Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Resposta ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL.:
  • Resposta ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2004 - Página 16394
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL.
Indexação
  • REITERAÇÃO, ADVERTENCIA, GOVERNO, ESPECIFICAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, CONDUTA, IMPEDIMENTO, PARTIDO POLITICO, OPOSIÇÃO, OBSTRUÇÃO PARLAMENTAR, VOTAÇÃO, MATERIA, INTERESSE NACIONAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma explicação pessoal. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, apenas para reafirmar, de maneira bem tranqüila, com voz bem pausada, a decisão da Bancada do PSDB.

O PSDB jamais se negou a votar matéria de interesse nacional. Jamais! Jamais repetiu o PT do passado recente. Jamais! Agora, o PSDB é feito de seres humanos, é feito de pessoas com altivez, com sentimentos, com nervos, e este Partido entende que uma certa gota d’água na sua relação com o Ministro José Dirceu se estabeleceu neste momento.

Ele vai à televisão, jactar-se de poder. Se ele tem poder ou não, é problema dele e do Presidente Lula. Não tem poder sobre a Bancada do PSDB. Pode, com todo aquele poder do qual se jacta ter, até nos ultrapassar; pode até nos suplantar na hora da votação; pode até vencer a empedernida obstrução que possamos fazer. Se não quiser fazer esse teste, basta fingir que é humilde, pelo menos uma vez na vida, e perceber que outra sua aparição à televisão, outro momento de vaidade explícita, outro momento de stalinismo agudo, vai levar-nos, sim, a enfrentar cada matéria, cada item, cada ponto, entrando em confronto direto com o Ministro.

Ou seja, estamos cansados de colaborar e encontrar um Governo muito humilde quando precisa de colaboração. Em seguida, ele começa a mudar a sua face, tornando-se uma mistura de Dr. Jekyll and Mr. Hyde. Ele vai mudando e, de repente, o médico vai virando monstro. E aí a arrogância volta, o nariz empinado volta.

Estou dando aqui uma reação de seres humanos da Bancada do PSDB e, certamente, isso se espraia por muita gente da Oposição. O PSDB está avisando, de maneira muito firme, ao Ministro: se quiser fazer esse gesto de fingir que tem poder, faça após as votações últimas. Faça após! Não faça antes! Se fizer antes, ele não estará ajudando as ações do Governo que ajudou a defender. Ao contrário, está nos levando a posição de confronto - e pode ficar tranqüilo, Sr. Presidente, que eu não esgotarei meu tempo; não passarei dos 5 minutos do meu tempo; V. Exª pode ficar tranqüilo quanto a isso - e está nos levando a posições extremas. E nem articulador político do Governo ele já não é. Então, por que não deixa o outro rapaz trabalhar com decência, com poder pleno, com o apoio que possa granjear, até entre a gente, as hostes oposicionistas?

Como está, é uma decisão muito tranqüila. Nós temos questões de mérito a discutir; há matérias que têm que ser aprofundadas e não temos a pressa do Governo. Quem edita Medidas Provisórias para atravancar a pauta é o Governo! Nós temos muita pressa de servir ao País, sim. Essa questão da célula tronco para nós é vital. Isso tem que ser votado. Isso é de interesse nacional, é de interesse dos brasileiros e é de interesse do patrimônio de cultura que estamos acumulando, do patrimônio civilizatório que estamos acumulando. Mas não estamos dispostos aqui a ouvir ordens do Sr. Ministro José Dirceu.

Se ele quiser, que volte a ser Secretário-Geral do PT ou Presidente. Na cabeça dele, ele é Secretário-Geral do Partido Bolshevik. Na minha cabeça, ele pode ser o que ele quiser. Não é Secretário-Geral do PSDB. Não é Presidente do PSDB. Não é ditador sobre o Congresso. Não é dono das nossas vontades. E, se quiser fazer um grande favor ao Governo - eu volto a dizer: que fique calado. O silêncio, muitas vezes, é de ouro. A palavra, às vezes, consegue ser de prata. E a estupidez não chega nem a ser de bronze.

O PSDB está avisando com toda a tranqüilidade. Algo que nos ajuda: não olharmos o Ministro agora ditando regras na televisão. O repórter liga e ele fala: “Olhe, eu tenho um acordo com o PSDB”. “Tanta gente vem aqui pedir cargo”. O PSDB não pede cargo. “Tanta gente vem aqui pedir vantagens”. O PSDB não pede vantagens.

O PSDB está só pedindo para não olhar a cara dele na televisão. Será que dá? Puxa! Olha, que coisa barata para o País! Não tem licitação errada, não tem corrupção, não tem nada, não tem perigo nenhum. É risco zero para o Governo. Basta ele ficar low profile e não colocar aquela bela face na televisão. Aí abre-se o diálogo com o PSDB, que não pede cargo, não pede vantagem pessoal, não pede vantagem política e que está na sua posição firme de Oposição.

Está aqui um negócio claro, às barbas dos brasileiros todos, que proponho ao Ministro José Dirceu: S. Exª não nos dar a não ser o seu silêncio. E nós analisaremos com toda a boa vontade a pauta que aí está. S. Exª começa a falar e S. Exª terá toda a nossa má vontade.

Continuo dizendo que acordo conosco é muito barato; é uma tranqüilidade fazer acordo com o PSDB. Imaginem: a única coisa que se pede é que o Ministro se cale na hora em que ele não deve falar. Que não finja que manda na Nação, porque não manda na Nação! A Nação tem um Congresso funcionando, tem uma Justiça de pé e tem um Partido que está dizendo agora quais são seus termos. Negociar com o PSDB hoje em dia é o Ministro José Dirceu aparecer o menos possível. Apareceu menos, o PSDB estará com mais boa vontade; apareceu muito, o PSDB retira toda sua boa vontade.

Volto a dizer: barato para o Brasil, custo zero para o Brasil. Basta o Ministro se mancar e se portar de acordo com a boa educação política e com a boa inteligência política, fatores que têm faltado nos seus últimos gestos, nas suas últimas atitudes, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2004 - Página 16394