Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19037
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, VIDA PUBLICA, VALORIZAÇÃO, EDUCAÇÃO, LUTA, RESTABELECIMENTO, DEMOCRACIA, PAIS.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, a Nação tem o dever de reverenciar a memória de seus líderes para que ela sirva de exemplo. Essa reverência deve ser prestada independentemente da concordância das idéias. Aliás, todo líder é um homem controvertido, todo líder é um homem polêmico.

Desde a noite de ontem, a Nação brasileira está triste. A classe política presta, neste momento, as últimas homenagens a Leonel de Moura Brizola.

Cada um de nós traz consigo suas lembranças, sua vivência. Foi assim que conheci Leonel Brizola: recebendo dentro de mim as suas palavras em favor da ordem jurídica, em defesa da Constituição. Antes de ter um encontro pessoal com o ex-Governador Leonel Brizola - eu tinha 25 anos àquela época -, eu ouvia pelo rádio as mensagens do Líder Leonel Brizola. Formava ele naquela ocasião, como já foi ressaltado aqui, a cadeia da legalidade. A sua voz ecoava por todo o Brasil, numa convocação em defesa dos postulados da democracia e da Constituição.

Lembro-me que a emoção se apoderava de mim quando eu ouvia a voz do líder dizendo que a Presidência da República, constitucionalmente, com a renúncia de Jânio Quadros, teria que ser ocupada por João Belchior Goulart, o Vice-Presidente da República, que se encontrava na China. Havia, como é do conhecimento geral, um movimento contra a posse de João Goulart. E foi essa resistência esboçada pelo então Governador do Rio Grande do Sul que permitiu que o Parlamento brasileiro, o Congresso Nacional, encontrasse a fórmula que evitou que o solo brasileiro fosse manchado com o sangue dos nossos irmãos: instituiu-se o parlamentarismo, e o Presidente João Goulart assumiu a Presidência da República.

Mas essas são lembranças de quem não conhecia pessoalmente Leonel Brizola, de quem tinha 25 anos de idade, de quem não estava na política, mas sonhava com a política, sonhava em servir ao seu povo e a sua gente, como eu sonhava.

Por fim, veio o encontro pessoal, quando Brizola retornava do exílio e visitava Campo Grande, a Capital do meu Estado. Foi então que eu, Vice-Governador, recebi convite de seu fiel escudeiro, seu fiel companheiro em Mato Grosso do Sul, Alarico D’Ávila, para que o ajudasse a recepcionar o Líder Leonel Brizola. Fui ao aeroporto, passamos o dia todo juntos. Vi como ele transpirava e respirava política, como ele pensava na criação de um partido político, uma vez que já havia perdido praticamente a sigla do PTB para a então Deputada Ivete Vargas.

Posteriormente, veio o reencontro em praça pública, um reencontro desses altamente oxigenados pelo ideal que tínhamos todos nós de restabelecer a eleição direta no Brasil. Encontrei-o no Palácio dos Bandeirantes numa convocação feita pelo então Governador de São Paulo, Franco Montoro, que chamou todos os Governadores de Oposição - e eram onze. Lá se encontrava Leonel Brizola, e lá estava eu na qualidade de Vice-Governador, representando o meu Estado de Mato Grosso do Sul, na impossibilidade da presença do então Governador Wilson Barbosa Martins, que honrou e abrilhantou também o Senado de República, na representação do meu Estado.

Lembro-me bem quando firmamos o Manifesto pelas Eleições Diretas no Brasil. Esse manifesto foi assinado por dez Governadores - foi assinado por mim como Vice-Governador, representando o Estado de Mato Grosso do Sul. Fizemos campanha em quase todas as Capitais do Brasil. Recordo-me bem de Goiânia, tenho bem em mente o Comício da Praça da Sé, em São Paulo, mas especificamente ficou guardado na minha retina - e dele ainda tenho saudades - o grande comício que Leonel Brizola realizou na Praça da Candelária, no Rio de Janeiro. Foi a maior multidão que meus olhos já contemplaram em toda a minha vida. Em companhia de Leonel Brizola, saímos do Palácio Guanabara em direção à Praça da Candelária. Durante o percurso, conversamos e me foi dada a oportunidade, pelo menos, de dizer que Mato Grosso estava presente naquela campanha memorável pelo restabelecimento da democracia e das eleições diretas em nosso País. Nosso homenageado de hoje não se distinguiu somente por sua atuação política.

Brizola, que foi Governador do Rio Grande do Sul, onde nasceu, teve a felicidade -- isto é raro -- de transpor as fronteiras de seu Estado como político. O mesmo aconteceu com Getúlio Vargas, que se candidatou a Deputado Federal e a Senador por vários Estados da Federação -- a legislação da época o permitia --, e foi eleito por todos os Estados onde se candidatou. Leonel Brizola, político do Rio Grande do Sul, foi para o Rio de Janeiro, onde se elegeu Deputado Federal e, mais tarde, Governador. A Administração de Brizola no Rio foi marcada pelo empenho com que ele se dedicou à educação, setor em que deixou sua marca, com os Cieps.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - A campainha me alerta que meu tempo está esgotado.

Antes de encerrar meu pronunciamento, gostaria de dizer que Leonel Brizola foi um homem de conteúdo profundamente ético. Como todos sabem, faleceu aos 82 de idade, e, durante sua longa existência, ninguém ousou manchar a sua reputação, pois todos reconheciam sua dignidade e honestidade.

Portanto, deixo aqui a minha homenagem e, por que não dizer, a homenagem do Estado de Mato Grosso do Sul ao grande líder que acaba de falecer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2004 - Página 19037