Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Expectativa de que a Câmara dos Deputados mantenha o valor do salário mínimo aprovado ontem nesta Casa. Críticas ao governo federal na condução da política econômica.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SALARIAL.:
  • Expectativa de que a Câmara dos Deputados mantenha o valor do salário mínimo aprovado ontem nesta Casa. Críticas ao governo federal na condução da política econômica.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/2004 - Página 18829
Assunto
Outros > POLITICA SALARIAL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, APROVAÇÃO, SENADO, MELHORIA, REAJUSTE, SALARIO MINIMO, EXPECTATIVA, VOTAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • ELOGIO, LUTA, PAULO PAIM, SENADOR, MELHORIA, SALARIO MINIMO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que preside esta sessão de sexta-feira, 18 de junho, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo extraordinário sistema de comunicação do Senado Federal, a comunicação vale pela verdade que diz. O Brasil está atento, sintonizado com esta Casa, que tem transparência e verdade. Isso é tão significativo que o maior líder, Cristo, que não tinha esse sistema de som, nem televisão, nem rádio, dizia: “Em verdade, em verdade, eu vos digo”. A verdade chega.

Senador Ramez Tebet, são 181 anos de Senado. Hoje, comemoramos. Está no livro de Deus: “Chorai nas adversidades e nas dificuldades e exultai e se alegrai nas conquistas e nas vitórias”. Foi uma conquista na história do mundo.

Sempre repito o ensinamento do meu professor de cirurgia: a ignorância é audaciosa. O núcleo duro tem pouco preparo e pouca experiência, nenhum deles esteve aqui e, quase com certeza, nenhum deles chegará aqui, Senador Paulo Paim. Aqui, meus jovens brasileiros e brasileiras, é a porta estreita, não é a porta larga da vadiagem. É uma orientação divina. Eles tinham que entender, mas o núcleo duro tem pouco saber. 

Experiências de clandestinidade experiências em Cuba, ridículas! Estive no plenário de Cuba, Senador Paulo Paim, e me disseram que Fidel Castro tinha sido reeleito. Eles tinham 300 parlamentares e foram 300 votos para Fidel! E pior, 300 votos para o irmão dele! Essa é a experiência que eles tinham, a ignorância audaciosa!

Isso é divino. Moisés acreditou em sua missão, não quis saber das dificuldades e, como o Senador Paulo Paim, sofreu, baqueou. S. Exª chegou a chorar em ombros de amigos, sofreu mais com isso do que com a greve de fome que fez neste Congresso. Como Moisés, o Senador Paulo Paim acreditou. Moisés não quis saber se o Faraó tinha exércitos, se havia Mar Vermelho, se havia deserto. Ele simplesmente foi. Vi, em alguns dias, o Senador fraquejando, como Moisés também fraquejou, Senador Ramez Tebet.

Eu não sei há quantos anos, Senador Paulo Paim, V. Exª luta por esse salário, mas sei que é velha. Antes de conhecê-lo pessoalmente, sua luta tinha eco no Piauí e já me atraía. A sua presença foi uma das razões que me fez votar no PT. Tenho noção do que é tempo porque estudamos, trabalhamos. A crença no estudo e no trabalho é que nos trouxe aqui. Foi assim que percorri os caminhos que fizeram com que o povo do Piauí me mandasse para cá. O Senador Paulo Paim tem tantos anos de Parlamento que daria para cursar três vezes a faculdade de Medicina. É uma figura com experiência, a quem me curvei quando aqui cheguei.

O Senador Paulo Paim fraquejou como Moisés. Senador Antero, o povo não queria seguir as leis, queria a devassidão, os bezerros de ouro. E ele quis desertar. Eu o vi, Senador Paulo Paim, como Moisés. Então, Moisés ouviu uma voz divina: “Buscai os mais velhos, os mais experientes, os setenta mais experimentados e eles lhe ajudarão a carregar o fardo do povo”.

Foi aí que nasceu a idéia de Senado, modificada no mundo, na Grécia da República dos filósofos, na Itália do Renascimento, na França, quando o povo foi às ruas afastar o autoritarismo, os reis, gritar por liberdade, igualdade e fraternidade.

E veio para o Brasil e melhorou.

Em 181 anos, esta Casa nunca envergonhou o País. Rui Barbosa perdeu as duas eleições à Presidência da República - saía daqui para disputar as eleições -, mas nunca perdeu a vergonha e a dignidade. Esse é o exemplo maior de Rui Barbosa, e só quem não o aprendeu foi o PT, o núcleo duro.

