Discurso durante a 62ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

A importância estratégica da viagem do Presidente Lula à China. (como Líder)

Autor
Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • A importância estratégica da viagem do Presidente Lula à China. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 26/05/2004 - Página 16066
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, VIAGEM, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, MISSÃO, ACOMPANHAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SAUDAÇÃO, ORIENTAÇÃO, POLITICA EXTERNA, BRASIL, ARTICULAÇÃO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, MELHORIA, PODER, NEGOCIAÇÃO, ORGANISMO INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, COMBATE, SUBSIDIOS, AGRICULTURA, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO (OMC), AMPLIAÇÃO, CONSELHO DE SEGURANÇA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).
  • PREVISÃO, AUMENTO, PARCERIA, COMERCIO EXTERIOR, INVESTIMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, BRASIL, ELOGIO, ASSINATURA, CONVENIO, EMPRESA, ESPECIFICAÇÃO, AREA, CIENCIA E TECNOLOGIA, TRANSPORTE FERROVIARIO, PORTO, SIDERURGIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 25/05/2004


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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ALOIZIO MERCADANTE NA SESSÃO DO DIA 24 DE MAIO, DE 2004, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, destaco, em primeiro lugar, a importância estratégica dessa missão brasileira que, com a presença de mais 420 integrantes, depois de 30 anos do aniversário das relações diplomáticas entre o Brasil e a China, visita aquele país.

Ela tem um amplo alcance político, tanto que tem sido destacada em vários órgãos da imprensa nacional, em editorial do Financial Times e em tantas outras publicações, porque, em primeiro lugar, consolida um novo eixo da relação estratégica de política exterior do Governo, que é a articulação entre os grandes países em desenvolvimento, particularmente a África do Sul, a Índia, a China e a Rússia, que tem permitido ao Brasil e a essas nações estabelecer uma política ofensiva nos principais fóruns de negociação internacional, como foi o caso da OMC.

A China e a Índia, grandes importadores de alimentos, estiveram juntos com o Brasil na constituição do G-20 e na resistência à pressão que as grandes potências econômicas procuraram exercer naquela negociação para impedir que a abertura da agricultura pudesse avançar no mundo em que os países ricos subsidiam aquele setor em USS$365 bilhões, prejudicando, dessa forma, o desenvolvimento, a produção de alimentos e o emprego nos países em desenvolvimento.

A parceria com a China não se restringe ao campo diplomático. Também é decisiva pelo peso político-econômico que esse país tem no cenário internacional para uma agenda de fortalecimento e democratização da ONU.

A ampliação do Conselho de Segurança da ONU, um dos grandes temas da diplomacia contemporânea, no qual o Brasil viria a representar a América Latina, e a África do Sul a África, dois Continentes que estão fora desse fórum decisivo da política multilateral é outro objetivo comum importante, porque o governo chinês está apoiando este pleito do Brasil e isso seguramente contribuirá significativamente para a realização dessa tarefa.

Do ponto de vista econômico, as implicações são ainda mais relevantes. A China é o país que mais cresce nos últimos anos. De 1982 a 2002, o PIB chinês cresceu uma taxa média anual de 9,3%. E as exportações, que representavam 8,9% do PIB chinês, hoje representam 29,5%. Ou seja, é um país que exporta quase um terço do que produz e vem mantendo um ritmo de crescimento absolutamente espetacular, semelhante ao que o Brasil manteve de 1880 a 1980.

Exatamente nas duas últimas décadas que nós perdemos a taxa de crescimento acelerada, a China passou a ser esta grande potência, e já tem, hoje, exportações que chegam a US$326 bilhões, cerca de quatro vezes o que o Brasil exporta. Nós estamos chegando a um volume de exportações de US$80. Portanto, a China exporta quatro vezes mais, repito, do que nós exportamos.

A China, este ano, poderá ser o principal país em termos de investimento externo no exterior, superando até mesmo a economia americana, porque é um país que tem reservas cambiais de mais de US$400 bilhões, e que não quer mais apenas aplicar em títulos públicos, especialmente do tesouro americano. Está buscando novas parcerias e novas áreas de investimento.

O comércio bilateral Brasil-China cresceu, neste Governo, 65%. A China foi, o ano passado, o terceiro país, em termos de comércio externo brasileiro, o terceiro país para o qual mais exportamos. Neste ano, ela disputa com a Argentina a posição de segundo parceiro comercial do Brasil. O seu comércio bilateral com nosso País pode chegar a US$10 bilhões, ao final deste ano.

