Pronunciamento de Pedro Simon em 07/06/2004
Discurso durante a 72ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Expectativas de solução para os problemas enfrentados pela Companhia de Petróleo Ipiranga.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
POLITICA ENERGETICA.:
- Expectativas de solução para os problemas enfrentados pela Companhia de Petróleo Ipiranga.
- Publicação
- Publicação no DSF de 08/06/2004 - Página 17561
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ENERGETICA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, DISCURSO, SENADOR, SAUDAÇÃO, REALIZAÇÃO, MINISTERIO, EXPECTATIVA, ORADOR, AUMENTO, EXECUÇÃO ORÇAMENTARIA.
- COMENTARIO, DIFICULDADE, EMPRESA, REFINAÇÃO, PETROLEO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), REGISTRO, HISTORIA, TRADIÇÃO, OBSTACULO, CRESCIMENTO, MOTIVO, MONOPOLIO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), RESTRIÇÃO, LEGISLAÇÃO, INFERIORIDADE, CREDITOS, AUMENTO, PREÇO, BARRIL, MERCADO INTERNACIONAL.
- LEITURA, REGISTRO, ANAIS DO SENADO, CARTA, REFINARIA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DESTINATARIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLICITAÇÃO, PROVIDENCIA, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME).
- ELOGIO, GESTÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME), EXPECTATIVA, AUDIENCIA, PRESIDENTE, REFINARIA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado pela gentileza, Sr. Presidente.
Srªs e Srs. Senadores, neste cenário nacional em que nos encontramos, existem estatísticas aparentemente favoráveis na política macroeconômica - e vejo, com muita simpatia, os discursos aqui proferidos pela nobre Líder do PT e pelo ilustre Senador que me antecedeu, Ramez Tebet. Foram discursos bem elaborados, que demonstram que a equipe de divulgação começou a funcionar muito bem, depois da reunião em que o Presidente da República exigiu que os Ministérios divulgassem mais suas realizações. Nessa ocasião, Sua Excelência também criticou os Ministérios que afirmam que não têm dinheiro, mas, segundo o Presidente Lula, não gastam nem 10% do dinheiro disponível. Se os relatórios apresentados pela Líder e pelo Senador mostram tanta coisa feita com 1% do Orçamento, imaginem quando os Ministros passarem a se utilizar de todo o montante destinado a S. Exªs. Considero muito boa a decisão de, a partir de agora, vermos as realizações no papel, e será melhor ainda quando forem obras concretas.
Pois bem, retomando à leitura, as notícias de que as coisas vão bem contrapõem-se com dados que revelam as dificuldades em que se encontra o setor produtivo nacional.
Um exemplo que trago à reflexão da Casa de empresa saudável que enfrenta dificuldades é o da Companhia de Petróleo Ipiranga. Fundada no Rio Grande do Sul na década de 30, a empresa é motivo de orgulho para o Brasil. Assim como a Varig foi pioneira na aviação, a Ipiranga foi pioneira no refinamento do petróleo.
Exatamente na cidade de Rio Grande, não em São Paulo ou outro lugar, é que foi nascer a companhia que, durante muito tempo, vem operando com desempenho excepcional, embora proibida de se desenvolver. Desde a criação do monopólio do petróleo e a criação da Petrobras, teve que usar o dinheiro, as verbas e seus lucros em uma infinidade de outras realizações, como hotéis, porque foi impedida de crescer e de se desenvolver ainda mais.
De forma geral, a indústria nacional se queixa da escassez da oferta de crédito para investimentos, dos juros altos, da falta de incentivo, dos problemas gerados por uma burocracia ineficiente e das imperfeições da legislação. Praticamente todos os setores da indústria se debatem com problemas dessa ordem.
No caso da Ipiranga, a dificuldade está ligada ao mercado internacional do petróleo. O alto preço a que chegou o barril de óleo, com impacto estrondoso na economia da empresa, é apenas parte do problema.
O outro aspecto se refere a uma restritiva legislação nacional que gera problemas ainda maiores, ameaçando a própria sobrevivência da empresa.
A bancada gaúcha levou o problema à consideração do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de ofício em que apresenta as reivindicações da refinaria Ipiranga. Passo a ler a carta escrita pela refinaria, pedindo que seja inserida nos Anais desta Casa e que siga novamente ao Presidente da República e, de modo muito especial, à Ministra de Minas e Energia.
