Pronunciamento de Eduardo Azeredo em 26/05/2004
Discurso durante a 64ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Pesquisa sobre a exclusão digital, publicada no jornal O Globo, no último domingo.
- Autor
- Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
- Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
EDUCAÇÃO.:
- Pesquisa sobre a exclusão digital, publicada no jornal O Globo, no último domingo.
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/05/2004 - Página 16240
- Assunto
- Outros > EDUCAÇÃO.
- Indexação
-
- COMENTARIO, PESQUISA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO), PUBLICAÇÃO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ATRASO, ACESSO, PROFESSOR, ENSINO FUNDAMENTAL, ENSINO MEDIO, BRASIL, TECNOLOGIA, INFORMATICA, INTERNET, MOTIVO, INFERIORIDADE, RENDA, EFEITO, PREJUIZO, ALUNO, DESIGUALDADE REGIONAL.
- DEFESA, AUMENTO, INVESTIMENTO PUBLICO, EDUCAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, TECNOLOGIA, REITERAÇÃO, NECESSIDADE, APLICAÇÃO, RECURSOS, FUNDO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES (FUST), CRITICA, GOVERNO FEDERAL, OMISSÃO, UTILIZAÇÃO, VERBA, FAVORECIMENTO, INCLUSÃO, POPULAÇÃO CARENTE.
O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Nobre Presidente, falarei apenas durante os cinco minutos regimentais.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por várias vezes ocupei esta tribuna para falar de um assunto que me preocupa muito e que diz respeito à infância e à juventude do Brasil. Trata-se da exclusão digital.
Uma matéria de domingo, do jornal O Globo, me chamou a atenção, mais uma vez, para o problema: uma pesquisa feita pela Unesco, sobre o perfil do professor brasileiro, em maio de 2002, mostra que o mundo digital está muito longe do cotidiano do professor brasileiro.
A pesquisa foi feita com 25 mil professores de ensino fundamental e médio no País, nos 26 Estados e no Distrito Federal. O resultado é assustador. Mais da metade dos professores não tem computador em casa, não navega na Internet. Esses profissionais nem sequer usam o correio eletrônico.
Outro dado inquietante: 65% tem renda familiar entre 2 e 10 salários mínimos.
Um terço deles se classifica como pobre, ou seja, a exclusão digital é conseqüência direta da situação econômica em que vivem os professores.
O acesso ao computador e à Internet é diretamente proporcional à renda. Segundo representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, não há como um professor ensinar aos alunos como usar a informática, a tecnologia da informação, a não ser que ele a conheça.
Os pesquisadores da Unesco acreditam que a alfabetização tecnológica deve ser uma das prioridades nas políticas de investimento em educação. Mas, infelizmente, não é isso o que está acontecendo no Brasil.
Os dados da Unesco também mostram as profundas disparidades regionais do País. No Nordeste, 12,7% dos docentes recebem até 2 salários mínimos, enquanto, no Sudeste, esse percentual é irrisório, de apenas 1%. Entre os nordestinos, só 2% conseguem ter mais de 20 salários mínimos no fim do mês, entre os professores. Já no Sudeste, essa é a renda familiar de 8,9% dos professores.
A desigualdade regional é uma preocupação permanente que deve estar em nossa mente.
Como é possível melhorar a qualidade de vida do brasileiro, aumentar o número de empregos sem investir mais em educação? E investir em educação, hoje, significa investir também na tecnologia moderna disponível em todo o mundo e que leva os professores a ter mais informação para transmitir aos alunos.
Entretanto, parece que esses números não comovem o Governo Federal.
Em dezembro do ano passado, ocupei a tribuna mais uma vez para cobrar do Governo a aplicação de R$3 bilhões que estão parados no Tesouro Nacional, dinheiro que é do Fundo de Universalização do Serviço de Telecomunicações, o Fust. Repito: R$3 bilhões do Fust estão parados nos cofres do Tesouro. O jeito é fustigar o Governo para ver se ele começa a usá-los.
Um artigo do jornal O Globo de ontem, 25 de maio, do professor e jornalista André Felipe Lima, lembra exatamente essa verba do Fust.
Diz o artigo:
O levantamento feito pela Unesco é importante porque dá nome aos bois. Mostra números inquestionáveis e o efeito danoso de uma política na área educacional onde prevalecem interesses pouco ortodoxos. Esse estado caótico poderia ter sido minimizado há dois anos, caso o imbróglio político do PT e aliados contra Fernando Henrique não impedisse a implantação do projeto que levaria computadores e Internet às escolas de Ensino Fundamental e Médio.
O Fust foi criado em agosto de 2000, com 1% da receita operacional bruta das operadoras de telecomunicações e 50% das receitas da Anatel.
O programa de informatização e Internet nas escolas públicas, que está previsto na Lei Geral das Telecomunicações, também deveria atender a bibliotecas e hospitais. Infelizmente, não saiu do papel.
Àquela época, o PT questionou o edital da Anatel, que, supostamente, feria a lei das licitações públicas, e o Tribunal de Contas da União embargou a licitação, mas isso já está resolvido. Hoje, o PT é Governo. O bilionário dinheiro do Fust está sob sua guarda. Mas a educação por meio da tecnologia continua ao alcance de muito poucos, apenas daqueles que podem pagar uma escola privada.
Como bem lembra o professor André Felipe Lima, o Fust pode ser o caminho mais curto para a busca do tão almejado “espetáculo do crescimento”, proporcionando educação à população de baixa renda, dona legítima desses R$3 bilhões.
Até quando o Governo Federal vai deixar essa verba mofando nos cofres públicos e colocar divergências políticas acima dos interesses do País? Até quando a falta de decisão e a falta de ação vão continuar inviabilizando a inclusão digital? É a nossa juventude, a infância brasileira, enfim, a educação brasileira que precisa desses R$3 bilhões que estão mofando, volto a dizer, no Fust.
Um ano e cinco meses de Governo já se passaram e a situação continua a mesma, sem perspectiva de uso dos R$3 bilhões, no mínimo, para que os computadores cheguem ao ensino público e às crianças e jovens que dele tanto necessitam para poder enfrentar, em melhores condições, o mercado de trabalho.
Sr. Presidente, este é o registro de quem entende que não é possível que o Governo continue se negando a aplicar recursos destinados a um fim específico.
Todo mês pagamos, na conta de telefone, o dinheiro do Fust, mas ele fica parado e os computadores, a informatização das escolas e o acesso à Internet pelos professores e alunos continuam sendo apenas um sonho.
Muito obrigado.