, CONCLUSÃO, ECLUSA, RIO TOCANTINS, POSSIBILIDADE, LIGAÇÃO, HIDROVIA, FERROVIA, ESTADO DO MARANHÃO (MA), REDUÇÃO, CUSTO, EXPORTAÇÃO.
  • ANUNCIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, VIAGEM, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, ACOMPANHAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, AMPLIAÇÃO, MERCADO EXTERNO, COMERCIO EXTERIOR, BRASIL, CAPTAÇÃO DE RECURSOS, INVESTIMENTO, FERROVIA.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, nobre Senador Eduardo Suplicy, Srªs e Srs. Senadores, meus caros telespectadores da TV Senado, meus caros ouvintes da Rádio Senado FM e da Rádio Senado AM em ondas curtas, que atinge todo o território nacional, especialmente a Região Norte, especialmente o meu querido Estado de Tocantins, quero trazer para esta tribuna, em primeiro lugar, a preocupação externada pela FAO, braço da Organização das Nações Unidas, relativa à questão da produção de alimentos, da fome, que vem matando milhares de pessoas ao redor do mundo. Dizem os técnicos e os estudos da FAO que, em função do próprio crescimento populacional, o mundo viverá uma fase de grande escassez, de grande necessidade na produção de grãos.

E não existe, Sr. Presidente, em todos os estudos, nenhum outro lugar no mundo inteiro que tenha a capacidade e a possibilidade de suprir a deficiência de alimentos que tem o Brasil, mais notadamente no cerrado. 

O cerrado, Sr. Presidente, talvez há vinte ou trinta anos, era considerado o tipo de terra de pouca capacidade para a produção. Referiam-se ao cerrado como aquela mancha de terra improdutiva, de árvores tortas, tortuosas, baixas, pequenas, de solo ruim, em que se implantou a Capital Federal.

Aqueles que se dedicarem aos estudos, à analise, verão que o grande brasileiro Juscelino Kubitschek foi muito criticado. Primeiro, quando trouxe Brasília para o Planalto Central. Diziam seus críticos da época: esse cerrado nada mais tem do que um projeto de megalomania do Presidente, que, entre outras coisas, fez uma rodovia que liga nada a lugar nenhum. Era a Belém/Brasília.

O mesmo disseram do Presidente José Sarney quando lançou a Ferrovia Norte-Sul. Vários editoriais diziam a mesma coisa: era a ferrovia que ligava nada a lugar nenhum.

Agora veja, Sr. Presidente, qual não foi a visão de Juscelino Kubitschek, qual não é a realidade brasileira. Quero dar apenas um exemplo, nobre Senador Eduardo Suplicy, que se dedica tanto aos projetos de renda mínima, que se preocupa com a alimentação, com o sustento das famílias. O cerrado é hoje uma região única no mundo inteiro, tendo em vista os problemas climáticos e ambientais da Europa, as condições climáticas dos Estados Unidos da América do Norte, as condições de produtividade. Nada se compara ao potencial do cerrado.

O Tocantins, por exemplo, Srªs e Srs. Senadores, teve levantadas todas as suas possibilidades pela Jica, que é a Agência Internacional de Cooperação do Japão. A Jica veio para o Tocantins, os japoneses vêm investindo no cerrado, no Prodecer de Paracatu, de Balsas, em Pedro Afonso, no Estado do Tocantins. São regiões das mais altas produtividades de soja. O Mato Grosso é hoje o maior produtor de soja do Brasil, uma das maiores regiões de produção de soja do mundo.

E assim é o Tocantins, assim é uma grande parte do Piauí, uma grande parte do Maranhão. Existem condições especiais de luminosidade, condições climáticas, da própria água e, fundamentalmente, Sr. Presidente, o cerrado, que é hoje o maior potencial para produção de grãos do mundo.

Então, a solução, Sr. Presidente, de todos esses problemas - não brasileiros, mas mundiais - de produção de grãos e alimentos está no Mato Grosso, no norte de Goiás, no Tocantins, no Piauí, na Bahia, no Maranhão, no Pará. Cada vez mais avançam os grandes plantios de soja.

E não quero nem, Sr. Presidente, discutir aqui a soja orgânica ou a soja transgênica. Quero dizer, Sr. Presidente, que este País caminha para ser o maior produtor de soja do mundo, em que pesem todas as condições adversas. A soja produzida no oeste da Bahia, no Mato Grosso e no Tocantins faz um verdadeiro passeio pelas esburacadas estradas brasileiras, porque está a mais de dois mil quilômetros de distância dos principais portos brasileiros utilizados hoje. Isso ocorre em função de ainda não termos despertado para a importância do porto de Itaqui, no Maranhão, que é o mais próximo dos grandes mercados. Eu já disse, mais de uma vez, que se o Brasil tivesse crescido 4%, num ano em que não cresceu nada - aliás, decresceu na sua economia -, não teríamos portos e estradas para escoar a nossa produção.