Excelentíssimo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Desde março de 2004, os preços do petróleo, no mercado internacional, crescem assustadoramente. No último mês de abril, foi superado o patamar de US$40 por barril. No Brasil, os preços dos derivados de petróleo estão baseados em US$31/US$32 o barril importado, provocando perdas vultosas às refinarias privadas.
Estas refinarias reivindicam medidas urgentes junto ao Governo Federal para manterem seus parques em atividade. A refinaria Ipiranga, situada no porto do Município de Rio Grande, já reduziu em 40% a sua produção e aproxima-se o risco de suspender, definitivamente, suas operações. Isto causaria grande prejuízo para a economia do Estado do Rio Grande do Sul, inclusive gerando vultoso desemprego no extremo sul do País.
Análises técnicas de mercado mostram que precisam ser tomadas, a curtíssimo prazo, as medidas enumeradas a seguir para solucionar o problema:
1. A aquisição de petróleo, pelas refinarias, pelo valor correspondente aos preços das vendas dos subprodutos no mercado interno;
2. utilização da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), para o ressarcimento das perdas das refinarias privadas, sabendo-se que esta tributação é arrecadada pelas refinarias sobre os subprodutos do petróleo e foi instituída tendo como uma de suas finalidades a de subsidiar os preços desses produtos pelo Governo;
3. prestação de serviços das refinarias privadas à Petrobras.
Por isto, solicitamos a Vossa Excelência a análise atenciosa da situação das refinarias privadas e as alternativas propostas para solução de suas dificuldades, colocando-nos à disposição para ampliarmos os debates acerca do assunto.”
Srªs e Srs. Senadores, a história da Ipiranga é fascinante. Peço licença para um breve resumo da saga da família Tellechea e seus associados na idealização, construção e consolidação de um empreendimento que se revelou altamente competitivo e orgulha a própria história do capitalismo brasileiro.
A Ipiranga é uma empresa pioneira. Fundada em 1937, na cidade gaúcha de Rio Grande, no sul do Estado, cresceu e se transformou num dos principais complexos industriais brasileiros.
Sua trajetória iniciou quatro anos antes, quando o pecuarista e comerciante brasileiro João Francisco Tellechea se uniu a três sócios argentinos com o sonho de produzir derivados de petróleo para comercializar no Rio Grande do Sul. A unidade empresarial original, a Destilaria Rio-Grandense, foi instalada em Uruguaiana, cidade na fronteira com a Argentina, distante cerca de 700 quilômetros de Porto Alegre.
A Ipiranga, em seus primórdios, abastecia um mercado restrito às poucas unidades fabris, principalmente têxteis, que formavam o pequeno parque industrial gaúcho instalado em Porto Alegre, Novo Hamburgo e Pelotas, além de Rio Grande. Seus idealizadores, porém, estavam certos de que, nas décadas seguintes, o Estado e o País experimentariam um crescimento industrial vigoroso e acelerado.
Apostaram no futuro, como tantos empreendedores que arriscaram suas economias no sonho de desenvolvimento do País.
O cenário mundial apontava para uma revolução tecnológica liderada pelo setor petrolífero. A gasolina, o querosene e o óleo diesel moviam o mundo: automóveis, aviões, navios, máquinas e equipamentos diversos, as viagens e os negócios dependiam do então chamado “ouro negro”.
Nesse quadro, o Rio Grande do Sul se fazia presente com a refinaria Ipiranga, um negócio extremamente promissor e lucrativo. Os recursos eram próprios, os equipamentos argentinos, os técnicos mais especializados contratados no exterior e matéria-prima importada do Equador. Era só começar a trabalhar.
Um ano depois de inaugurada, no entanto, surgiu o primeiro grande obstáculo. A Segunda Guerra Mundial já se desenrolava na Europa e o Governo argentino proibiu a utilização dos portos de Buenos Aires para transbordo do óleo equatoriano até a destilaria de Uruguaiana.
Na busca de uma alternativa viável para o transporte do petróleo, os proprietários da refinaria uniram-se a um grupo de empresários uruguaios e formaram uma nova empresa: a Ipiranga S/A - Companhia Brasileira de Petróleo. O local escolhido para a instalação do empreendimento foi o porto de Rio Grande.