Além das exportações, do comércio bilateral que vem crescendo de forma espetacular, essa viagem já permitiu a assinatura de 14 convênios entre empresas brasileiras e chinesas, e os negócios podem superar US$5 bilhões.

Portanto, temos grande ampliação do comércio e inúmeras parcerias. Em termos de investimento direto na área de ciência e tecnologia, já temos um satélite que está sendo lançado pela China para sensoriamento terrestre, com equipamentos brasileiros. É um projeto sino-brasileiro. Trata-se de uma área extremamente importante e sensível para a tecnologia. A Embraer está construindo, em joint venture com a AVIC chinesa, uma fábrica de aviões na China. E fomos o primeiro País a entrar na produção de automóveis da China, com a Volksvagen do Brasil. Temos, portanto, também na área de ciência e tecnologia, vários projetos relevantes em andamento.

Eu gostaria de destacar, ainda, que na área de investimentos chineses, poderemos ter investimentos importantes em tecnologia, pois eles possuem uma tecnologia extremamente avançada. Lembro que a China é um País com custo de produção extremamente baixo. Ela produz 220 milhões de toneladas de aço. Ela já produz e consome mais aço do que os Estados Unidos, e utiliza hoje um quarto do cimento que o mundo produz. Na área de transporte ferroviário, ela, que também é um país continental como o Brasil, relativamente plano, como somos em vastas regiões, nos permitirá construir parceria nesse tipo de transporte, o que contribuirá para que tenhamos uma nova estrutura modal, extremamente importante para ampliar a fronteira agrícola, baratear os custos das nossas exportações e aumentar a competitividade da economia brasileira.

Além da ferrovia, há a questão dos portos. Eles têm, sobretudo agora, um grande interesse no porto de Itaqui, onde pretendem construir uma siderúrgica, e melhorar, em muito, a saída de soja, minério de ferro, produto siderúrgicos diversos e aço daquela região, que é uma fronteira nova, situada no Maranhão, Piauí e Tocantins A mancha da soja hoje atinge o Nordeste e o Norte, aumentando bastante a produção agrícola, a renda, a geração de emprego e o desenvolvimento dessas regiões.

O álcool também é uma outra área de oooperação importante, uma energia renovável de grande interesse da China. O Brasil é o maior produtor e exportador de etanol do mundo. Somos a economia mais competitiva nesse segmento. Esse é um combustível não poluente. Para um país que tem os problemas demográficos que a China tem, é uma energia indispensável e o Brasil poderá suprir uma parte importante desse mercado.

A China constitui um grande mercado de consumo de massas. Ela começou com produtos de baixo valor tecnológico, mas hoje já disputa áreas como informática, computadores, satélites e outros equipamentos de grande valor agregado e de sofisticada tecnologia. O Brasil pode oferecer parcerias nessa área, como estamos oferecendo na área de aviação. Podemos, com os investimentos diretos chineses e com a ampliação do comércio bilateral, gerar emprego e desenvolvimento no Brasil, atrair novos investimentos de outros países e aprofundar essa relação de amizade de mais de trinta anos.

Concluo, dizendo que o mundo olha para essa missão com atenção. O jornal Financial Times cobra do Governo norte-americano mais atenção ao Brasil e à América Latina, mostrando que a China está ocupando os vazios deixados pela diplomacia norte-americana, com movimentos estratégicos que são extremamente relevantes. Estivemos juntos nos principais fóruns internacionais; estivemos juntos na ONU; estivemos juntos, defendendo a paz e uma solução que não fosse o enfrentamento e a ocupação militar no Iraque; estivemos juntos ns reuniões da OMC, nas negociações de Doha. E estamos juntos nos principais fóruns internacionais. Portanto, é uma articulação diplomática-estratégica, política- estratégica, comercial -estratégica, econômica- estratégica, científica -estratégica.

Seguramente, esse eixo sul-sul, Brasil-África do Sul, Índia, China, Rússia, são parcerias que temos cada vez mais que buscar para diversificar o nosso comércio, para ter mais alternativas. O Brasil vem de uma longa trajetória de comércio multilateral. Isso dá mais independência à Nação, dá mais versatilidade, dá alternativas para que possamos crescer de forma sustentável, gerar emprego, atrair investimentos, agregar valor a nossas exportações e desenvolver científica e tecnologicamente o nosso País.

Considero essa a missão diplomática mais importante deste Governo, e tenho certeza de trará importantes êxitos ao Brasil, ao desenvolvimento do País.


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\NOTAS\2004\20040525DO.doc 9:00



Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/05/2004 - Página 16066