Discurso durante a 69ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio ao grave comportamento adotado por militares norte-americanos contra iraquianos presos naquele país.

Autor
João Alberto Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MA)
Nome completo: João Alberto de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. SOBERANIA NACIONAL.:
  • Repúdio ao grave comportamento adotado por militares norte-americanos contra iraquianos presos naquele país.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2004 - Página 17074
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. SOBERANIA NACIONAL.
Indexação
  • REPUDIO, TORTURA, VIOLENCIA, MILITAR, FORÇAS ESTRANGEIRAS, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), IRAQUE, ANALISE, POLITICA INTERNACIONAL, DENUNCIA, INTERESSE, CONTROLE, JAZIDAS, PETROLEO, PROVOCAÇÃO, GUERRA, INVASÃO, FALTA, ETICA.
  • CRITICA, DENUNCIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), APREENSÃO, RISCOS, SOBERANIA NACIONAL, REGIÃO AMAZONICA, DEFESA, REFORÇO, INDEPENDENCIA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), REGISTRO, BLOQUEIO, ORADOR, CONSUMO, PRODUTO IMPORTADO.

O SR. JOÃO ALBERTO SOUZA (PMDB - MA. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sobre o assunto que pretendo abordar hoje desta tribuna já me manifestei com revolta no mês de outubro de 2003. Faço-o hoje, novamente, tomado por um sentimento de profunda frustração e até de vergonha como homem público que sempre se preocupou com a verdade, com o diálogo e o respeito devidos aos cidadãos.

Refiro-me às notícias que têm ocupado a imprensa mundial nas últimas semanas sobre o grave comportamento adotado por militares das Forças Armadas americanas em relação aos iraquianos que mantêm presos no Iraque.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não bastassem as descaradas mentiras utilizadas pelo Presidente Bush para invadir aquele país, vêm a público agora as vergonhosas atitudes dos militares americanos que submetem os prisioneiros a torturas. Por si só, a tortura já revela a degradação da qualidade humana de quem a pratica. O que está acontecendo no Iraque, sob o domínio dos hunos de Washington, é covardia inqualificável, Srªs e Srs. Senadores.

Onde estão as armas de destruição em massa que serviram de pretexto para a invasão? Onde estão as bombas e os gases tóxicos? Na verdade, a única razão foi e está no petróleo. O Iraque possui a segunda maior reserva de petróleo do planeta. São 112,5 bilhões de barris que representam 11% do total mundial. Os Estados Unidos importam, em média, 10,3 milhões de barris por dia.

O Presidente Bush e seu Vice Dick Cheney, ambos fortemente ligados ao lobby energético, sabem que a necessidade de petróleo nos Estados Unidos torna o país cada vez mais dependente da importação desse produto. Ambos sabiam que Saddam Hussein não era um parceiro comercial confiável. Bush privilegia problemas energéticos em detrimento de soluções políticas, e a lei de política energética norte-americana permite a desobstrução até militar de rotas de transporte e de aceso aos campos de produção de petróleo.

Além disso, com o eventual termo das sanções econômicas impostas ao Iraque após a invasão do Kuait, em 1990, e das zonas de exclusão aérea ao norte e ao sul do país, sem mudança do governo em Bagdá, as empresas norte-americanas seriam preteridas na exploração petrolífera.

David Kay, ex-agente da CIA, que comandou a inspeção americana, declarou publicamente que as armas de destruição em massa do Iraque nunca existiram.

O Presidente Bush, então, agiu conscientemente, baseado em mentira assumida. Abriu as portas para a tragédia: milhares de vidas sacrificadas, inclusive de americanos, torturas ignominiosas. Ética, moral e civilização negadas por uma barbárie inimaginável no início de nosso século, um século brilhante no campo da tecnologia, no entanto, retrógrado no campo da ética e sem habilidade na área da inteligência humana.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, temo pelo Brasil e pela Amazônia. Um país como os Estados Unidos, que se atribui papel de gendarme do mundo, pode muito bem apoderar-se da Amazônia, sob o pretexto de que o Brasil não tem condições de proteger a riqueza biosférica única do planeta que a Amazônia encerra.

Confiar na Organização das Nações Unidas, Sr. Presidente? Que faz a ONU, submetida como está aos interesses dos Estados Unidos? Que faz a ONU para proteger os palestinos contra a sanha matadora de Israel? O mundo precisa repensar o papel da ONU, inclusive sua localização em Nova Iorque. Sem uma ONU em condições de disciplinar os poderes, a insanidade e os interesses particulares continuarão a submeter os povos às ações do mais forte sobre o mais fraco. A paz não passará de mero resultado de submissão forçada, com o resultado de que toda humilhação cria reflexos agressivos duradouros.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já faço a minha parte. Na época da invasão do Iraque pelos Estados Unidos, vim a esta tribuna e disse que procuraria não consumir mais produtos americanos. Coca-Cola e McDonald’s estão afastados do meu caminho. O povo tem que se revoltar. O mundo não pode aceitar isso. Temos que punir os americanos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2004 - Página 17074