Desde o início atribulado e pleno de incertezas quanto ao futuro - o que ocorre, aliás, até hoje com qualquer empreendimento produtivo de risco no Brasil -, a Ipiranga conseguiu superar os obstáculos e inscreveu sua marca no mercado brasileiro.
Empresa regional, a Ipiranga estava distante dos centros de decisão das políticas nacionais para o setor. As cinco distribuidoras concorrentes estrangeiras levavam vantagem porque se reuniam freqüentemente com o extinto Conselho Nacional de Petróleo e planejavam sua estratégia com antecedência. A Ipiranga sequer era convidada para participar desses encontros.
A empresa decidiu então que precisaria crescer e alcançar dimensões nacionais para ser ouvida junto aos órgãos federais de decisão. O meio encontrado foi investir na compra de uma das distribuidoras estrangeiras, e a empresa escolhida foi a norte-americana Gulf Oil Corporation. Detentora de 6% do mercado nacional de distribuição de derivados de petróleo e uma rede de 500 postos em todo o País, constituía a empresa ideal para robustecer a Ipiranga.
O negócio foi fechado e causou grande surpresa. Afinal, pela primeira vez uma empresa brasileira e rio-grandense comprava um conglomerado norte-americano do petróleo, setor onde as cifras giravam em torno de bilhões de dólares anuais. A incorporação da Gulf Oil contribuiu ainda mais para a modernização técnica, administrativa e gerencial da Ipiranga.
Desde então, a refinara vem enfrentando toda uma sorte de atribulações e obstáculos. Chegou a estar ameaçada de encampação, mas conseguiu seguir em frente. A Ipiranga cresceu muito, diversificou sua atividade e se espalhou pelo Brasil.
A partir de 1968, com a inauguração da refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas, no Rio Grande do Sul, a Ipiranga experimentou novo impulso. Entrou no setor de revendas e logo ocupava posição de destaque, controlando 28% do mercado gaúcho.
Foi quando a empresa, agora batizada de Empresas de Petróleo Ipiranga, decidiu diversificar seus negócios. Partiu para a hotelaria, para o setor da indústria de pesca, processamento de dados, aviação agrícola, corretagem de seguros, indústria do couro, agropecuária, fruticultura, defensivos e fertilizantes agrícolas, setor químico, asfalto e reflorestamento.
Nesse processo, a Ipiranga contribuiu fortemente para o desenvolvimento industrial do Rio Grande do Sul e do Brasil, gerando riqueza e empregos em diferentes setores da economia.
Em 1993, no auge de suas atividades, comprou mais uma empresa norte-americana, a Atlantic, depois de uma década de negociações. O impacto dessa incorporação foi imediato. A capacidade de comercialização da Ipiranga praticamente dobrou, passando de seis para onze bilhões de litros/ano. Sua participação no mercado nacional seguiu o mesmo ritmo: ampliou-se de 10,1% para 19,5%, enquanto a rede de postos de serviço tornou-se a segunda maior do País, com 5,6 mil pontos comerciais.
Essa trajetória de sucesso foi compartilhada também com a comunidade rio-grandense. Os louros de uma jornada empresarial que deixou o País admirado serviram também para dar sustentação à atuação solidária da Ipiranga junto às comunidades carentes, no melhor espírito da parceria social tão estimulada atualmente.
A criação da Fundação Francisco Martins Bastos, em 1993, representou um marco na relação da companhia com seus empregados, com a implantação de um sistema de aposentadoria complementar.
No plano externo, a empresa participou ou patrocinou diversas ações em benefício das populações mais pobres. Hoje, a companhia custeia os estudos de cinco mil adolescentes em 14 municípios das regiões Norte e Nordeste e desenvolve programas sociais no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Para citar alguns: Parceiros Voluntários, Projeto Pescar, Programa Pró-Saber, Fundo Municipal da Criança, Fundação Abrinq e Solidariedade Brasil-França, Programa de Capacitação de Educadores e Agentes de Saúde.
