Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Transcurso, hoje, do Dia da Imigração Japonesa no Brasil.

Autor
Valmir Amaral (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Transcurso, hoje, do Dia da Imigração Japonesa no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/2004 - Página 18872
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, IMIGRAÇÃO, CIDADÃO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, BRASIL, HISTORIA, EVOLUÇÃO, PARTICIPAÇÃO, INTEGRAÇÃO, IMIGRANTE, SOCIEDADE, PAIS, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO.

O SR. VALMIR AMARAL (PMDB - DF. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho hoje à tribuna desta Casa para aplaudir as comemorações do Dia da Imigração Japonesa em nosso País, que é festejado neste 18 de junho.

A chegada dos japoneses ao Brasil tem como marco o porto de Santos, no Estado de São Paulo.

A primeira leva de imigrantes chegou no dia 18 de junho de 1908, após 52 dias de viagem, no navio Kasato Maru, vindo do porto de Kobe, no Japão. Eram 781 pessoas e mais 12 passageiros independentes. O acordo imigratório então assinado entre o nosso Governo e o Governo Japonês permitiu, sem muita formalidade, o desembarque dos viajantes em nossas terras.

Embora os registros oficiais se refiram à data de 18 de junho de 1908 como o ano da chegada dos primeiros trabalhadores japoneses, outros documentos históricos atestam que os pioneiros daquele país foram quatro tripulantes do barco chamado, Wakamiya Maru, que afundou na costa do Japão, no início de 1803.

Segundo essas fontes, quatro marinheiros nipônicos estavam à deriva e foram resgatados por um navio de guerra russo que continuou em sua rota inicial e terminou por atracar para conserto no Porto de Desterro, hoje Florianópolis, Capital do Estado de Santa Catarina, no dia 20 de dezembro de 1803.

Quanto aos 793 japoneses que desembarcaram do navio Kasato Maru, eles foram imediatamente distribuídos em seis fazendas paulistanas. Entre todos aqueles cidadãos existia uma grande esperança de conquista de prosperidade, apesar de terem escolhido um país americano, ocidental, de costumes, língua, clima e tradições completamente diferentes dos seus.

É importante destacar que os primeiros resultados da integração foram bastante negativos. Não tardou, e o preconceito contra os novos trabalhadores, de pele diferente, olhos puxados e costumes exóticos, logo se manifestou de maneira transparente. Tal rejeição prejudicou durante anos a produtividade do trabalho desses imigrantes, retardou significativamente o processo de inserção social desses novos atores e prejudicou igualmente as expectativas do rendimento agrícola esperado.

Apesar dessas dificuldades, uma segunda leva de japoneses estava a caminho do Brasil em 1910. No dia 28 de junho daquele ano, o navio Ryojun Maru aportou no porto de Santos e trouxe mais 906 trabalhadores que vieram se juntar aos seus conterrâneos já instalados. Como os primeiros, foram distribuídos em diversas fazendas, enfrentaram os mesmos preconceitos e as mesmas dificuldades de adaptação.

Em 1912, novas famílias são assentadas em terras doadas pelo Governo de São Paulo, na região de Iguape, onde foram desenvolvidos com sucesso alguns projetos de colonização. Naquela ocasião, vários japoneses já marcavam presença no Estado do Paraná.

Em agosto de 1913, um novo grupo de 107 pessoas chegou para trabalhar em uma mina de ouro, no Estado de Minas Gerais. Segundo o órgão nacional encarregado do controle migratório dos japoneses, esse contingente de mineiros foi o único, em toda a história da imigração japonesa voltada para o Brasil, que veio com esse objetivo. Em 1914, o número de trabalhadores japoneses no Estado de São Paulo já era de cerca de 10 mil pessoas. Anos mais tarde, em 1932, segundo informações do Consulado Geral do Japão em São Paulo, a comunidade japonesa já era composta por cerca de 133 mil pessoas.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a colônia japonesa no Brasil passou a enfrentar uma nova onda de preconceito e de perseguição. Dessa vez, por determinação governamental, suas manifestações culturais foram proibidas e duramente reprimidas, suas escolas foram fechadas, sua prática religiosa proibida e seus bens confiscados. Só após o conflito mundial e com a redemocratização do País, os residentes japoneses recuperaram seus bens e seus direitos políticos, culturais e religiosos.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs.Senadores, desde o final do Século XIX até o momento atual, diversas missões japonesas visitaram constantemente o nosso País com o objetivo de ampliar relações em vários campos e estreitar laços econômicos que são fundamentais para as duas nações.

Recebemos a primeira visita oficial em 1880. No dia 16 de novembro daquele ano, o Vice-Almirante brasileiro, Artur Silveira da Mota, mais tarde agraciado com o título de Barão de Jaceguai, iniciou, em Tóquio, as primeiras conversações para o estabelecimento de um Tratado de Amizade, de Comércio e de Navegação entre o Brasil e o Japão. Todavia tal acordo só foi concretizado 15 anos mais tarde, ou seja, em 5 de novembro de 1895.

Em 1988, por ocasião da comemoração do octogésimo aniversário da imigração japonesa em nosso País, a festa teve como convidado de honra o Príncipe Aya, filho do Imperador Akihito.

Segundo dados do Censo 2000, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 1,25 milhão de brasileiros são descendentes de japoneses. Por sua vez, as estatísticas do Ministério das Relações Exteriores, referentes ao mesmo período, mostram que cerca de 225 mil brasileiros, os chamados decasséguis, trabalham no Japão e vivem notadamente nas cidades de Tóquio e Nagóia.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs.Senadores, ao terminar este pronunciamento, não poderia deixar de repetir que a história da imigração japonesa em nosso País é cheia de obstáculos e de grandes dificuldades. Os que vieram em busca de um sonho e de uma vida melhor em nossa terra, sofreram na pele, durante anos a fio, a exclusão, a rejeição, o preconceito e a indiferença. Mesmo assim, com tenacidade, disciplina, dedicação, competência, responsabilidade, paciência, perseverança e muito trabalho, a maioria conseguiu vencer, fincou raízes profundas, absorveu a nossa cultura e contribuiu efetivamente para a construção do Brasil moderno.

Por tudo isso que acabamos de dizer, nesta data em que se comemora o Dia da Imigração Japonesa no Brasil, somos gratos a todos os membros dessa respeitável comunidade.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/2004 - Página 18872