Discurso durante a 71ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro da posse de Juscelino Kubitschek, há 40 anos, como Deputado eleito pelo Estado de Goiás. Cumprimentos ao Ministro Nelson Jobim pela posse no Supremo Tribunal Federal. (como Líder)

Autor
Paulo Octávio (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
Nome completo: Paulo Octávio Alves Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro da posse de Juscelino Kubitschek, há 40 anos, como Deputado eleito pelo Estado de Goiás. Cumprimentos ao Ministro Nelson Jobim pela posse no Supremo Tribunal Federal. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2004 - Página 17457
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, POSSE, SENADO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX SENADOR, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LEITURA, TRECHO, PRONUNCIAMENTO, VULTO HISTORICO, DEFESA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, DEMOCRACIA, ANTERIORIDADE, CASSAÇÃO, MANDATO PARLAMENTAR, DITADURA, MILITAR.
  • HOMENAGEM, POSSE, NELSON JOBIM, PRESIDENTE, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Eduardo Suplicy, Srªs e Srs. Senadores, move-me comparecer a esta tribuna no dia de hoje a responsabilidade histórica, o sentimento de brasilidade e sobretudo uma forte emoção, por tratar-se de registrar neste momento uma passagem da vida da República e desta Casa ocorrida há 40 anos, exatamente em 3 de junho de 64.

Naquela ocasião, há 40 anos e um dia, usava da palavra nesta tribuna depois de eleito, fato que se tornava único em sua investidura de Senador - portanto tendo sido o seu primeiro e último discurso - o Senador Juscelino Kubitschek, eleito pelo Estado de Goiás.

E se faz oportuno reproduzir algumas rápidas passagens do discurso do então Senador JK, proferido naquele dia 3 de junho de 1964, cinco dias antes da cassação do seu mandato, pela ditadura militar que se instalara no País a 31 de março.

Saudado da tribuna por nomes proeminentes da história republicana, como Filinto Müller, Benedito Valadares, Barros Carvalho, Lima Teixeira, Argemiro de Figueiredo e Victorino Freire, todos exaltando a sua trajetória histórica de político mineiro, Líder inconteste do Estado de Minas Gerais e ex-Presidente da República, construtor da nova Capital, Juscelino revelou o melhor da sua oratória em tom conciliador e emocionado, como se justificando pelo fato de ter voltado à vida pública, após toda uma trajetória das mais brilhantes da história brasileira.

Dizia o então Senador por Goiás, o ex-Presidente Juscelino Kubitschek, naquela sessão de 3 de junho de 1964.

Após agradecer ao povo de Goiás por tê-lo eleito Senador da República com tão expressiva votação, disse:

Não me movesse a intenção de lutar pelo que julgo de capital importância para a nossa Pátria, e teria cedido à tentação de dar por encerrada a vida pública.

E não abandonava o tema de sua predileção: o desenvolvimento, o empreendedorismo.

A necessidade da aceleração do desenvolvimento, a urgência do desenvolvimento é uma contingência da hora que atravessamos tão particularmente perigosa para os países nas condições do nosso”.

(...) Creio hoje ter andado de acordo com a prudência e o supremo interesse da nacionalidade emitindo, não dinheiro, mas vinte mil quilômetros de estradas, 310 mil veículos automotores, mais de 2 milhões de toneladas de cimento, emitindo volume incomparavelmente maior de petróleo, fertilizantes, metais não ferrosos, emitindo Furnas, Três Marias, a indústria pesada, a naval, a de tratores, a química de base, emitindo a infra-estrutura que delimita a época do nosso progresso lento, condicionada, do tipo colonial, marcando o início da era da nossa soberania econômica. (...)

e nos deixamos contaminar pela ambição mais nobre, pelo sopro da revolução do desenvolvimento em que se contém o objetivo de livrar os brasileiros de uma pobreza crônica, pobreza que vem mantendo milhões de patrícios nossos, de homens como nós, numa sujeição total, numa trágica e inqualificável estagnação. (...)

Aqui estou, para confessar a minha parte de culpa nessa revolução do nosso tempo, nessa insubmissão a cânones e preconceitos que impediam a marcha do Brasil para uma nova etapa da sua existência. (...)

vim submeter-me ao julgamento dos meus concidadãos no pleito livre que se verificou em Goiás e me conferiu a honra de ser um dos senadores da República. (...)

O que o povo consagrou não foi - bem o sei - a minha pessoa, mas toda uma conduta de respeito ao juramento e aos compromissos de acatar os direitos políticos, a vontade soberana das urnas, as instituições que devem permanecer intocadas na sua liberdade porque representam a conquista da nossa maioridade como Nação. (...)

Em primeiro lugar, serei fiel e vigilante no que toca ao binômio democracia e desenvolvimento, que orientou minha administração e a direção política (...).

mas não hesitaria em contribuir com meu protesto e vigilante zelo se alguma ocasião se apresentasse menos tranqüila ou se ameaça houvesse ao que reputa de fundamental importância para o bom nome e a prosperidade nacional. (...)

E proferiu a frase lapidar e historicamente premonitória, já no fim do seu discurso:

Sem Parlamento não há democracia, não há liberdade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no dia 8 de junho de 1964, cinco dias após esse pronunciamento, veio a cassação do seu mandato de Senador e dos seus direitos políticos. Era o fim da era JK. Não apenas o fim dos tempos maravilhosos do Plano de Metas, dos cinqüenta anos em cinco, do desbravamento, da construção de Brasília, do crescimento nacional e do empreendedorismo, mas o fim de uma era e da saga política de homem que poderia ainda muito mais oferecer ao País com sua sabedoria política, o seu descortino e seu espírito eminentemente democrático.

A Juscelino Kubitschek o nosso tributo e eterno agradecimento cívico.

Para terminar minhas palavras, registrando este momento tão importante da histórica política brasileira, eu gostaria de somar a minha palavra à do Senador Pedro Simon e enaltecer a figura do Ministro Nelson Jobim, que assumiu ontem a Presidência do Supremo Tribunal Federal.

Desejo ao Ministro muito sucesso em sua gestão à frente do Supremo Tribunal Federal, onde terá a mesma determinação que já mostrou em tantas etapas da sua vida pública, como Parlamentar, como Ministro da Justiça, como Ministro do STF e agora como Presidente da Suprema Corte. O Brasil conta muito com o trabalho efetivo do Supremo Tribunal Federal.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2004 - Página 17457