Enfim, atualmente, a Ipiranga se prepara para enfrentar os desafios do futuro. Mudanças na legislação, que alteraram a forma de atuação das empresas do setor, trazem novas perspectivas. O fim do monopólio da Petrobras na exploração, refino, transporte, importação e exportação permite que a iniciativa privada participe dessas atividades.
A Ipiranga está qualificada para atuar sob essas novas condições e participar plenamente desse novo ciclo de expansão da indústria brasileira de petróleo.
Essa é a saga de uma empresa brasileira que se debate com os problemas naturais da atividades, mas que também encontra dificuldades de outra ordem, que podem e devem ser analisadas pelo Governo.
Afinal, está em jogo o futuro não apenas de mais uma companhia, uma empresa com uma história tão significativa, como também estão ameaçados milhares de empregos numa região com problemas sociais já suficientemente graves.
Veja, Sr. Presidente, a importância e o significado da situação dessa empresa, que tem história, que se desenvolveu, progrediu e mostra o pioneirismo de muitos brasileiros, e de modo especial a essas pessoas que, sem petróleo, sem consumo, lá em Uruguaiana, no extremo Sul do Brasil, na fronteira com a Argentina, tiveram a visão, a competência e a capacidade de criar a refinaria e de buscar, quando nem havia petróleo no País, as possibilidades de produzi-lo aqui no Brasil. O problema é complexo, mas simples, na minha opinião. A verdade é que, importando petróleo ao preço internacional, enquanto a Petrobras tem condições de vender aos preços que produz, não mais equiparando aos preços internacionais, a empresa está perdendo praticamente todo dia, vendendo com prejuízo, não apenas parando a produção por uma questão de respeito e carinho aos seus funcionários e à sua tradição.
A extraordinária companheira Dilma Rousseff, Ministra de Minas e Energia, competente e capaz - diga-se de passagem -, marcou para amanhã, às 19h30min, uma reunião, ocasião em que receberá a Diretora-Presidente do Grupo Ipiranga, a extraordinária companheira Elizabeth Tellechea, para debaterem e discutirem essa matéria. Tenho certeza de que a Ministra, que chegou hoje da China e marcou a reunião exatamente para amanhã, não só haverá de ouvir as argumentações apresentadas pela Srª Elizabeth Tellechea, Presidente do Grupo, como também tenho a convicção de que a carta assinada por todos os Parlamentares do Sul, Senadores e Deputados, e entregue ao Presidente da República, haverá de trazer uma resposta, que deve ser urgente, porque a empresa está perdendo, dia-a-dia, uma quantia e a capacidade de manutenção do serviço como está perdendo sua capacidade de manutenção do serviço. Parte do equipamento já está paralisado. A empresa mantém o restante produzindo, para preservar seu nome e não sair do mercado.
Sr. Presidente, fico feliz em saber que o assunto estará nas mãos da Ministra Dilma Rousseff. S. Exª é capaz, competente, de muitas qualidades. Já lhe disse isso pessoalmente, na reunião que tivemos com a Bancada gaúcha em outra situação. A Ministra tem a credibilidade de todo o Brasil.
É interessante notar a forma como S. Exª foi escolhida Ministra de Minas e Energia. Quando se estava preparando o plano de Governo do Presidente Lula, havia vários grupos de trabalho, e, no de energia, estava a Drª Dilma Rousseff. A sua disposição, competência, capacidade na elaboração do programa fez com que seu nome crescesse naturalmente. Os membros que faziam parte do grupo e os que assistiam disseram que a Drª. Dilma teria de ser a Ministra, porque conhecia o assunto.
S. Exª foi escolhida pela competência e pela capacidade. É por isso que vemos, no dia-a-dia dos trabalhos do seu Ministério, que S. Exª, apesar do debate, das críticas, da confusão aqui ou acolá no Governo, leva adiante, com um esforço enorme, para que as questões sejam resolvidas.
Que V. Exª, Drª Dilma Rousseff, seja feliz amanhã, encontrando uma solução para a Ipiranga. V. Exª sabe do carinho, do amor e do respeito que temos pela Ipiranga. Aliás, o Rio Grande vem sofrendo ultimamente. Sofre por uma empresa pioneira que foi das mais tradicionais da história deste País, a Varig. Haveremos de vir, em outro pronunciamento, mostrar a crueldade do Governo Federal com relação à Varig, desde que assumiu a Presidência da República o Sr. Fernando Collor de Mello, o que culminou com as privatizações. Todos os grandes países do mundo têm uma empresa internacional: os Estados Unidos, a Alemanha, a França, a Itália, o Japão. O Brasil resolveu abrir, sem preparo, e deu-se a confusão. Sofremos muito e estamos sofrendo com a Varig.
