Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.

Autor
Leonel Pavan (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
Nome completo: Leonel Arcangelo Pavan
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19038
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, ATUAÇÃO, POLITICA, DEFESA, TRANSFORMAÇÃO, EDUCAÇÃO, PAIS.

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero registrar meu profundo pesar pela perda de um dos maiores políticos da história brasileira. A morte de Leonel de Moura Brizola encerra, certamente, um capítulo de luta aguerrida e gloriosa na política nacional. Brizola construiu uma carreira única, com tantos pontos altos que seria quase impossível citar todos neste momento tão difícil para o povo brasileiro.

Ele entrou na política cedo e sempre foi um líder. Ousado, liderou a Campanha pela Legalidade e fez com que a Constituição brasileira fosse respeitada e João Goulart assumisse a Presidência da República.

Exilado, sempre mostrou a sua força política. Nunca foi esquecido e jamais o será. Ao retornar ao Brasil, encabeçou a luta pela volta da democracia. Foi um dos líderes do movimento Diretas Já. Elegeu-se Governador do Rio de Janeiro, contrariando todas as expectativas de seus opositores. Ao fundar o PDT, partido ao qual fui filiado, Brizola reafirmou sua força e sua oposição aos regimes totalitários.

Brizola foi uma influência permanente em minha vida: meu nome, Leonel, é uma homenagem de meus pais a esse trabalhista que marcou o pensamento político e a história do Rio Grande do Sul. Como pedetista, fui Vereador, três vezes Prefeito do Balneário Camboriú e Deputado Federal. As marcas da passagem de Brizola por minha trajetória política ainda estão bem fortes na lembrança.

Lembro-me de que, durante minha primeira campanha eleitoral para a Prefeitura, em 1988, Brizola participou de um comício fundamental para a minha vitória, conseguindo reunir, às 10 horas da manhã, no centro de nossa cidade, milhares de pessoas, as quais nos deram a vitória.

Em homenagem a meu pai, Rodesindo Pavan, e a Leonel Brizola , no dia 20 de junho de 1991, no Bairro Vila Real, em Balneário Camboriú, foi inaugurado o primeiro Ciep (escola de tempo integral) do Sul do País.

Apesar das divergências internas havidas nos últimos anos, que me levaram a deixar o PDT e a ingressar no PSDB, em 2001, sempre respeitei, e respeitarei, a liderança política de Brizola. Até porque, desde a época da ditadura, e devido à sua intensa e rica trajetória política, ele passou a fazer parte da História do Brasil. Independentemente de questões partidárias, Brizola é uma das grandes figuras do século.

Sr Presidente, em 1954, meu pai, Rodesindo Pavan, colono e tropeiro tinha Brizola como um ídolo. Dizia que ele seria a maior bandeira de luta contra os poderosos e usava uma frase comum no Rio Grande do Sul, para definir a luta desse grande político: “Brizola será a salvação da lavoura!”

Ontem, minha mãe, Rosina Pavan, lamentou a segunda partida desse grande líder. Segundo ela, a primeira ocorreu quando ele foi para o exílio. Apesar da tristeza, tínhamos a impressão de que ele estava sempre presente, tamanha a esperança de que um dia voltasse. E voltou. Após sua segunda e última partida, que não tem retorno, ele permanecerá vivo em nossa mente em virtude de tudo por que sempre lutou. Não dava para dizer que esse homem fosse morrer, tamanha era a energia que possuía.

Sr. Presidente, no dia 10 de novembro de 1988, Brizola chegou a Itajaí, pela manhã, e disse que gostaria de deixar algum recado aos eleitores de Santa Catarina. Ao parar em uma praça, notou que havia poucas pessoas. Revoltado, disse: “Se não tem meia dúzia de gato-pingado, como vou ficar em Itajaí? O que vai dizer o Jornal do Brasil?” De repente, em poucos minutos, centenas de pessoas o rodeavam, e ele fez um grande comício, ainda de manhã. Ele queria ir para o aeroporto, para retornar ao Rio Grande do Sul, e nós desejávamos levá-lo ao Balneário Camburiú. Brizola dizia que não iria até a minha cidade porque já tinha cumprido seu papel. Tivemos de seqüestrá-lo. Ele estava em um carro da Chevrolet, bem antigo, de cujo modelo não me recordo. Durante o percurso para o aeroporto, nós o desviamos por uma das estradas que levava ao Balneário Camburiú, mesmo sendo ele contrário a essa ida. Havia tantas pessoas naquela estrada, tantos carros que faziam um buzinaço, tantas pessoas que o aplaudiam que Brizola foi a pé até o local do comício. Lá, durante quase uma hora, usou da palavra e fez com que Balneário Camburiú tivesse, pela primeira vez, um pedetista no Governo. Essa foi a minha primeira eleição para prefeito daquela cidade.

Por isso, deixo aqui essa minha homenagem e essa lembrança de luta, de coragem e do companheirismo de Brizola. Parte Brizola. mas ficam os seus ensinamentos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2004 - Página 19038