Discurso durante a 79ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Comentários sobre as declarações do Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, de que o Brasil é uma nação esquizofrênica. Crítica à política econômica do governo Lula. (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Comentários sobre as declarações do Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, de que o Brasil é uma nação esquizofrênica. Crítica à política econômica do governo Lula. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 10/06/2004 - Página 17959
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, DESRESPEITO, BRASIL.
  • CRITICA, INCOERENCIA, GOVERNO FEDERAL, PROPAGANDA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, PARALISIA, ECONOMIA, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, AQUISIÇÃO, AERONAVE, COMPARAÇÃO, INFERIORIDADE, REAJUSTE, SALARIO MINIMO.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, AMBITO INTERNACIONAL, AVALIAÇÃO, RISCOS, BRASIL, ECONOMIA INTERNACIONAL.
  • CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, OMISSÃO, INVESTIMENTO PUBLICO, RETOMADA, CRESCIMENTO ECONOMICO.
  • APOIO, ADVERTENCIA, RUBENS RICUPERO, EMBAIXADOR, SECRETARIO GERAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), COMERCIO, DESENVOLVIMENTO, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, BRASIL, SETOR, PRODUÇÃO, PREVENÇÃO, CRISE, EXPORTAÇÃO, SIDERURGIA, PAPEL, CELULOSE, FERRO.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Ministro José Dirceu disse que o Brasil é uma nação esquizofrênica. Seria o Brasil uma nação esquizofrênica? A Senadora Heloísa Helena é esquizofrênica? O Senador Romeu Tuma é esquizofrênico? Seria eu esquizofrênico sem saber disso? O Ministro José Dirceu diz que somos esquizofrênicos, porque pertencemos a uma nação esquizofrênica. Esquizofrenia é um termo que engloba várias formas clínicas de psicopatia e distúrbios mentais próximos a ela. Sua característica fundamental é a dissociação e a assintonia das funções psíquicas, disso decorrendo fragmentação da personalidade e perda de contato com a realidade.

Quem será que perdeu o contato com a realidade neste País? O trabalhador brasileiro? O assalariado? O aposentado? O funcionário público? O empresário? Ou o Governo deste País?

O Governo anuncia o espetáculo do crescimento e promove o crescimento às avessas. Talvez o Governo tenha perdido o contato com a realidade. Certamente o povo brasileiro não perdeu contato com a realidade. O povo brasileiro é a realidade na sua forma mais dura, mais cruel, mais perversa, alimentando os contrastes sociais gritantes, revoltantes.

Esquizofrênico é quem perde o contato com a realidade, e quem perdeu contato com a realidade, sem dúvida, é o Governo brasileiro, é o Presidente da República, ao adquirir um avião por R$180 milhões e oferecer apenas R$260,00 como salário mínimo. Isso é perder contato com a realidade.

O Presidente Lula define uma estratégia para que o Ministro Palocci tenha mais visibilidade, encantado com o talento do Ministro da Fazenda em transmitir uma sensação de normalidade. Senador Gilberto Mestrinho, também entendo que, para transmitir sensação de normalidade, é preciso muito talento. Haja talento para convencer o povo brasileiro de que este País está alcançando percentuais de crescimento que ensejam comemoração e euforia, como quer o Ministro Palocci e o seu Governo!

Portanto, o paciente de esquizofrenia não é certamente o povo brasileiro, não é a Nação brasileira. O paciente me parece ser o Governo, porque não enxerga a realidade do País, porque enxerga normalidade num cenário social e econômico que inspira cuidados. Mas o Presidente da República, de quando em vez, deixa escapar um toque de sinceridade e afirma que o Ministro Palocci é talentoso para transmitir essa sensação de normalidade, mas não é o que vem de fora do País.

A agência de classificação de risco Fitch Ratings coloca o Brasil ao lado da Turquia entre os países mais vulneráveis na atual conjuntura econômica internacional. A avaliação foi feita num seminário em Londres pelo diretor da Agência, Roger Scher. Segundo o Diretor da Fitch, o Brasil é um prisioneiro do sentimento do mercado. “Se o mercado diz que o Brasil é um cachorro, então o Brasil é um cachorro”, declarou Roger Scher. É claro que é figura de retórica, forma contundente de expressar o que pensa a respeito da vulnerabilidade econômica do nosso País, num cenário de desenvolvimento econômico internacional.

A declaração do Ministro Palocci também não pode passar desapercebida. O talentoso Ministro Palocci, segundo o Presidente Lula, diante de uma platéia de empresários, disse que o Governo brasileiro não tem condições de investir na retomada do crescimento. Disse: “Não se pode contar com investimentos públicos” na retomada do crescimento econômico. Assim, perguntamos: de onde virão os investimentos?

Sem dúvida, os investimentos públicos são fundamentais na retomada do crescimento econômico. Acionar instrumentos de fomento como o BNDES, Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e mesmo o Orçamento Público da União é fundamental na retomada do crescimento econômico. Há o encolhimento do setor privado quando o setor público se encolhe, ausenta-se e se torna incapaz de investir, tendo sua capacidade de investimento esgotada pela imposição do Fundo Monetário Internacional, que exige um superávit exorbitante, em detrimento dos interesses de crescimento da nossa economia.

Sr. Presidente, para concluir, quero salientar uma advertência do Embaixador Rubens Ricupero, Secretário-Geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento. Segundo ele, há necessidade de investimentos maciços no setor produtivo para o nosso País enfrentar as restrições de ofertas de produtos. Também citou gargalos já visíveis nos setores de siderurgia, papel e celulose, minério de ferro, com limites esgotados de capacidade instalada.

O Embaixador lembra que não podemos esperar que o setor do agronegócio continue sendo o sustentáculo das exportações no Brasil. Realmente o Governo pode comemorar o êxito na balança comercial, graças ao desempenho fantástico do agronegócio em nosso País, mas a advertência de Ricupero vem em boa hora. Não é possível que o Governo acredite que o agronegócio por si só sustentará a economia deste País por muito tempo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/06/2004 - Página 17959