A outra é a Ipiranga, que veio desenvolvendo-se. Ao longo da sua história, quis crescer e cresceu, desenvolveu-se, mas teve que ir para os mais variados setores, porque aumentar a produção de gasolina e de gás era proibido, o monopólio proibia. Pois, agora, no meio do seu trabalho, da sua ação, vem uma decisão dessa natureza, que é fácil de entender: o preço do petróleo no exterior está a US$40 o barril. Felizmente, hoje a Petrobras não faz com que o preço aumente no País quando é aumentado lá fora. Isso foi feito ao longo do tempo e da história. Aumentava-se lá fora, aumentava-se aqui.
O Brasil, hoje, é quase auto-suficiente. Diz-se que, no ano que vem, seremos auto-suficientes na produção de petróleo. Atualmente, existe a vantagem de que as crises do petróleo, que faziam a inflação estourar no Brasil, não acontecem mais, nem estão ocorrendo agora. O petróleo está US$40 lá fora, mas aqui se mantém. Para a Petrobras está tudo bem, mas há uma disposição que a impede de vender o petróleo para a Ipiranga. Se a Ipiranga comprasse o petróleo da Petrobrás, a questão estaria resolvida. Não, tem que importar. Então, a Ipiranga importa a US$40, produz a US$40 e depois vai concorrer com a Petrobras, que vende a um preço muito inferior.
A solução tem que ser encontrada. É lógico e racional que algo precisa ser feito, e tenho a convicção absoluta de que a Ministra Dilma Rousseff encontrará a saída.
Meus cumprimentos à D. Elizabeth Tellechea, mulher de garra e luta, Presidente do Grupo Ipiranga, pelo esforço que tem envidado e pelo trabalho que tem desenvolvido.
Agradeço ao Presidente Lula e à sua Ministra a solução que - tenho a mais absoluta certeza - haverão de encontrar.
Sr. Presidente, obrigado pela tolerância.
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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)
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Matéria referida:
“Ipiranga.”
Ipiranga
Senhoras e Senhores,
Neste cenário nacional em que nos encontramos, ao lado de estatísticas aparentemente favoráveis na política macro-econômica, se contrapõem outros dados que revelam as dificuldades em que se encontra o setor produtivo nacional.
Um exemplo de uma empresa saudável que enfrenta dificuldades, que trago à reflexão desta Casa é o da Companhia de Petróleo Ipiranga.
De uma forma geral, a indústria nacional se queixa da escassez da oferta de crédito para investimentos, dos juros altos, da falta de incentivo, dos problemas gerados por uma burocracia ineficiente e das imperfeições da legislação. Praticamente todos os setores da indústria se debatem com problemas dessa ordem.
No caso da Ipiranga, refinaria criada no Rio Grande do Sul na década de 30 e que vem operando com um desempenho excepcional, a dificuldade está ligada ao mercado internacional do petróleo. O alto preço a que chegou o barril de óleo, com um impacto estrondoso na economia da empresa, é apenas uma parte do problema.
O outro aspecto se refere a uma restritiva legislação nacional que gera problemas ainda maiores, ameaçando a própria sobrevivência da empresa.
A Bancada Gaúcha levou o problema à consideração do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de ofício em que apresenta as reivindicações da refinaria Ipiranga.
A carta está nos seguintes termos:
"Excelentíssimo Senhor
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Desde março de 2004, os preços do petróleo, no mercado internacional, crescem assustadoramente. No último mês de abril, foi superado o patamar de US$ 40 por barril. No Brasil, os preços dos derivados de petróleo estão baseados em U$ 31/U$32 o barril importado, provocando perdas vultosas às refinarias privadas.
Estas refinarias reivindicam medidas urgentes junto ao Governo Federal para manterem seus parques em atividade. A refinaria Ipiranga, situada no porto do município de Rio Grande, já reduziu em 40% a sua produção e aproxima-se o risco de suspender, definitivamente, suas operações. Isto causaria grande prejuízo para a economia do estado do Rio Grande do Sul, inclusive, gerando vultoso desemprego no extremo sul do país.
