Discurso durante a 72ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Louvor à missão multiinstitucional de socorro ao indigenista José Carlos Reis Meireles Filho.

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Louvor à missão multiinstitucional de socorro ao indigenista José Carlos Reis Meireles Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2004 - Página 17548
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, MINISTERIO DA DEFESA, COMANDO MILITAR DA AMAZONIA (CMA), FORÇA AEREA BRASILEIRA (FAB), GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO ACRE (AC), FUNDAÇÃO NACIONAL DO INDIO (FUNAI), OPERAÇÃO, SALVAMENTO, RESPONSAVEL, PROTEÇÃO, GRUPO INDIGENA, ISOLAMENTO, NECESSIDADE, ASSISTENCIA MEDICA, ELOGIO, ATUAÇÃO, APRESENTAÇÃO, RELAÇÃO NOMINAL, PARTICIPANTE, GRUPO.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Pela Liderança do PT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicialmente, agradeço à Líder Ideli Salvatti por ter cedido o espaço da Liderança para que eu pudesse trazer uma comunicação que julgo relevante sobre a nossa Amazônia - a epopéia amazônica que sempre vemos, observamos e com a qual nos envolvemos de maneira muito forte no dia-a-dia.

Senador João Capiberibe, ontem, domingo, houve uma situação digna de registro na tribuna do Senado Federal, porque envolveu o Ministério da Defesa, o Comando Militar da Amazônia, a Força Aérea Brasileira, o Governo do Estado e a Funai: uma ação multiinstitucional, que entendo deva ser registrada, até como um gesto claro de gratidão, reconhecimento e valorização da Força Aérea Brasileira dentro da Amazônia.

Houve um trágico acidente com o indigenista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, que atua há 18 anos na Amazônia, no rio Alto Envira, muito próximo à fronteira do Peru com o Amazonas, em conjunto com mais 10 pessoas. Ele cuida da proteção dos chamados povos indígenas isolados que vivem na região. São os povos da Terra Indígena Kampa e Isolados do Rio Envira, Alto Tarauacá e Xinane. Só uma população de índios isolados representa um universo de mil índios, segundo suposições e observações antropológicas e dos profissionais da Funai que atuam na área.

O coordenador da Funai, José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, estava há mais ou menos 150 metros de sua casa e foi flechado por um índio arredio, isolado. A flecha transfixou a região malar, atingiu a parótida e transfixou sua coluna cervical. A flecha ficou, literalmente, atravessada no seu pescoço e seu rosto. José Meireles teve que buscar socorro. Ele mora há 8 ou 10 dias de distância de qualquer população urbana, mas tem um sistema de radiofonia que lhe permitiu acesso a socorro. Alcançou uma comunidade em Tabatinga, que possui rádio amador, e deu início a um sistema de comunicação.

Fui acionado, assim como o Secretário de Governo do Meio Ambiente, Edgar de Deus, para uma ação de solidariedade. Às 7h30min, liguei para o Ministro José Viegas Filho. Em menos de três minutos, fui atendido. Informei-lhe do fato, e S. Exª determinou, expressamente e com muita sensibilidade, a intervenção da Força Aérea Brasileira. Esta poderia chegar ao local rapidamente, já que, por via hídrica, o acesso só poderia ser feito em oito ou dez dias - os rios da regiões encontram-se secos. Em menos de uma hora, tivemos um plano de emergência e socorro bem definido e claramente orientado pela Força Aérea Brasileira. Saíram da Base Aérea de Porto Velho uma aeronave Caravan e um helicóptero, levando 11 profissionais da Força Aérea Brasileira, militares, que saíram na missão de socorro.

De nossa parte, no Estado do Acre, colocamos à disposição um médico intensivista, cirurgião de tórax, e uma enfermeira especializada, com todo o aparato de tratamento para realizar essa operação. Chegaram a Rio Branco, por problemas de fuso horário, às 15h30min; tinham uma hora e meia até o pôr-do-sol, porque helicópteros não têm homologação para realizar vôos noturnos sobre a Amazônia. Expusemos a situação do doente, que estava sangrando, com uma flecha transfixada em seu pescoço e seu rosto, e talvez não amanhecesse o dia. Portanto, não tínhamos outra alternativa senão o socorro aéreo.

