Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19039
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, INTEGRIDADE, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, ATUAÇÃO, POLITICA, PAIS.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o País registra hoje o falecimento de um filho ilustre, e o Senado interrompe as suas deliberações para homenagear a memória desse filho ilustre.

Sr. Presidente, estamos falando de Leonel de Moura Brizola, um nome nacional, uma figura singular com quem eu tive a oportunidade de privar pessoal e politicamente. Figura singular que eu classificaria como singular pelo fato de ter sido, num espaço de tempo breve, Governador de dois Estados importantes da Federação. Governou, ainda jovem, depois de ter sido Prefeito da capital, o Estado do Rio Grande do Sul e depois governou o Estado do Rio de Janeiro.

Senador Paulo Paim, enquanto ele governava o Rio de Janeiro, era imbatível no Rio Grande do Sul. Era um líder carismático, uma figura simpática, um brasileiro de respeito. Não digo isso porque ele faleceu e porque é hábito falar bem de quem se vai. Estou prestando este testemunho porque acho que, com franqueza, posso abrir minha alma e, durante esses cinco minutos de que disponho, contar um pouco do que foi minha relação com Leonel Brizola.

Fui fundador, Sr. Presidente, do PFL, o Partido em que me situo até hoje. Nunca mudei, mas em 1988, Senador João Capiberibe, fiz uma aliança com o PDT no meu Estado para a disputa da prefeitura das duas principais cidades do Rio Grande do Norte: Natal e Mossoró. E a aliança foi feita com o PDT. A aliança PFL/PDT, PDT/PFL elegeu duas mulheres, prefeitas de Natal de Mossoró - Vilma e Rosalba. Na campanha eleitoral, tive o prazer de receber no meu Estado a figura simpática de Leonel Brizola, com quem dividi o palanque, ao lado de quem discursei, com quem tive momentos de intimidade política. Nem ele abriu mão de suas convicções, nem eu abri mão das minhas convicções, da minha formulação programática, mas fizemos aquilo que era nosso dever cívico: o encaminhamento das candidaturas de duas pessoas, duas mulheres, que julgávamos as duas melhores opções para as cidades naquele momento. Ganhamos juntos a eleição.

Senador Paulo Paim, tive um almoço com o governador Brizola há uns dois meses - o jornalista Carlos Chagas, ele, Jorge Bornhausen e eu no Restaurante Porcão. V. Exª precisava ver com que carinho os garçons, muito deles gaúchos, tratavam o Presidente, como eles chamavam, Leonel Brizola. E a simpatia com que ele, aos oitenta e poucos anos tratava as pessoas que vinham cumprimentá-lo. Era uma figura nacional. Controvertida figura nacional? Claro que controvertida. Foi homem de posições muito firmes. Era um homem de palavras ácidas com seus adversários. Estão aí uma série de frases cunhadas, de “sapo barbudo” a “filhote da ditadura”. Isto é próprio de líder: ser forte.

Sr. Presidente, entendo que o cidadão Leonel Brizola, a quem conheci, seja um homem que carregue três marcas fundamentais. A primeira delas é a coragem cívica. Não é fácil sustentar uma barra, Senador Efraim Morais, criando no subterrâneo do Palácio Piratini a cadeia da legalidade para, em nome de uma causa em que ele acreditava, defender a posse de um Presidente e os princípios democráticos. Ele sabia os riscos que estava correndo e correu os riscos todos. E, como era um homem de coragem cívica sem limites, defendeu com a cadeia da legalidade a posse de João Goulart, que assumiu a Presidência da República creio que muito pela determinação do então Governador Leonel Brizola.

Ele era coerente e obstinado nas suas idéias. Senador Mão Santa, quantas vezes V. Exª deve ter ouvido Brizola falar das perdas internacionais? Ele era contra - e nisso divergíamos - as estatizações. Inaugurou o processo de estatização no Estado dele quando foi governador, estatizando a companhia telefônica. Até morrer, não mudou! Ele não era daqueles que, em campanha eleitoral, prometiam dobrar o salário mínimo e quando assumia o Governo mudava de opinião. Não! Ele foi do começo ao fim um homem de uma palavra só. Ele era contra a privatização, e assim foi até morrer. Ele era contra as perdas internacionais, e foi assim até morrer. A marca da coerência e da obstinação é uma outra marca, uma segunda outra marca característica do cidadão e do político Leonel Brizola.

A terceira marca: o arrojo, a capacidade administrativa. Brizola não foi homem de obras pequenas. Foi homem de CIEPs, escola de tempo integral, que fez escola neste País. Foi homem de ser lembrado pela Linha Vermelha, de ser lembrado pelo Sambódromo. Foi um homem determinado, arrojado, inteligente, preparado e homem de grandes lances.

Agora, Sr. Presidente, já é vencido o meu tempo. O que eu desejo mesmo registrar, a par de lamentar o seu falecimento e daqui manifestar o meu sentimento de pesar aos seus familiares, é um traço característico de Brizola. Como todo líder, ele despertou a controvérsia; como todo líder, houve os que o amaram e os que não o amaram. Os líderes de verdade despertam amor e paixão.

Agora, há um fato que é preciso que o Brasil todo registre. Neste momento, Senador José Maranhão, quando o padrão ético é tão necessário na condução da vida pública deste País, pode-se encontrar na sua Paraíba, no meu Rio Grande do Norte, no Amapá do Senador João Capiberibe, em Santa Catarina da Senadora Ideli Salvatti, no Rio Grande do Sul do Senador Paulo Paim e no Piauí do Senador Mão Santa pessoas que gostem ou que não gostem de Brizola, mas não há ninguém que atire uma pedra na dignidade e na honra pessoal de Brizola, um homem que se vai e que por isso e por outras merece o respeito do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2004 - Página 19039