Sr. Presidente, falando especificamente da hidrovia do Tocantins, se for concluída a eclusa da usina Luís Eduardo Magalhães, serão ganhos 700 km de navegação no rio, chegando-se à cidade de Imperatriz, onde já está funcionando a ferrovia Norte-Sul, que faz ligação com o porto de Itaqui, no Maranhão. Isso produziria uma diminuição no custo do produto de US$30 por tonelada.

Dessa forma, o Brasil, além de ter as melhores condições do mundo para a produção da soja, passaria a ter uma nova matriz de transporte, o que tornaria completamente viável a soja produzida no Mato Grosso do Sul, no Maranhão, no Mato Grosso e no Tocantins.

Faço esta breve análise para dizer que recebi um honroso convite para representar esta Casa como integrante da comitiva do Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que vai à China. Considero essa a mais importante visita dentre todas que Sua Excelência fez nesse curto espaço de tempo em que está na Presidência da República.

A China é o grande mercado que se apresenta para o mundo, um país que cresce à taxa de 8% a 9% ao ano e que é bem-sucedido em termos de integração de mercados e de produção, em que pesem as contradições e aquilo de que se possa discordar de um governo. Lá não se discutem mais comunismo ou capitalismo; lá se discute produção. Nenhum governo tem sido mais agressivo, mais produtivo e mais articulado na questão do seu crescimento e da sua economia do que o da China.

O Brasil tem muito a aprender com a China. O País ainda exporta muito pouco para lá. Os chineses estão interessados na soja, e o principal tema, Sr. Presidente, dessa visita, no meu entendimento, é exatamente esse interesse do governo chinês pela soja brasileira, em investir no Brasil, nas nossas ferrovias.

Portanto, considero que essa seja, realmente, a mais importante de todas as viagens do Presidente.

O Japão tem feito vários programas de cooperação. Eu já disse desta tribuna, por exemplo, que, em Tocantins, com o Prodecer III, na cidade de Pedro Afonso, foi captado dinheiro para o plantio de soja a uma taxa de juros de 2%. Esse foi o custo dos recursos conseguidos com o Japão. Infelizmente, internado esse dinheiro, passamos, automaticamente, a cobrar 20%, 30%, TJLP e outras taxas mais, que praticamente inviabilizam a produção da soja. Mas, mesmo assim, o projeto Prodecer III tem as maiores taxas de produtividade, e a região de Pedro Afonso, em Tocantins, está totalmente transformada.

Em todo o território de Tocantins, hoje, há estradas pavimentadas - e digo com orgulho, Sr. Presidente, que são as melhores do País. A nossa grande exceção ainda é a Belém-Brasília, uma rodovia de responsabilidade do Governo Federal, que tem dado grandes prejuízos à economia tocantinense. No entanto, com relação às rodovias estaduais, Sr. Presidente, enchemos o peito, com orgulho, para dizer que são as melhores do País.

Estamos esperançosos, Sr. Presidente, de que venhamos a encontrar na China as condições para viabilizar, de uma vez por todas, a construção da ferrovia Norte-Sul. Como precisamos dessa ferrovia! Com a ferrovia Norte-Sul e a hidrovia no rio Tocantins, reproduziremos o que existe no rio Mississipi, na região média dos Estados Unidos, onde há ferrovias nas margens esquerda e direita e onde os rios são utilizados como meio de transporte. Aqui ainda insistimos na matriz de transporte rodoviário, que é um passeio absurdo.

O Brasil que não produz crime e inchaço nas grandes cidades e que vem dando os maiores índices de exportação é o que ainda não foi ocupado, é o Brasil de Tordesilhas, que tem as taxas mais baixas de ocupação demográfica: dois terços da população brasileira ainda estão vivendo em um terço do território. Vou repetir: é como se vivêssemos em uma grande casa e estivéssemos todos apertados num só quarto. Rio de Janeiro, São Paulo e as grandes cidades são orgulho do nosso Brasil, não tenho dúvida, mas nelas se produz a violência e os piores números dos problemas sociais. Enquanto isso, aquela região foi vislumbrada por Juscelino Kubitschek, entre outros Presidentes, como a solução para o País, o grande potencial para desenvolver a nossa agricultura.

Estou esperançoso, Sr. Presidente, de que essa viagem à China traga a solução definitiva para a ferrovia Norte-Sul, de que os chineses, os japoneses e os mercados internacionais nos ajudem, porque o interesse é todo deles, já que temos algo que ninguém possui: a água, a luminosidade e a capacidade de produção.

É preciso despertar esse gigante adormecido chamado Brasil. Espero que essa viagem venha a contribuir para isso.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/05/2004 - Página 15111