Análises técnicas de mercado mostram que precisam ser tomadas, a curtíssimo prazo, as medidas enumeradas a seguir para solucionar o problema:
1. A aquisição de petróleo, pelas refinarias, pelo valor correspondente aos preços das vendas dos subprodutos no mercado interno;
2. Utilização da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), para o ressarcimento das perdas das refinarias privadas.
Sabendo-se que esta tributação é arrecadada pelas refinarias, sobre os subprodutos do petróleo e, foi instituída tendo como uma de suas finalidades, a de subsidiar os preços desses produtos pelo Governo;
3. Prestação de serviços das refinarias privadas à Petrobras.
Por isto, solicitamos a Vossa Excelência a análise atenciosa da situação das refinarias privadas e as alternativas propostas para solução de suas dificuldades, colocando-nos à disposição para ampliarmos os debates acerca do assunto."
Srªs. e Srs., a história da Ipiranga é fascinante. Peço licença para um breve resumo da saga da família Tellechea e seus associados na idealização, construção e consolidação de um empreendimento que se revelou altamente competitivo e orgulha a própria história do capitalismo brasileiro.
A Ipiranga é uma empresa pioneira. Fundada em 1937, na cidade gaúcha de Rio Grande, no sul do estado, cresceu e se transformou num dos principais complexos industriais brasileiros.
Sua trajetória iniciou quatro anos antes, quando o pecuarista e comerciante brasileiro João Francisco Tellechea se uniu a três sócios argentinos com o sonho de produzir derivados de petróleo para comercializar no Rio Grande do Sul. A unidade empresarial original, a Destilaria Rio-Grandense, foi instalada em Uruguaiana, cidade na fronteira com a Argentina, distante cerca de 700 quilômetros de Porto Alegre.
A Ipiranga, em seus primórdios, abastecia um mercado restrito às poucas unidades fabris, principalmente têxteis, que formavam o pequeno parque industrial gaúcho instalado em Porto Alegre, Novo Hamburgo e Pelotas, além de Rio Grande. Seus idealizadores, porém, estavam certos de que nas décadas seguintes, o estado e o país experimentariam um crescimento industrial vigoroso e acelerado.
Apostaram no futuro, como tantos empreendedores que arriscaram suas economias no sonho do desenvolvimento do país.
O cenário mundial apontava para uma revolução tecnológica liderada pelo setor petrolífero. A gasolina, a querosene e o óleo diesel moviam o mundo: automóveis, aviões, navios máquinas e equipamentos diversos, as viagens e os negócios dependiam do então chamado "ouro negro".
Nesse quadro, o Rio Grande do Sul se fazia presente com a refinaria Ipiranga, um negócio extremamente promissor e lucrativo. Os recursos eram próprios, os equipamentos argentinos, os técnicos mais especializados contratados no exterior e matéria-prima importada do Equador. Era só começar a trabalhar.
Um ano depois de inaugurada, no entanto, surgiu o primeiro grande obstáculo. A Segunda Guerra Mundial já se desenrolava na Europa e o governo argentino proibiu a utilização dos portos de Buenos Aires para transbordo do óleo equatoriano até a destilaria de Uruguaiana.
Na busca de uma alternativa viável para o transporte do petróleo, os proprietários da refinaria uniram-se a um grupo de empresários uruguaios e formaram uma nova empresa: a Ipiranga S/A - Companhia Brasileira de Petróleo. O local escolhido para a instalação do empreendimento foi o porto de Rio Grande.
Desde o início atribulado e pleno de incertezas quanto ao futuro - o que ocorre aliás até hoje com qualquer empreendimento produtivo de risco no Brasil - a Ipiranga conseguiu superar os obstáculos e inscreveu sua marca no mercado brasileiro.
Empresa regional, a Ipiranga estava distante dos centros de decisão das políticas nacionais para o setor. As cinco distribuidoras concorrentes estrangeiras levavam vantagem porque reuniam-se freqüentemente com o extinto Conselho Nacional de Petróleo e planejavam sua estratégia com antecedência. A Ipiranga sequer era convidada para participar desses encontros.
