Discurso durante a 63ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à Abolição da Escravatura no Brasil, destacando a importância da herança negra no Estado do Espírito Santo.

Autor
Marcos Guerra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: Marcos Guerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Outros:
  • Homenagem à Abolição da Escravatura no Brasil, destacando a importância da herança negra no Estado do Espírito Santo.
Publicação
Publicação no DSF de 26/05/2004 - Página 16057
Assunto
Outros
Indexação
  • HOMENAGEM, RAÇA, NEGRO, CONTRIBUIÇÃO, CULTURA, BRASIL, REGISTRO, COMEMORAÇÃO, DATA, ABOLIÇÃO, ESCRAVATURA.
  • COMENTARIO, OCORRENCIA, FESTA, FOLCLORE, CULTURA AFRO-BRASILEIRA, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), TRADIÇÃO, CONTINENTE, AFRICA, REGISTRO, TRABALHO, HISTORIADOR, IMPORTANCIA, PRESERVAÇÃO, CULTURA.
  • REGISTRO, INICIATIVA, PREFEITURA, CONCEIÇÃO DA BARRA (ES), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), APOIO, FUNDAÇÃO, BANCO DO BRASIL, ROTEIRO, TURISMO, VALORIZAÇÃO, CULTURA AFRO-BRASILEIRA.

O SR. MARCOS GUERRA (PSDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, antes que se finde o mês de maio, em que se comemora a Abolição da Escravatura no Brasil, quero deixar registrada a minha homenagem à raça negra, por sua importância na formação da cultura e do povo brasileiros, e aos afro-descendentes.

Li, em um artigo do Historiador capixaba Eliomar Carlos Mazoco, na edição do dia 17 passado, do jornal “A Gazeta”, de Vitória (ES), que, no “Atlas do Folclore Brasileiro”, de 1980, foram localizados 24 grupos de caxambus, no Espírito Santo, em 16 Municípios. Explica o historiador que caxambu é palavra bantu, nos negros de Angola, que significa tambor grande, pesado e comprido, feito do tronco de uma árvore seca, com um couro esticado. É também o nome da dança de ciranda que os bailarinos executam, em torno de uma fogueira, ao som dos tambores centenários.

Informa, ainda, Eliomar Mazoco que os caxambus de maio são manifestações da cultura popular, de genuína tradição africana, que ocorrem principalmente no Sul do nosso Estado.

Em Cachoeiro do Itapemirim e em localidades próximas, várias comunidades negras comemoram o 13 de maio com rodas de caxambu. Já famosa, também, é a feijoada comunitária servida, naquela data, há 26 anos, por dona Izolina, a moradores do bairro Alto Zumbi, na periferia daquele município, e a visitantes.

O Historiador Mazoco, que é também presidente da Comissão Espírito-santense de Folclore, afirmou que “saber como andam esses grupos hoje (...) e buscar neles as chaves da profunda tradição africana na cultura brasileira é um objetivo do novo mapeamento do folclore capixaba”.

Um outro historiador capixaba, José Amaral Fernandes Filho, que há quatro anos pesquisa os fatos históricos relativos aos municípios de Guarapari e Anchieta, descobriu um fato que pode mudar a História do Brasil.

Saibam, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que “Guarapari foi cenário de uma república negra durante cerca de 50 anos, entre os Séculos XVIII e XIX. Os relatos foram encontrados no livre “Viagem ao Brasil”, escrito por Maximiliano de Neuwied, no ano de 1818”, conforme extensa reportagem de Karlla Hoffman, também para “A Gazeta”, de Vitória.

Segundo aquele príncipe e naturalista austríaco, a vila de Guarapari, a única república negra da História do Brasil, tinha cerca de 1.600 habitantes, sendo que o distrito inteiro abrigava em torno de três mil indivíduos. Esses rebeldes recebiam os forasteiros de forma amigável, nobres Colegas, ao contrário dos negros fugidos de Minas Gerais e de outros lugares, que fundavam, nas florestas, aldeias denominadas quilombos.

Levando em conta a importância da herança negra, no Espírito Santo, nobres Colegas, em breve será criado o roteiro turístico “Rota da Farinha”, que integra o Projeto São Benedito, de iniciativa da Prefeitura de Conceição da Barra, e para o qual a Fundação Banco do Brasil destinou R$146.000,00 (Cento e quarenta e seis mil reais) , a fundo perdido.

Os recursos serão empregados em projetos de geração de emprego e renda, em comunidades formadas por descendentes de escravos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os negros escravos, que muito fizeram pelo nosso País, deixaram no Espírito Santo também sua marca, tanto em termos culturais, a exemplo da comida, do canto, da dança, dos instrumentos musicais, quanto no que se refere à única estrutura sociopolítica realmente organizada que realmente criaram no Brasil.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/05/2004 - Página 16057