O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como o Senador Mão Santa, hoje vou para casa triste.

Há pouco, ouvimos o Senador João Ribeiro mostrar o Estado administrado que dá certo, que realiza, em que o Governador trabalha, que inaugura e comemora. E nós, no Piauí, infelizmente, não temos o que comemorar. Só nos resta, Senador Mão Santa, em nome daquele sofrido Estado, chorar aqui desta tribuna as mágoas de um Estado que jogou todas as suas esperanças em um Partido que, por muitos e muitos anos, duas décadas, prometeu mudar a face do nosso País. O Piauí acreditou tanto, Sr. Presidente, que deu, de quebra, a eleição de um Governador, raciocinando que, tendo um Governador do Partido do Presidente da República, nadaríamos em riqueza e progresso. O Piauí seria o que todos nós sonhávamos.

Aqui ouvi o discurso da minha querida Companheira, que tanto admiro, Senadora Ana Júlia, que, coitada, está no clube da falsa felicidade, da fé, da crença. S. Exª anunciou a liberação de recursos do Pronaf, que, se verdadeiros, redimiriam a agricultura brasileira, que já está andando sozinha e só pede que o Poder Público não atrapalhe. Enquanto isso, os recursos da Cide, que são exatamente necessários para complementar o que falta de infra-estrutura, qual seja, as estradas brasileiras, não são liberados.

A produção agrícola aumenta a cada ano, dá saltos, e não temos para onde escoá-la. Senador Reginaldo, o Piauí deu um salto, em três anos, de 300 mil toneladas de grãos para 800 mil toneladas. Chegaremos a um milhão. E o desespero é exatamente pela falta de condições de escoamento da safra.

Por que o Governo não é mais objetivo nas suas ações e realiza exatamente aquilo que pode -- já no segundo ou terceiro ano -- com os impostos? É preciso fazer com que a produção tenha resultado, que a nossa economia avance e que o dinheiro dos impostos e do produto desse trabalho passem a servir como propulsores do desenvolvimento.

O problema do Governo e de seus seguidores é que não saíram ainda do palanque. Estão aqui a prometer, todos os dias, recursos que não existem. O Senhor Presidente priorizou o que há de pior.

O Governo é paulista, o PT é paulista, com todo o mérito. Trata-se de um Partido com a maior massa de trabalhadores do Brasil. No entanto, priorizaram São Paulo para tudo. Até a sucessão do Governo de São Paulo passou a ser mais importante do que a sucessão do Presidente da República e até que a Prefeitura de São Paulo, a sucessão municipal, que precede esse entrevero. Presenciamos desavenças na base do Governo movidas pela ambição da sucessão do Governo paulista.

A derrota de ontem na Câmara não está bem esclarecida, Senador Mão Santa. Colocar em votação uma matéria daquela natureza com a presença de apenas 440 Parlamentares é fazer roleta-russa, é gostar de correr risco.

Esta onda de crise no Governo, promovida pelo “fogo amigo”, não está bem esclarecidas. Mas, se formos examiná-la, ela tem como alvo a sucessão do Governo paulista. É lamentável, porque se há uma vítima nisso tudo é o Presidente Lula, pela sua história, pela sua boa-fé e pela sua vontade de acertar.

Esse homem que se elegeu com a maior expressividade eleitoral de toda a nossa história, que encantou o mundo pela maneira como saiu lá dos rincões de Pernambuco até chegar à chefia máxima do Poder brasileiro e que não consegue trabalhar.

Vivo esse drama de maneira dupla. No Piauí é a mesma coisa, Presidente Reginaldo Duarte, com uma única diferença, o Governador do Estado não tem o carisma, a popularidade e sequer autoridade que tem o Lula. Lá, infelizmente, ao Governo ninguém obedece. O Governador é um homem bom, honrado e de boa-fé, Senador Mão Santa. Está indo para a China, não sabe falar mandarim, mas é a terceira viagem que faz com o Presidente na esperança de trazer o dinheiro chinês para fazer a redenção do Piauí, sem levar projeto, sem alternativas. 

Tenho certeza de que vai voltar e fazer um discurso, dizendo que os chineses vão invadir o Piauí e que vamos assistir a uma nova onda de progresso. E o piauiense, de boa-fé, esperando. Esperando a estrada, a liberação dos recursos para atender àqueles que perderam suas casas na enchente de janeiro último ou para pagar o 13º mês, como lembra bem o Senador Mão Santa, aquele calote que foi imposto ao servidor público em nome de um empréstimo no Banco do Brasil, que hoje está tirando o sono de milhares e milhares de trabalhadores piauienses.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Vou concluir, Sr. Presidente.

Prometer salário mínimo, como prometia ontem, não pode fazer mais porque já é o segundo 1º de maio sob sua administração e nada acontece. Prometer dobrar o salário mínimo já se sabe que não pode também. Agora, estão prometendo estradas, dinheiro do Pronaf. Parece Papai Noel em véspera de Natal. O que nós, brasileiros, queremos é realidade, que o Piauí não seja penalizado por ter colocado à frente de seu Governo um colega do Presidente da República, um companheiro da maioria dos Ministros deste Governo. Eles viajam, várias e várias vezes, todo mês, para o Estado, saem de lá prometendo, e nada acontece. Paciência tem limite. A esperança está cansando. Já se começa a ver que o povo preferia o medo, porque a esperança até agora não resolveu a vida de ninguém.

Eu fico triste em sair hoje desta tribuna chorando mágoas, porque não tenho o que dizer de positivo, de realização concreta levada pelo PT para o Governo do meu Estado. As emendas parlamentares não estão sendo respeitadas, está se invertendo e se desrespeitando a LDO, que é um direito constitucional aprovado por esta Casa.

E nós interpretando muitas vezes o sentimento do povo, que hoje se manifesta através do telefone, do e-mail, do bilhete, das mais diferentes formas, porque graças a Deus temos hoje, através da TV e Rádio Senado, a possibilidade de diretamente, em tempo real nos comunicarmos com nossas bases.

Foi isso, Senador Reginaldo Duarte, que acabou com o coronelismo. O que era o coronel? O dono da verdade, o que conversava com o detentor do Poder Federal, o que chegava com as nomeações federais para abastecer os seus apaniguados. Era o detentor, na verdade. Só por ele, o menos informado e incauto sabia do que acontecia nos porões da República. Hoje não. Há esse vampiro, essa Operação Vampiro. Eu não gosto desse nome e da insistência com que se está citando a história do vampiro, porque parece até que o Governo começa a viver um filme de terror.

Para finalizar, sou justo em dizer que acredito na inocência do Ministro Humberto Costa. Fui colega de S. Exª na Câmara Federal, conheço a sua tradição e o tenho na conta de um homem público sério, mas algo precisa ser feito com rapidez, para que sejam esclarecidos esses fatos. Reparos e desculpas de meia sola, além de não servir e não convencer, mancham um Governo que, em nome do estabelecimento da verdade, mereceu a confiança de milhões de brasileiros.

Muito obrigado, Sr. Presidente.