Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.

Autor
Roberto Saturnino (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19028
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, INTEGRIDADE, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, ATUAÇÃO, POLITICA, EMPENHO, DEFESA, INTERESSE NACIONAL.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mais do que justa, é absolutamente necessária esta homenagem requerida por vários Senadores à figura do grande líder político de nosso País que foi Leonel Brizola. É unanimidade o reconhecimento de sua capacidade de mobilização de pessoas, de opiniões e de idéias que só os grandes líderes políticos possuem. Brizola, indiscutivelmente, foi um desses grandes líderes dos últimos períodos de nossa história. Homem de origem modesta, que, pela capacidade de luta, pela tenacidade, pelo esforço, pela inteligência, mas sobretudo pela força de sua personalidade, chegou a ter a grandeza que todos os brasileiros hoje reconhecem e tornou-se esse líder eminentemente combativo, de enfrentamento, que se manifestou precisamente nos momentos cruciais da história, nas grandes encruzilhadas dos destinos do País. Outros líderes, embora possam ter a mesma grandeza, não têm o mesmo espírito de combatividade. Juscelino Kubitschek, por exemplo, era um grande líder, mas não tinha essa expressão de enfrentamento e de combatividade. Milton Campos era outra grande figura que liderava mais pela respeitabilidade ou pela habilidade política do que propriamente pela capacidade de comando de um grupo de pessoas representativo de uma idéia, como foi Leonel Brizola. Isso gerava uma apreciação profundamente polêmica entre pessoas nas quais inspirava fascínio e outras nas quais inspirava ira e, às vezes, ódio - figura característica foi Leonel Brizola desse tipo de liderança que exerceu enorme influência na vida política do País nos últimos 50 anos.

Era unanimidade entre os brasileiros, embora divergências tenham ocorrido aqui e ali. Eu pessoalmente tive grandes, profundas e demoradas divergências com ele, mas jamais me faltou o reconhecimento, primeiro, da força de sua personalidade e de sua liderança; segundo, de sua honradez - Brizola foi um dos brasileiros mais investigados pelas agências de inteligência e de polícia política do regime militar, e nunca se descobriu nada que pudesse tisnar a imagem de honradez de que sempre desfrutou junto aos brasileiros - e, em terceiro lugar, de sua coerência. Nunca deixei de reconhecer-lhe nem a liderança, nem a honradez, nem a coerência em relação a um conjunto de idéias que são muito próprias, originárias do Rio Grande do Sul, da sua terra, que se denominou trabalhismo, mas que têm suas origens em Júlio de Castilhos, cujas idéias estavam em um dos livros de cabeceira de Brizola até o final de sua vida. Defendia as idéias do chamado trabalhismo brasileiro, de Júlio de Castilhos, do próprio Getúlio Vargas, de Alberto Pasqualini, que procuravam fazer justiça, atendendo aos reclamos da classe trabalhadora assalariada, mas que também tinham uma vertente muito forte de nacionalismo e de intervenção do Estado em busca do processo de desenvolvimento não só econômico, mas também social e cultural.

Essa é uma dimensão, Sr. Presidente, que, a meu juízo, está faltando hoje no debate político e nas posições políticas brasileiras.

Presto, como Senador pelo Rio de Janeiro, esta homenagem a Leonel Brizola. O Brasil está de luto, particularmente o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro, uma vez que, nos seus últimos anos de vida política, ele militou e organizou a sua liderança e o seu Partido, o PDT, no Rio de Janeiro.

Rendo preito não só à figura, à vida, à liderança e à honradez de Leonel Brizola, mas também às suas idéias de trabalhismo, de nacionalismo, que não é xenófobo, mas reconhece que o desenvolvimento econômico, social, político, cultural é um projeto eminentemente nacional, é um projeto político das nações. Não é um projeto político do mundo ou do mercado. O desenvolvimento é um projeto eminentemente nacional, que tem como fator de execução, de elaboração e de implementação o Estado encarnando a vontade política nacional. Então, a presença do Estado no processo de desenvolvimento é, a meu juízo, um fator decisivo do qual temos tido enorme carência, porque o Brasil se viu coberto por esse preconceito contra o Estado, que leva a crer que a iniciativa privada sempre faz melhor e de forma mais eficiente, esquecendo que a iniciativa privada e o mercado trabalham em favor dos que têm poder aquisitivo; nunca, jamais trabalhará pela causa da justiça social, pela distribuição mais justa da riqueza e da renda nacional. Somente o Estado pode fazer isso. Somente o Estado pode impulsionar o desenvolvimento pelas rotas das realizações estratégicas mais importantes, que não são aquelas indicadas pela promessa de rentabilidade do mercado.

Nesse sentido, é importante que essas idéias, que foram de Brizola, que foram de Getúlio Vargas, estejam vivas. A figura de Brizola, hoje morto, está certamente viva, e espero que igualmente vivas permaneçam suas idéias, não apenas no que se refere ao trabalhismo, mas também ao nacionalismo e ao planejamento, isto é, à intervenção planejada, orientada estrategicamente, do Estado no processo político nacional de um modo geral.

Portanto, Sr. Presidente, faço questão de, como Senador do Rio de Janeiro, prestar esta homenagem, reconhecendo a grandeza dessa liderança, sem dúvida uma das maiores dos últimos tempos brasileiros, e, ao mesmo tempo, de ressaltar que, ao lado da liderança e da honradez de Brizola, estão as suas idéias. Seria muito importante que essas idéias iluminassem mais fortemente o atual processo político e econômico do Brasil.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2004 - Página 19028