Discurso durante a 63ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Doenças cardíacas no Brasil.

Autor
Papaléo Paes (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Doenças cardíacas no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 26/05/2004 - Página 16054
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • ANALISE, AUMENTO, CARDIOPATIA GRAVE, BRASIL, NECESSIDADE, CAMPANHA, PREVENÇÃO, RISCOS, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ENDEREÇO, INTERNET.
  • ELOGIO, QUALIDADE, MEDICINA, CARDIOLOGIA, PESQUISA CIENTIFICA, BRASIL, HOMENAGEM, ADIB JATENE, EURYCLIDES DE JESUS ZERBINI, CARLOS CHAGAS (MG), MEDICO, ESPECIALISTA.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, como médico que sou, dedico muita atenção, em minha atividade parlamentar, às questões da saúde. No ano passado, por exemplo, nesta tribuna, fiz um pronunciamento sobre a prevenção e combate à hipertensão arterial, a grave doença silenciosa que ataca tantos brasileiros, e que provoca, entre outras severas conseqüências, doenças do coração. Também neste plenário, prestei uma homenagem ao Instituto do Coração, prestigiosa instituição que promove a excelência na pesquisa e tratamento das cardiopatias.

Hoje, novamente, quero dedicar algumas palavras às doenças cardíacas. Elas matam, todo ano, cerca de 300 mil brasileiros. Em certa época, consideradas epidemia somente no chamado primeiro mundo, hoje, as doenças do coração devastam vidas também nos países emergentes como o Brasil. Os brasileiros precisam ser alertados cada vez mais sobre os fatores de risco que podem levar às cardiopatias, e devem ser instruídos insistentemente por médicos, associações médicas e autoridades de saúde sobre como evitar as doenças do coração.

Sr. Presidente, se, por um lado, nossa população tem de enfrentar os graves perigos das cardiopatias, pode, por outro lado, congratular-se por ter o Brasil um grande, talentoso, atualizado e ativo contingente de especialistas e pesquisadores das doenças do coração. Nossos cardiologistas estão afinados com o que de mais avançado se faz no mundo sobre essa especialidade médica, e suas contribuições científicas nesse campo são reconhecidas em todo o mundo.

Médicos brasileiros tiveram, por exemplo, importante participação no desenvolvimento do stent, uma espécie de mola que se instala na artéria de um paciente para evitar sua obstrução. O Brasil é um dos pouquíssimos países que desenvolveram um coração artificial, instalado no peito do doente até que ele possa receber um coração transplantado.

No número de outubro último da revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, uma nova pesquisa brasileira mostra um avanço que pode ter impacto no grande problema de saúde pública que é a prevenção de ataques cardíacos: foi a descoberta de que a dimensão de uma das cavidades superiores do coração, o átrio esquerdo, fácil de ser medida em uma ecografia, pode ser um indicador de risco mais fácil de interpretar que o clássico eletrocardiograma.

Cabe lembrar, ainda, que um brasileiro, Doutor Mário Maranhão, presidiu, recentemente, a Federação Mundial de Cardiologia e dela é atualmente um dos diretores.

De resto, Sr. Presidente, médicos brasileiros de há muito brilham no campo da cardiologia. São numerosos. Como nomes-símbolos pode-se mencionar o doutor Adib Jatene, inovador mundial em cirurgia cardíaca, e o falecido e famoso doutor Zerbini, Euryclides de Jesus Zerbini. É bom lembrar também que Carlos Chagas, ao desvendar no início do século passado o mistério da doença de Chagas, estava contribuindo para melhorar a saúde cardíaca da população brasileira, já que aquele mal tem como principal complicação a insuficiência cardíaca.

É preciso enfatizar, Sr. Presidente, que as doenças do coração são um problema de saúde pública e que é importantíssimo aperfeiçoar os meios de sua prevenção. A informação e a ação preventiva devem chegar a todos os brasileiros e a toda a nossa classe médica. Nesse sentido, devemos elogiar a contribuição dada pela revista Veja, ao publicar, em julho do ano passado, extensa matéria sobre a prevenção das doenças cardíacas. Ela dá notícia de um sistema de avaliação de risco desenvolvido por cardiologista americanos que permite a cada pessoa, por si mesma, fazer uma estimativa preliminar sobre o risco que corre de sofrer um distúrbio cardíaco nos próximos dez anos. Ora, tomar conhecimento do risco pessoal de adoecer é um grande passo para adotar medidas preventivas e para procurar tratamento.

Aquele sistema de avaliação usa dados pessoais simples, tais como idade, pressão arterial, hábito de fumar, peso, prática regular de exercício físico, nível de colesterol e presença de diabetes, para montar uma tabela, uma pontuação de riscos. Assim, quem é obeso, fuma e não pratica exercícios, por exemplo, é alertado para sua má situação de risco. A tabela permite que cada um obtenha sua combinação pessoal de fatores de risco, e assim incentiva as pessoas a corrigirem seus hábitos e a procurarem tratamento médico.

Sobretudo, Sr. Presidente, fica muito claro, nessa avaliação, o malefício trazido pelo fumo e pela falta de exercício, bem como os fatores negativos que são diabetes, colesterol alto, hipertensão e obesidade.

A mesma matéria menciona os avanços da medicina na prevenção das doenças do coração: o uso da simples e barata aspirina, os medicamentos anti-hipertensivos, os redutores de colesterol. Além disso, menciona avanços recentes, como a medição do nível de fosfolipase e PCR, proteínas associadas ao risco cardíaco, bem como a constatação de que as gorduras do tipo trans são mais perigosas ainda que as gorduras saturadas. As gorduras trans estão presentes em salgadinhos de pacote, em batatas fritas de lanchonetes fast-food e em quase todas as margarinas.

Sr. Presidente, também deve ser elogiado, no campo da divulgação para fins de prevenção, o site mantido na Internet pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Esta entidade que completou com brilho, 60 anos de existência. Seu site informativo tem como endereço http://www.emforma.com.br/. Entre as muitas informações úteis que se podem lá obter, consta uma tabela própria de avaliação de risco, semelhante à tabela americana, porém mais detalhada. O informativo eletrônico a chama de Teste de Risco Coronariano.

Sr. Presidente, nunca é demais insistir em informar o público, o mais amplamente possível, sobre os fatores de risco para a saúde, principalmente os que podem trazer doenças cardíacas, derrames, males renais e outros. Os principais mandamentos são: não fumar, fazer exercícios, prevenir-se quanto a pressão alta e diabetes, não pesar muito acima do normal, cuidar do nível de colesterol. As mulheres precisam saber que fumo e diabetes lhes são mais nocivos ainda do que o são para os homens. As pessoas de mais idade devem prestar especial atenção para esses fatores de risco.

No plano da saúde pública, é preciso que as autoridades de saúde e entidades médicas intensifiquem as iniciativas para alertar, informar e esclarecer sobre esses fatores de risco. Pois somos um País em que, ainda não vencidas aquelas doenças causadas por desnutrição ou infecções, já está a população sujeita à epidemia das doenças do coração. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/05/2004 - Página 16054