Mas o PT bom manifestou-se ontem, pela santidade de Flávio Arns, que desconfio chegará aos céus antes de Dom Paulo Evaristo Arns. Nunca vi um homem tão bom, tão devotado aos humildes, aos necessitados, aos sofridos e aos excluídos.

A mulher verdadeira foi representada pela Senadora Serys Slhessarenko, que chorou aqui e reproduziu a grandeza histórica da mulher de Pilatos; de Verônica, enxugando o rosto de Cristo; e das três Marias, defendendo a verdade.

E o Senador Paulo Paim não é o Bento Gonçalves, é o nosso Martin Luther King. V. Exª é maior do que o PT, é maior do que o Rio Grande do Sul. V. Exª é um extraordinário líder do Brasil pelas causas justas.

Getúlio Vargas, hoje, tranqüiliza-se pela semente plantada. O Brasil revive Getúlio Vargas, no 1º de maio, a anunciar: “Trabalhadores do Brasil”. Fica a lembrança e o respeito ao salário mínimo, que ele, inspirado por Deus, com certeza, criou. E nós, inspirados por esses homens do Rio Grande do Sul, vamos fortalecê-lo.

Mas a mídia comprada, desavergonhada, diz que isso é demagogia e que a Câmara dos Deputados vai mudar. Senador Antero Paes de Barros, vamos mudar antes, povo brasileiro, essa insanidade! Se a Câmara dos Deputados mudar, mudo o nome dela. É a luta pela decência e pela dignidade e, como disse Rui Barbosa, da primazia do trabalho e do trabalhador. Senador Antero Paes de Barros, no dia em que a Câmara dos Deputados baixar o salário do trabalhador, nós mudaremos o nome dela para “Câmara de gás”, que leva à morte o trabalhador. Essa é a verdade. E voltará a ser não aquela Câmara de 300 picaretas, mas a Câmara de 503 picaretas.

Essa é a história. Vem a mídia, comprada, desavergonhada, dizendo que isso é demagogia, que R$15,00 não é nada. Nada é para mim, que, como Senador, ganho muito.

Vamos fazer uma conta que até o Palocci sabe fazer. Não adianta dizer isso para o Lula, porque ele não resolve, não governa, não preside. Palocci, não venha enganar, porque fiz o seu curso e sei que a sua matemática é pequena. Fui prefeitinho e dos bons! Saí da Prefeitura e recebi 93,84% dos votos da minha cidade para ser Governador do Estado do Piauí. Palocci, fui prefeitinho e duas vezes Governador e sou Senador, e V. Exª, a proceder assim, nunca o será. V. Exª será um office boy do Banco Mundial, do FMI, do BID e do Bird, como todos que, na história, se entregaram a essa farra dos ganhos dos banqueiros. Banqueiros canalhas!

Olha quanto ganha um bancário! Senador Ramez Tebet, meu sogro, pai da Adalgisinha, era bancário, e, naquela época, os bancários ganhavam bem, o salário deles era justo. Hoje, vejamos quanto ganha um bancário. Assim como todos os trabalhadores, são explorados. E o Sindicato dos Bancários foi a força e a luz do PT. Essa é a verdade.

Mas quero fazer uma continha simples - o Palocci entende as simples, e o Lula nem as simples está entendendo. Senador Antero Paes de Barros, em qualquer país organizado que tenha vergonha, a diferença do maior salário para o menor salário é 10, 12 ou 15 vezes. Palocci, venha para a verdade, não fique enganando! A sua matemática é igual a minha, de médico: pressão 12 x 8; quando o pulso chega a 100, o sujeito está morrendo; quando a glicemia passa de 50, a pessoa entra em coma. Então, sabemos pouco. Palocci, com esse pouco que V. Exª sabe, a diferença entre o maior salário aprovado aqui - de quase R$18 mil - e o menor salário é de mais de cem vezes. Isso é uma vergonha!

Por isso, queremos recuperar o valor do trabalho. Querem dizer que não é nada? É.

Meu avô, que era um grande empresário e grande industrial, tinha uma indústria de cera, de sabonete. E ele a levou para o Rio, onde venceu a gordura de coco carioca; ele colocou lá a do Norte. Vendeu sabão lá. Ele trabalhou muito. O Lula trabalhou pouco, aposentou-se cedo - sei que foi por causa de um acidente; digo isso com todo o respeito, porque sou médico. Mas Lula trabalhou muito pouco. Mas meu avó trabalhou muito e ficou rico, tinha dois navios. Não tenho isso, porque me dediquei à Santa Casa, aos pobres, como todo mundo sabe.

