Discurso durante a 72ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Protestos contra o tratamento dispensado pelo cerimonial do Palácio do Planalto aos parlamentares. (como Líder)

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Protestos contra o tratamento dispensado pelo cerimonial do Palácio do Planalto aos parlamentares. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2004 - Página 17537
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • PROTESTO, CONDUTA, CERIMONIAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, VIAGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESTADO DA BAHIA (BA), INAUGURAÇÃO, FARMACIA, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE, AUSENCIA, INFORMAÇÃO, CONVITE, SOLENIDADE, ACUSAÇÃO, DESPREPARO, POLITICA, ESPECIFICAÇÃO, RELACIONAMENTO, GOVERNADOR, PREFEITO DE CAPITAL.
  • CRITICA, HUMBERTO COSTA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), CORRUPÇÃO, LICITAÇÃO, AQUISIÇÃO, MEDICAMENTOS.
  • ANUNCIO, VOTAÇÃO, SALARIO MINIMO, DEFESA, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, CONGRESSISTA.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pela Liderança da Minoria. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a minha longa vida pública me fez lidar com governos os mais variados e dos mais diferentes partidos. Entretanto, jamais assisti desconsideração igual como vem ocorrendo no Cerimonial do Palácio do Planalto com os Parlamentares deste País.

Quero lançar um protesto com relação à viagem do Senhor Presidente da República à minha terra, onde já deveria ter ido há muito tempo pela votação expressiva que lá recebeu: um subordinado do Cerimonial informou-me, na sexta-feira, sobre a ida do Presidente. Como era natural, não respondi. Pedi a minha Assessora Parlamentar que respondesse que eu tinha um compromisso assumido com esta Casa, onde tenho a obrigação de estar.

O Governador do Estado também recebeu o convite de última hora, nem sequer foi convidado. Choveu muito hoje - foi um fracasso a primeira manifestação do Presidente na Bahia, a farmácia no estabelecimento da irmã Dulce - e, talvez por isso, Sua Excelência tenha convidado o Governador e o Prefeito para o almoço. Mas, para o almoço, nem o Governador estava convidado. S. Exª nem sequer foi comunicado da viagem do Presidente. Isso é inacreditável! É falta de educação política! Qualquer presidente, indo a um Estado, até mesmo de seu maior adversário, tem o dever de comunicar sua viagem ao Governador e ao Prefeito da cidade. Isso, porém, foi o mínimo. Se o Presidente fosse inaugurar uma grande estrada, que bom! Se fosse dar o dinheiro do metrô, que nunca sai, que ótimo! Não foi fazer nada de importante. Foi ao meu Estado, em uma comitiva que não tem um certo pudor - é essa a palavra da qual não fugirei -, porque quem vai orientar e comandar o processo dessas farmácias é a Ágora, do Sr. Mauro Dutra. Já foi feito o contrato para isso.

Além do mais, o Presidente não devia prestigiar o Ministro da Saúde, enquanto não for apurado todo o processo da Operação Vampiro que, dizem, vem de longe. Venha de onde vier, o fato é que quem veio para coibir a operação vampiro foram pessoas de confiança do Ministro, pessoas do Partido dos Trabalhadores. Como vampiro não pode ver sangue, o resultado foi que aumentou em muito o problema cruel contra os hemofílicos, contra aqueles que precisam de sangue.

Enquanto isso, alguns rapazes de Pernambuco, amigos do Ministro que trabalharam intensamente com S. Exª anteriormente e eram pobres, ficaram ricos. Será possível que esses homens eram honestos antes e se tornaram desonestos no Governo de Lula? Façam o juízo que quiserem, vejam quaisquer das fórmulas possíveis: se eram honestos, o Governo atual os contaminou; se eram desonestos, contaminaram mais ainda o Governo atual.

Sr. Presidente, chegou o momento de consertar as coisas. Não apenas as que se referem à educação política de que o Presidente é vítima. Ninguém poderia esperar do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva gestos de alta educação, já que essa não era a formação de Sua Excelência. Mas existem os auxiliares, principalmente do Itamaraty, órgão às vezes desnecessário, pois os embaixadores têm pouca valia à medida que os Ministros se dirigem diretamente aos países estrangeiros. O que se gasta no Itamaraty poderia ser melhor aproveitado. Essa é uma situação, diria, dramática. O Governo precisa tratar bem seus aliados em particular, mas também seus adversários.

Outro dia, ouvi uma frase inteligente do Líder Roberto Jefferson, do PTB, que disse, com muita simplicidade: este Governo não conhece a expressão “muito obrigado”. Duvido que um dos senhores - é pena que não estejam presentes os líderes do PT - tenha recebido qualquer agradecimento por parte do Governo. É preciso mudar. É preciso saber o tratamento que se dispensa ao Parlamentar, que é o representante do povo. Quando ele realmente deixa de representar o povo, porque participa da Operação Vampiro ou coisa equivalente, aí sim, pode perder o respeito do Governo. Mas, fora daí, tem que ser respeitado.

Sr. Presidente, apelo a V. Exª que transmita ao Presidente José Sarney e ao Presidente João Paulo que exijam do Governo um tratamento melhor aos Parlamentares, porque senão ele não vai se dar bem. Com o povo, o tratamento já é ruim.

Recebi, há pouco, a informação de que Sua Excelência foi vaiado na Bahia. Lamento, eu não gostaria que nenhum baiano vaiasse o Presidente da República, mas estão fazendo uma farmácia que venderá remédios mais baratos ao lado do hospital de Irmã Dulce, que dá remédios gratuitamente. Vejam que confusão! Acredito até que consigam vender remédios mais baratos, mas é da gratuidade que necessita a gente pobre, que não pode mais comprar remédios neste País, sobretudo com esse salário mínimo.

Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vamos tomar consciência dos nossos deveres e mostrar nosso caráter no dia da votação do salário mínimo. Vão utilizar a Mesa do Senado para protelar a votação e o povo se esquecer, para nos esquecermos, para alguém viajar e voltar nesse dia. De maneira que V. Exª, Sr. Presidente, já está avisado dessa manobra. Se ela for feita, diga ao Presidente José Sarney que a impeça.

Vamos votar no dia certo, e que ninguém tenha a covardia de deixar de vir aqui para votar a favor do trabalhador brasileiro!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2004 - Página 17537