Discurso durante a 72ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Elogio e registro do artigo intitulado "O paz e amor se acabou", de autoria do Senador José Agripino, publicado no Jornal do Brasil, de 31 de maio último.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Elogio e registro do artigo intitulado "O paz e amor se acabou", de autoria do Senador José Agripino, publicado no Jornal do Brasil, de 31 de maio último.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2004 - Página 17572
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUTORIA, JOSE AGRIPINO, SENADOR, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEMONSTRAÇÃO, PERDA, CONFIANÇA, OPINIÃO PUBLICA, GOVERNO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ocupo a tribuna, neste momento, para elogiar e registrar o artigo intitulado “O paz e amor se acabou”, de autoria do Senador José Agripino, Líder do PFL no Senado Federal, publicado no Jornal do Brasil de 31 de maio do corrente.

O autor, em seu artigo, mostra que o Presidente Lula, no episódio da expulsão do jornalista Larry Rhoter, perdeu algo que foi fundamental para a sua eleição para a Presidência da República, em 2002: a serenidade.

            O Presidente Lula precisa recuperar essa serenidade para que possa cumprir as suas promessas de campanha como a geração de dez milhões de empregos, o Fome Zero, a reforma agrária e o aumento do salário mínimo.

Para que conste dos Anais do Senado, requeiro, Sr. Presidente, que o artigo publicado no Jornal do Brasil de 31 de maio do corrente seja considerado como parte deste pronunciamento.

Era o que tinha a dizer.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Jornal do Brasil, 31 de maio de 2004: O ’paz e amor’ se acabou.”

            Jornal do Brasil, 31 de maio de 2004

O 'paz e amor' se acabou

José Agripino

Ao tentar expulsar um jornalista do Brasil, abruptamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu um dos pilares de seu capital político construído em mais de 20 anos de carreira - sua serenidade. Tal virtude foi fundamental para a vitória no pleito de 2002. O cidadão brasileiro não votou no Lula raivoso e vociferante dos anos 80. Não escolheu para a Presidência da República um líder que fez da agressividade uma ferramenta. Que passou anos atacando os inimigos políticos, sem poupar nem mesmo os atuais aliados do governo. O povo votou no Lula ''paz e amor'', conciliador, terno, compreensivo e amigo.

De alguns pontos de vista, a serenidade pode até ser uma qualidade pouco importante para um político. Norberto Bobbio lembra que essa característica parece não estar presente nos grandes heróis. Desde o começo da história, eles são violentos, inclementes, mercuriais. ''Não há lugar entre eles para os serenos. Azar dos serenos: não será dado a eles o reino da terra'', afirmou Bobbio no Elogio da Serenidade.

O grande pensador italiano lembrou que são inimigas da serenidade a arrogância, a insolência e a prepotência, infelizmente adjetivos atribuídos ao atual governo. E a serenidade também está longe da submissão. Na verdade, sereno é aquele que atravessa o fogo sem se queimar e a tempestade dos sentimentos sem se alterar. O contrário da serenidade é o abuso do poder.

O sereno sabe que em determinados momentos é preciso tomar decisões duras, mas sempre bem medidas e pensadas. Tem consciência de que não adianta se esconder por trás de pirotecnias, da retórica vazia. Sabe que só tem direito de exigir respeito porque respeita os demais. Autoridade é diferente de autoritarismo. Foi fácil, bombasticamente, cassar o visto de um jornalista autor de uma reportagem leviana sobre supostos hábitos etílicos do presidente. Mas a fatura veio rápida: a desmoralização internacional.

De acordo com Bobbio, uma característica do governante sereno é a simplicidade, essa sim, pedra angular da imagem pública de Lula. Se a serenidade se acaba, a simplicidade se esvai junto. ''Simplicidade é precondição da serenidade. Dificilmente o homem complicado pode estar disposto à serenidade: vê intrigas, tramas e insídias por toda parte e, conseqüentemente, é desconfiado em relação aos outros quanto inseguro em relação a si mesmo'', nos diz Bobbio.

Parece até que o filósofo político italiano, morto em janeiro deste ano, observava o ocorrido no Brasil. Defensores de Lula se apressaram a associar a matéria do The New York Times a um grande complô contra o PT, com participação do governo americano e até mesmo do presidente George Bush. Alegavam que o Brasil estava ''incomodando'' os Estados Unidos por causa da vitória na Organização Mundial do Comércio contra os subsídios ao algodão americano.

Nem se deram ao trabalho de ler o New York Times e constatar que o jornal tem sido crítico do governo Bush. O Times foi contra a concessão dos subsídios. Nesse exato ponto alia-se ao Brasil. Os companheiros de Lula parecem não compreender que a imprensa é independente do Estado e tem a liberdade de elogiá-lo ou criticá-lo quando necessário. Estão confusos e inseguros. Se o governo estivesse bem, essa reação atabalhoada não ocorreria.

Lula precisará de autocontrole para dar conta de centenas de demandas do Brasil. O episódio do jornalista americano é apenas a ponta do iceberg. O governo terá serenidade para cumprir compromissos como a criação de 10 milhões de empregos, Fome Zero, resolução do problema dos sem-terra, aumento do valor real do salário mínimo? Isso sem falar no espetáculo do crescimento e na queda dos juros, para ficar apenas em algumas das incontáveis promessas.

Será preciso serenidade para reprimir os instintos autoritários e, democraticamente, aprender a conviver com a crítica, venha de onde vier. Não conseguiram se domar ao expulsar três deputados e uma senadora e ao cassar o visto do jornalista Larry Rother. Já anunciaram que vão punir os petistas que se posicionarem contra o minguado aumento do salário mínimo. Hoje são partidos em tese aliados que exigem mudanças na condução da economia. O que vão fazer quando a voz das ruas efetivamente resolver cobrar as promessas?

            José Agripino é Senador (PFL - RN)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2004 - Página 17572