A empresa decidiu então que precisaria crescer e alcançar dimensões nacionais para ser ouvida junto aos órgãos federais de decisão. O meio encontrado foi investir na compra de uma das distribuidoras estrangeiras e a empresa escolhida foi a norte-americana Gulf Oil Corporation. Detentora de 6% do mercado nacional de distribuição de derivados de petróleo e uma rede de 500 postos em todo o país, constituía a empresa ideal para robustecer a Ipiranga.
O negócio foi fechado e causou grande surpresa. Afinal, pela primeira vez uma empresa brasileira e rio-grandense comprava um conglomerado norte-americano do petróleo, setor onde as cifras giravam em torno de bilhões de dólares anuais. A incorporação da Gulf Oil contribuiu ainda mais para a modernização técnica, administrativa e gerencial da Ipiranga.
Desde então, a refinaria vem enfrentando toda uma sorte de atribulações e obstáculos. Chegou a estar ameaçada de encampação, mas conseguiu seguir em frente. A Ipiranga cresceu muito, diversificou sua atividade e se espalhou pelo Brasil.
A partir de 1968, com a inauguração da Refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas, no Rio Grande do Sul, a Ipiranga experimentou novo impulso. Entrou no setor de revendas e logo ocupava posição de destaque controlando 28% do mercado gaúcho.
Foi quando a empresa, agora batizada de Empresas de Petróleo Ipiranga decidiu diversificar seus negócios. Partiu para a hotelaria, para o setor da indústria da pesca, processamento de dados, aviação agrícola, corretagem de seguros, indústria do couro, agropecuária, fruticultura, defensivos e fertilizantes agrícolas, setor químico, asfalto e reflorestamento.
Nesse processo, a Ipiranga contribuiu fortemente para o desenvolvimento industrial do Rio Grande do Sul e do Brasil, gerando riqueza e empregos em diferentes setores da economia.
Em 1993, no auge de suas atividades, comprou mais uma empresa norte-americana, a Atlantic, depois de uma década de negociações. O impacto dessa incorporação foi imediato. A capacidade de comercialização da Ipiranga praticamente dobrou, passando de SEIS PARA ONZE BILHÕES DE LITROS/ANO. Sua participação no mercado nacional seguiu o mesmo ritmo: ampliou-se de 10,1% para 19,5%. Enquanto a rede de postos de serviço se tornou a segunda maior do país, com 5.600 pontos comerciais.
Essa trajetória de sucesso foi compartilhada também com a comunidade rio-grandense. Os louros de uma jornada empresarial que deixou o país admirado serviram também para dar sustentação à atuação solidária da Ipiranga junto às comunidades carentes, no melhor espírito da parceria social tão estimulada atualmente.
A criação da Fundação Francisco Martins Bastos, em 1993, representou um marco na relação da companhia com seus empregados com a implantação de um sistema de aposentadoria complementar.
No plano externo, a empresa participou ou patrocinou diversas ações em benefício das populações mais pobres. Hoje, a companhia custeia os estudos de cinco mil adolescentes em 14 municípios da região norte-nordeste e desenvolve programas sociais no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Para citar alguns: Parceiros Voluntários, Projeto Pescar, Programa Pró-Saber, Fundo Municipal da Criança, Fundação Abrinq e Solidariedade Brasil-França, Programa de Capacitação de Educadores e Agentes de Saúde.
Enfim, atualmente, a Ipiranga se prepara para enfrentar os desafios do futuro. Mudanças na legislação que alteraram a forma de atuação das empresas do setor, trazem novas perspectivas. O fim do monopólio da Petrobrás na exploração, refino , transporte, importação e exportação permite que a iniciativa privada participe dessas atividades.
A Ipiranga está qualificada para atuar sob essas novas condições e participar plenamente desse novo ciclo de expansão da indústria brasileira de petróleo.
Essa é a saga de uma empresa brasileira que se debate com os problemas naturais da atividade, mas que também encontra dificuldades de outra ordem que podem e devem ser analisadas pelo governo.
Afinal, está em jogo o futuro não apenas de mais uma companhia, uma empresa com uma história tão significativa, como também estão ameaçados milhares de empregos numa região com problemas sociais já suficientemente graves.
Muito obrigado.