O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sem dúvida, este é um momento de tristeza, de melancolia para o mundo da política e para a Nação brasileira. Afinal, perdemos o principal líder de uma importante corrente do pensamento político do País: o trabalhismo.

Vários adjetivos poderiam, neste momento, ser buscados para definir Leonel Brizola: determinado, ousado, corajoso. Creio, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, que devo me restringir a dois elementos que considero fundamentais: coragem e ética, porque, no momento de reflexão em que nos encontramos, é preciso buscar a lição e o exemplo de quem deixa um extraordinário legado: ousadia do jovem Governador do Rio Grande do Sul, do Líder da resistência, do político injustiçado, perseguido, expulso do Pais que homiziou-se no Uruguai, primeiramente numa inóspita praia, depois, numa pequena fazenda. Expulso do Uruguai, percorreu grandes capitais de nações avançadas na trilha da Internacional Socialista, em que se transformou num dos grandes líderes mundiais, ao lado de Mário Soares, François Miterrand, Olaf Palme, Willy Brandt e outros, liderança de expressão nacional no mundo do socialismo.

Coragem, sim, a coragem de dizer, a coragem de falar o que pensa, a coragem de enfrentar, a coragem de decidir. Com a sua persistência incomum, incansável, tendo tempo sempre para a luta, e não tendo tempo para o descanso, Brizola traz a marca da determinação e da ousadia em todos os atos que praticou e em todos os momentos vividos, por todos os caminhos percorridos até o dia da sua morte.

A outra característica que escolhi é a honestidade, produto em falta na prateleira da política. A corrupção jamais passou por perto de Leonel Brizola. Em 50 anos de atividade pública, ninguém jamais ousou, com seriedade, apresentar qualquer denúncia que pudesse manchar o seu belíssimo currículo na política brasileira.

Destacamos esses dois atributos, que consubstanciam duas qualidades fundamentais do político, porque este País precisa, sim, de muita ousadia para mudar. Este País precisa de honestidade para crescer, para se desenvolver, já que, lamentavelmente, os escândalos de corrupção não só provocam essa tremenda descrença que se generaliza na sociedade em relação aos Partidos políticos, às instituições e aos políticos, de forma geral, mas também a corrupção é, sim, a principal causa do empobrecimento, da ausência de crescimento, de oportunidades de trabalho e de renda e de vida digna a milhões de brasileiros excluídos, totalmente afastados dos frutos do progresso econômico que todos constroem com a força do braço e com o poder da inteligência.

Brizola é exemplo, portanto, e é lição. Mesmo aqueles que não comungam de suas idéias são obrigados a admitir que a sua presença na política brasileira foi extremamente positiva. É claro, a tese da estatização, o nacionalismo, que para muitos apresentava características próprias dos anos 50, as chamadas perdas internacionais, provocavam reações muitas vezes inusitadas, mas ninguém há de discordar que a presença afirmativa, corajosa, de personalidade e carisma suscitava o debate em relação a questões fundamentais e estabelecia o enfrentamento político com altivez. Figura polêmica, com defeitos e qualidades, mas, certamente, nesse balanço final, concluímos que a prevalência das qualidades destaca Brizola como um dos principais líderes de esquerda da história do País. Inegavelmente das lideranças mais carismáticas da história brasileira, a ponto de Darcy Ribeiro afirmar que o carisma é a qualidade daquele líder distinguível entre todos como se tivesse uma estrela na testa.

Na Antiguidade, os gregos diziam que líder é aquele que, ao entrar no templo, enche-o de gente. Eu diria que o líder é aquele que, ao sair do templo que é a sua pátria, deixa um vazio impreenchível.

Muito obrigado, Sr. Presidente.