O Capitão Carvalho e o Tenente Emerson, que pilotavam as duas aeronaves, prontamente se sentaram no chão da pista de aviação conosco, fizeram os cálculos e definiram o caminho. Só necessitavam de uma autorização dos Governos brasileiro e peruano, porque fariam uma travessia de 25 milhas no espaço aéreo peruano, sobre a localidade de Puerto Esperanza; lá há um aeródromo e poderia haver a interceptação do helicóptero brasileiro.

Em menos de cinco minutos, obtive uma resposta do Ministro José Viegas, que acionou um contato do Governo brasileiro com o Governo peruano. Então, eles puderam sair e chegaram por volta das 19h30min à aérea isolada, próxima aos índios arredios, onde desceram com o médico e a equipe; fizeram um socorro exemplar e salvaram a vida do indigenista que, há 18 anos, atua com essa equipe naquela área, com um único propósito: permitir que, enquanto os índios quiserem, continuem isolados, sem qualquer contato com os brancos. Alguns deles nunca usaram o sal, uma vacina ou um antibiótico e não tiveram contato algum com a nossa civilização.

Foi possível prestar essa solidariedade graças à absoluta sensibilidade e poder de decisão que tiveram o Ministro da Defesa, o Comandante Bueno, da Aeronáutica, o Comando Militar da Amazônia e o Comando da Base Aérea de Porto Velho. Foi uma das mais bonitas operações de salvamento na Amazônia brasileira. É um fato da maior relevância, digno de ser registrado no plenário do Senado Federal, porque orgulha a todos nós a certeza de que a Força Aérea Brasileira tem muito a contribuir dentro de um continente à parte, de um mundo verde que poucos conhecem, que é a nossa Amazônia. Foi um dos mais bonitos gestos de solidariedade humana prestado às nossas populações, por meio de um simbólico ato de salvar a vida de um indigenista.

Todos sabem que os índios isolados, ao entrar em contato com as nossas civilizações, passam por um processo de aniquilamento e, em dois anos, 70% deles vão à morte em função da transmissão de doenças que lhes são alheias do ponto de vista imunológico e da epidemiologia.

Então, faço questão de citar, com orgulho, que temos uma Força Aérea Brasileira com a sensibilidade e a pronta capacidade de decidir e intervir em operações de salvamento dessa natureza. Isso mostra que o Brasil está bem conduzido, bem amparado e que não importam o significado e os desafios que tenhamos em uma missão dessas, mas a decisão de fazer e de buscar socorro. Foi um dos mais bonitos gestos.

Sr. Presidente, encerro meu pronunciamento, citando a equipe que fez parte dessa operação de salvamento:

1º Coronel-Aviador Paulo Augusto de Oliveira Assis - Comandante da Base Aérea de Porto Velho;

Major Aviador Adilson Leite de Azevedo Júnior - Comandante do Esquadrão de Comando da Base Aérea de Porto Velho.

Tripulação da Aeronave Caravan C-98 (FAB 2725)

BAPV - Base Aérea de Porto Velho (Sediada em Porto Velho - RO)

            1º Ten. Av. Emerson de Oliveira;

1º Ten. Av. André Luiz Silveira de Castro;

3º Sgtº BMA André Fábio Chies;

            Equipe Médica

1º Ten. Médico André Bessa de Andrade;

3º Sgtº Enf. Jonas Elias de Souza;

Tripulação do Helicóptero UH - 1H (FAB 8673)

2º/10º GAV (Sediado em Campo Grande - MS)

Cap. Av. José Mauro Carvalho da Costa;

2º Ten. Av. Alexandre Cantaluppi S. de Freitas;

SO BMB Jairo Antônio da Silva Garcia;

1º Sgtº BEP Marcio Chaves de Araújo;

3º Sgtº BCO Vinícius Frauche de Carvalho; 

3º Sgtº BMA Marcio de Vaner Cavalheiro Duarte;

            Infraero - AC

Sargento Pereira / Suboficial Henrique/Jamilson

Ten. Cel. Giovani Souza Filho - Comandante do 4º BIS;

Dr. Everton Gentil Beltrame - Cirurgião Toráxico;

Solange - Enfermeira Intensivista.

Vale salientar que a solidariedade foi tanta e tão prontamente prestada que até um grupo de elite de pára-quedistas se colocou de prontidão para saltar na região, levando soro e sangue para fazer essa operação de salvamento.

Gestos simbólicos como esses mostram um horizonte, um exemplo a ser seguido de responsabilidade do Estado com a vida e da capacidade de entendermos os desafios e mistérios que envolvem o futuro da Amazônia brasileira.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2004 - Página 17548