Um dia, meu avô pediu que eu fizesse uma compra. Na volta perguntou pelo troco. Eu disse que havia fila e que o troco era só uns tostões. E ele mandou que eu voltasse lá para buscar o troco. O valor do dinheiro é de acordo com a necessidade. O valor do dinheiro está na sua necessidade. Então, R$15,00 não vale nada para o Lula; para o Palocci, de jeito nenhum, porque o Meirelles dá o dinheiro que ele quer. Quando sair de lá, ele será office boy dos bancos internacionais, como está na nossa história. Mas é um valor muito significativo, conforme o ensinamento do meu avô.

Minha gente, sou do Nordeste, com muito orgulho. Senador Paulo Paim, no Nordeste é assim. Senador Eurípedes Camargo, V. Exª, que é humilde, sabe que muita gente ganha dinheiro vendendo leite de uma vaquinha a R$0,50 o litro. Esses R$15,00 já são suficientes para comprar leite por um mês para as crianças.

E mais: os brasileiros têm vergonha. Rui Barbosa disse: “A pátria é a família amplificada”. A mulher, hoje, por mais humilde que seja, participa da economia doméstica; ela trabalha.

Senador Heráclito, então, não se trata só de R$15,00; são R$15,00 do homem, mais R$15,00 da mulher; já são R$30,00. Isso talvez seja, Senador Paulo Paim, o valor da dignidade. Quantas mulheres, muitas vezes, vendem até o seu corpo, quando se encontram diante da pobreza, da fome, traindo os princípios cristãos?

São esses os fatos que estamos vendo.

Senador Heráclito Fortes, se a Câmara mudar o valor do salário mínimo, se diminuí-lo, vamos escrever na mente de cada brasileira e de cada brasileiro que ela mudou de nome: chamar-se-á “câmara de gás”, porque condenará as trabalhadoras e os trabalhadores do nosso Brasil.

Senador Paulo Paim, queremos aqui externar a nossa gratidão por essa campanha bela, essa campanha que V. Exª soube liderar. V. Exª teve a coragem de persistir. V. Exª, em nenhum instante, afrontou o Presidente da República e o seu Partido. V. Exª foi aquilo que o seu Partido cantou: a esperança de que, neste País, este Senado continue a sua tradição histórica.

Quis Deus que entrasse aqui este extraordinário homem público: Heráclito Fortes, que tem, entre inúmeras virtudes, a capacidade de unir e de fazer amizades. S. Exª conquistou a amizade dos maiores homens públicos deste País e privou da intimidade de Ulysses Guimarães, de Tancredo Neves, de Renato Archer e de Luiz Eduardo, traduzindo o desejo e a grandeza das virtudes do homem piauiense.

Senador Heráclito Fortes, quero citar outro homem que se iguala a V. Exª na sua trajetória nesta Casa: Petrônio Portella. Quis Deus, Senador Antero Paes de Barros, que eu estivesse ao lado de Petrônio Portella quando o Congresso decidiu fazer reformas no Judiciário, desagradando o Governo totalitário da ditadura dos militares. Ernesto Geisel mandou, então, fechar esta Casa, Senador Antero Paes de Barros, e eu estava aqui. Como o Senador Heráclito Fortes gozou da intimidade de alguns, Deus também me encaminhou a gozar da intimidade de Petrônio Portella, do seu irmão Lucídio Portella e de Dirceu Mendes Arcoverde, que tombou, nesta tribuna, defendendo a saúde deste País. Eu estava ao lado de Petrônio Portella quando veio a ordem para o fechamento do Congresso. E Petrônio Portella, com a altivez do homem do Piauí, disse: “É o dia mais triste da minha vida”. E, diante da sua moral, repensaram os ditadores e reabriram o Congresso. Hoje, faço esta saudação a Petrônio Portella, cuja passagem de firmeza nos possibilitou sermos firmes e defendermos o povo do Brasil.

Cantei: “Ó, Deus, se for para permitir essa vergonha, feche o Senado”. Digo hoje: “Ó, meu Deus, abençoe o Senado, a Casa do povo de vergonha do Brasil”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/2004 - Página 18829